ELLA.
Deitada nessa cama, olhando para cada mínimo detalhe desse quarto, tentando distrair as vozes no meu cérebro, eu observo o relógio mostrar as horas passando, lentamente.
Eu devia descansar…
Mas eu não consigo.
Já são três da manhã, e eu não consigo, a minha cabeça parece um campo de batalha.
E não, não é porque o Alexander está no quarto e eu tenho receio que ele venha com mais de um dos seus animais de estimação, pelo contrário…
Desde que ele saiu daqui enquanto eu estava no banheiro, ele não retornou.
Onde ele está e o que está a fazer?
Não é do meu interesse, o que eu queria saber ele não respondi e fim ao cabo, mesmo se ele o fizesse, eu não estou aqui para ser mandada ou guiada por esse filhote mimado de mafioso.
Eu inspiro fundo, com a minha cabeça só rondando em volta desse i****a, me sentando na cama.
O meu olhar vai para a enorme pedra que brilha no meu dedo anelar e eu não resisto em fazer uma careta de irritação.
As luzes do quarto estão baixas e mesmo assim, essa coisa brilha.
- Argh… - eu suspiro indignada tirando isso do meu dedo e pousando na mesa de cabeceira para manter longe do meu campo de visão.
Com os meus joelhos dobrados, eu deito a minha cabeça neles, e abraço as minhas pernas, com pensamentos que deviam estar bem lá no fundo do meu subconsciente em silêncio, gritando para perturbar a minha paz.
Chocolate quente.
- Eu preciso… - eu falo não conseguindo resistir mais, e saio da cama, calçando os chinelos, e saindo assim mesmo.
Todos já devem ter gritado e retornado aos seus quartos.
E bem, eu tenho um vício e não é pó ou álcool e sim chocolate quente.
Consegue ser mais eficaz que qualquer sonífero para mim, desde que eu me conheço por gente.
Além de fazer-me lembrar do meu pai, que preparava ele para mim o tempo todo, porque o vício começou desde que eu só tinha um dígito na minha idade.
Desde então, eu só consigo dormir com isso, é meio mental isso, mas eu só funciono assim.
Eu fecho a porta detrás de mim, para encontrar esse lugar com as luzes baixas, mas não completamente apagadas, o que é bom…
Já que estou numa mansão cheia de cobras.
Eu desço às escadas e ao chegar no segundo andar eu observo minuciosamente o quarto aonde a enfermeira entrou ontem de manhã.
Ansiosa…
Para mostrar com quem todos eles, pai e filho, se meteram.
No dia em que eu encontrei o andar lá debaixo, que o Jake me proibiu de entrar, eu aproveitei para ver alguns cômodos da casa, como a cozinha, então encontrá-la não foi complicado.
Esse lugar é enorme.
Literalmente.
Está obviamente vazia, e também estava com as luzes reduzidas até eu acender.
Uma cozinha bem equipada, não é a minha área, porque eu só cozinho quando necessário mesmo, mas é até bonitinho para um lugar que confecciona comidas para os Riina que eu conheço.
Porque os que os outros conhecem, ela é bem merecida sob a sua visão.
- Okay… - eu balbucio sozinha, passando o meu olhar pelos armários, tentando adivinhar onde possivelmente pode ter o pó do chocolate quente aqui.
Que saudades da minha casa.
Eu só consegui encontrar os utensílios, e tive que entrar na dispensa que mais parece um shopping, e foi difícil achar.
Mas para a minha felicidade, eu achei.
Voltei para a cozinha, e sentei-me na cadeira disposta na frente da bancada e preparei rapidinho o meu chocolate quente, e tomei aqui mesmo…
Pensando no maldito dia que esse projeto de brutamontes veio com a sua locomotiva me raptar.
Eu estava prestes a tomar o meu chocolate quente quando o Kaio ligou, e eu saí…
Como será que está o meu loft?
O meu carro…
Os meus amigos.
ARGH!
