Capítulo 3

1417 Words
LAVÍNIA Eu não sabia mais como lidar com a indiferença do meu marido, ele dizia que era coisa da minha cabeça. E que alguns casos as gestantes ficavam meio paranoicas, ainda mais nesse período que devia ficar totalmente em repouso devido a descoberta da gravidez de risco. Sabia perfeitamente que nosso menino ficaria salvo sendo uma mãe cuidadosa, zelosa, nos seus primeiros meses dentro da minha barriga, que começara dar sua elegante graça. Mesmo notando a alegria do Vinícios ao saber do sexo do nosso primeiro filho, pois desejava ter mais com ele, adquiri uma certa tristeza por não ser uma menina, nunca poderia substituir a minha filha do passado, porém meu coração de mãe tinha esperanças. Sobretudo diante do problema que eu via que podia se agravar em nossa relação conjugal resolvi me calar, concordando com todo o que o meu esposo dizia ou queria para o bem da nossa família. Depois que passei m*l no hospital onde trabalha, recebi sua visita somada ao seu questionamento, o do por que estar ali, porém fiz de tudo para que não suspeitasse que eu sabia sobre a garota que havia afanado seu coração. Que sabia da pior forma que os dois depois de anos havia se encontrado, e ele escolheu escondê-la da sua esposa. Meu grande amor não agia como um homem traidor, vinha da casa para o trabalho e vice e versa. Mas... eu sentia que eles tinham algum lance. Só não tinha condições de ir atrás para descobrir. Obviamente a pediatra aqui adquiriu um pavor de perguntar a respeito desse encontro do acaso, todavia à medida que o tempo passava me corroía de raiva, magoas iam tomando conta no meu interior. Os ciúmes no pico da minha loucura. Deveria moderar meus sentimentos em relação a esse possível casal de amantes, até porque até onde pude descobrir a menina estava perto de se unir em matrimonio com um importante médico do hospital do câncer, aonde Doutor Vinícios trabalhava, onde conheceu a menina Laura. Sei de toda a estória deles, acompanhei de perto sua depressão por causa dessa garota e de como se recuperou maravilhosamente, graças a ruivinha, seu querubim... Como sentia falta dos apelidos carinhosos que este homem lindo me lançava no Canadá. Ele havia se apaixonado por mim, sei que sim. As lembranças da nossa vida lá, anda tão vividas na minha memória. Durante essas semanas eu o via se arrumando, muita das vezes cantarolando alegremente, sorrindo para si mesmo no reflexo do espelho do nosso quarto, quando era questionado o motivo de toda essa euforia, dizia-me que era pelo cargo novo no hospital e do quanto estava contente por ter retornado ao seu país tropical. Vê-lo diariamente desde que chegamos no Brasil feliz quando sai para trabalhar cortava meu coração em mil pedaços, se não estivesse travada nesse leito, se a minha gestação fosse saudável, com toda a certeza desse mundo estaria ao seu lado. Como presidente daquele importantíssimo hospital me daria emprego na ala da pediatria. Sua felicidade de todas as manhãs ao acordar era sem dúvida a fonte da minha mais profunda tristeza, porque quando chega do trabalho ao me ver faz logo cara de cansado, pergunta como foi o meu dia daquela forma metódica, mecânica, forçada, como se já não soubesse que havia se tornado tediosa, e que a única alegria que obtinha era quando chegava e eu podia olha-lo por inteiro, imaginando que a doce menina teve o prazer de estar com ele o dia todo, isso acabava com o meu estado de espirito. E quando vinha e me oferecia um simples beijo na testa, desviando sempre dos lábios amorosos da sua esposa, lábios que prontamente estão aqui para servi-lo, ele definitivamente estava me matando aos poucos e eu nada podia fazer para mudar isso, precisava unir forças para tentar algo para atrapalha-los, de jeito maneira iria desistir do meu casamento, mesmo que o meu esposo tenha um caso extraconjugal. Ou pensa em ter. Naquele dia ele me levou embora quando o meu estado de saúde melhorou, o que foi rápido, já que o motivo da minha queda brusca de pressão tinha nome e sobrenome. Entretanto, ao fazermos as consultas com o obstetra foi descoberto a deslocação da placenta, assustando a nós dois. O diagnostico veio para nos atrapalhar, e desde então sou tão ignorada pelo homem que havia me dito