Chapter IV

2974 Words
Episode: Distance Depois do incidente, na manhã seguinte, Louis se sentia renovado. Ele não tinha certeza se era o cheiro dos ovos mexidos que vinham da cozinha que o despertaram em um bom humor, ou porque hoje os alunos realizariam uma atividade nova com seus pacientes (acompanha-los na área exterior do hospital - para que banhassem suas peles pálidas com sol durante a tarde) ... Mas ele definitivamente acordara otimista. Levantar cedo nunca fora um detalhe tão irrelevante para Louis ao que o menor se juntava na mesa com Liam que o havia preparado café. Porque sim, Liam-o-perfeito também cozinhava. Aquele sorriso ladino foi notado por Payne que arqueou as sobrancelhas enquanto o observava. - O que te mordeu? - perguntou simples. Yeah, Liam também continuou meio puto com Louis pelas merdas que o garoto fez com Harry, embora o pequeno se redimira no dia anterior. - Nada. - Louis, cumprindo o papel de Louis revoltado com a vida, revirou os olhos para Li, porém soltou um risinho em seguida. - Hoje iremos com os pacientes lá para o ar livre, né? Soube que tem quadras de esportes, grama, árvores, fará bem pra eles! - Pois é, venho me preparando psicologicamente pra correr com a Senhorita Amelia. Aquela mulher pode ter sessenta anos mas é uma louca cheia de energia. - Bom, conhecendo o Harry aposto que ele não vai fazer nada além de se sentar no chão e contar os segundos pra vazar dali. - E conhecendo você, você provavelmente soltará qualquer bosta que irá ferir os sentimentos do seu paciente. Então tenha calma e cuidado com o que diz, e não seja intrusivo na vida pessoal do rapaz, Lou. Sério. - Relaxa Liam, prometo que não vou. Agora chega de papo e vamos logo devorar a comida antes que cheguemos atrasados no complexo. ... - Senhor Tomlinson. - Zayn cumprimentou Louis conforme este saía do elevador no andar do quarto de Harry. - E ai, Muhamed. Malik franziu o cenho numa expressão no mínimo engraçada. - O que? - Louis questionou rindo de seu próprio trocadilho, mas ao analisar a carranca de Zayn ele se aquietou. - É Doutor Malik pra você. - o moreno bufou irritadiço. - Enfim. Harry não está em um dos seus melhores dias hoje e tivemos dificuldades pra fazê-lo ingerir seus calmantes e antidepressivos, portanto acho muito difícil que ele vá querer ir lá fora com o resto do pessoal, se quiser pode até tentar, eu estarei monitorando outros pacientes.  E com isso Zayn entregou a Louis a chave do quarto de Harry e saiu com sua prancheta em mãos. Louis nunca compreendeu como Zayn, parecendo tão novo quanto era - porque sim, a curiosidade de Louis obrigou-o a checar em alguns arquivos a identidade de Zayn e descobriu que o rapaz está apenas em seus vinte e quatro anos.. E já é formado e empregado! - também possuía tamanha maturidade e calma para administrar tudo. Se Tomlinson m*l conseguia dar conta de Harry, imagina Zayn que dava conta de quase um andar inteiro. Louis por fim respirou fundo (determinado a trazer Harry para o exterior) e foi até o dormitório do maior que - como sempre - estava sentado em sua cama. O olhar de Harry se desprendeu da parede e sua cabeça se virou para encontrar a presença de um Louis sorridente. Louis praticamente murchou sua alegria ao notar as olheiras roxas ainda mais destacadas na pele pálida de Styles, oculta parcialmente pela veste azul bebê do hospital. - Hey.. - Lou disse um tanto relutante e apreensivo. Harry piscou lentamente algumas vezes até retornar a olhar fixo para algum canto da parede. - Eu estive pensando... O que acha sobre irmos com o resto das pessoas pra uma área onde possamos respirar, e andar pelo gramado e.. Louis nem ao menos teve a chance de continuar sua proposta que Harry negou com a cabeça. - Ah, qual é. Vamos lá. - insistiu, aproximando-se e sentando na beirada da cama, mantendo certa distância do Harry porém bem menor daquela permitida. Harry se assustou um pouco com o movimento do estudante e tensionou seus ombros, balançando a cabeça de novo. - Por que não?! - Louis perguntou exibindo frustração em sua voz. Ele realmente ainda achava que era capaz daquilo, mas o encaracolado não facilitava em nada, e sempre que ele acreditava ter obtido um avanço em seu quadro, Harry mostrava-o contrário, ficando mais recluso em seu mundo. Okay, ele era