Larissa narrando :
Meu nome é Larissa, tenho 18 anos, 1,70m de altura, cabelos pretos lisos que chegam até a cintura. Olhos castanhos.Sou bem diferente dos padrões de beleza. Uso tamanho 44 e sempre fui gordinha desde pequena. A minha vida nunca foi fácil. Sempre sofri bullying na escola por causa do meu peso. Por isso, nunca tive muitas amizades. Terminei o ensino médio no ano passado e estou fazendo curso de enfermagem.
Morava com os meus pais em uma casa bem simples, em um bairro mais humilde do Rio de Janeiro. Nossa casa era pequena, mas cheia de amor e carinho. Meus pais eram minha âncora, meu porto seguro em meio às dificuldades. Eles sempre me apoiaram nos momentos difíceis, especialmente quando eu enfrentava as crueldades dos colegas na escola.
O bullying sempre foi uma sombra na minha vida. Desde criança, eu era alvo de comentários maldosos e olhares de desprezo por não me encaixar nos padrões de beleza impostos pela sociedade. Não importava o quanto eu tentasse ser amigável ou prestativa, sempre havia alguém pronto para apontar meus defeitos físicos.
Terminar o ensino médio foi um alívio misturado com tristeza. Eu estava ansiosa para começar o curso de enfermagem, uma área onde eu poderia ajudar as pessoas e fazer a diferença, mas ao mesmo tempo, deixar a escola significava deixar para trás anos de bullying e solidão.
Morar em um bairro humilde tinha seus desafios, mas era o lar que eu conhecia e amava. Minha família tinha pouco, mas éramos felizes juntos. Minha mãe trabalhava como diarista e meu pai como ajudante de pedreiro. Eles se esforçavam ao máximo para me proporcionar uma vida melhor do que a deles.
Tudo mudou drasticamente há uma semana, quando um incêndio destruiu nossa casa e levou meus pais de mim. Foi como se o chão tivesse sido arrancado sob meus pés. Perder meus pais foi um golpe do qual eu ainda não consegui me recuperar. Meu mundo desabou completamente, me deixando à deriva em um mar de dor e desespero.
Desde então, tenho lutado para encontrar um sentido em continuar. O vazio dentro de mim parece insuperável. A cada dia, tento reunir forças para seguir em frente, mesmo que pareça uma tarefa impossível.
Eu tenho uma única amiga chamada Milena. Nos conhecemos no último ano da escola e desde então ela tem sido a minha âncora, a única pessoa que se aproximou genuinamente de mim. Milena sempre me defendeu quando as pessoas zombavam do meu tamanho. Ela tem uma condição de vida boa, mas sempre notei algo estranho: ela nunca me convidou para ir à casa dela. Sempre que eu mencionava a ideia de visitá-la, ela inventava desculpas. Até hoje, não entendo o motivo disso.
Esta semana, Milena tem tentado entrar em contato comigo várias vezes, mas eu não tenho cabeça para conversar. Não quero olhar para ninguém ou enfrentar o mundo lá fora. Nem mesmo consegui retornar ao curso de enfermagem. Dona Maria tem sido um anjo para mim, me tratando com muito carinho. No entanto, sei que não posso ser um peso para ela por muito tempo. Preciso encontrar uma maneira de sair dessa situação e me manter sozinha.
A dor da perda dos meus pais continua a me sufocar. Cada dia é uma batalha contra a tristeza e o desespero. Me sinto perdida, sem um rumo certo. Minha mente está confusa e meu coração partido. A única certeza que tenho é que preciso encontrar forças para seguir em frente, mesmo que seja difícil.
Pensar em arrumar um trabalho parece ser a única saída viável no momento. Preciso ser independente e começar a reconstruir minha vida. Sei que não será fácil, especialmente sem o apoio dos meus pais, mas é o que resta fazer.
Preciso focar em mim mesma, em encontrar um caminho para sair desse vazio que me consome. Ainda que a jornada pareça solitária e árdua, é o único caminho possível para mim agora.
A Dona Maria tem uma filha que recentemente se casou e saiu de casa, então eu estava ocupando o quarto dela. Estava deitada na cama quando ela veio me chamar.
– Larissa, minha querida, tem uma moça aí fora querendo te ver – Dona Maria disse, olhando para mim , eu estava com os olhos inchados de tanto chorar.
Eu não queria ver ninguém, não tinha cabeça para isso.
– Dona Maria, por favor, diga que eu estou dormindo – eu pedi, me cobrindo até a cabeça.
– Não, menina, levanta. Vai atender a sua amiga. Vai ser bom para você conversar com alguém – ela insistiu, gentilmente tirando a coberta de cima de mim e me olhando com pena. – Por favor, Larissa, atende a menina. Quem sabe não faz bem para você conversar um pouco.
Relutantemente, acabei cedendo. Me levantei da cama e fui para fora de casa. Quando vi Milena no portão, meu coração apertou. Ela correu em minha direção e me abraçou com força. Instintivamente, me permitir ser envolvida pelo abraço dela, e ali, meu mundo desabou. Comecei a chorar desesperadamente, soluçando como uma criança.
Milena me segurou com firmeza, me deixando despejar toda a minha dor. Por um momento, eu me senti segura e confortada em seus braços, como se finalmente alguém entendesse o peso da minha angústia. As palavras eram desnecessárias entre nós naquele momento; o abraço dela dizia mais do que qualquer conversa poderia expressar.
Depois de um tempo, Milena afastou-se gentilmente para olhar em meu rosto. Seus olhos estavam cheios de compaixão e preocupação genuína.
– Larissa, eu sinto muito por tudo o que você está passando – ela murmurou suavemente. – Eu queria ter estado ao seu lado desde o primeiro momento.
Milena acariciou meu rosto com delicadeza, como se tentasse acalmar a tempestade dentro de mim.
– Eu estou aqui agora, Larissa – ela disse com firmeza. – Eu não vou te deixar sozinha. Vamos passar por isso juntas.
Continua .....