Detetives do Nada

1864 Words
O resto da semana foi horrenda, Margarida chorava todos os dias, após saber da conversa com a Sónia. Coisa que não entendia, ela gozou com os problemas das amigas e agora está m*l com o facto de estarmos zangadas com o que andaram a comentar. Comunicação Técnica parecia não ter fim, só queria que a uma da tarde aparecesse no relógio por miraculo. Toda turma olhava para nós, coscuvilhavam tanto que, a meu ver, já era conversa normal. —Isto é ridículo. - Sofia murmurou. — Nem me fales…- respiro fundo, volto-me para trás. - É melhor ela parar de fungar, ou vou pedir à professora para ela sair por estar a causar burburinho. Frio, mas necessário, era puro teatro, eu sabia disso, mas nunca pensei que ela chegaria a um nível desses. — Magali na situação que está, ela a chorar por comentários que escreveu e riu e para cereja no topo do bolo, somos novamente a conversa semanal da turma. - Sofia está furibunda, mas controla o tom de voz. - Gael, faz algo, leva-a ao bar, qualquer coisa. Margarida, vê se te controlas, estamos a meio da aula, e isto está a correr desde quarta, três dias passa dos limites. Volta-se para a professora novamente, escreve no pc, faço o mesmo, cinco minutos depois Gael e Margarida saem. — Vai ao whats! - Gael sussurra ao sair. Por conta de temos gostos similares, o Gael, a Sofia e eu temos um grupo separado, dedicado a animes, livros, banda desenhada e muito mais. Chama-se Inferno, partilhamos muita coisa, abro e leio. Mulherengo —Quando é que isto vai acabar? Não aguento mais os desabafos no comboio! Rato de biblioteca — Vai num horário diferente ou diz-lhe para falar com o banco, eu não lhe fiz nada. Ela que fez a nós e espera um sorriso todos os dias. Claraboia — Estou com a Sofia, não te podemos ajudar, não sou obrigada a ser feliz diariamente para agrada-lá. Mulherengo — Malta… Sério? Não tem como contornar a situação, falem com ela ou assim… ainda tem trabalhos para entregar este fim de semana. Rato de biblioteca — O trabalho está dividido, já agora não te esqueças da tua parte…(emogi a rir), eu fiquei com as conclusões e vou ser eu a entregar, pois quase todas trabalham ao fim do dia. Claraboia — Sim, eu vou estar a apoiar a análise final de dados e conclusão, domingo o trabalho está feito. Tem segunda para o ler e dar o Ok. Mulherengo — Eu não vou esquecer, mas vejam se depois desta avada de trabalhos resolvem as coisas. Ela deve desculpar-se, só conversem todas. Claraboia — Elas estão livres de vir falar, Gael. Eu que não me intrometo em assunto soube que sou outro motivo de risada… já te falaram essa? Por 10 minutos não obtive resposta — Foi o que pensei, Sofia dá uma gargalhada seca. - Elas não lhe falaram que andaram a ter tanta pena de ti que decidiram rir-se à tua custa também. — Irónico não é. - Dou igualmente um sorriso seco. Sónia consegue ouvir, não comenta, mas consigo sentir uma pontada na minha cabeça, contente ela não está. A verdade é que a minha noção delas não é a melhor no momento, mas é possível ver que nenhuma pensou a situação escalar tanto, normalmente brincamos com os nossos próprios problemas, mas outros brincarem já é diferente. Doí de forma descomunal e por momentos o foco não foi a Margarida. Esse, sim, foi o motivo de no momento estarmos com uma fonte 4 horas por dia. Perdoem-me a metáfora, mas por muito triste que ela esteja, não é razão para tanto. Finalmente um da tarde, quatro horas de prisão, acabadas. Saímos o mais rápido possível, fomos à casa de banho. Sonia esperava cá fora com Gael. — Ela está no carro, falei-lhe em pedir desculpa, mas… - Gael procurava alguma palavra para substituir a c***l verdade. — Eu não lhe vou pedir desculpa. - Sofia responde torto. - Devem estar as 3 loucas se pensam que devo desculpar-me por ela andar a falar m*l de mim. — Claro que não, Sofia. - Sónia aproxima-se dois passos. - Só não sabemos o que fazer com ela. No meio de tudo nem sei o que lhe falar mais. — Fala que ela tem de se desculpar quando não age correto, como qualquer pessoa normal faria. - Sofia parecia lívida. - A Magali não ia aturar o que aturamos estes três dias, chorar que nem uma criança, por amor ao santo Sónia, ela tem idade para se comportar melhor. Eu não vou dar o primeiro passo, nem sei a totalidade do que ela falou, mas ouvi muita coisa que não gostei nada. — Eu sei, quero desculpar-me por também apoiar alguns dos comentários, ela anda com problemas na família e … — NEM ENTRES AÍ. - A voz da Sofia ressona no átrio de entrada. - Problemas como o namorado e a família, eu também tenho problemas, todas vocês o sabem, e na escala os meus passavam os delas por dez. - Respiração dela começava a ficar pesada. - Isto é realmente ridículo, ela quer atenção 24h sob 24h, família não é motivo da língua vipída dela. Se assim fosse eu seria a cobra na situação, graças a deus sou uma pessoa que se mete na própria vida Sónia, ela que pare de teatro e resolva as coisas como adulta que é. — Não tenho nada a acrescentar. - Falo com amargor. Gael nem sabia por onde se virar, ora olhava para mim e Sofia, ora para Sónia. — Vamos