- Vamos almoçar. Vou deixar você pensar. Mais tarde conversamos.
Depois do almoço, Luis ajudou Celina a limpar a cozinha, depois pediu pra levar ela pra tomar um sorvete. Claro que a mãe só deixou, com ele prometendo que traria pra todos.
Na sorveteria, Celina contou tudo para ele, que tinha percebido que ela não estava bem, quase não tocou na comida.
- E o que você pretende fazer?
- Ainda não sei, estou tendo uma idéia, mas preciso conversar com ela primeiro. Amanhã você vem de manhã me ver pra gente conversar?
- Claro, sempre! Mas porque será que sua mãe vai te casar?
- Amanhã eu te conto.Tenho uma teoria, e foi o que me deu a idéia.
- Então me conta...
- Acho que ela vendeu minha virgindade.
- Ela não faria isso. E mais, se foi alguém com dinheiro pra comprar sua virgindade, ela empurraria pra Helena e não pra você.
- A menos que seja um cara nojento e escroto, o que não duvido pra comprar a virgindade de alguém.
- São só teorias, Celina. E qual é sua idéia?
- Se ela vendeu minha virgindade, vai entregar com defeito.
- Não entendi.
- O cabaço é meu. Eu tenho um sonho e vou ter que f********o pra conseguir atingir. Depois, lavou tá nova. Se eu perder a matrícula, não vou nem querer mais viver, quanto mais virgem. Se tenho que fazer esse sacrifício pra conseguir a matrícula, vendo minha virgindade antes!
- Está mesmo disposta a fazer isso?
- Não vou ser refém da minha mãe pra sempre.
- Certo. Converse com ela e amanhã nos falamos.
Celina voltou pra casa e depois de um tempo a mãe a chamou. O pai tinha saído e ela estava sozinha no quarto.
- Qual é o plano, mãe?
- O irmão do meu patrão chegou no Brasil tem alguns meses, a mulher está com câncer e quer morrer aqui. Por isso, pra ele é interessante esperar voce se formar pra se casar. Ele ainda não é viúvo.
- Quanto ele te deu pra você me vender pra ele?
- Não estou te vendendo. Digamos que ele está deixando os negócios dele em família.
- Não entendi.
- Ele tem uma mulher pra aliviar as necessidades dele enquanto a esposa está doente. E eu vou assumir a fábrica dele, meio a meio. Quando ele ficar viúvo, depois do luto de seis meses você vai morar com ele. Seja inteligente, estou fazendo um plano que você vai poder escolher se quer ou não casar com ele. Eu casaria, porque depois que ele bater as botas, a outra metade da fábrica é sua.
- Porque ele está sendo tão generoso? Pagaria mais barato se contratasse prostituta.
- Vai saber né, rico é excêntrico!
- Você já está dormindo com ele!
- Celina, me respeite!
- Você nem consegue disfarçar! A quanto tempo?
- Isso não é assunto seu.
- Você está me vendendo, quero saber tudo o que eu puder.
- Está bem. Ele quer uma novinha. E alguém que ele possa apresentar depois como esposa. Mas fique tranquila, vou te ensinar como ele gosta, o que você tem que fazer...
- Porque não a Helena que já e adulta, mãe? Porque eu?
- Porque ele é meio bruto na cama, Helena é delicada, não aguentaria.
- Então você quer que eu, sua filha, me sujeite a um homem que vai me agredir, depois me case com ele e aceite você como a amante?
- Do jeito que você fala, parece sórdido.
- E não é?
- Não vou discutir meus planos com você, Celina. Você quem me diz se quer ou não fazer faculdade.
- Eu já tenho minha decisão, mãe. Mas antes, quero saber porque?
- Já te expliquei o porque.
- Não o porque do acordo, isso eu já sabia que você estava me vendendo. Quero saber porque você não consegue me considerar sua filha ou gostar de mim...
Nancy parou, ficou olhando pra filha e titubeou. Depois, com os olhos marejados, começou a falar num tom mais calmo e baixo do que costumava falar com Celina.
- Quando eu era menina, tinha planos pro futuro, tinha sonhos assim como você. Aí conheci seu pai e fui pra cama com ele pra fazer ciúmes no Henrique.
- Quem é Henrique?
- O pai do Caio. Ele foi meu primeiro. Me encantei por ele. Era filho do dono de uma oficina que eu trabalhava, começamos a sair e só depois de um tempo descobri que ele era casado. Continuamos nosso caso por três anos e ele sempre se consolando comigo que a mulher dele era seca. Até me ofereci pra parar a pílula e dar um filho pra ele, mas ele não quis. Deixou bem claro que queria criar um filho com a mulher dele.
Fiquei com ódio, parei de sair com ele e parei a pílula também. Numa confraternização da firma, ele trouxe a mulher. Aí seu pai estava conversando comigo, ele fazia a segurança do prédio a noite e a gente nunca tinha se visto, e percebi que Henrique ficou enciumado. Então levei seu pai pro depósito e você imagina o resto. Começamos a namorar, apresentei ele em casa e queria mesmo que desse certo, porque seu pai é bronco, mas é bom de cama e era solteiro.
Mas o Henrique começou a me perseguir e quando viu que eu não deixaria seu pai, me fez uma proposta. Ele deixaria a mulher dele se eu deixasse o Carlos e me assumiria. Fiquei nas nuvens. Eu o amava demais. Me levou pra escolher alguns apartamentos pra gente morar, fez o pai dele me promover a encarregada, estávamos até escolhendo enxoval quando veio o primeiro enjôo. Aí você já sabe. Meu pai me obrigou a casar com seu pai, me deu essa casa e me excluiu da família.
O Carlos voltou com a mulher dele e quando a gravidez já estava avançada, ele me fez outra proposta. Eu poderia ficar com o apartamento e tudo o que ele comprou pra nós, se eu desse meu filho pra ele. No começo achei a ideia absurda, mas ele me convenceu que eu poderia me separar do Carlos quando eu contasse que o bebê morreu no parto. Como seu avô não aceita filha separada, ele foi bem claro que me toma a casa se me separar. Se eu desse o bebê pro Henrique, ele teria uma vida melhor e eu poderia viver no apartamento.
Só não contava que seriam gêmeos, e que seu pai se tomasse de amores por Helena. E que aquela bruxa iria querer só uma criança. Fiquei sem meu único filho e casada com seu pai. E como a gente era casado, ele vendeu meu apartamento pra terminar de mobiliar essa casa e fez uma poupança pra Helena com o que sobrou. Meu plano de fuga foi por água abaixo e passei a odiar seu pai por isso.
- Explicou sua história triste, mas não onde me encaixo.
- Você não percebe? Olhar pra você é olhar pra ele. Vejo ele todas as vezes que te olho. Lembro de tudo o que perdi, odeio seu pai através de você. Que não bastava ser a cara dele, ainda é uma banana frouxa como ele também. Sempre submissa, sempre boazinha. Sempre faz tudo certinho pra ser aceita. Igualzinha a ele. E Celina, meu ódio só aumenta quanto mais vocês dois tentam me agradar.
- Está certo mãe. Aceito o contrato. Mas antes, quero conhecer meu futuro marido e conversar com ele. Preciso ter a certeza de que ele vai me permitir estudar depois de casados.
- Você vai gostar dele. Vou providenciar esse encontro pra depois das festas de fim de ano e antes de eu voltar das férias coletivas!
- Combinado!