ELLA.
Três dias passaram-se e foi o suficiente para os três se acalmarem.
Tempo suficiente também, para eles pararem de chamar-me de inconsequente, e voltarem ao normal e o suficiente para eu festejar que matei o filho da mãe, que simplesmente tirou tudo de mim, sem remorso algum.
Mesmo sabendo que com certeza ele está morto, eu não festejei tanto quanto achei que o faria, afinal esses simplesmente sumiram, novamente.
E garantidamente, matá-lo desse jeito, não era o meu objetivo.
Eu queria torturá-lo, do mesmo jeito que ele fez com o meu pai, eu queria enfiar uma faca no seu peito e abrir o seu corpo lentamente ao som dos seus gemidos.
Eu queria escutar ele pedir perdão pelo que fez, eu queria que ele mesmo me dissesse para onde ele levou a minha mãe.
E da mesma forma que eu não conseguia dormir cem por cento antes, eu não consigo agora, mesmo tendo a satisfação de vê-lo desfalecer por um tiro certeiro meu.
São duas da manhã, a Heyoon veio jantar comigo, a mãe dela cozinhou os meus pratos preferidos.
Neste momento estou na cozinha do meu loft, sem sono, preparando chocolate quente, aqui sozinha, porque a Heyoon Kim, já se foi.
Clink, clink, clink...
É o som que preenche os meus ouvidos mexendo o meu chocolate quente, com a colherinha, subindo até ao meu quarto.
Assim que eu chego, o meu celular que está na mesinha de cabeceira começa a tocar.
- Humn... - eu balbucio tirando a chávena da boca e a depositando na mesinha de cabeceira e faço uma careta quando vejo o nome do Kaio. - O que ele faz acordado a essa hora? - eu questiono retoricamente me sentando na cama, e atendendo.
- Kaio? - eu questiono. - O que aconteceu? - eu consigo escutar a respiração ofegante dele.
- Eu... eu... - ah, valha-me.
- Eu, eu, eu. - eu o imito. - Fala logo, Kaio. Porquê você está gaguejando? - eu lhe questiono começando a ficar preocupada.
- Eu acho que matei alguém... - pouca coisa me surpreende, mas isso!
- QUÊ? - eu o questiono me levantando. - Kaio, você não está brincando não é? - eu questiono-o.
- Ella, você acha que eu brincaria com uma p***a dessas? - ele questiona sussurrando e audivelmente indignado e eh dou de ombros. - O James está desmaiado, tem como você vir para cá logo, as nossas cabeças correm risco de serem tiradas do nosso corpo. - eu sorrio mesmo preocupada, com o drama dele.
- Achei que apenas eu era a assassina do grupo. - eu comento, deixando o celular no viva-voz, me trocando. - E que p***a vocês estavam fazendo? Não era suposto você estar a dormir a essa hora, você não tinha um projeto para apresentar na sua faculdade? - eu questiono pegando a minha jaqueta.
Eu ouço o som de carros chiando e tiros soando.
Porra!
- Era... - eu o ouço falar. - c*****o, agora não é hora para você ter desmaiado Kent! - eu ouço ele gritar. - Ella... venha logo! - ele grita enquanto eu desço às escadas, apressada, pegando a minha arma, e saindo logo em seguida.
- Estou vindo, me mande a localização e tentem não morrer até lá. - eu falo trancando a porta e corro até ao meu carro.
- É isso que estou tentando fazer. - ele responde irônico e eu sorrio, já pisando no acelerador, e vendo o que ele me mandou.
- Rápido! - ele grita, e eu suspiro frustrada.
Que p***a aconteceu?
- Tá, tá, tá. - eu falo verificando a localização.
Por que esses idiotas foram para o Porto a essa hora?
- Fique calmo, e tente acordar o James. - por mais que tenham feito merda, os dois acordados, aumenta a probabilidade de eu os encontrar vivos.
Poff!
Isso foi um murro?
- Oh, caralho... - eu ouço o gemido e o xingamento do James.
O método não importa, quando deu resultado.
Boa, Kaio.
- Baixa a cabeça, p***a! - eu escuto o Kaio gritar, e com isso escutei o som de vidros estilhaçando.