esquisofrênico e depressivo, no entanto isso só soava como mais um motivo para Louis persistir e provar que é apto a promover mudanças significativas na vida de seu paciente. Provar a todos e a ele próprio. Harry hesitantemente pairou seus globos verdes por Louis, procurando segundas intenções em sua face pura e tranquila, não encontrando. Então os olhos inquietos percorreram em direção as mãos do pequeno e ali permaneceram. Louis sacou o que estava acontecendo. Ele não saberia explicar o porquê, mas sabia exatamente o que estava acontecendo e no que Harry estava pensando, como se por trás de sua alma vazia um punhal de espasmos de sentimentos viessem a aflorar ocasionalmente. - Eu não vim para lhe aplicar remédios, Harry. - Louis afirmou, abrindo as mãos e estendendo-as no ar em sinal de rendição. - Juro. Os olhos de Harry voltaram a fazer contato com os de Louis, mas dessa vez estavam mais claros e suaves, com os cenhos relaxados e os ombros menos contraídos. Ele parecia ter acreditado na palavra do menor. Assim, Harry se encolheu um pouco em seu lugar e passou a brincar com o lençol de sua cama entre os dedos, entretendo-se em alisar o material num comportamento certamente casual. Foi então que Louis viu. Ele viu os braços nus e brancos de Harry estendidos, com marcas roxa e verde na região de sua dobra interior do cotovelo. As veias finas e meio saltadas com várias marcas de picadas vermelhas, perdidas naquela região colorida que literalmente fez Louis estremecer e sentir muita dó do ser em sua frente. As marcas da medicação introduzida por suas veias tornavam aquele homem tão pequeno e vulnerável e machucado que a única coisa que Louis podia pensar em fazer era socar o saco daqueles que o feriram ou introduziram as agulhas com tão pouco cuidado. Justo em Harry, que era a criatura mais indefesa daquele hospital psiquiátrico cheio de gente agressiva. Antes que pudesse perceber e interromper seus atos, Louis se viu reclinando-se para encostar com a ponta dos dedos naquela área sensível e torturada. Sua mente estava presa nas cores vívidas de verde e roxo estampadas no branco. Tão avoada que nem notou Harry encarando a cena e suas ações completamente perplexo e confuso. Os dedos de Louis escovaram as marcas com extrema delicadeza e preocupação, atentando-se em ora ou outra pressionar aquelas partes que as marcas pioravam e entregavam mais violência. - Dói muito? - Louis indagou com os pensamentos presos no braço de Styles. Após alguns segundos em que Harry somente fitava os toques de Louis contornando suas veias com uma espécie de curiosidade misturada a terror, ele resolveu se expressar. - Às vezes. Sua voz saiu rouca, carregada e quase deprimente a ser escutada. Era como um grito de angústia mascarado. - Essas marcas são de hoje? - Louis se sentiu corajoso o suficiente para avançar na conversa e tentar tirar o máximo de interação que pudesse de Harry. Ele afastou seus dedos dali e retornou à sua posição original, porém agora retribuindo a conexão de olhos que Harry o enviava. - Algumas. - Eles foram brutos demais?  E Harry não o respondeu por alguns instantes. Suas pupilas estavam menos vazias do que usualmente. Eram um misto de vazio com uma pitada de dor explícita. - Eu estou acostumado. E aquela pareceu a forma de Styles demonstrar que estava desconfortável com o assunto, a julgar pelo modo que suas orbes voaram tristemente para o próprio braço. - Essa não foi a pergunta que eu fiz, Harry. Louis surpreendeu a si próprio pela ousadia, assim como Harry, que apesar de manter a postura de inabalável arregalou levemente suas pálpebras. - Sempre são. - os cachos cor chocolate de Harry moldados por mãos de deuses caíram sobre sua testa e face conforme o maior abaixou a cabeça e confessou num sussurro. A raiva de Louis aumentou, mas ao mesmo tempo houve indignação. Contudo, Lou nunca presenciara Harry em um estado de pânico ao ponto de ter que receber calmantes intravenosos, ele não tinha o direito de julgar na verdade se a ação fora ou não necessária. Mas, bem, a violência com que aplicaram as injeções em Harry era uma espécie de crime para a humanidade. Machucar Harry era um crime e fim. - Vamos lá fora, Harry. Prometo que não vão te dar mais remédios. Você já almoçou, está pronto para ir. - Louis se atreveu a