que eu era “perfeitamente suficiente para mim” e acabou me jogando no limbo, não me toca mais, muito menos dividimos a mesma cama. Deixei de ser a sua mulher fisicamente falando. Tá certo que por enquanto não podíamos ter relações sexuais, o médico proibiu até completar semanas suficiente, mas antes teria que fazer outro exame para ter consciência do andamento do deslocamento. Ele passou a dormir no escritório, quase não dialogamos, a não a respeito do bebê e da minha saúde, na minha visão agi friamente comigo e sempre está aéreo, disperso quando fica de folga em casa, contudo nessas horas ele me faz companhia ao assistir televisão, sentados na cama, deitada no seu ombro, abraçada naquele calor masculino.... Vinícios se eu não te amasse tanto assim não sentiria essa vontade absurda de levá-lo para longe do fantasma do seu passado. Estaríamos bem se essa Laura não trabalhasse mais lá... Talvez consiga mexer os pauzinhos para que esse desejo ao menos me fosse concedido. - Querido volta cedo hoje? Sabe o quanto sinto saudades... Falei vendo-o trocar de gravata pela terceira vez nessa manhã ensolarada de sábado. - Gostaria Lavinia, mas você tem conhecimento dos meus compromissos para o hospital. - Disse-me secamente ao jogar o acessório vermelho na cômoda na sua frente. - Entendo... - No mínimo sou obrigada a aceitar essa curta resposta pré-gravada vindo de um homem tão requisitado feito ele. - ..., mas convenhamos que não precisava se sacrificar tanto, já adquirimos dois bens magníficos ao longo da nossa jornada no Canadá. Lembra dos nossos anos de amizade e paixão? Foi naquele país que nossa história começou, guardo tudo com muito carinho... - Acho que vou usar a gravata verde água mesmo, realça a cor dos meus olhos. Ele não ouviu nada do que eu acabei de falar... Maldita Laura Almeida.... Precisei contar de um até o dez, buscando me acalmar, ser uma boa esposa. A edificadora do lar, só não sei até quando levarei essa situação adiante sem matar alguém no processo. - Ouviu o que acabei de falar? Parece distraída Lavinia. Virou-se totalmente, estampando impaciência e uma seriedade comtemplada em qualquer homem de negócios, tudo amarrotado naquele rosto viril, sustentado por um cavanhaque bem aparado. Sua vaidade havia crescido consideravelmente depois do nosso retorno. Suspirei cansadamente imaginando minhas horas tediosas. - Não fique assim meu bem. - Aproximou-se o suficiente para depositar um beijo na minha testa, aproveitei para agir rápido, pegando na gravata escolhida com tamanho esmero. Vendo onde ia chegar com a minha ousadia tratou logo de se esquivar abaixando a cabeça. Meu beijo ficou suspenso no ar, acarretando na minha alma um profundo desespero. - Por que faz isso comigo? Hein? Seus olhos azuis buscaram minha face chorosa, emburrada continuei: - Existe alguém especial entre nós meu marido? Vinícios não esboçou nenhuma ruga de preocupação, ainda por cima pegou na minha mão, pois ela havia criado vida própria e se recusava permanentemente soltar seu acessório. Escapulindo aplumou sua coluna, alinhando lentamente a gravata, sem mover seus olhos sérios da esposa devotada. - A existência do nosso filho pra mim é motivo suficiente para o afastamento carnal. Essa explicação pode ser suficiente para você? Ou prefere criar teorias da conspiração em sua mente fértil? - UM BEIJO NA BOCA NÃO MATARÁ NOSSA CRIANÇA!! Gritei no volume máximo das minhas forças e em seguida derramei as lagrimas da depressão, esta insistia me dominar. - Um beijo pode levar a toques, toques pode nos levar a algo mais. Lavínia, sabe como é essas coisas. Somos adultos e bem entendidos nessa questão. Sua voz denota preocupação, contudo sua olhada era na minha barriga. Virei somente uma incubadora, se não fosse esse bebê com certeza tentaria se separar para ficar com a Laura toda pra ele. Sem saída enxuguei as lagrimas, mas logo estiquei os braços, oferecendo minhas mãos. Meu marido segurou nelas compelido a colaborar. Por dentro imaginava que de alguma forma estava sendo obrigado a cuidar de uma mulher segundo sua conscientização de marido. Era doloroso tê-lo, porém seria muito pior perdê-lo. Minha sina da qual vou me agarrar até o fim.
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