ao fórum Gael, queres vir? - Perguntei apenas porque ficava mais direto o caminho para casa dele. - Deixo-te na tua rua. — Obrigado. Não tem problema? - Vira-se para Sónia. — Oh claro que não. Não quero que problemas destes deem cabo da amizade né! — Ótimo, ela que venha falar quando quiser, vamos então? - Sofia estava por tudo. A caminho de Aveiro o Gael fez algumas perguntas, o que deu a entender que não estava a par de metade. — WTF? — Achas que eu devo desculpar-me a ela? - Sofia ia à frente. — Não, a Margarida precisa de limpar aquela cabeça claramente. — O problema não é a limpeza, ela está habituada a ser o centro das atenções, quando não o foi virou-se para falar m*l dos que estavam e o resto das amigas. — Ela falou algo de mim? - pergunta incrédulo. — Sei lá. - respondemos em unisom. — A Clara só soube dela porque a Sónia pensou que ela tinha ouvido ou lido algo sobre ela. Sentado atrás da Sofia, Gael ficou parado a pensar, até a casa dele não se comentou mais nada, quando estacionei de lado ele agradeceu a boleia, colocou a mala num ombro e saiu ainda pensativo. — Achas que elas comentaram algo sobre ele? — Não sei, mas se até o meu gato foi motivo de chacota… - Inspiro. — Verdade… Fomos ao fórum comer KFC, Sofia brilhava enquanto devorava o hambúrguer que pediu e coxas de frango à parte. Eu pedi um balde de asas e coxas, juntamente com wrap picante da Taco Bell. Fomos depois levar o sete-sóis a um pequeno hotel na Vagueira, situo confortável que encontrei num passeio quando entrei na universidade. Neste primeiro fim de semana andei pela barra, Costa Nova e Vagueira, o tempo estava perfeito e eu tinha vários dias para libertar a mente com o sabor do vento salgado e areia fofa. m*l posso esperar para o final do semestre. Seguimos então para Macinhata, paramos num dos supermercados antes para comprar salgados e uns doces e de casa trouxera ingredientes para fazer rolo de carne. Entrei com o carro em casa, deixei-o numa das garagens e fomos então fazer o jantar. No meio de tanta coisa, eram já seis e meia. Os pais receberam-me calorosamente, comemos o rolo e à noite recolhemos para o quarto dela. — Vamos começar a juntar as peças então, Clara. — Acho que sim. - Respiro fundo. Duas horas depois, dois chás e um pacote inteiro de Doritos, Sofia estava boquiaberta. — Merda. - Fui tudo que saiu da boca dela. — Esperava algo do tipo. - Ri baixo — Ele.. wtf… é bastante. — Sim — Temos de fazer uma linha temporal disso, e tentar perceber como a Magali entra nessa história, tu falaste do Virgílio lá estar também, mas isso não faz sentido nenhum. — Pois, não, ele não tinha ninguém em Macinhata que eu saiba… namorada é de Aveiro, família de Cacia, está em falta muitas peças. — Vamos começar pela linha, todas as, história tem uma, esse homem, do chapéu de coco não vai ser diferente, temos apenas de iniciar com o que sabemos… - Sofia sorri confiante. - Os homicídios e os teus sonhos. Só aí já temos muitos detalhes a agrupar. Graças a abundância de material de papelaria, fomos capazes de literalmente criar uma linha do tempo em folhas A3 e começamos uma recolha de dados online partir de notícias e entrevistas. Depois entraram os meus sonhos, neste momento eram cinco da manhã e tínhamos concordado levantar às nove para começar a análise do trabalho de Comunicação técnica. — Amanhã analisamos os teus sonhos, tu relatas tudo novamente, eu escrevo exatamente o acontecido e ligamos os detalhes a nossa linha. - Boceja. — Perfeito. - Arrumo os papéis espalhados pelo chão. Deitamos pouco depois, nem lembramos de ir escovar os dentes. Normalmente não dormiria tão rápido na casa de alguém, mas o sono veio naturalmente novamente. O rio, a corrente, o breu de mais uma noite de lua nova. — ONDE ESTÁS? Perto, minha gota de orvalho, aparece para mim! Não me mexi, mesmo que não ele não me visse o rosto não ia colocar-me em perigo novamente. — Se não o fizeres, vou buscar alguém! - Sorri agradado com as palavras. - Como gritaste quando desfiz aquelas duas idiotas em água. Água? Continuava parada, ele pressentiu a minha chegada, mas não é capaz de me ver, nem saber a minha localização. Totalmente cego, a menos que me mexa, contudo, eu não sabia se ao falar ele me via. De todas as vezes que falei, gesticulava também, seria arriscado, porém, é uma teoria forte. Melhor falar com a Sofia primeiro… Não me movi o resto da madrugada, ele não ficou contente, em certo momento comecei a sentir que estava a acordar. — Não estás a ser engraçada hoje, gota de orvalho. MEXE-TE! O som propaga rápido, nem tremo. Bingo meu caro. Prova está ali, sinto-me flutuar do nada, ouço o meu nome ao longe. — Clara, Clara… Acordo com a Sofia ao meu lado. — Alguém está a gritar junto ao rio! Da varanda da casa dela, ouve-se uma voz de lamento e raiva a gritar, ecoando por toda a aldeia. O homem de chapéu de coco estava furioso, finalmente uma pista, movimento, era isso que lhe permitia ver-me. — Temos de muito que falar Sofia. - Ela olhava-me profundamente. - O nosso homem não gosta que o contrariem.
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