Chapter IX

2473 Words
Episódio: Insights - Chega de cantar. São só oito da manhã você não pode pelo amor de todos os santos ficar quieto?! - Liam suplicou irritadiço a Louis, que por sua vez gritava a música Shake it Off da Taylor Swift enquanto ambos iam para o Hospital Psiquiátrico no carro luxuoso de Payne. Ninguém poderia culpar Louis por ele estar tão feliz, afinal, estaria de volta ao seu paciente primordial de cachos. E isso era motivo para o garoto cantar quantas músicas quisesse em alto e bom som. Portanto, as reclamações de Liam só contribuíam para Louis elevar o tom de voz nas canções a fim de provocar seu amigo. - Baby I'm just gonna shake shake shake shake shake, shake it off! Shake it off! Hu hu hu huu. - Ótimo. - Payne revirou os olhos. ... - Bom Dia. - Louis cumprimentou uma das funcionárias da limpeza, sorridente, enquanto caminhava ao quarto de Harry. - Bom dia! - ela retribuiu corando.  Os pés de Tomlinson pararam frente a porta de número 302, ansiosos. Não encontraram Zayn em nenhum lugar sendo assim não tinha chave para abrir a porta. Bem, ao menos até espiar pelas grades e encontrar Zayn dentro do quarto também. A porta estava destrancada e Louis entrou discretamente sem ninguém perceber, deparando-se com Zayn sentado na cadeira de frente para Harry, que estava no colchão. O muçulmano o fazia questionamentos clínicos e logo em seguida estendeu ao cacheado um copinho cheio de remédios em formatos ovais e brancos. Monótonos. Enquanto a outra mão ocupava-se em segurar um recipiente de plástico preenchido de água. Harry estava com sua cara de tédio usual, encarando um ponto fixo na parede. Embora Zayn estivesse-o quase implorando que Styles recebesse o coquetel de medicamentos, Harry parecia determinado a ignora-lo e continuar perdido em seu próprio universo paralelo. Louis não sabia a maneira que deveria intervir na situação. Obviamente precisava se apresentar e dizer que havia retornado para o cargo de auxiliar a Zayn. O problema era o modo que Harry a abordaria. Ele reagiria a isso bem? Ele se sentiria traído e incomodado com sua presença? Antes que a covardia e receios sufocassem o pequeno garoto de olhos azuis, ele resolveu pingaterrear e dizer descontraído: - Então o garoto está malcriado hoje?  Como se fosse um estalo, Harry se despertou do transe e seguiu com o olhar a fonte da voz fina e divertida. Ambos os presentes passaram a encarar Tomlinson. Zayn ficou um tanto indiferente. Não era como se fosse uma novidade a chegada de Tommo.  Já Harry. Wow. O rosto mortificado de Harry ganhou algum tom de vida. Corou em cor dourada. Brilhou por inteiro. Seus olhos embora tentassem a todo custo mascarar qualquer sentimento, algo neles entregavam certo êxtase. Seus lábios rosados curvaram-se minimamente nas laterais, como se apesar de Harry estar se esforçando demais para mantê-los congelados, eles não se continham e esboçavam o projeto de um sorriso. Harry já era outro. E Zayn claramente reparara na reação do paciente ao ver o rapaz.  Era genuína. Um despertar inocente. E talvez Zayn estivesse um pouco enciumado e isto o causasse uma mínima inveja - porque, bem, há alguns anos atrás era ele quem fazia Harry agir assim, mas o muçulmano jamais admitiria essa bobagem ou agiria contra algo inevitável. Ele deveria ficar completamente contente com os resultados e progressos que Louis causava em Styles. Louis sorria. Ele não percebera toda a agitação que provocara em Harry, mas percebera que não seria recebido com gritos e pontapés conforme esperava. - Por que o garoto está malcriado? Posso saber? - disse rindo fraco. Harry quiça tenha corado um pouquinho suas bochechas pálidas, entretanto ele nunca confessaria a si mesmo. Até tentou reprimir aquela felicidade e substituí-la por indiferença. - Bom, já que você chegou fique cuidando de Harry e o faça ingerir esse remédios enquanto eu vou avaliar os outros pacientes. - Zayn informou se levantando e ajeitando sua prancheta sob os braços. - Espere. Que remédios são esses? Zayn revirou os olhos. Louis era muito atrevido e esquecia que não passava de um estudante, ficava contestando em coisas que m*l poderia opinar. - Ansiedade, agitação, depressão e mais calmantes. - Harry me parece muito calmo. Pra que remédios que o acalmem mais? - Eles auxiliam no sono, Louis. Fará-o dormir de tarde e descansar. Louis não concordou, discordou ou demonstrou mais de sua opinião, somente assentiu, pegou o coquetel de pílulas, o copo de água e esperou Zayn sair do quarto. Quando o moreno o fez, Louis puxou a cadeira para mais perto do colchão de Harry e se sentou ali. - Vejamos: tem uns dez remédios aqui e todos são basicamente iguais. Pelo o que eu me lembre de ter estudado, os mais espessos são os de depressão, os mais ovais são pra ansiedade e agitação, e os calmantes são os menores.. - Louis começou a divagar, espalhando todos os medicamentos pela palma da própria mão e