ELLA.
Ele me observa com os seus olhos azuis, calmamente sair do carro, e a humilhação que é ter de levantar o meu olhar para o encarar, faz-me suspirar de desgosto, e eu observo um pequeno sorriso de lado, aparecer no seu rosto.
Eu olho para os homens na minha frente com essas armas apontadas para mim, e eu sorrio.
Essa foi a reação que o meu corpo achou adequada.
- Humn... - eu suspiro alto. - Eu acho que vocês vão querer tirar essas coisas da minha frente. - eu falo para eles que continuam a apontar as armas até que o infeliz faz um gesto para os mesmos baixarem.
- Devia estar parada, tremendo de medo, e começando a implorar por piedade, porque não está fazendo isso? - eu já tinha escutado a sua voz pouquíssimas vezes, em algumas entrevistas, mas ela consegue se parecer mais pertencente ainda ele, ela arrepiou os meus pelos, ela é e soa intimidante, é máscula, e quase persuasiva, daquelas que não precisa manipulação para obter o que quer.
É assim que ela soa e completamente condiz com ele.
- Eu jamais imploraria piedade a covardes. - eu respondo olhando nos seus olhos azuis, e imediatamente as armas são apontadas para mim, novamente e eu sorrio.
- Controle a sua boca, mocinha. - o homem atrás dele, exige.
Eu acho que o vi ontem.
- Mil e um carros, dois mil e duas armas apontadas para mim. - eu analiso exageradamente, mas é quase isso. - Eu acho que quem devia controlar a boca, é você, porque claramente não sou eu que tenho medo de alguém por aqui. - eu respondo e eu vejo o seu rosto depreciar.
- Inclusive, rebentaram com os meus pneus, estão fazendo de reféns os meus amigos, por quê? - eu questiono sentindo uma raiva que não quer permanecer contida. - Quem são vocês? - eu questiono retoricamente
- Vamos fazer esse jogo? - ele questiona, me encarando minuciosamente e eu sinto o meu sangue ferver dentro das minhas veias. - Vai agir como senão soubesse? - ele questiona sarcástico.
E eu me questiono como?
Como porras, ele me achou? O sistema já estava fechado.
- A questão correta é? Você sabe quem eu sou? - eu o questiono preocupada com o James, que está a fazer careta, gemendo silenciosamente de dor e se eu bem o conheço de nervosismo.
Ele está suando frio.
- Deixe-me ver. - ele fala irônico e eu mordo a minha bochecha interna com o deboche claro dele.
- Ella. - ele pontua e o meu coração ameaça sair pela minha boca instantaneamente. - Praticamente uma cidadã, fantasma no mundo. - ele diz. - Sem apelido, uma mocinha, que mora sozinha num bairro precário, praticamente esquecido no mapa, em um loft e até onde se sabe não faz nada da vida senão, brincar de justiceira e deixe-me ver... ah, mexer com quem não deve. - ele fala sarcástico e eu sinto o meu coração falhar enquanto eu observo ele me encarar com os olhos de quem pode me matar a qualquer momento.
- E o que isso tem a ver com você? - eu questiono-o defensiva.
- Bem, você atirou no meu pai. - ele afirma e o meu corpo se arrepia. - E agora nós só teremos um acerto de contas, Ella Shell Bourne. - no momento em que o meu nome completo saiu dos seus lábios e penetrou os meus ouvidos, eu senti o chão debaixo dos meus pés se abrir.
Faz muito tempo que ninguém me chama pelo meu nome completo, e sinceramente eu retirei-o para o meu próprio bem, da minha documentação.
Eu sinto os meus olhos marejarem enquanto eu o encaro, paralisada, chocada, e com as imagens mais repugnantes que o meu subconsciente guarda, voltarem pressurosamente.
- Então, quem você prefere que tome um tiro na cabeça, e quem eu decapito? - ele questiona voltando o seu olhar para os meus amigos.