- O que está fazendo acordada? - por muita, mas muita sorte mesmo eu não cuspi e derramei essa merda em mim, do susto que eu tomei ao escutar repentinamente a voz desse i****a.
Eu levo o meu olhar até ele, p**a, enquanto ele entra, usando óculos, não de grau, mais aqueles bloqueadores de luz azul, para computador e outras coisas, e ele não podia estar a cara de um…
Ella, por favor, se recomponha…
Que merda se passa com você?
Ele se aproxima e eu inspiro fundo tentando me acalmar e fingindo que nem o estou a ver para tomar o meu chocolate quente tranquilamente.
Ignorando o como esse filho da mãe cheira bem.
Ele vai pegar água e eu forço os meus olhos a não o seguirem, e missão parcelada…
Meio concluída.
Ele serve a água num copo na minha frente na bancada, me observando e eu só quero que ele saia.
- Você realmente gosta disso. - ele comenta, e eu franzo o meu cenho, olhando para ele.
Ele afirmou, não perguntou.
Como ele pode afirmar o que eu realmente gosto, se ele não me conhece, quando foi que ele me viu tomar isso desde que cheguei aqui.
Oh…
Ele com certeza entrou no meu quarto.
A hipótese disso ter acontecido me deixa ainda mais nervosa e eu retiro o meu olhar do dele, levando a minha chávena até a boca o ignorando.
- Um gosto peculiar para quem gosta de derramar sangue. - ele comenta e eu inspiro fundo, e levo os meus olhos até aos dele, irritada.
- Eu não quero falar com você, tanto quanto não quero escutar você, e nem ver você. - eu falo. - Cala a boca. - eu falo frustada e volto a levar a chávena, a minha boca, desviando o meu olhar do dele.
O silêncio perdura por instantes até ele decidir ser comunicativo agora.
- Você é a mulher mais esquisita que eu já vi. - ah!
Ele falou fazendo-me olhar para ele indignada, enquanto ele vai deixar o seu copo no lavatório.
Ele me chamou de esquisita?
- Eu sou mesmo. - eu pontuo.
Parecer esquisita para homens como ele, é um elogio.
- Não é suposto ficar feliz com isso, não é um elogio. - ele diz olhando para mim.
Ele está tentando me provocar?
- Você está me vendo sorrir, Riina? - eu questiono-o e ele sorri.
- Esse é o seu problema. - ele pontua. - Você nunca o faz. - ele fala e sinceramente eu estou farta disso.
Eu tomo todo o chocolate quente de uma só vez, sem puder degustar dele como deve ser por causa desse projeto de robô falante que se acha mais do que devia.
- Cite um motivo do porquê eu faria isso? - eu digo-lhe, e o silêncio perdura por uns dez segundos até eu ir ao lavatório.
- Você tem a honra de estar perto de mim. - ele fala e eu reviro os olhos.
- Isso está mais para um pesadelo do que outra coisa, Riina. - eu falo terminando de lavar a minha chávena, e volto a bancada pegar nas coisas que eu tirei, para guardar novamente.
Eu pego e vou até a dispensa o deixando lá.
- i****a… - eu murmuro comigo mesma enfiando as coisas no lugar, olhando para as prateleiras.
- Ah… - eu arfo de susto quando ele aparece do meu lado. - Poxa, c*****o! - eu exclamo olhando para ele, irritada, assustada e com os meus hormônios começando a ficar irrequietos, mas ele me encara como se o oceano agitado no seu olhar, tivessem se acalmado.
O seu olhar penetra o meu, e eu busco ar da maneira mais discreta possível, tentando compreender o porquê ele está aqui ainda.
- Você não vai me dizer o que aconteceu? - ele questiona e eu oscilo o meu olhar no dele, procurando entendê-lo
Eu não consigo o decifrar as vezes, ele é complexo de se entender.
- O que você quer que eu diga para você? - eu questiono-o olhando nos olhos dele. - Porque eu tenho de dizer alguma coisa para você? - eu questiono-o e eu observo o seu maxilar trancar.