avaliando-os através de seus conhecimentos farmacêuticos básicos. - ... portanto, esses dois devem ser os calmantes! - Louis falou como se houvesse concluído uma espécie de super enigma importante. Harry arqueou as sobrancelhas confuso pelo o que o menor queria com aquilo, até Louis separar os comprimidos e perguntar a Harry: - Você está a fim de dormir hoje de tarde? Harry imediatamente negou com a cabeça. Ele nunca foi fã de dormir, mas era regra no hospital dar esses calmantes para os pacientes descansarem mais em alguns dias das semanas. - Okay! - Louis proferiu animado e guardou os calmantes no bolso da calça jeans, sendo retribuído por uma feição de completa surpresa de Harry. Ele sempre foi de agir por impulso e não gostava de acatar ordens. Principalmente se estas fossem prejudiciais a seu paciente. - Pronto, esses outros infelizmente você tem que tomar. - Louis colocou o resto das bolinhas brancas no copinho e o estendeu a Harry. Ele não achou que o maior atenderia seu pedido tão facilmente quanto atendeu, afinal, se Zayn não estava conseguindo fazê-lo ingeri-los, porque ele conseguiria? Mas Harry superou suas expectativas ao pegar sem hesitação alguma o plástico e lançar todo o conteúdo pela garganta, em seguida pegando o copo de água de Louis e bebendo tudo. Tomlinson sorriu orgulhoso. Ele geralmente sorria muito quando ficava cuidando de Harry, mas cada sorriso era diferente, por motivos distintos e todos destinados a uma mesma pessoa. - Então Harry. Eu vou voltar a ser seu acompanhante do ano. - Louis informou-o. - Se não se importar, claro. Styles encarou-o nos olhos. Ainda frios, mas com algo do tipo luz. Eram escuros mas ainda possuíam esperança, ao menos pela percepção de Tommo. Ele sempre acreditou que Harry se sentia perdido, contudo ele acreditava também que havia uma escapatória ao cacheado, uma espécie de botes salva-vidas dentro de sua alma, capaz de salvá-lo. Ele genuinamente pensava que se Harry desejasse ele estaria apto para ser salvo. Recuperar a si próprio. Bastava dar algum crédito a si mesmo e amar-se. Mas como poderia o cacheado ter amor próprio se ninguém mais o fazia? Ele não sentia como se isso fosse ao menos cogitável. Embora Louis sim. Ele crê que sim, até porque essa é uma história muito familiar a ele. É a história de seus pais.  E sua mãe lembrava Harry a certo modo. - Hum, você comeu o chocolate? - Louis indagou-o.  Ele não aguardava por qualquer resposta de Styles. - Sim. Cheque meu nível de glicose e tenha certeza disso. - Harry afirmou em tom de humor. Louis quase engasgou com a facilidade que encontrou para dessa vez manter algum diálogo com o menino. - Talvez eu deva! Mas me conte qual foi seu sabor favorito assim eu talvez um dia compre mais. De preferência bem depois de você realizar seus exames de sangue. Harry ficou pensativo. Ele estava se esforçando. E Louis reconhecia esses esforços. Não havia dúvidas de que esse era um território inédito para Harry. O território da comunicação. ... Após aproximadamente uma hora transcorrida com Louis e Harry tendo conversar casuais, o mais velho obteve alguns dados frescos de seu paciente. E quando digo "conversas casuais" significa Louis fazendo uma série de perguntas cheio de animação ao que Harry ora ou outra respondia-o timidamente aquelas que mais o interessavam. Durante esse tempo Tomlinson basicamente descobriu que o sabor preferido de Harry para M&M's era o de chocolate tradicional, o de amendoim e o de pasta de amendoim, ou seja, todos os sabores que ele experimentou, porque de acordo com Harry era impossível ter um doce favorito e fazer os outros sabores "se sentirem m*l" por estarem excluídos de sua preferência. E Deus, isso foi uma das coisas mais fofas que Louis escutou alguém falar. Harry pareceu uma criancinha de dez anos dizendo que não podia determinar o bichinho de pelúcia que mais gostava porque causaria tristeza nos outros.   Louis constatou muito a respeito de Styles pelo curto diálogo que estabeleceram. O principal ponto é que Harry, apesar de esconder  a todo custo seus sentimentos, tem um grande coração. E não apenas por ele evitar de escolher um chocolate favorito, mas pelo modo tímido de falar, a maneira como gesticula com as mãos quando se empolga a respeito de algum assunto, e sobretudo a forma que se auto-repreende ao demonstrar que há vida por trás de sua carne. Louis reconhecia aquilo. Reconhecia que toda essa frieza que ele insistia em amostrar não era causada pela esquizofrenia. Essa sua particularidade não possuía relação nenhuma com sua doença. Isso não passava de um escudo, de uma maneira de se auto-proteger. ... E foi seguindo este mesmo padrão que a semana passou voando. Louis e Harry pelos seis dias trocaram conversas. Eram todas singelas e curtas, e normalmente giravam em torno de assuntos toscos como o que Harry comeu no café, o que Harry comeu no almoço, o que Harry fez no dia. Óbvio que quem mais interagia era Louis. Afinal de contas, Harry continuava sendo Harry, aquele que não gosta de contato humano. Mas Louis o forçava a se expressar um pouco. Insistia em contar sobre tudo que viesse em sua mente, e tagarelava, tagarelava, tagarelava. Normalmente ele perguntaria a Styles qual foi a melhor refeição que teve no dia, e a partir desta informação Louis contaria a respeito de algum episódio de sua vida completamente aleatório que não tinha nada a ver com a resposta de Harry. Porque este era Louis. O garoto que se determinou a fazer Harry interagir.  