Que merda...
- Ella... - eu escuto o Kent balbuciar tentando lutar contra os seus olhos que querem se fechar.
- Você não irá tocar em nenhum deles, devia parar de ser um filho da mãe, covarde e resolver os seus problemas somente comigo e deixá-los em paz. - eu falo avançando para ele, já não suportando mais, quando sinto dois dos seus homens puxarem as minhas mãos para trás, e em modo instintivo, eu pressiono o gatilho para os pés de ambos.
- Ella! - a Heyoon grita, desesperada, porque com a mesma rapidez que atirei neles e pretendia atirar nele logo em seguida, um dos seus milhares de homens colocou a arma na minha testa, e outros além de arrancarem a minha arma sem qualquer chance de eu me defender e acabar morta deixando os meus amigos, fizeram-me ajoelhar e eu senti os meus joelhos baterem com força no chão, e eu fecho os desgostosa.
Com certeza não é assim que eu gostaria de estar na frente desse i*****l, jamais fiquei desse jeito para criminoso nenhum e com certeza o meu pai está a detestar isso lá do céu.
Eu ignoro-o e levanto o meu olhar para o Kaio que está de joelhos no chão, tal como o James, a respiração dele é lenta, ele está a suar frio, já a senhora Soo, está obviamente assustada, mas bem mais calma que a Heyoon.
- Você matou um amigo meu, e depois atirou contra o meu pai. - ele diz e eu suspiro fundo voltando o meu olhar para ele. - Nada mais justo que eu tirar eles de você também, não acha, Ella? - ele questiona-me e eu sorrio desgostosa.
- Escute Riina. - eu falo e vejo o rosto dele neutralizar voltando o seu olhar para mim. - Já que está me perguntando eu respondo, mas eu não sei se você entende alguma coisa sobre justiça ou o que é certo ou errado. - eu falo e vejo o mesmo passear o seu olhar em mim.
- Um dos moços que você está fazendo de refém, está aleijado, nenhum deles possui armas e ainda não tem nada a ver com o seu pai ou o seu amigo afinal a uma diferença gritante entre eles e o bandido do seu pai. - eu deixo claro. - Oh... - eu recebi uma pancada na cabeça pelo simples fato de chamar um bandido de bandido.
Covarde.
- Você vai dizer para os seus homens deixarem todos eles entrarem, e eu vou entregar o que eu trouxe no carro a eles. - eu digo. - Daí eu e você nos resolvemos, sem os seus homens se for corajoso o suficiente. - eu mexo com o seu ego propositalmente.
- O que faz você pensar que eu quero me resolver com você, mocinha? - ele questiona e eu dou de ombros ainda o encarando.
- Você não conseguiu vir ter comigo sozinho. - eu provoco. - E mesmo assim, ainda não me matou, se o quisesse ter feito, já teria. - eu lhe digo. - Covardemente, mas teria. - eu acrescento de pirraça, e raiva e o mesmo suspira tirando os seus olhos de mim, e eu me sinto respirar novamente.
Os seus olhos voltam-se para os seus homens que me soltam bruscamente e as minhas mãos vão para o asfalto da estrada, evitando o meu rosto.
Imbecis.
Sem perder nem um segundo, permanecendo de joelhos na sua frente, eu me levanto.
- Entrem. - eu falo para a Heyoon que imediatamente abre a porta da sua casa e entra, com eles.
Eu suspiro fundo e caminho para o meu carro.
Eu estou com extremo mau pressentimento, por que razão ele não me matou ainda?
Qual é a intenção dele?
Suspiro pegando no cooler onde tem o sangue.
E ainda tenho um corpo por me livrar.
- O que é isso? - o que me mandou controlar a minha boca antes questiona bem do meu lado, com a arma ainda na minha direção e eu o encaro.
- Uma bomba. - eu respondo ironicamente, e eu vejo-o revirar os olhos suspirando frustrado, já o filhote de monstro sorri.