Porra…
- Eu questionei se o Stefano fez alguma coisa com você, e você disse que não. - ele diz avançando na minha direção, fazendo-me automaticamente, dar passos para trás até as minhas costas baterem na prateleira.
Ele está zangado por algum motivo.
- Eu disse que não queria ver você com ele e você disse, okay. - ele diz e o meu coração falha uma batida.
- Por que você estava falando com ele? Do que vocês falavam? - ele gesticula minimamente com a sua cabeça questionando e eu franzo as minhas sobrancelhas, com os meus batimentos acelerados.
O seu tom de voz parece controlar até as minhas cordas vocais, é um tom que exige resposta e mesmo que contra a minha vontade o meu corpo o obedece.
- Fale Ella. - ele não grita, mas a sua ordem me reprime.
E se ele quer saber que saiba.
- Ele disse que você não presta. - eu falo, respondendo no mesmo tom que ele e dando de ombros. - Não que eu não saiba, claro. - eu falo. - Quer saber mais? - eu o questiono.
- Ele disse que ele cuidaria de mim, coisa que eu não preciso, obviamente. - eu falo e vejo o oceano no seu olhar se tornar turbulento novamente.
- E eu deixei isso claro, caso também esteja se questionando. - eu falo. - E foi quando ele me questionou quem eu pensava que era… - eu sorrio, e levanto a minha mão, medindo entre os meus. - E eu estava nisso aqui… - eu mostro com os meus dedos, fazendo-o olhar. - De dizer quem eu realmente sou, mas eu o mandei questionar a mãe dele. - eu falo.
- Satisfeito? - eu o questiono com raiva dele, e não suportando ficar aqui com ele, então eu o afasto da minha frente e saio dali sem querer escutá-lo mais, ou olhar para ele.
Esse i****a está acabando com a minha sanidade mental.
Eu saio dali num passo apressado, até entrar no quarto, e ir direto para o banheiro.
Eu estou com a merda da minha calcinha, vergonhosamente molhada.
O meu rosto incendia enquanto eu retiro os calções do meu pijama e a minha calcinha molhada logo em seguida.
O meu rosto queima.
Pelo amor de Deus, o que está acontecendo comigo?
Eu me refresco e troco-me, molhando o meu rosto com água fria, antes de regressar para o quarto.
Mal eu saio, eu vejo ele entrar aqui.
- … - que merda hein.
Eu inspiro fundo subindo na cama, enquanto ele olha para o sofá.
- O que é isso? - ele questiona.
- O que você acha? - eu o questiono cobrindo.
- Eu não vou dormir no sofá, Ella. - ele pontua e eu dou de ombros. - A cama é grande o suficiente para nós os dois. - ele diz e eu sorrio.
- Ah, mais nem de brincadeira eu dormirei com você na mesma cama que você. - eu falo. - Se vire. - eu falo.
- Ella. - ele diz e eu inspiro fundo.
- O que é, Alexander? - eu questiono-o no fundo me divertindo com o temor dele.
- Você está falando sério? - ele questiona e eu seguro o meu sorriso.
- Eu estou. - eu pontuo. - Eu me ofereci para dormir aí, mas você decidiu tocar em mim. - eu falo. - As minhas costas precisam de descanso. - eu falo, me deitando. - Faça bom proveito. - eu digo-lhe, puxando o lençol para mim.
- Ella… - ele fala, e eu sorrio, ele realmente não quer dormir no sofá.
- Eu quero dormir, Alexander… shhh. - eu falo fechando os meus olhos, e escuto o mesmo suspirar frustrado, e isso me diverte.
Eu fiquei o observando de soslaio, se conformar aos poucos, e decidir ajustar os lençóis no sofá, resmungando.
Até finalmente se deitar.
Não estamos quites, mas isso já me deixa satisfeita o suficiente.
Em algum momento, eu finalmente adormeci.