Nem que pra isso precisasse estimula-lo falando de coisas embaraçosas de sua infância só pra ganhar um pouco da atenção de Harry em troca. Nem que pra isso ele tivesse que encarar um Harry m*l-humorado ignorando totalmente sua existência e suas tentativas de conversar, simplesmente se virando para o outro lado da cama e fingindo dormir (o que Louis não sabia era que Harry estava com o rosto escondido no travesseiro porque seus olhos estavam arregalados, seus ouvidos estavam atentos e sua boca reprimindo sorrisos). Ou, se fosse uma manhã/tarde de sorte, Louis obteria um pequeno argumento do cacheado que não se baseava em respostas curtas como "sim" ou "não". Argumentos do tipo "sim, eu sei" ou, com MUITA sorte, algum "isso soa interessante". Pelo pouco que trocaram palavras, Louis ficou atento no modo que quando Harry estava prestes a curvar os cantos de seus lábios e sorrir, ele se proibia. Ele inibia qualquer projeção de felicidade externa. Quando Louis contou que quando era pequeno roubava saquinhos de M&M's da lojinha de conveniência da escola sem ninguém perceber, Harry prendeu um riso. Ouviu-se um pré-riso, ou algum barulho estrangulado que era claramente um soluço divertido. Mas assim que notado, Harry se recompôs e disfarçou a sensação, ajeitou-se na cama e desviou o olhar.  E essa característica talvez se relacionasse a algum trauma passado, ao fato de talvez ele ter sofrido demais, ou por coisas que pertenciam ao garoto que estivessem trancafiadas em seu coração. Mas, por certo, Louis julgava suas ações como coisas mecânicas.  Harry tornara a si próprio um robô. Ele se negava a demonstrar emoção. Olhos vazios e frios o tempo todo. Coluna ereta e nariz apontando o horizonte. Não baixava a guarda. Entretanto, em oras adversas, nem o menino conseguia segurar suas reações. Ele nem percebia quando estava com olhos brilhando ou um semblante tranquilo nos momentos que Louis relatava histórias de sua infância. Harry amava histórias.  Ler, escutar. E isso acabava por desmoronar qualquer muro que ele construiu em volta de si. Os muros que os afastavam de sua humanidade. Harry não estava acostumado com isso. Com essa vontade de rir, vontade de sorrir. Antes, durante esses anos que se manteve no hospital, era fácil manter-se em sua zona de conforto com a cara fechada e alma em exílio, afinal, ninguém fazia questão de estabelecer qualquer contato com ele a não ser o básico dos cuidados. Já agora, aqui com Louis, o ponto de vista era diferente, porque ele estava a todo instante expondo, mesmo que discretamente, seus sentimentos. Ele tinha vontade de revirar os olhos às vezes, ou de comentar a respeito das coisas, e até mesmo rir. E isso significava sair de sua zona de conforto; entrar em um ambiente novo em que ele não queria estar, em que ele não sabia como agir. Tudo era inédito.  Alimentar emoções seria um dos itens de "Não fazer!" em sua lista mental. Mas era quase impossível, porque Louis o instigava a ir contra seus próprios conceitos e metas. Louis transformava a fácil e confortável tarefa de se manter excluído de expressões humanas em uma missão impossível. E por mais que Harry nunca admitisse, ele achava divertido a persistência do menor de querer falar de tudo. Harry enxergava seus esforços e até havia de reprimir sorrisos quando Louis, sem se dar conta, divagava nas próprias falações e começava a tagarelar mais ainda outros contos, perdido nas lembranças e palavras. Todos as manhãs Louis dava o café de Harry, seus medicamentos, levava-o para suas seções privadas de terapia, fazia os check-ups adicionais.. E nos tempos livres puxava o maior para papear.  Na quinta-feira Harry nem mesmo pôde ficar fitando a parede que Louis se intrometeu em seu campo de visão e obrigou o cacheado a prestar atenção ao seu monólogo criticando o governo do país. De segunda à sexta as coisas definitivamente tiveram progresso. Porque por mais que Harry ainda não falasse quase nada, ele também não observava muito a parede - já que tinha que observar Louis- e principalmente não teve nenhum de seus ataques de pânico. Nenhum. Eles sumiram naquela semana. Louis era muito humilde para sequer considerar que aquilo foi por sua causa, mas Zayn sabia que de certo modo sim. E ele estava relativamente satisfeito e relativamente enciumado.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD