3- Milena

1135 Words
Milena narrando : Eu sou a Milena, tenho a pele clara, cabelos loiros, lisos até a altura da cintura, 1,60 de altura e um corpo que sempre foi considerado bonito. Nunca me preocupei muito com cuidados específicos, acho que é mais questão de genética mesmo. Tenho olhos verdes, herdados da minha mãe. Ver Larissa naquele estado me partiu o coração. Desde que nos aproximamos no último ano da escola, sempre soube que ela enfrentava muitas dificuldades por causa do bullying e das pressões sociais. Eu me sentia impotente às vezes, sem saber como ajudá-la de verdade. Sempre fui uma pessoa reservada sobre minha vida pessoal, e isso incluía minha casa e minha família. Nunca convidei Larissa para minha casa não por falta de vontade, mas por uma série de complicações familiares e questões de segurança que nunca mencionei. Eu sabia que isso a deixava confusa e talvez magoada, mas esperava que nossa amizade fosse forte o suficiente para superar isso. Eu nunca contei para Larissa sobre onde eu morava, por medo de afastar ela de mim . Vivo no Morro do Alemão, e sou irmã do chefe do tráfico local. Meu pai faleceu em um confronto com a polícia, e minha mãe lutou contra o câncer até dois anos atrás. Agora, somos apenas eu e meu irmão, que é tudo para mim, a única família que tenho. No entanto, ele é uma pessoa difícil de lidar. Viver no morro sempre foi desafiador. Há muito preconceito associados à comunidade, algo que me fez esconder esse aspecto da minha vida da Larissa e de outras pessoas da escola. Eu sabia que as pessoas poderiam me julgar e rejeitar por causa disso, e eu tinha medo que Larissa também agisse assim. Ver Larissa sofrer após perder seus pais me fez perceber o quão distante eu estava dela, mesmo sendo sua amiga. Eu queria estar ao lado dela desde o início, oferecendo meu apoio incondicional. No entanto, mantive um segredo que agora parecia enorme entre nós. Quando finalmente a encontrei na casa da Dona Maria e ela se permitiu ser abraçada por mim, senti um misto de alívio por estar ao lado dela e medo do que aconteceria se ela descobrisse a verdade sobre mim. Eu sabia que precisava encontrar coragem para abrir meu coração e contar a ela toda a verdade, mesmo que isso significasse enfrentar suas possíveis reações. Olhei nos olhos dela enquanto segurava suas mãos. – Larissa, eu tenho algo importante para te contar – comecei, sentindo o peso das minhas palavras. – Eu moro no Morro do Alemão, e meu irmão é o chefe do tráfico local. Os olhos de Larissa se arregalaram de surpresa, misturados com uma pitada de choque e confusão. Ela me olhou por um momento, como se estivesse processando a informação, e então franziu a testa levemente. – Milena... isso é sério? – Ela perguntou em um sussurro, como se temesse que alguém pudesse ouvir nossa conversa na calçada onde estávamos. Balancei a cabeça lentamente, sentindo o nó se formar em minha garganta. – Sim, é verdade. – respondi com sinceridade. –Eu nunca contei a ninguém fora do morro porque... bem, as pessoas têm muitos preconceitos, e eu tinha medo de que isso mudasse tudo entre nós. Larissa continuou me olhando, seus olhos vermelhos inchados de tanto chorar, agora cheios de uma mistura de emoções que eu não conseguia decifrar completamente. Ela deu um passo para trás, como se precisasse de espaço para pensar. – Eu jamais ia te julgar pelo lugar onde você mora, Milena. Deveria ter me contado antes. – Ela diz e eu concordo com a cabeça. – Eu não me importo onde você mora. Eu me importo com quem você é. – Ela dizia, eu sorrio, dando um abraço apertado nela mais uma vez. – Eu quero te ajudar, Larissa. Vamos comigo para o meu morro. Você pode morar comigo na minha casa. – Eu digo olhando para ela, com os olhos brilhando, e ela me olha surpresa. Larissa olhou para mim com uma mistura de gratidão e preocupação estampada em seu rosto. Sua voz tremia quando ela perguntou sobre meu irmão, e eu pude sentir o medo que a consumia naquele momento. – Mas e o seu irmão ? – O meu irmão não vai falar nada – respondi com convicção, tentando acalmar seus receios. – Aquela casa também é minha. Eu posso e eu quero te ajudar. Por favor, Larissa. Eu sei que você não tem mais ninguém. Agora nós temos uma à outra. As lágrimas voltaram aos olhos de Larissa enquanto balançava a cabeça, confirmando sua decisão. Ela sabia que não seria uma transição fácil, mas parecia sentir um certo alívio em ter uma opção além da hospitalidade da Dona Maria. – Milena, eu... eu não sei o que dizer – Larissa murmurou, sua voz embargada pela emoção. – Você... você é realmente uma amiga incrível. Sorri com ternura, sentindo meu coração se aquecer diante das palavras dela. – Vamos cuidar uma da outra, Larissa. – eu disse suavemente, segurando suas mãos. – Eu vou te ajudar a superar isso. Ela assentiu lentamente, e nós nos abraçamos mais uma vez, sabendo que juntas poderíamos enfrentar qualquer desafio que surgisse no caminho. – Pegue as suas coisas e vamos logo. Tem um segurança do meu irmão esperando a gente no carro – eu disse para Larissa, tentando transmitir um pouco de urgência enquanto olhava ao redor, verificando se alguém nos observava. Larissa olhou para mim meio sem jeito, seus olhos ainda inchados de tanto chorar. – Eu não tenho nada, só tenho mais uma muda de roupa. O resto queimou tudo – ela murmurou, sua voz carregada de tristeza e desânimo. Senti uma onda de compaixão por ela. – Não tem problema então. Só se despeça da Dona Maria que a gente vai passar no shopping e vamos comprar tudo para você – sugeri, tentando animar ela com um plano prático. Larissa balançou a cabeça em negação. – Eu não posso aceitar isso, Milena. Você já está fazendo demais por mim – ela respondeu, preocupada com o peso da minha generosidade. Olhei nos olhos dela com determinação. – Para com isso, Larissa – insisti suavemente. – Meu irmão tem tanto dinheiro que ele nem sabe o que faz com ele. Vai ser um empréstimo. A gente anota o que eu compro para você e quando você começar a trabalhar, você me paga em suaves parcelas. Ela respirou fundo e, após um momento de hesitação, acabou concordando. –Está bem –ela murmurou, sua voz embargada pela gratidão. – Obrigada, Milena. Eu realmente não sei o que faria sem você. Sorri suavemente, aliviada por ver que ela estava aceitando minha ajuda. – Nós vamos dar um jeito nisso juntas, Larissa. Agora, vamos lá. Continua .....
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