11 - Comemorações

1874 Words
Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome. — Clarice Lispector Logo após a partida dos dois elementos Hipólita ficara intrigada com o fato do soldado que acompanhara o rapaz saber seu nome. Afinal, nunca o tinha visto antes, já ouvira falar da casa Cawllon por ter grande importância, serem nobres, mas nunca tivera contato com algum deles, tampouco com alguém de sua guarda. Foi interrompida dos seus devaneios por Conan que a convidou para jogar cartas. — Se prepare para perder! — Ela declarou divertida. — Lady Hallwick é trapaceira, te lembras daquele dia? Ela conversou, conversou, falou sobre mitologia, sobre as histórias que seus avós contavam e, enquanto nos distraía ela foi armando sua jogada. — Isso não é trapaça Uriah, isso é uma técnica de jogo. — Ela explicou, o homem fez careta deixando evidente que não concordava com suas técnicas, mas Hipólita sabia que ele não estava realmente zangado — Se prestassem mais atenção no jogo eu não ganharia tão facilmente. — Não prestarei mais atenção nas suas prosas, Hipólita. — Conan avisou — Não terás como ganhar agora. — É bom que não preste mesmo, caso contrário Hipólita ficará com tuas moedas. — Soou a voz de Louis. Hipólita lhe lançou um olhar repreensivo e chutou sua perna por debaixo da mesa, mas ele pareceu não se importar e apenas rira. A mesa em que estava logo ficara cheia, Conan, Uriah, Jamie, Lanceloth, Zarbon e os outros começaram a jogar, Hipólita aproveitou a animação dos homens e os envolveu em uma prosa. — Sabiam que os centauros eram seres mitológicos que tinham metade do corpo de cavalo e a outra metade de homem? — Ela perguntou tirando a atenção dos homens do jogo. Eles balançaram a cabeça em forma negativa, então ela começou a explicar — Eles eram sim! — Ela afirmou sua voz era sombria ao narrar o conto — Eram filhos de Ixíon o rei dos Lápitas e Néfele a deusa das nuvens... Enquanto os envolvia com sua história, Hipólita ia os distraindo e armando sua jogada, fora assim que seu pai lhe ensinara a jogar. Não achava que estava sendo trapaceira, afinal, só desviava suas atenções do jogo, nada além disso, qualquer jogada errada era responsabilidade deles e assim ganhara mais uma vez. Há duas noites atrás todos haviam desmontado os acampamentos e bateram em retirada, o intuito era ir para Chipping Campden. A viagem fora feita na longa noite, Hipólita nunca vira algo tão divertido, o som de trombetas cortava a noite junto aos dos tambores e gaita fole. Os homens entoavam canções em gaélico, era lindo, emocionante diria, nunca presenciara algo tão esplêndido, ele tinham amor ao cantarem em devoção a Escócia, enaltecendo seu povo, as belezas naturais de sua terra. A lua cheia fora testemunha de suas manifestações, iluminando a noite enquanto o clã de Louis cantava com vigor. Quando todos cansaram-se do jogo acharam uma nova nova diversão, alguns dançavam, outros bebiam, ou paqueravam, percebeu que alguns deles se perderam por dentre os quartos da taberna com meretrizes. Outros sorriam de Darth e uma das criadas da taberna enquanto dançavam de forma estranha, para Hipólita aquilo parecia mais a dança do acasalamento, mas a mulher que o acompanhava pareceu não se importar, ela o incintava e o beijava. Louis havia acabo de beija-la, no entanto lhe era estranho, pois ele nunca fazia isso na frente de seus homens. Ele levara o polegar ao seu queixo e limpara alguma sujeira ali, fazia isso enquanto sorria para Jamie, Hipólita percebeu então que talvez a bebida o estava levando a agir dessa forma e ele nem havia se dado conta disso. Ela tomou um pouco mais da cerveja e beliscou o bacon assado, suspirou enquanto a comida se desmanchava deliciosamente