- Quem está seguindo vocês? - eu questiono completamente confusa.
O problemático é o James Kent, e não o Kaio que com certeza, seria incapaz de se envolver num problema que envolva armas ou perseguição, principalmente quando ele tem algum projeto importante, e uma bolsa de mérito, impedindo que ele tenha uma reputação manchada.
Não que ele precise de bolsas de estudos, mas ele é o típico menino de ouro, e ele realmente me adora; por isso, está envolvido nas minhas coisas, já o James...
Por mais que seja irônico, o Kaio, é filho de um agente da FBI, o seu pai era amigo do meu, mas ao contrário de mim, ele não quer ter nada a ver com esse mundo, ele é mais nerd.
- Longa história... - eu ouço o James falar e eu reviro os olhos.
Com certeza é coisa dele.
- Eu vou desligar. - eu falo, já desligando sem aguardar a resposta de ambos e acelero o máximo possível até onde indica que eles estão.
Pegar atalhos de madrugada, é sempre mais fácil, as estradas estão sem tráfego algum.
No mato, é onde mostra eles parados, e é onde eu estou, mas não vejo nenhum deles, apenas o carro.
- Não, não, não... - eu balbucio começando a ficar com medo que alguma coisa tenha acontecido com eles, quando observo com a lanterna do meu celular, o carro do James, com o vidro traseiro completamente estilhaçado no banco de trás, algumas manchas de sangue fresco, eu presumo que seja de algum ferimento e não de tiro.
- Que merda... - eu balbucio olhando para o chão procurando por passo, mas apenas encontro rastro de rodas.
O meu sangue está a ferver, e eu não suporto pensar que alguma coisa aconteceu com nenhum deles.
Eu já perdi pessoas o suficiente, eu irei ficar louca se eles tiverem feito alguma coisa com eles.
Eu entro no carro novamente, e sigo as marcas.
Não demorou muito até eu ver o carro na frente e a silhueta deles, armas apontadas para a cabeça de cada um no banco de trás, mas como eles são idiotas!
Eu baixo o meu vidro, tentando os alcançar, antes de entrarem novamente para a autoestrada.
Eu pego na minha arma suspirando frustrada, porque eles decidiram andar em ziguezague agora.
Eles acham que eu sou uma palhaça, é isso?
Puxo o gatilho na direção da roda que explode, e eles perdem a direção momentaneamente, mas conseguem aproximar-se da estrada, eu me apresso para atirar no outro pneu de imediato.
O carro chia, e eu faço a ultrapassagem parando na frente do mesmo, fazendo-os travar bruscamente, os bloqueando antes de chegar na autoestrada.
Por que eu não quero ir para a autoestrada?
Pelo simples facto de terem câmeras, e aparentemente eles já estão envolvidos em problemas que bastem.
- O que você está fazendo? - um dos homens grita saindo do carro, e eu caminho na sua direção. - Oh, roubou a arma do papai, para salvar o namoradinho… - ele diz sorrindo.
Ele realmente acha que é engraçado.
Eu conheço de algum lugar a cara dele…
- Me diga qual é, o Kent ou o Smith? - ele questiona.
- Ela está com uma arma, c*****o! - um deles grita de dentro do carro.
- Escutem, eu não entendo o que aconteceu. - eu falo, me inclinando a capô do carro, olhando para o que estava a dirigir e depois volto o meu olhar para o i*****l parado do lado da porta. - Mas eu tenho certeza, que vocês não querem continuar com a vossa brincadeira. - eu falo, procurando controlar a minha vontade de já disparar na cabeça desses palhaços, girando a arma entre os meus dedos.
- Vamos, tirem eles do carro. - eu falo e eles encaram-se, e instantes seguintes eles começam a rir.
- Quem você acha que é, moça? - o que está no volante questiona desdenhoso.
- É melhor sair daqui, e não se meter se não quiser dar trabalho ao seu papai, não devia estar fora de casa a essas horas. - o daqui de fora fala descendo o seu olhar em mim, e eu fecho os meus olhos, inspirando fundo.
Rapazes…
Eu atiro para a mão dele, no segundo seguinte, fazendo ele deixar a arma cair, que eu me apresso a pegar.
- Oh, argh. - ele geme alto de dor indo para o chão.
