Sombra

1485 Words
Magali saltou da janela, fiquei pasmada ao olhar para ela quando correu para o carro enrolada num cobertor. Sorri e fica a olhar para mim. — Eles estão a discutir. – Notasse o desespero. – Vamos? — Sim, melhor apagares a foto… - A voz ia sumindo. — Nem a devia ter publicado, foi por isso que ela veio a casa dele. – Encosta a cabeça no vidro e suspira. — Talvez seja melhor, já agora… não queres vestir algo antes de te deixar em casa? – Sorriu para melhorar a situação, mas sendo sincera não tem como mudar. — Os exames finais estão a chegar, tenho tempo para esquecer o que aconteceu… Não comentei mais nada e apenas dirigi para minha casa, ela mudou-se lá, e conheceu Sete-Sóis. Estava novamente soturna, tirei um café para cada, passei-o e sentei-me na cadeira da cozinha. — Vou apagar aquilo antes que ela me mate na universidade. – Pega no telemóvel e abre o insta. — Ele não se decide… talvez não seja o tal… - Bebo um gole de café. — Nem o quero mais a frente, escroto…. Talvez seja mau da minha parte, mas eu não a queria ver com aquele rapaz, muito problemático, indeciso e imprevisível. Gael dormia refastelado na sua cama, toda família estava acordada, mas ele fazia por dormir. O telemóvel tocava de minuto a minuto, o número não tinha nome, mas claramente ele sabia quem era, pois, quando a chamada acaba lê-se, 35 chamadas por atender. Está mais que óbvio quem era a pessoa do outro lado da linha. Tinha ignorado a rapariga continuamente e continuava a fazê-lo. A irmã entra no quarto de rompante e desliga outra chamada que começava. —Gael! – Chama-o falando alto. Este nem se move, a respiração mantém o seu compasso calmo. —GAEL. – Manda-lhe com um dos muitos livros espalhados pelo chão e móveis. Ele levanta calmamente a cabeça e olha chateado a irmã. — Desliga essa desgraça, começa a ouvir-se na cozinha. — Não precisas de gritar… - Esfrega os olhos e ajeita a camisola. — Então desliga essa treta de uma vez ou não dormes mais hoje. – Felicia perdia o fio da paciência com o irmão. — Está bem, desligo já. – Pega no telemóvel, passa o dedo pela película partida e coloca o pin, abre a lista de chamadas tirando assim as notificações e coloca o telemóvel em silêncio. – Feito, contente, minha deusa?! — Deuses não te aturavam, i****a. – Saí do quarto e volta a descer para a cozinha. Magali estava de volta a casa, entra devagar e tenta ver se a mãe já chegou. Normalmente não estava ali naquele horário, mas a certeza não era completa. Passa pela sala e quarto da mãe, tudo está silencioso. Rapidamente muda de roupa e arruma a minha para a devolver mais tarde, suspira por segundos. —Já voltaste? Do imenso silêncio surge o irmão, está todo sorridente e parecia ter acabado de tomar banho. Ainda tinha o cabelo a pingar quando lhe fez a pergunta. — Sabes onde a mãe deixou o secador? Não encontro. — Sei não, saí, mas é. – Não tinha paciência para os constantes pedidos absurdos dele, nunca encontrava nada, não sabia cozinhar direito, nem limpar, pior ainda era queixar-se de como o trabalho dos outros estava sempre péssimo. — Veio m*l-humorada da casa do boy foi… - Deixa a frase no ar como quem não quer nada. — Não namoro, trouxa. – Berra pela porta e fecha a mesma bruscamente a seguir. – O espírito não tem paciência. Deita-se na cama e envolve-se numa manta. Desde que saiu que não recebeu nenhuma mensagem dele, talvez devesse realmente desistir e dedicar-se aos estudos. Outros dias e pessoas virão, deveria deixar as suas opções livres. Volto finalmente a casa e rogo a qualquer entidade superior, não me telefonem mais para tratar de problemas. Quero um fim de dia calmo e quente, não ser uber das minhas amigas e problemas. Já tenho os meus para isso. Sete-Sóis como sempre cumprimenta-me, pego nele ao colo e abraço-o, cheira bem, o pelo está mais macio, provavelmente este a lavar-se enquanto estive fora. — Coisa fofa da casa. – Falo para ele, arregala o olho e ficamos ali uns minutos. Talvez ele tenha entendido? O que interessa neste momento é que estou em casa e podia descansar novamente, fazer o meu jantar e deitar cedo. Não tinha aulas pela manhã, mas também não queria acordar que nem um morto-vivo no dia seguinte. Faço o planeado e deito pelas 22h como de costume, o bichano sobe na cama de imediato e enrosca-se junto da minha cabeça. Era bom ter companhia de facto. Na manhã seguinte Sónia abria a pastelaria onde trabalhava, 6 horas e já estava pronta para mais um turno. Liga a TV e, no fundo ouve as notícias na CNN. — Mais uma morte misteriosa nestas terras da beira, o suposto suspeito continua a monte e depois de anos sem matar ninguém voltamos a ver o seu modus operandi novamente. Sónia olha então o plasma e fica a ver a notícia. — Segundo as autoridades, o suspeito é dono de mais de 5 assassinatos e continua a monte depois de anos. O que nos pode falar sobre este homem agente. — Para começar este suspeito nunca veio tanto para norte, sempre tivemos a sua marca por Lisboa, Aveiro é um sítio novo para ele. Por tal motivo é necessária mais precaução do que habitual, novos lugares fazem com que se torne mais hostil. — O que nos pode falar sobre a forma de ataque? — Ele não escolhe idades, das 5 vítimas duas eram idosas e três jovens em idades variadas. Contudo, sempre encontramos a presença de água. Por isso rios, praias e lagoas são sítios a não visitar ou passear neste momento. Refiro-me mais para a comunidade jovem que se encontra em Aveiro, andem sempre em grupos, tanto homens como mulheres, este sujeito ataca ambos. — Ficamos assim com a notícia de como nos próximos tempos teremos de ter cuidados adicionais. De acordo com o diretor da PJ, andem em grupos e tentem reduzir o número de saídas em especial para os mais novos. Também eu via a notícia do outro lado de Aveiro, insónia novamente, não pregara olho. Era mais que certo, alguma coisa ia envolver aquele suposto homem. O meu nervo lá estava, a minha ansiedade era tanta que o meu estômago começou a doer. A minha visão era tão n***a que pensei não voltar a sair de casa, depois de tanta tristeza tínhamos um serial killer à solta no distrito. — O homem mistério recebeu o nome pela comunidade Lisboeta de Sombra. — Não o veem e Sombra é o nome escolhido. – Sónia limpa o balcão sendo sarcástica e o seu primeiro cliente do dia entra. — Só tolos não é. – O senhor já de idade traz uma pequena saca azul, como de costume busca as suas duas padas pela manhãzinha. — Fazer o que, nem todos tiveram uma boa vida... - Sónia atende o habitual cliente enquanto ouve o resto da matéria da jornalista. O homem sai m*l paga, Sónia olha a escuridão lá fora. Nunca pensou no medo que a escuridão pode trazer, em especial quando a caça a alguém começa no lugar onde vive. A vítima foi encontrada num dos maiores rios da região, rio Vouga, rio este que leva muitos litros de água e é dono de imensos ramais que o abastecem. O Natal aproximava-se e com ela vinham testes e apresentações. Íamos ter aulas até ao dia de Natal basicamente. Nenhuma paz e sossego, e muitas coisas para refletir. Telefonei aos meus pais, não iriam passar o Natal nem o Ano Novo em Portugal, tinham ficado retidos no aeroporto por motivos que a minha mãe não quis adiantar. Não dei atenção, não era meu primeiro Natal sozinha, na verdade, era dos primeiros que tinha alguma companhia. A bolinha de pelo branca e laranja fazia os meus dias brilharem por mais escuros que fossem. Era com isso que contava para me ajudar a semana dura que iria ter pela frente, na próxima sexta estaria alerta para qualquer coisa que não estivesse no seu devido lugar ou tempo. Desta vez nada me iria abalar, era pura coincidência, nenhum ciclo existia e a probabilidade de este ser imaginação minha era gigante, por nunca ter os meus pais comigo e viver num mundo onde ninguém se importa com a minha vida. Era tudo inventado para encontrar algo para me agarrar, foi a minha conclusão depois de mais uma noite de insónia. Esta notícia de um assassino fez-me repensar o que refleti por uma noite inteira. O local também trazia apreensão, Macinhata do Vouga. — Que se lixe, segunda venha fodida mesmo! – Sete-Sóis abriu o olho repentinamente e voltou a fechar devagar.
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