Início da desavença

1308 Words
Margarida não falou do seu interrogatório, claramente a necessidade era minha então nem se deu ao trabalho de me falar nada. Por algum motivo começava a sentir algo entre elas. Sofia começava a desviar-se mais e mais, Sónia e Margarida deixaram de falar em privado por mensagens e falavam as suas opiniões em voz alta. — Entendo que vives perto, mas não é caso para tanto, sorri um bocado. - Margarida era a principal a fazer caso do assunto. — A Margarida tem razão Sofia, não podes continuar assim… - Sónia apoiava todos os comentários, não importava qual fosse o assunto. Eu vi a raiva na cara de Sofia, pesar também, ela não queria responder para não criar mais problema, mas cada dia a paciência subia mais um bocado do seu depósito limitado. No intervalo de estatística fomos fotocopiar as fichas dadas pela professora, usei a oportunidade para falar com ela sós. — Elas não têm noção… — EU SEI, eu… - assustou-se com o seu próprio tom, ficamos paradas no meio do passeio, orvalho mantinha-se. - Eu só quero a minha casa… desculpa-me. — Não tens de desculpar, eu que deveria, falei-te aquilo e…- Esfrego o rosto. — Eu quero ajudar. - Fala firme. — Como? — Esse homem, ele não vai parar, não é? - Abanei a cabeça em afirmação. - Vamos desvendar essa ligação então, estive a pensar e ele começou em Lisboa… - retoma o caminho para a loja. - Deve ter começado algo aí, talvez seja a cidade, Clara! A minha rede de pensamento abria, contudo, não tinha tempo de a colocar a par de tudo. — Eu tenho algumas coisas a partilhar, mas não temos tempo. Achas que no fim de semana podemos nos encontrar? — Pode ser, o meu boy vai de viagem com os pais, como temos os trabalhos vou ficar para finalizar a minha parte. — Posso fazer contigo então, falamos ao mesmo tempo. —Combinado! Entramos na loja e imprimimos o que queríamos, fomos depois ao bar comer algo, Margarida, Sónia e para variar Gael estavam lá. Fui buscar comida para ambas, quando cheguei a mesa estava um silêncio mortal. Gael olhou para mim e depois para Sofia. Ela não contaria os sonhos.. não… — Clara diz a Sofia para pedir desculpa. - Margarida fala fria. — O que se passou? - Sento calmamente e dou café e muffin a Sofia. — Ela… — Eu disse que não tenho interesse em saber o que se passou entre ela e o namorado. - Sofia fala friamente para Margarida e depois vira-se para Sónia. - E que ela pode defender-se sozinha, quando lhe pedi para deixar de ser insensível comigo quanto aos comentários que elas andaram a cochichar e depois passaram a esfregar na minha cara. — Não é bem assim Sofia. - Sónia entra na defensiva. — Deixa-te de coisas, Sónia, eu tenho direito a estar triste como todas as pessoas do mundo, e acho que a Margarida não tem o direito de me proibir e depois quando ela própria tem os problemas dela, impingir a infelicidade nos outros. Silêncio novamente. — Ela não está errada. - Comento. — Não falei isso.- Sónia começa. - E em parte tens razão Sofia, não devemos ter diferenças, apenas achamos que estavas mais triste que normal e não queríamos… — Não queria pensar nos problemas do mundo, eu vivo a 3 minutos do local, a pé, não de carro, PELO AMOR DE DEUS, como não te sentirias m*l ao seres tu a avisar que duas pessoas morrem naquele sítio. Nenhuma comentou mais nada, Gael parecia surpreendido com Sofia, o que achei normal visto ela ser a pessoa mais calma e mente fria do grupo em questão. — Clara podemos conversar? Quando acabou a aula Sofia foi à casa de banho, esperei no exterior por ela. Sónia estava a 3 metros quando a ouvi. — Sim. - Nenhuma emoção saiu, verdade seja dita, estava farta dos últimos cochichos, mensagens com piadas, entre outras atrocidades. — É sobre a Sofia. - Fala cautelosamente. Não me digas, sério! — O que aconteceu no bar? — Sim… eu não sei o que dizer, sabes como é! — Eu não sei, Sónia, mas o certo, no mínimo, é desculpar-te pelo que andaste a escrever. — Como assim? - Cruza os braços. Vai começar. — Eu li algumas mensagens, os vossos comentários quando ela se afasta para ir à casa de banho e a péssima ideia de tratar o assunto como uma piada, não me interessa quem começou, quem falou o pior, tanto tu como a Margarida andam nisto a semanas e pensam que brincar com a situação faz desaparecer a realidade. Sónia contorce a boca, sei em primeira mão que odeia estar errada, mas com a idade dela ignorar a realidade com brincadeiras e comentários parvos não é desculpa. O problema não é a Sofia, são elas que começaram um bullying psicológico porque os seus problemas são sempre maiores. — Eu quero desculpar-me, onde ela está? - Descruza os braços e sorri fracamente. - Eu apenas pensei… eu não tenho como me explicar. Peço desculpa a ti também, pelas mensagens. — Eu apenas vi da Sofia, que raios tem a minha vida para falarem também? - Agora eu também entrava. - Deves estar a brincar!? — Não foi nada do que pensas, a Margarida simplesmente comentou que postas mais do teu gato no insta do que de ti própria… - Sónia encolhesse, esfregando o braço direito. - Ela fez umas piadas de estares sozinha e como tinha pena disso. — Estou a ver… - A mente está no milhão, realmente quero ir embora deste lugar. Claramente a amizade não é a melhor fundada, e eu perdi a vontade de fazer o esforço para a melhorar mais. — Clara, vamos? - Sofia estava na porta de saída, olha para nós as duas sem entender nada e não sai do lugar. — Sim! - Não consegui controlar a voz grossa. Ao passar por Sofia resmunguei baixo. — Que raio disse-te ela? O caminho para casa dela foi passado em conversa, Sofia apenas riu sarcasticamente. No final vimos apenas duas coisas: amigas uma peta e vamos ao MC porque está um frio do d***o e comida de conforto não pode piorar a situação. — Vontade de galinha frita. - Sofia desceu do carro e bate a porta devagar. — Se tivesses tempo íamos ao KFC. — Nem me fales nisso, aqueles pedaços… - Começa a sonhar. - De qualquer forma já falei com os meus pais de lá ires fim de semana, podes pernoitar, escusas de ir para Aveiro tarde. Caso não te importes de… Sofia olha-me com preocupação — Tudo bem, julgo que não terá problema, estou claramente segura da tua varanda. Ele conhece uma sombra, não um rosto. Melhorias na nossa vida são sempre necessárias, para as começar devemos criar um plano de ação, assim nunca perdem o fio a meada. Só depois desse planeamento feito, revisto e aprovado e que podemos avançar para a próxima fase, ensaio do mesmo. Assim diminuímos a possibilidade de erro do mesmo, no momento que o colocarmos a valer na prática. Desgraça da ISO, não me saí da cabeça, jesus! Contudo, não era totalmente errado como penso, em breve tinha de fazer algo, mesmo que isso depende-se mostrar a minha face e assumir riscos para comigo, o único cuidado era não envolver quem era próximo de mim. Abafar as minhas colegas, Sofia estava perto, ela claramente não ia ficar no escuro, mesmo que eu tentasse, ela procura a história em tudo, por vezes de forma inconsciente. Esse ponto deixa-me assustada nela, curiosidade matou o gato e nesta narrativa, matava com uma faca de cozinha bem afiada e prateada. Na melhor das hipóteses podia avisá-la e controlar ao máximo a sua curiosidade.
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