Alef
-Isso é loucura Alef. – Andrei diz visivelmente confuso.
-Não exatamente, faz todo o sentido para mim. – Falo tranquilamente com os meus dedos entrelaçados sobre a mesa.
-Olha só... – Ele tenta falar, mas corto a sua fala.
-Andrei, confio em você e por esse motivo faço esse pedido..., pense nisso, claro que se me dizer um não, vou ficar puto*, mas, não vou obriga-lo a nada. – Falo mostrando calma, pois sei que é um assunto delicado.
-Certo..., irei pensar com cuidado sobre isso. – Diz por fim respirando fundo.
-Ótimo, era o que queria ouvir a princípio. – Falo e decido mudar de assunto.
Ficamos no escritório conversando mais um pouco, resolvemos alguns assuntos e saímos de lá pouco depois do meio-dia, Andrei ficou enchendo meu saco para almoçarmos e ainda pedindo para eu pagar a sua comida se fazendo de coitado. Como se não pudesse pagar pela própria comida, ele recebe uma fortuna trabalhando para mim e ainda tenho que aguentar isso dele.
-Sim? – Meu celular toca e vejo que é um dos meus homens.
-Chefe, acabei de deixa a Sta. Ivanov na casa de Mattias Baroevic! – Que p***a* é essa?
-Que p***a* ela foi fazer aí? – Pergunto sem entender nada.
-Ela alegou que veio ajudar a moça para o noivado de apresentação hoje. – Diz com um certo medo em sua voz.
-Fique de olho nela, não confio nesse cara. – Dou a ordem e desligo.
-O que houve? – Andrei pergunta curioso.
-Sônia foi para a casa de Mattias..., conhece a noiva dele? – Eu nunca nem vi essa mulher.
-A pobre coitada que sofrerá a vida inteira por se casar com ele? Não me lembro de ter a visto alguma vez, só sei que é filha única de Nikolai. – Diz dando de ombros e só conheço um Nikolai.
-Severo? – Pergunto para ter a certeza.
-Esse mesmo..., surgem boatos de que o pai a detesta, mas não se sabe bem o motivo. – Diz em seguida e encerramos o assunto.
Entramos no restaurante no centro da cidade, uma garçonete se aproxima e logo depois de nos acomodarmos e fazemos os nossos pedidos, peço um frango à Kiev com ervas, Andrei pede Draniki e para acompanhar, uma garrafa de vinho tinto seco.
Cerca de uma hora depois de almoçarmos, fomos resolver uns assuntos na minha empresa que fica bem no centro da cidade, a Sigara i Sigareta, a uso mais para resolver os meus assuntos da Máfia, mas não quer dizer que não funcione, pois, tem um reconhecimento no mercado. Ela é uma empresa de charutos e cigarros, e não sou de fumar frequentemente, mas, vez ou outra, gosto de fumar o meu charuto acompanhado de um bom uísque.
Passamos a tarde resolvendo algumas burocracias e quando estava no fim da tarde, encerramos tudo, pois, ainda temos um noivado de apresentação.
Odeio essas merdas*, já fui a vários e sempre é a mesma coisa, homens se casando para manterem os seus postos, mulheres sendo forçadas a casar com quem não quer e não podem fazer nada a respeito, e fazem juramentos que não podem e nem fazem questão de cumprir. Vou diretamente para casa, preciso de um banho e ver se Sônia já voltou para casa.
-Boa noite Sr. Ivanov. – Yelena diz assim que me vê passando pela porta.
-Boa, e Sônia? – Pergunto me aproximando.
-Está no quarto se arrumando senhor, chegou agora a pouco. – Diz com a cabeça baixa.
-Certo, obrigado! – Saio da sala em passos largos.
Subo as escadas e vou em direção ao quarto dela, bato na porta e ouço o seu “entra” e a encontro procurando algo na bolsa.
-Oi Alef. – Diz baixo, parecia ter chorado.
-Tinha mesmo que ir na casa do Mattias? – Pergunto sem rodeios.
-Prometi que iria ajudar a Lya a se arrumar..., me desculpe, esqueci de avisar. – Diz me olhando e percebo que de fato ela chorou.
-Não faça mais isso..., não confio nele. – Nessa hora minha voz sai mais como um pedido do que uma ordem.
-Bom, agora que não vou mesmo vê-la mais..., quis passar o dia com ela. – A olho confusa e ela continua. – Mattias deixou claro que depois do casamento, ela não poderá mais receber visitas. – Vejo uma lágrima descer em seu rosto e fico incomodado.
Me sento na ponta da cama e respiro fundo.
-São tão amigas assim? Nunca a vi. – Falo tentando lembrar de algo, mas, realmente nunca a vi na vida.
-Nunca a viu por que o único lugar que ela ia, era a escola, e como já terminamos os nossos estudos e ela já está com seus dezoito anos, o pai dela a deu de bandeja para se livrar dela. – Ela se senta ao meu lado e continua. – Ela é minha única amiga Alef, e a partir de hoje, não a verei mais e o pior de tudo, sei que ela vai sofrer assim que se casar com ele. – Diz com a voz tremula tentando controlar o choro sem sucesso.
Sônia chora colocando a sua cabeça em meu ombro, ela conta de forma rápida que Mattias ameaça a moça constantemente, que ele já a agrediu, fora que, vive bebendo e frequentando os bordeis quase todos os dias.
-Sinto muito por isso..., mas Sônia, o Dom não pode interferir nesses assuntos. – Tento explicar de forma mais delicada possível.
-Se eu já tinha medo por ela, agora tenho por mim também, pois nem você poderá me ajudar. – Diz chorando mais e a abraço de lado.
-Estou resolvendo esse assunto Sônia, você é minha irmã, e se eu tiver uma mísera chance de garantir o melhor a você, não hesitarei de fazer. – Falo firmemente para não a deixar com dúvidas sobre as minhas palavras.
Ela fica calada e seca as suas lágrimas se levantando da cama, ela entra no seu banheiro e saio de seu quarto indo para o meu aonde vou diretamente para o meu banho.
[...]
-O que ela tem? – Andrei pergunta se referindo a Sônia.
Estamos em meu escritório de casa e a porta está aberta, ele a viu passando em frente onde logo percebeu seu semblante entristecido.
-Está m*l* pela..., esqueci o nome da moça..., a que vai se casar com Mattias, elas são muito amigas. – Respondo bebendo o último gole do meu uísque.
-Me deixa adivinhar..., ela pediu para ajudá-la e você disse que não tem o que fazer. – Diz convencido levando o copo a boca.
-Exatamente..., e ela não entende isso. – Respondo seriamente.
-Infelizmente..., vamos? – Diz olhando as horas e aceno em positivo.
Saímos do meu escritório e chamamos a minha irmã que nos acompanha, os seus passos são lentos demonstrando que não quer ir, ela fica a todo o momento sem falar absolutamente nada, e fica olhando a vista da janela do carro perdida em seus pensamentos. Quando chegamos ao local, ela nem percebe que o carro parou, a chamo três vezes e é quando ela desperta de seu transe saindo do carro.
Porra*, odeio vê-la assim.
-Grande Dom, seja muito bem-vindo. – Mattias diz assim que me vê entrando.
-Mattias! – O cumprimento com um aperto de mão contra a minha vontade.
-Reservei seu lugar ali na frente..., Andrei! – O cumprimenta e vejo Andrei o olhar com ódio, percebo ele devorar minha irmã com os olhos e meu sangue ferve.
Mattias percebe o meu olhar de repreensão e disfarça saindo de perto.
Tomamos os nossos acentos e Sônia se senta ao meu lado, ela não abre a boca para nada, não aceita nenhuma bebida e seguro sua mão sobre a mesa numa tentativa de passar algum conforto. Ela sorri timidamente e põe a sua cabeça no meu ombro e deixo um beijo casto em seus cabelos.
Ela é a única família que tenho, prometi não só a ela, mas, a mim mesmo que cuidaria dela e farei até o meu último suspiro.
Algumas pessoas se aproximam para nos cumprimentar, falo brevemente com todos, mas não deixo a conversa rolar, deixando bem claro que não estou para conversa, e vejo alguns que transmitem medo no olhar e confesso que essa sensação é bastante prazerosa* para mim.
Fico entediado nesses eventos.
As horas parecem não passar e fico completamente impaciente. E quando finalmente anunciam o momento principal, vejo uma jovem se aproximar de Mattias. Ela em passos delicados fica ao seu lado de cabeça baixa, quando ela eleva o rosto um pouco, os seus olhos vasculham o local como se procurasse alguém e percebo que era por Sônia, pois assim que a ver, mostra um leve sorriso de alívio.
Essa atitude dela me faz ter a visão completa de seu rosto, ela tem um olhar de tristeza e dor, os seus olhos castanhos escuros estão lacrimejados, suas bochechas levemente avermelhadas, seus lábios estão entre abertos e os seus os cabelos negros estão presos em algum tipo de penteado deixando alguns fios teimosos caírem, ela está com as mãos para trás como forma de obediência a ele, pois vejo Mattias observar tudo o que ela faz com o intuito de deixa-la com medo.
Porra*, mas ela é linda!
Não posso negar, tem uma pele alva que brilha na luz, ela transmite delicadeza e por mais que não tenha os atributos que mais chamam atenção em um homem, ela é linda da sua forma natural. Corpo com curvas certas, nada de exagerado, rosto angelical e confesso que não consigo tirar os meus olhos dela.
Sinto um certo incomodo por vê-la nessa situação, Mattias pega em sua mão de forma bruta a levando para um local, observo ela quase tropeçar em seus próprios pés na tentativa de acompanha-lo e ouço um soluço de choro que vem de Sônia.
-Ele é um desgraçado*. – Ela diz baixo somente para ela mesma, mas acabei ouvindo.