em sua boca. Aquilo era tão bom! Na outra mesa Conan, Uriah e outros outros depois de uns goles de cerveja apostavam quem arrotava mais alto, Hipólita resolveu entrar no jogo e bem de onde estava soltou um arroto digno de um selvagem. Todos que estavam na estalagem olharam para ela e depois começam a sorrir, levantaram seus copos e brindaram à ela. Todos eles pareciam selvagens, a forma como comiam, bebiam ou cuspiam mostrava isso, mas Hipólita não negara que a noite quando estava junto deles à fogueira agia como tal, imitava-os, era divertido, eles gostava da presença dela e tentavam lhe ensinar coisas que pessoas que tinham bons modos nunca faziam. Mas quem precisa de bons modo? Louis assim como Sor Jamie percebera que eles eram diferentes, Louis mais ainda, ele comia divinamente com os talheres em sua mão, observou Hipólita, sentava de forma ereta, com uma postural impecável. A serva da estalagem também observara isso, pois ela dedicava um sorriso bobo nos lábios á Louis, ele nem prestará atenção, conversava sobre o Rei da França com Sor Jaime. — A França esta a ponto de entrar em uma guerra com a Inglaterra. — Sor Jamie comentou — Sei que o Rei Filipe esta com certo receio por ainda não ter aliados. Antes de repontar à afirmação de Jamie, Hipólita percebeu que Louis a observou como se quisesse constatar que ela estava prestando atenção em sua conversa. — Guerrear agora com Anthonny séria um ato suicida. — Louis ressaltara pensativo — Ele tem o apoio de Roma. Isso Hipólita sabia, o Rei seguia firmemente com a idéia de dominar parte do continente junto aos romanos, a aliança entre os dois maiores reinos havia espalhado incertezas e medos pelas outras nações, a fama de c***l e implacável que Anthonny carregara lhe caira como uma luva. — Tem a Escócia. — Hipólita lhes disse. Lembrou-se de que havia uma certa tensão por parte dos dois reis, desde quando Anthonny afirmou que não havia motivos para o continente ser dividido em diversos reinos e que a Escócia deveria pertencer unicamente a Inglaterra — Se as outras províncias lutarem juntas certamente terão mais chances de vencer. — O rei escocês esta evitando ao máximo um confronto, ao contrário de Anthony ele se importa com os seus. Hipólita sabia a história das grandes guerras pois seu avô sempre lhe contara, quando um rei perdia a guerra, todas as grandes casas e vassalos que o servia eram exterminados. Mulheres eram estupradas e mortas, crianças eram tiradas do seio de suas mães e jogadas nas fogueiras, para que não sobrasse nenhum resquício daquela história, não deixavam para trás homem, mulher ou criança que pudesse empunhar uma espada, para que não se voltassem contra eles. — Esperar não irá fazê-los ganhar uma guerra! — Ela argumentou, sabia que Anthony nunca desistiria, sua gana se sobressaia acima de tudo. — Certamente não. — Dessa vez foi Sor Jamie quem rebateu, ele estava sério e pensativo — Mas dar a Escócia uma vantagem, a estratégia, ela vale mais que números. Anthony é impulsivo, ele só quer ganhar não importa os meios. A Escócia vai come-los por trás. Hipólita gargalhou e quase pôs para fora a cerveja que tomava. — Pelo visto são cidadãos patriotas, pensava que fossem desertores, exilados ou algo do tipo. — Hipólita lembrou-se então que quase não falavam de suas vidas na Escócia, tampouco Louis, só agora se dera conta de que não sabia absolutamente nada sobre eles, a não ser seus nomes, talvez nem isso, eles estavam em terras inimigas, deviam estar usando nomes falsos, ou não? Talvez estivessem estudando o terreno para o seu rei, vendo como os ingleses se corportavam, seus pontos fracos. Pensou ela de repente intrigada. — Há muitas coisas das quais tu não sabes, minha