Rebeca Vaz
Estranho ver o Polegar entrando no nosso quarto todo atordoado, ele passa direto para o banheiro do nosso quarto, me levanto da cama apressada e já desço para esquentar a comida do almoço, já que ele não veio almoçar em casa, e eu não sabia se ele viria jantar, acabei nem esquentando a comida, e se ele chegar na cozinha e a comida não estiver quente, começa mais uma seção de pancadaria.
Assim que desligo o fogão o Polegar entra na cozinha e já se senta, esperando ser servido, e hoje ele está diferente, cara de quem chorou, o rosto vermelho, meio inchado, enfim, nada que seja da minha conta, só espero que ele não acabe descontando em mim toda essa fúria dele.
Polegar: o 2N morreu- fala baixo enquanto eu sirvo a comida dele.
Eu: desculpa, eu não escutei- falo meio amedrontada, ele odeia ter que repetir as coisas.
Polegar: o 2N morreu, o Nicolas está morto- fala mais alto e eu paraliso no lugar.
Se o Nicolas está morto, a Priscila vai finalmente se ver livre desse inferno!! Aí meu Deus, obrigada, só espero que eu também consiga me livrar desse meu inferno pessoal em breve.
Eu: como?- pergunto o olhando.
Polegar: uma emboscada na pista, o velório vai ser amanhã de manhã, você vai comigo- fala e eu confirmo com a cabeça apenas.
Sirvo a sua comida e deixo o prato na sua frente, peço licença para sair da cozinha, avisando que estaria no último andar lavando roupa, e sai andando.
Priscila é a minha cunhada, acho que influenciado pelo irmão, o Nicolas também se tornou um alguém completamente diferente depois que se casou, e fazia com a Priscila o mesmo que o Polegar faz comigo, e que Deus me perdoe, mas eu não consigo sentir pena da morte do Nicolas, apenas alívio... Eu estou aliviada que a minha cunhada e amiga, conseguiu se livrar daquele demônio com quem ela era casada.
[...]
Acordo antes que o Polegar, como sempre, me levanto e vou no banheiro, escovo os meus dentes, tomo o meu banho e saio do banheiro com a toalha em volta do meu corpo, sigo até o meu guarda-roupa e visto um conjunto preto, um macacão suplex, um moletom preto e um tênis branco nos pés.
Arrumo o meu cabelo, passo uma maquiagem leve para esconder as marcas que o Polegar deixou em mim ontem a noite, após mais uma sessão de pancadaria, passo perfume, desodorante e estou pronta para mais um dia do meu inferno pessoal.
Desço para a cozinha pronta para preparar o café da manhã, monto a mesa com pão, frios, um bolo que pedi para os vapores da contenção comprar, uma jarra de suco e a garrafa de café.
Todos os dias são assim, o Lucas tem que acordar e ver a mesa bem posta, chegar para almoçar e a comida estar pronta e quente, e eu tenho que servir o prato dele, e na janta a mesma coisa, caso contrário eu apanho, e mais, ele tem que chegar para o almoço e a casa tem que estar um brinco e eu bem arrumada também, caso contrário, apanho também, e assim vai indo a minha vida.
Polegar: senta para tomar café também, quando terminar eu vou me arrumar e a gente sai- fala e eu confirmo com a enquanto o obedeço.
Tomamos o nosso café da manhã em completo silêncio, e eu prefiro assim também, eu não consigo mais ver o Lucas ou ouvir a voz dele sem sentir repulsa, só não fui embora ainda porquê sei que não vou conseguir fugir, já tentei, e como resultado, eu passei seis meses em coma.
[...]
Olho para o Polegar, para a Priscila e para o tal gerente do complexo, o gerente está na dele, com cara de poucos amigos, tem cara de ser extremamente leal ao Lucas, a Priscila está se fazendo de viúva inconsolável e o Lucas está estático a horas, apenas encarando o corpo morto do irmão no caixão.
Eu: eu vou no banheiro com a Priscila- falo baixo para o Lucas que apenas olha para mim e olha para o tal gerente.
Ele ergue a mão o chamando e logo está perto de nós, o Lucas manda ele nos acompanhar até o banheiro e assim ele faz, sem falar um "A" sequer com a gente, ele entra no banheiro com a gente e eu sigo para uma das cabines sozinha, enquanto escuto a Priscila conversar com ele.
Pri: que horas eu vou embora?- pergunta com a voz agoniada.
- De madrugada, vou te levar escondida no carro até o ponto, lá você vai pegar um ônibus clandestino até São Paulo, em São Paulo vai ter uma pessoa te esperando.
Pri: como vou saber quem é?
- Apenas vai.
Dou descarga e saio da cabine indo lavar as mãos, os dois continuam conversando como se eu não estivesse no banheiro, olho para os dois e olho bem para a Priscila.
Eu: você vai conseguir fugir, graças a Deus- falo a abraçando.
Pri: como eu queria poder te levar junto minha irmã- fala chorando no meu abraço e eu seguro as lágrimas.
Eu: você estando longe desse inferno já é um alívio para mim- falo fazendo um carinho no seu cabelo.
Pri: eu não vou ficar em paz sabendo que você continua nas mãos desse monstro- fala e eu n**o com a cabeça secando o seu rosto.
Eu: eu vou me virar bem aqui, sempre me virei bem aqui, não vai ser agora que eu não vou conseguir, tá bom? Se cuida Priscila, e viva a sua vida como você nunca viveu antes- falo e a puxo para outro abraço- um dia a gente vai se reencontrar minha irmã- falo e ela me aperta mais no abraço.
Pri: está parecendo que uma de nós duas vai morrer- fala e eu dou uma pequena risada sem graça.
Eu: nós duas sabemos que eu só tenho um final com o Polegar, e eu sinto que esse final não está tão longe assim de chegar- falo e a Priscila começa a chorar.
- Não se depender de mim- fala e eu olho para ele- eu estou conseguindo tirar ela daqui, posso te ajudar também- fala e eu n**o com a cabeça.
Eu: a última vez que tentei fugir, eu passei seis meses em coma- falo e a Priscila olha para ele.
Pri: cuida dela para mim Lobão, ela é a minha única família- fala e ele confirma com a cabeça.
Lobão: uma coisa de cada vez- fala e a Priscila volta a me abraçar.