5 - Desafios

2010 Words
Somente então havia aprendido a diferenciar firmeza de princípios da obstinação causada pela teimosia, entre arroubos temporários da resolução de uma mente ponderada. — Jane Austen Ela pretendia monta-lo. Fitou o garanhão a sua frente, Altanero era um cavalo Puro-sangue inglês, seus pelos negros reluziam, apenas suas patas e uma pequena pinta em sua fuça eram brancas. Seu tamanho era surpreendente, assim como seus músculos, uma bela fera, o maior e mais aterrorizante dos cavalos que os guerreiros possuíam. Sempre fora apaixonada por cavalos, essa era sua segunda paixão, a primeira era ler. Os homens estavam a sua volta esperando para que começasse, a maioria deles riam, mas não por acharem que não sabia montar e sim por lhe acharem louca o suficiente para tentar domar o garanhão indomável, nenhum deles conseguiram, até mesmo Louis, por que ela conseguiria? Bom, não custava tentar. - Pensou determinada. — Tem certeza que quer fazer isso? Tu podes se machucar Hipolita. — Inquiriu Louis fitando-a de longe, apenas assentiu resoluta se aproximando do animal. Ainda que o admirasse, ele a causava pavor, Altanero era duas cabeças maior que os outros cavalos, olhou para as patas da fera, seria capaz de esmagar seus ossos. Assim que tocou nas rédeas para tentar monta-lo ele relinchou bravo dando um salto gigantesco e saiu correndo em círculos. Certo, Hipolita, tu consegues. - Disse a si mesma. Nas três primeiras tentativas o animal parecia estar lhe testando, Altanero não lhe dava nem chances de se aproximar, e quando por fim conseguiu a fera a derrubou no chão quatro vezes seguidas. Virou motivo de chacota dos guerreiros que se divertiam com seus inúmeros tombos, mas como nunca fora de desistir fácil continuava tentando, sempre se deu bem com animais, ao menos tentava conviver em paz com eles, seu tio e Lord Byron eram os únicos animais que ela tinha certo desapreço. — Se quiser desistir sinta-se à vontade milady, não quer dizer que a senhorita é uma fracota. — Conan a incentivou — Nenhum de nós conseguimos, até mesmo Louis. — Não se preocupe Conan, ele só precisa confiar em mim. — Gritou de volta. Estendeu a mão vagarosamente prestando bem atenção em todos os gestos do animal, que também a olhava de soslaio esperando por alguma reação imprevista. — Hey, calma aí garoto. Não irei machuca-lo. — Cochichou baixinho, como se ele a entendesse. Tocou com calma sua crina, alisando-a com cuidado tentando abrandar a insegurança que o animal possuía. Fez carinho no garanhão que mesmo sem apresentar resistência física continuou relinchando, segurou as rédeas com cuidado montando-o lentamente — Não me deixe cair Altanero, não pretendo me dar por vencida. Bom, tinha conseguido monta-lo, já era um começo, os homens soltaram gemidos e assobios alegres enquanto batiam palmas, Hipolita animou-se e deu comando ao cavalo para que ele andar, mas então ele não o fez, Louis riu, lançou um olhar raivoso para ele. Bateu o chicote no traseiro do animal que disparou afoito no sentido contrário ao acampamento dos guerreiros, gritou em socorro, não estava conseguindo governar Altanero e, se ele continuasse correndo nesse ritmo só Deus sabia onde iria parar. — Abra teus olhos Hipolita! — Louis ordenou. Nem havia percebido que os tinha fechado, quando voltou a abri-los, um galho de uma arvore a acertou em cheio fazendo-a cair no chão subitamente — Eu avisei para abrir os olhos, nunca antes vi alguém cavalgar de olhos fechados. Desdenhou ele andando em círculos a sua volta sem descer do cavalo, Hipolita bufou retirando as folhas secas de seu cabelo, o cavaleiro a sua frente lhe ofereceu a mão para ajudar-lhe a ficar em pé, mas negou ao perceber o olhar gozador em sua face. Percebeu que Altanero estava próximo ao riacho bebendo água, o animal a olhou de esgueira como se soubesse que ela estava o observando, pestanejou ao vê-lo se aproximar e parar em sua frente. — Altanero é tão teimoso quanto tu es. — Louis inteirou. — Não sou teimosa. — Fez pouco caso ao respondeu, segurou