cara. — Louis falou misterioso, havia um pequeno sorriso no canto de seus lábios. Ele tinha razão, mas ela iria descobrir. Sim, ela iria! Logo após a meia noite Hipólita convenceu Louis a voltar para o lugar onde eles haviam acampado, o resto de seu contingente continuou em festa na taberna. Enquanto a bebida, a música e a noite não se esvaisse eles não sairiam de lá. Ela procurou em suas coisas as castanholas que pertenceram a sua mãe, tirou a calça que estava e vestira uma saia longa. Iria dançar para ele. Encontrou Louis sentado embaixo de uma árvore, seus olhos emitiam fevor ao fita-la, ela lhe sorrira e tocara as castanholas enquanto dançava. Aprendera com sua mãe que durante a juventude conheceu o povo cigano, eles haviam lhe ensinado a dançar, tocar e cantar o flamenco e ela passara isso a Hipólita. O pó da terra subia durante sua dança, ela sapateava e cantava, fizera um grande esforço para não cair, sentia-se tonta, mas estava feliz. Dançar trazia lembrava da infância. Lembranças felizes de sua família, suas origens. Espanha, sua terra natal, eles eram um povo alegre e dançante, fazia longos anos desde a última vez em que a visitara. Hipólita fechou os olhos e soltou a voz cantando com o coração apertado. Louis apenas a observava compenetrado, ela era completamente linda, sua voz era terna e doce. Percebeu então que ela havia se tornado mais importante em sua vida do que pensou que seria, não sabia o que sentia, não sabia dar nome aquele sentimento, só havia uma certeza, não deixaria que Hipólita voltasse para o domínio de seu tio, muito menos do tal noivo. — Então, eu danço bem? — Ela estreitou os olhos pra ele ao perguntar. — Pode falar a verdade? — Depende, se a resposta for negativa vou ter que cortar tua garganta. — Avisou ela sentando-se no colo de Louis, depois passou os braços por seu pescoço e o beijou. As mãos fortes de Louis apertaram suas pernas e ela enfiou a língua pela boca dela deliciando-se de seus beijos. Rebolou sob ele sem pudor algum, estavam a sós, ouviam apenas o estralar da fogueira e o cantar dos grilos. — És sempre tão trapaceira nos jogos Lady Hallwick? — Ele interrogou mordendo o lóbulo de sua orelha. — Não é trapaça. — Ela retorquiu sorrindo quando Louis estreitou os olhos para ela — Não é! Na verdade são anos de experiência. Ele deslizou os dedos por seu pescoço e aproveitou para puxar a manga da camis deixando seu ombro de fora. — E qual sua idade? — Não deveria perguntar isso à uma dama. — Ela reclamou divertida — Vinte e cinco verões. Ele ficou surpreendido, apesar da maturidade de Hipólita, Louis pensara que ela tivesse bem menos. Mulheres da idade de Hipólita já estavam casadas desde os quinze, já tinham no mínimo cinco filhos. Ela realmente era astuciosa, tinha uma boa prosa, caso contrário não teria engambelado seu tio por tanto tempo. — Então quer dizer que este rostinho bonito tem vinte e cinco verões? — Ele segurou sua bochecha e selou seus lábios nos dela — Não achas que esta muito velha pra casar? Zombou brincalhão. Acabou ganhando um tapa no peito quando ela fingiu estar ultrajada. — Quem te disse que desejo casar? Muita audácia da sua parte cogitar a hipótese de que quero um marido para me dar ordens, dizer o que devo ou não fazer. — Resmungou ela. Sabia que Hipólita não escutaria calada, estava irritando-a propositalmente. Gostava de vê-la furiosa. — Eu não queria uma esposa mau criada como tu. Ela abriu a boca ultrajada, depois sorriu parecendo entender o que Louis estava fazendo. Mordeu os lábios dele e ficara satisfeita ao perceber que um pequeno flerte de sangue. — Que bom, pois não pretendo casar-me contigo. — Repontou e então o beijou.
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