tentar, afinal, quem não arrisca não petisca. Ditados populares, oh. O maior prendeu a respiração durante uma fração de momento até erguer a cabeça novamente e acenar com ela, assentindo à proposta do estudante. Louis estava estonteado. Nem entendia se aquilo era real e Harry concordara em sair de fato, mas de todas as sensações aquela era a melhor. A sensação de missão cumprida e de orgulho. Ele. Fez. Essa. p***a. Acontecer. Mais do que animado Louis pulou da cama e sorriu abertamente pra Harry, que desviou sua atenção para o chão se sentindo envergonhado e levantou vagarosamente, tendo o cuidado de não esbarrar o braço machucado em nada. Louis jurava que Harry estava até meio corado com a situação, mas obviamente optou por ficar quieto e não comentar a respeito, afinal suas intenções estavam longe de serem constranger o pobre menino. Conforme cruzavam o corredor e desciam a escadaria um do lado do outro, com Louis observando a anotando todos os detalhes do comportamento de Harry durante este processo, eles finalmente chegaram no "pátio ao ar livre" do manicômio. E por se localizar dentro de um espaço tão "mórbido" aquela área estava bem viva, conservada, legal e atraente. Havia um terreno plano coberto por gramas e flores nos canteiros. Duas quadras mais a distante proporcionavam a vista de vários pacientes brincando com algum jogo de bola monitorados por seus devidos cuidadores. Também havia uma pista de corrida que circundava o local, e logo após esta existia uma cerca alta de ferro para impedir a fuga de qualquer um. Além da cerca, coníferas preenchiam e enfeitavam a paisagem exterior. O sol cintilava e pintava todos os internos que caminhavam ali. Cedia alguma vida nos corpos mortos e cansados. Louis de longe avistou Liam correndo na pista acompanhando uma senhora de cabelos grisalhos e pernas finas. Ele parecia muito cansado para tentar alcançar os passos apressados e aventureiros de sua paciente e Louis não podia fazer nada além de rir da desgraça do amigo O ar era leve. "Respirável". Não soava como um hospital de loucos. E sim como a esperança deles. Ao sair de seu devaneio, Louis piscou e procurou Harry que já não estava mais por perto. Olhando em volta acabou achando-o sentado na extremidade oposta do pátio com as costas escoradas na grade e a vista pairando pelo céu. Muitos ali aproveitavam os raios solares para se esquentarem e pegarem algum bronzeado mínimo, porém a maneira que o sol iluminava a pele de Harry era quase cômico. Ele a banhava com luxúria, grandeza, ouro. Seria muito gay e clichê mencionar que Styles parecia um vampiro brilhando na luz do dia, porque não, Louis nunca admitiria que já assistira Crepúsculo, mas.. Era exatamente isso o que acontecia no instante. Lou caminhou até lá se aproximando feliz por suas atitudes e conquistas, abaixando-se e se acomodando ao lado do maior. Encostou as costas na grade e imitou Harry olhando para cima, para o céu. Louis fez questão de anotar em seu caderno sobre a forma que Harry parecia sereno e sossegado, ignorando os berros e risadas dos pacientes ao redor, ocluso em uma própria dimensão. A dimensão de Harry. Ambos permaneceram duas horas assim. Naquele estado pacífico resumido em admirar as paisagens. Ocasionalmente Liam apareceu tampando a vista de Louis com sua paciente atrás de si. - E ai. - Payne saldou-o com um sorriso. - Fala, baleia.  Liam ignorou o apelido m*****o e desviou sua atenção para a criatura sentada estática ao lado do amigo. Uma criatura pálida com longos cachos castanhos. - E você deve ser Harry. Estou certo? - Liam proferiu, ganhando um aceno do encaracolado que passou a fita-lo distante. - Meu nome é Liam. Mas pode me chamar de Li. Sou amigo desse babaca que cuida de você. O que provavelmente deve ser o contrário, já que meu amigo Tomlinson m*l sabe cuidar de si próprio. E nem lavar copos esse preguiçoso faz! A calma de Louis se transformou em incomodo. E ele não compreendia se a razão deste era porque estava sendo insultado - mesmo que por brincadeira- pelo amigo, ou porque Liam parecia ter conquistado um pouco da simpatia de Harry, que esboçava um projeto - apenas projeto mesmo- de sorriso lateral.  - Cuide da sua própria vida, baleia orca. - Louis murmurou rabugento, encarando também a mulher velha que bufava impaciente para ele. - E da vida da sua paciente. Por que não vão correr um pouco? Daqui a pouco o sol se põe e vocês já não terão essa tão adorada chance. - Louis propôs com um sorriso travesso. - Porque nós já corremos durante vari- - Essa é uma ótima ideia! - a senhora interrompeu o argumento de Liam para saltitar animada com a sugestão de Louis. - Seu parceiro é inteligente! Por que não o ouve mais, cabeça vazia? - disse Amelia, dando um tapa na nuca de Liam. - Escutou o que ela falou, sim? - Louis instigou e pronto, lá estava Amelia arrastando o pobre e fatigado Liam para mais um circuito. Obviamente Liam se virou e mostrou - discretamente- o dedo do meio para Louis, sussurrando um: vá se f***r!  Louis não querendo deixar barato apenas deu de ombros e berrou: "Aproveite e pegue um pouco de sol nessa sua b***a branca, mamífero aquático!" E nesse instante o inesperado ocorreu. Foi rápido e curto mas Louis tinha certeza que escutou um chiado -semelhante com uma extremamente curta risada- radiar do ser ao seu lado. Estava mais para quando você tenta segurar a risada mas escapa uma espécie de ruído, soluço, que entrega sua diversão. E ao olhar para o rosto do maior, Louis encontrou lá um sorrisinho. Não era mais um projeto de sorriso, era de fato um pequeno sorriso. E isso o fez sorrir como se seu rosto estivesse prestes a rasgar de alegria, porque o f*****g Harry Styles riu de uma coisa suja que ele disse. O mesmo Harry Styles esquisofrênico que passa o dia encarando paredes. O Harry Styles que não esboça emoções e nem conversa com ninguém. Aquilo estava além dos sonhos. Harry corou suavemente suas bochechas em um tom rubro ao perceber que Louis flagrou seu sentimento sendo exposto, e virou o rosto para o lado oposto. Assim ficaram por mais algumas horas até que fosse o pôr-do-sol e o horário de lazer dos internos ali no pátio se esgotasse, sendo todos obrigados a retornarem para o quarto. O sol se pôr era de longe o melhor do dia de Louis (tirando o sorriso de Harry e o som de seu espasmo de riso estrangulado). O céu tingia-se em tom laranja rosado e as nuvens escondiam aos poucos a fonte de irradiação de luz primária. E embora o tempo quase se esgotara, Louis não pressionou Harry para ir embora, ele apenas o acompanhou a contemplar aquela paisagem rica em beleza e paz. - Obrigado. O quê?! O QUÊ?! O QUÊ?! Louis realmente ouviu Harry Styles balbuciar um agradecimento ao seu lado?!  ?! Isso foi épico. Tão épico ao ponto de Tomlinson c******r e buscar em seu rosto qualquer traço de hesitação... Apesar de não haver nenhuma. Harry mantinha-se prestigiando o pôr-do-sol e Louis prestigiando Harry. Àquela altura Tomlinson perdera até o senso de o responder prontamente, como usualmente faria. Era um choque incrível. - Obrigado pelo o quê? - perguntou cuidadoso e ansioso. Afinal, hoje fora o maior avanço em seu trabalho escolar. E claro que ele estava contente pelos relatórios sobre Harry estarem ganhando volume. Não por Harry estar se comunicando com ele. Claro que não. Harry abraçou os joelhos contra o peito, ainda mais encolhido. Ele, de súbito, finalmente virou o rosto para o lado de Louis, com olhos lúcidos e verdes e menos vazios do que estavam acostumados a serem.  - Obrigado por manter sua palavra. E... - Harry relutou a concluir a frase, mas julgando a expressão surpresa de Louis, ele precisava fazer isto. - E não me encher de perguntas. Ou me furar com agulhas. O peito de Louis se estufou com ânimo e ardência. Uma ardência genuína de ver que seus esforços valeram completamente a pena.  - À sua disposição. - Louis o respondeu, oferecendo um sorriso amigável misturado em um tom de voz divertido. - Só não posso garantir a parte do "encher de perguntas" para sempre. Porque você sabe, né. Harry concordou lentamente e no instante que um sorriso estava se puxando no canto de seu lábio direito, Styles se levantou.  Estendeu-se de pé e esperou Louis fazer o mesmo para ambos retornarem ao prédio até que cada um seguisse seu próprio caminho: Harry ao dormitório e Louis ao seu apartamento. Louis estava feliz demais. Feliz demais para sequer adivinhar ou prever o que aconteceria no dia seguinte. O que encararia. Aquele próximo dia em que conheceria mais uma ponta do iceberg que era Harry Styles.
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