as rédeas do cavalo que repentinamente estava mantinha-se tão submisso, como se quisesse contraria-la, amarrou-lhe no tronco de umas das árvores haviam ali sentando-se em seguida na rocha à beira do riacho. Se contentou em apenas contemplar a bela paisagem, não se atreveria a entrar naquela água, levando em conta ao clima, a temperatura deveria estar baixíssima. Fechou os olhos inspirando o ar com apreço enquanto o vento gélido lhe acariciava o rosto, como um aconchego, sentiu-se confortada com tão pouco. Mesmo com os olhos fechados sabia que seu acompanhante tinha se acomodado ao seu lado. Depois de um logo minuto por fim Louis quebrou o silêncio: — Precisamos conversar sobre aquela noite... Deixou que as palavras se perdessem em seus lábios, sabia bem que ele estava analisando sua reação. Ela não queria ter que falar sobre aquela noite, apesar de ter sido maravilhosa, não havia motivo, razão ou circunstância para Louis pretender tocar naquele assunto. — Diga! — Impôs Hipolita, agora fitando-o. — Queria deixar claro que não passou de uma noite de prazer o que aconteceu entre nós dois, não quero que confunda as coisas, não desejo me casar, sabe? Não é nada contra ti. Ele despejou seus receios a respeito sobre a noite em que passaram junto. Na verdade Louis estava com medo de que Hipolita confundisse as coisas, ela achou aquele pensamento t**o, o que ele achou que ela faria? Comprasse um anel e exigisse que ele se casasse com ela? — Eu não o pedi em casamento milorde. — Esclareceu ela. — Hipolita eu não estou brincando. — Ele retrucou carrancudo, talvez estivesse pensando que estava tentando gozar de sua cara. — Tampouco eu. Os dois novamente ficaram em silêncio, até Louis baixar a guardar se dando por vencido. — Só não queria que pensasse que me aproveitei de ti, Hipolita. No final, tudo fora por conta de que ele a desvirtuou, Louis fora seu primeiro, e talvez agora pensasse que Hipolita achara que ele tinha alguma responsabilidade com ela. Isso a incomodava um pouco, o fato de que ela parecesse vulnerável por conta disso, pois não era. — Não pensei. Na verdade acho que ambos tiraram proveito um do outro milorde, fora tão prazeroso para mim, como sei que fora para ti. — Sua resposta atrevida e sagaz o surpreendeu, talvez por ele pensar que ela fosse cair de amores por ele e ficar aos seus pés, o bajulando. — Então acho que me equivoquei. Ela assentiu, ambos riram. — Achou que pretendia me casar contigo somente por eu ser mulher e por termos dormido juntos. Não quero me casar, nunca quis, fique tranquilo quanto a isso. — Advertiu analisando o olhar sorrateiro que Louis lhe lançava. — Ao menos termos algo em comum. Hipolita gargalhou com a conclusão dele. Aquele demônio havia acordado de bom humor, ao menos não estava distribuindo coices em ninguém atoa, sorria com frequência também. Gostou de vê-lo dessa maneira. — Nunca falou o porquê estar fugindo. — Casamento. — Mentira. — É verdade. — Reafirmou Hipolita, abraçou os joelhos fitando o horizonte a sua frente — Acho que minha vida é um pouco complicada. — Tu não o amas? — Louis a perguntou, tocou seu ombro buscando sua atenção. — Estava sendo obrigada pelo meu tio a me casa, então fugir, não quero sonho em me casar, tampouco com um homem tão medíocre e desonrado. Enquanto pensava em sua vida chegou a conclusão de que talvez Byron houvesse desistido de casar-se com ela, não sabia se a esta altura do campeonato seu tio havia ou não descoberto que tinha fugido e não sido sequestrada. O lado bom nisso, era que havia uma possibilidade de seu noivo ter desistido do casamento, ele era um homem desejado, cafajeste do jeito que era poderia muito bem ter desposado outra. Mas ainda tinha seu tio, caso um dia ele a encontrasse teria que lidar com a ira dele. Queria poder voltar para casa, a casa que herdou de seus pais e que a pertencia por direito, o lar onde crescera e se tornara uma mulher, onde passara por tantos momentos, os bons superaram ruins. Não tinha autonomia para comandar os negócios de seu pai, apesar de