A manhã está clara, os primeiros raios de sol já iluminam as colinas ao redor da Villa, mas dentro de mim, tudo parece envolto em sombras. Os momentos com Alejandro na noite passada me assombram, como um eco que não se cala. Há algo nele que não consigo entender, algo que me atrai e me repele ao mesmo tempo.
— Luna, não se preocupe tanto — Marta interrompe meus pensamentos, sua voz suave, mas firme. — Sei que Alejandro pode ser... complicado, mas você vai se adaptar. Ele é mais humano do que parece, apenas esconde isso muito bem.
Assinto, mas as palavras dela não conseguem dissipar o frio que sinto na espinha ao lembrar do olhar de Alejandro, como se ele estivesse me despindo de todas as minhas defesas.
Após tomar meu café, pergunto:
— O que preciso fazer primeiro?
Marta entrega-me uma lista de tarefas escritas à mão, com uma caligrafia elegante e clara. À medida que leio, sinto um misto de nervosismo e excitação. As tarefas variam desde limpar os quartos e organizar a biblioteca, até ajudar na preparação do almoço.
— Pode começar com a limpeza dos quartos de hóspedes — sugere Marta. — Depois disso, ajude Maria na lavanderia. E, mais tarde, temos que preparar a sala de jantar para um jantar importante que os Castillo vão oferecer hoje à noite.
A menção ao jantar me faz recordar o breve e tenso encontro com Alejandro na noite anterior. O frio na espinha retorna, mas empurro a sensação para longe, focando na lista de tarefas.
— Certo, vou começar agora mesmo — digo, pegando um balde com produtos de limpeza e seguindo em direção ao primeiro quarto da lista.
À medida que caminho pelos corredores, sinto a magnitude da responsabilidade que assumi. Não é apenas o trabalho em si, mas o ambiente ao redor que me desafia. Cada quarto é uma obra-prima, decorado com uma elegância opulenta que parece alheia à minha realidade anterior. O desafio de manter tudo impecável é imenso, mas estou determinada a dar o meu melhor.
No entanto, enquanto realizo as tarefas, a imagem de Alejandro não sai da minha cabeça. Sua presença fria e controlada, a forma como me avaliou com aqueles olhos penetrantes... Há algo nele que me intriga e assusta ao mesmo tempo. Tento afastar esses pensamentos, concentrando-me no trabalho, mas é impossível ignorar a sensação de que o destino me trouxe até aqui por algum motivo que ainda não consigo compreender.
Quando termino a limpeza dos quartos, desço até a lavanderia, onde Maria, uma mulher baixa e robusta, já está ocupada com uma pilha de roupas.
— Ah, Luna, finalmente está aqui para me ajudar! — exclama ela, sorrindo calorosamente ao me ver. — Estava precisando de mãos extras aqui.
— Estou aqui para ajudar no que for preciso — respondo, animada por finalmente ter uma companhia mais descontraída.
—Que bom! E você acha que vai se adaptar com suas tarefas, com a rotina da casa? O que está achando?
— Bom dia, Maria. Estou me adaptando sim, mas é tudo muito diferente do que estou acostumada. Moro num lugar bem apertado, e simples — respondo, tentando disfarçar o nervosismo que ainda sinto.
Maria solta uma risada suave, como se entendesse exatamente o que estou passando.
— Não se preocupe, querida. Tudo aqui parece imenso e grandioso no começo, mas logo você vai encontrar seu ritmo. A propósito, já encontrou o senhor Castillo hoje? — Ela pergunta, enquanto me entrega uma cesta de roupas para dobrar.
— Ainda não, mas... Tive um breve encontro com ele ontem à noite. — Hesito, lembrando das sensações conflitantes que aquele encontro provocou em mim.
Maria percebe minha relutância e olha para mim com curiosidade.
— E o que achou do senhor Alejandro? — pergunta Maria de repente, com um brilho de curiosidade nos olhos.
A pergunta me pega desprevenida, e hesito antes de responder.
— Ele é... imponente — digo, tentando escolher as palavras certas. — Parece ser alguém difícil de lidar.
Maria solta uma risada curta.
— Ele é, sim. Mas também é um homem justo. Alejandro carrega o peso do mundo nos ombros desde jovem. Tudo o que faz é pensando no futuro da família.
Essas palavras me fazem pensar. O homem que conheci na noite passada parecia distante e frio, mas, ao ouvir Maria, começo a imaginar as pressões que ele deve enfrentar diariamente.
— E quanto a Anastácia? — pergunto, lembrando-me do nome que ouvi na conversa entre Alejandro e seu pai.
— Você sabe sobre ela?
— Eu ouvi pai e filho conversando.
Maria faz uma pausa, sua expressão tornando-se mais cautelosa.
— Anastácia é um caso complicado. Ela é... bem, ela é tudo o que a família quer para Alejandro. Mas nem sempre o que a família quer é o que ele precisa, sabe? — Ela me olha de soslaio, como se estivesse decidindo o quanto deveria revelar. — Vamos ver como tudo se desenrola.
As palavras de Maria aumentam minha curiosidade, mas não insisto. Percebo que há muitas camadas de segredos e tensões nesta casa que vou precisar entender aos poucos.
Minutos depois estou limpando os cantos do sofá com um aspirador portátil quando Alejandro entra, trazendo consigo uma presença que parece tornar o ar mais denso.
Minha concentração vacila, e acabo olhando para ele por um instante. Ele me observa de volta, com um olhar intenso, como se estivesse desvendando cada detalhe meu. Seus olhos permanecem fixos em mim, sem desviar, como se estivesse me puxando para esse transe junto com ele. De repente, ele desvia o olhar para o teto, como se procurasse alguma resposta ou fizesse um pedido mudo.
Então, ele olha para mim e ri. Um riso baixo, provocador.
Por que ele está rindo?
— Tentando atrair atenção? — ele provoca, um brilho malicioso nos olhos.
Alejandro parece ter uma habilidade natural para causar desconforto, mesmo com um simples olhar ou sorriso. Sua presença é inegavelmente marcante e carrega uma carga de mistério que torna uma interação desconcertante. Enquanto você tenta entender o significado do seu riso, é possível que ele esteja apenas testando os limites ou tentando descontrair a atmosfera com seu sorriso provocador.
Para lidar com essa situação, talvez seja útil manter a calma e responder com segurança.