- Que drama. - eu falo pegando na sua arma, indo para o lado do motorista que está pálido agora, e meio paralisado.
Eu não sei quem esses filhos da mãe são, ou o que querem com o James e o Kaio, que agora se desenvencilharam lá dentro batendo nos outros dois no banco de trás, mas com certeza não sabem nada, e estão fazendo isso de pirraça.
- Eu atiro em você também, ou você sai da p***a do carro? - eu o questiono abrindo a porta e ele me observa horrorizado.
- Tudo bem, baixe essas armas… tudo bem, estou saindo. - ele diz levantando as mãos e saindo destrambelhado do carro.
E os dois, no caso o Kaio e o James saem também puxando aqueles dois.
- Você demorou. - o Kaio balbucia soltando o outro moço, passando a mão pela sua testa, que está sangrando pela sua bela pele n***a.
Que merda, hein.
- Para lá, vamos! - eu falo os direcionando para a árvore aqui.
- Quem é você? - um deles questiona confuso.
- Eu falei para vocês me deixarem em paz. - o Kaio fala rindo e eu reviro os olhos, enquanto o James que está todo ensanguentado vai buscar a corda que fica na bagageira do meu carro.
- Mãos para trás. - eu nem vou os revistar, é só uma pequena tortura.
Os quatro entreolham-se.
- Não ouviram? - o Kaio questiona engrossando ainda mais a sua voz.
Nem parece que estava a gritar de medo a pouco tempo.
- Você é bonita demais para pegar em armas e ainda para andar com esses imbecis. - um deles fala, e eu assisto os dois idiotas dos meus amigos os amarrando e eu caminho para o carro deles.
- Vamos ver o que os matulões têm aqui… - eu falo comigo mesma, mexendo nas coisas.
Humn… dinheiro.
Ótimo, suficiente para o Jake arranjar o carro.
- Ei, deixe isso! - o que estava no volante grita. - Cara, por favor… - ele choraminga. - Esse dinheiro é do meu pai. - own, como é fofinho.
- Oh, que peninha… - eu falo levantando o maço de dinheiro para eles que estão atados ao tronco da árvore e o James e o Kaio veem até mim.
O James está bem mais ferido que o Kaio, eles levaram uma bela de uma surra.
- Considerem isso como p*******o pelo que fizeram com o outro carro. - eu digo-lhes e os quatro expiram frustrados. - E outra, vocês não vão abrir a boca sobre isso, senão quiserem receber uma visita surpresa depois. - eu falo retirando a munição da arma deles. - Estamos entendidos? - eu questiono-os atirando a arma que lhes pertence para dentro do carro dos mesmos.
- Entendidos? - o Kent os questiona todo sapeco agora.
- Entendido. - eles murmuram, mas é o suficiente para mim.
- Cara, me tire daqui. - o que eu dei um tiro choraminga enquanto eu caminho para o meu carro.
No que esses dois se meteram?
Entro no carro e os dois entram instantes a seguir.
- Como eu amo você! - o Kaio fala puxando a minha bochecha se sentando no banco do passageiro, enquanto eu retiro as minhas luvas.
- Vocês dois vão me explicar que merda foi essa? - eu os questiono fazendo a manobra para ir até onde o carro do James estava.
O Kaio fica calado e eu subo o meu olhar para o James pelo espelho, e ele está subindo a camisa, que está ensopada de sangue.
- Isso foi uma facada? - eu questiono incrédula e ele se ajusta a cadeira fazendo uma careta.
- Sim. - ele responde e eu suspiro indignada, mas me contenho.
- Que p***a aconteceu, porque vocês estão aqui a essa hora? - eu questiono confusa.
- Eles são colegas da faculdade do Kaio. - o James responde.
- A culpa foi toda do James, eu não queria problemas… - o Kaio fala voltando a entrar em pânico.
- Eu ajudei você, seu i****a. - o James fala atrás.
- Ah, ah, ah… - ele mímica sarcástico. - Olha como ajudou, se descobrem isso eu estou ferrado. - ele diz e eu suspiro fundo.
Eu só queria descansar e tomar um chocolate quente.
Mas me parece que a minha noite será mais longa do que eu esperava.