Dois dias depois...
Luna
Estou na cozinha, tentando me manter ocupada com as pequenas tarefas que me foram dadas, quando Marta entra. Com seu jeito autoritário de sempre, os passos firmes e a expressão que diz tudo sem precisar de palavras, já posso sentir que vem algo que não vou gostar.
— Luna — ela chama, direta. — Preciso que você sirva Alejandro e o Sr. Vargas na sala.
Meu estômago revira. Alejandro está com um convidado importante, e a última coisa que quero é me colocar em uma situação em que posso... bem, fazer o que sempre faço. Desastres. Desde pequena, sempre fui conhecida como a garota mais atrapalhada da minha rua. Tropeçar nos próprios pés, esbarrar em móveis ou derrubar qualquer coisa nas horas mais inoportunas já virou rotina. Minha família e amigos aprenderam a rir disso, e eu... bem, tento não me importar. Mas aqui, no casarão dos Castillo, ser desastrada não é exatamente uma qualidade.
Tento manter a compostura, mas a ansiedade já começa a crescer no fundo da minha mente.
— Eu? — minha voz sai mais baixa do que pretendia. — Não seria melhor alguém mais... experiente para isso?
Marta me encara com uma sobrancelha levantada, como se a minha hesitação fosse a coisa mais absurda que ela já ouviu.
— Não é nada complicado. Apenas sirva o café e as sobremesas. Nada que você não consiga fazer, Luna — ela afirma, como se fosse uma ordem.
Meu coração acelera. Marta não faz ideia do quanto eu odeio situações assim. m*l consigo me controlar quando Alejandro está por perto, e agora, com um visitante... As chances de algo dar errado são altíssimas.
— Eles estão discutindo negócios — Marta continua apressando-me. — Não quero que você demore. Apenas entre, faça o serviço e saia. Simples, sem complicações.
"Simples", repito mentalmente. Para qualquer outra pessoa, talvez. Mas eu já consigo imaginar as milhares de formas como isso pode acabar m*l. Respiro fundo, tentando esconder a apreensão.
— Claro, Marta — respondo, forçando um sorriso enquanto começo a arrumar a bandeja com o café e os doces. Minhas mãos já estão suando, e ainda nem cheguei na sala. Ótimo.
Ela me observa por mais um segundo, como se quisesse ter certeza de que não vou causar nenhum desastre. Então, finalmente, se vira e sai, me deixando sozinha com meus pensamentos caóticos.
Alejandro recebe um visitante importante hoje, um velho amigo da família, e tudo o que preciso fazer é passar despercebida. Simples, certo?
Oh Dios! Evitar um desastre seria o ideal, mas quando se trata de mim, o caos parece me seguir de perto.
Com a bandeja pronta, olho para a porta da sala de estar como se fosse o portal para um campo minado. Alejandro vai estar lá, com aquele olhar afiado, sempre atento, sempre... julgando. E agora, com o Sr. Vargas, não posso cometer nenhum erro.
"Sem complicações", digo a mim mesma, embora acredite pouco nisso.
Tento respirar fundo mais uma vez e começo a caminhar em direção à sala, como se estivesse sobre gelo fino.
As vozes ecoam pelo ambiente amplo e bem iluminado, onde Alejandro e seu convidado estão sentados, conversando sobre negócios. Eu entro com a bandeja de café e doces, tentando parecer tranquila. Meu coração dispara, minhas mãos suadas. É impossível não sentir o olhar de Alejandro sobre mim, sempre atento, sempre crítico, como se esperasse que eu cometesse algum erro.
— Ah, aqui está — Alejandro comenta, seu tom casual, mas seus olhos brilham com algo mais. — Luna, sirva o Sr. Vargas, por favor.
Aceno, mantendo o olhar baixo, e começo a servir. O Sr. Vargas, um homem de meia-idade, vestido de forma elegante, tem um sorriso agradável, mas a pressão de não errar aumenta. Seguro a bandeja com firmeza, tentando controlar o tremor leve nas mãos.
"Respira", digo a mim mesma. Então me aproximo de Alejandro, que está sentado com a postura impecável e os olhos cravados em mim. Quando estou prestes a servi-lo, sinto meu equilíbrio vacilar. É um segundo de distração, um tropeço minúsculo, mas suficiente. A xícara de café inclina, e em câmera lenta, o líquido quente respinga direto no braço dele, manchando a camisa branca que ele escolhera a dedo.
Meu coração para.
— Ah! — solto um grito abafado, tentando abafar o pânico crescente. — Alejandro, eu... me desculpe!
O silêncio que se segue é sufocante. O Sr. Vargas me olha com surpresa, mas parece mais divertido do que incomodado. Alejandro, por outro lado, permanece em silêncio, olhando para o café que agora se espalha pela manga de sua camisa, escorrendo até o pulso. Seus lábios se apertam em uma linha fina, e eu não consigo decifrar o que ele está pensando, mas sei que estou prestes a explodir de vergonha.
— Isso foi... inesperado — ele finalmente diz, a voz controlada, mas com um tom que me faz estremecer.
— Eu... sinto muito, eu... foi um acidente — gaguejo, minhas mãos tremendo enquanto tento secar o café com um guardanapo.
Ele me para com um gesto, pegando o guardanapo da minha mão antes que eu cause mais estragos. O Sr. Vargas ri levemente, tentando quebrar a tensão.
— Não se preocupe, Alejandro. Acontece — diz ele, descontraído, claramente alheio ao subtexto que paira entre mim e Alejandro.
Mas Alejandro não relaxa. Ele se inclina para frente, seus olhos fixos nos meus, com uma intensidade que quase me faz recuar.
— Claro que acontece — murmura, um sorriso tenso se formando. — Principalmente quando Luna está por perto. Sempre alguma coisa para... agitar o ambiente, não é?
O jeito como ele diz isso, carregado de sarcasmo e irritação contida, faz meu estômago se revirar. Ele acredita mesmo que faço essas coisas de propósito, como se eu tivesse algum prazer em irritá-lo.
— Eu não quis... — começo a dizer, mas minha voz falha, e sinto as palavras morrendo na garganta.
— Não se preocupe — ele interrompe, mas sua voz é fria. — Só... tente evitar mais acidentes, sim?
O Sr. Vargas continua a sorrir, claramente alheio à tensão. Alejandro, por outro lado, me observa por mais alguns segundos, seus olhos cheios de uma mistura de frustração e algo mais... algo que eu não consigo definir. Ele está no limite da paciência, e eu sei que cada pequeno desastre só o leva mais perto de explodir.
Saio da sala rapidamente, o rosto queimando de vergonha e o coração disparado, enquanto Alejandro fica para trás, limpando o café da camisa, com o olhar pesado em mim até o último segundo.