que era uma excelente administradora, mas sabia que seria proibida de tomar de conta de sua propriedade por causa de seu tio, e muitos dos clientes se negariam a negociar com ela justamente por ser mulher. Sentiu como se tivesse tirado um peso enorme de suas costas ao compartilhar seu segredo, dúvidas e receios com Louis, apesar de não ter falado nada, ele a ouvia com atenção, estava precisando disso, desabafar, contar a alguém como se sentia, poderia ser com Zarina, mas ela não estava ali. Deus, sentia tanta falta de sua amiga! — Então, tu fugiste de casa por causa de um casamento? Talvez ele não a entenderia, claro, era homem, nunca precisaria passar por o que ela passou. — Fugi porque quero ser livre, Louis. — Retorquiu Hipolita suspirando — Depois que meus pais morreram vivi para seguir ordens do meu tio, ele queria controlar minhas amizades, minhas escolhas, me sentia presa. — Muitas vezes a liberdade tem um preço, a luta nunca acaba minha cara. A constatação de Louis era verídica. As consequências que um ato, que fora interpretado de maneira errada pela sociedade eram devastadoras, suas atitudes podiam ser mau vistas pelas pessoas, principalmente pela Nobreza e o Clero, uma vez que isso acontecesse poderia ser punida, assim como muitas foram, por serem adulteras, por serem taxadas de bruxas, prostitutas, ou por simplesmente não concordarem com o sistema do qual as regem. A verdade era que pensar diferente da sociedade causava pena de morte, tudo era injusto e complicado, já ouvira muitas histórias de mulheres que foram para guilhotina por motivos dos quais achara banais. — Morrerei lutando, Louis. O objetivo é nunca parar, nunca se dar por vencida. É uma reinvindicação justa lutar contra algo que acredito que seja injusto para mim, pois somente eu sofrerei as consequências, não posso deixar que meu tio, meu noivo, o rei, o papa ou qualquer outra pessoa decida o que é certo ou errado para mim. — É um posicionamento admirável, mas tu deves ter cuidado, infelizmente nem todos estão preparados para serem contestados quanto ao abuso da monarquia com as classes menos favorecidas. — Tu acreditas que eu esteja certa em buscar minha liberdade? — Acredito que se tu vais contra o direito do outro, prontamente abdicou aos teus. — Louis explicou seu ponto de vista, Lady Hallwick assentiu concordando de imediato com seu ponto de vista — Ou todos têm os mesmos direitos ou nenhum terá! Creio que não se pode ter igualdade e independência de todas as classes se não houver libertação. Enquanto esta roda da qual esmaga o povo não for quebrada, grande maioria sofrerá, enquanto aquela mesma minoria que obtém o poder se favorecerá. Admirou orgulhosamente os princípios daquele demônio, era prova de que ele não tivera seu coração corrompido pela maldade, difícil mesmo era achar alguém com esse tipo de pensamento, aquele guerreiro e seus homens se provaram pessoas de caráter. Mesmo sendo selvagens, serem treinados para matar, aparentarem ser implacáveis, eles tinham um código de conduta, e o desvio de caráter pelo visto nunca fizera parte de suas regras. — Senhor? — A voz de Conan soou por entre as árvores, viraram-se para trás e Hipolita se deparou com o olhar frio do guerreiro que empunhava sua espada parecendo pronto para matar alguém — Um grupo de salteadores se aproximou de nosso contingente, Uriah os seguiu pela floresta, eles pretendem atacar nosso acampamento. Seus ombros enrijeceram de imediato, Hipolita empalideceu, nunca havia passado por uma situação igual a essa em toda sua vida, odiava presenciar qualquer tipo de ato violento. — Conan, leve Hipolita para aquele povoado que fica ao norte da colina. — Ordenou antes de perguntar — São muitos homens? — Não sei ao certo senhor, mas acredito que seja o dobro de nossos homens. — Retorquiu o guerreiro. — Hipolita! — Louis chamou seu nome em meio a um rosnado, o que a fez sair de seu estado de torpor, olhou para ele apavorada — Siga Conan, ele a levará a um lugar seguro.
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