A propriedade era repleta de grama e areia em vários pontos, era a única coisa boa que o pai dele tinha feito por ele, era uma grama artificial, não acumulava água e podia ser lavada com um jato de pressão. Tinha custado uma fortuna, mas isso garantia que os pés de Klaus continuassem inteiros, se ele pisasse em um prego, pedra pontuda ou algo parecido não sentia. Por causa da síndrome só notava os ferimentos quando via o sangue ou na hora do banho, e com a grama podia andar descalço enquanto pegava sol, mas usava botas para andar de cavalo e ir até o estábulo.
Tinha o diagnóstico de bipolaridade, mas suspeitava que era a síndrome que desorganizava as suas funções neurológicas, provavelmente a irritação, a falta de empatia e os pensamentos sombrios viam da Riley day, mas era uma síndrome rara e sem muitos estudos, tanto que nas clínicas pelas quais passou era colocado em um quarto, sem cama, sem móveis e muitas vezes mantido em uma camisa de força para que não se machucasse.
Pessoas normais, que não eram portadoras da síndrome de Riley day, aprendiam a não bater o joelho na cama, a não encostar no fogão por causa do calor, mas ele não sentia nada disso. E os médicos não sabia como tratá-lo, uma criança em meio a tudo isso e sem apoio familiar enlouqueceria, e foi isso que aconteceu com ele. Klaus já havia ficado dois anos inteiros sem dizer uma palavra, os médicos entravam na sala, conferiam que ele estava bem e saiam. Os enfermeiros colocavam a sua refeição no tapete e partiam, tiraram a televisão, porque Klaus tirava da parede e jogava neles, como a dor não existia, não havia forma de fazê-lo cooperar, os outros pacientes podia ser controlado pelo medo da dor, mas não ele.
Era como uma fera acuada, seu nome fazia referência ao Natal, ao bom velhinho, mas não havia uma única partícula boa dentro dele, só podridão, revolta e pensamentos nebulosos.
Uma raiva que o fazia gritar quando a chuva caia, voltou para casa andando, era a atividade física diária que fazia, apesar da síndrome, tinha se desenvolvido bem. Ele não precisava de nenhuma medicação para o corpo funcionar, mas a mente sim, depois de inúmeros medicamentos e testes, a única coisa que mantinha a sua mente mais humana era a maconha, pura, farmacêutica e com prescrição médica, caso contrário ele entrava para a escuridão, e nesses momentos ele era capaz de qualquer coisa.
Encontrou a mulher no mesmo lugar. Não olhou para ela, se desfez da bermuda que vestia e a jogou no sofá, depois de tomar um banho frio, se sentou para comer uma porção de legumes, não tinha sabor de nada, mas era o que o mantinha em pé.
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Lia observou o homem à sua frente, ele tinha ódio, não sabia de quem ou de que, mas a expressão dele era feroz, não sabia o que fazer.
_ Vai mesmo ficar?
_ Não tenho outra opção.
_ Não vou ter uma mulher embaixo do meu teto se não puder f0dê-la.
Lia abriu a boca em choque, não era esse o acordo com Otto, só precisa cuidar da casa, fazer comida e não o deixar sem os medicamentos.
Ele gaguejou.
_ Não vou para cama com você.
_ Nem se quisesse, não tem uma única cama aqui, posso comê-la em pé, para mim não faz diferença.
Os olhos dela se encheram de lágrimas, Klaus era fascinado por aquela sensação, nunca havia chorado, ele havia gritado, sofrido, e pedido a morte em algumas ocasiões, foi doloroso em sua alma quando a mãe morreu, mas os seus olhos se recusavam a ficar úmidos.
_ Não sou uma prostitut@ e não pode me obrigar
_ Está sozinha, dentro do meu lugar, nem mesmo sabe o código de acesso, se eu quisesse ter você agora, não poderia evitar.
_ Me disseram que você era louco, mas não a esse ponto.
_ Não sou louco, se eu fosse era mais fácil, loucos são controláveis e têm sentimentos, eu não sinto nada, nem mesmo dor.
Então os boatos sobre a síndrome eram verdadeiros, a empregada mais velha de Otto contava, mas ela falava de Klaus como um d£mônio em pele humana. Apesar de ter sido criada na igreja, Lia sabia que d£mônios não existiam, mas talvez ela estivesse errada e descobrisse isso nos braços de Klaus.
Ele havia sido tratado como um bicho desde que a mãe morreu, sem carinho, sem cuidados e afastado da sociedade, se acostumou a não ver uma presença humana por dias, semanas, meses, até que um ano ou dois não fizesse diferença para ele. A solidão não o incomodava, muito pelo contrário.
Para matar a fome fez um acordo com um estabelecimento que fornecia marmitas, o entregador do restaurante deixava a caixa com a comida na porta, ia embora, já o pai aparecia todo mês de dezembro. Klaus suspeitava que ele torcia para encontrá-lo morto, talvez a menina bonita e de cabelos escuros fosse uma armadilha, se a estupr@sse e a mat@sse seria condenado à pena capital.
Ninguém com o mínimo de dignidade deixaria uma mulher sozinha com ele, mas Otto parecia não se importar.
_ Posso tomar um banho?
_ O último quarto do corredor.
Lia passou por ele tremendo, o medo podia ser pior que o fato consumado, mais um pouco e a menina se jogaria de um penhasco.