Reação que eu não estava à espera, mas também não dei atenção.
- Vai entrar comigo também? - eu questiono para o Riina, que baixa o seu olhar até mim.
- Entre. - é a única coisa que ele diz e eu suspiro fundo entrando.
O bom é que ele entrou sozinho.
- Ah, Ella... - a face de animação da Heyoon desmorona assim que me vê acompanhada dele e empalidece.
- Não morre... - essa é a voz do Kaio, e eu espero que ele esteja apenas sendo dramático.
Eu tiro os meus sapatos, porque aqui só tem uma regra e a regra é essa.
- O que está fazendo? - o filho da mãe do meu lado questiona, me encarando atentamente, enquanto eu calço as pantufas.
- Tirando os sapatos, aqui é proibido entrar com eles. - eu o respondo e não é como se ele desse a mínima.
Eu caminho até onde ficam as coisas de enfermagem da senhora Soo e ele vem atrás de mim.
O James está suando fria, a sua respiração está descompassada, ele já está sem a camisa e a senhora Soo, está a higienizar o seu ferimento.
Ele m*l consegue abrir os olhos, eu jamais irei me perdoar se alguma coisa acontecer.
- Aqui está a bolsa de sangue. - eu falo pousando ela, e eles não falam, a presença do filhote de criminoso, tirou o poder de fala deles, e os seus olhares se voltam para mim, tristes e marejados.
- Ella... - o Kaio fala e uma lágrima verte pelo seu rosto, e eu conheço esse olhar melhor que ninguém.
Ele está arrependido, está com medo, está frustrado.
Eu daria um sinal para ele, mas sem chances, eu o colocaria em perigo, e já basta isso.
Eu me resolvo sozinha, eu só preciso que eles fiquem bem.
- Se cuidem. - eu falo encostando no braço do Kent, e no mesmo instante a minha mão é tirada dele bruscamente.
- Venha. - ele fala, me puxando como se fosse nada para fora dali e para o bem deles eu não faço nada.
Nós saímos e ele simplesmente fecha a porta atrás de mim, literalmente me lançando para a cova dos leões, que já aguardavam com as armas levantadas na minha direção.
Desarmada, desolada, com um cadáver na bagageira do carro, e com umas cinquenta armas apontadas para a minha cabeça pelo herdeiro da máfia que tirou tudo o que era meu, eles enfiam-me para dentro dum dos carros sem que eu possa fazer absolutamente nada.
Com certeza isso não estava nos meus planos.
A porta foi fechada, m*l eu fui lançada como um objeto para dentro, o carro entrou em movimento.
- Que droga! - eu exclamo batendo os meus punhos na divisória entre o condutor e a parte de trás onde eu estou.
Os vidros são fumados, e mesmo cá de dentro eu não consigo ver p***a nenhuma.
Lágrimas vertem pelo meu rosto, frustrada!
E o meu peito aperta cada vez mais.
- Merda, merda, merda! - eu grito de raiva, e de impotência.
- Abre! - eu grito batendo na divisória, outra vez. - ABRE! - eu grito batendo chutando, e nem rachar ela rachou e o motorista, continuo silencioso como uma múmia.
Os vidros também resistiram aos meus chutes, as portas não destrancam, eu não estou com o meu celular e nem com a minha arma, nada!
Se ao menos essa divisória estivesse aberta, eu apagava o motorista e levava o carro, eu questiono-me até onde eles sabem sobre mim para terem chegado a esse ponto de segurança.
Horas se passaram, eu tenho noção, pois através da condução tentei identificar as ruas por onde eles estão passando, mas chegou um ponto, em que eu completamente me perdi, e que eu tinha certeza que não conhecia o lugar.
Foi tempo suficiente para eu entrar em desespero, e voltar a mim, quando o carro parou.
Eu estou nas mãos do herdeiro do Don de La Cosa Nostra.