Confie no seu coração, mas use sua cabeça.
— Julie Garwood
Hipólita pestanejou com assombro tentando assimilar a notícia. Deixou que seu corpo caísse na cama, deu graças a Deus por estar deitada pois sentiu as pernas bambearem.
De uma hora para outra não sabia mais o que pensar, ou o que fazer.
De repente começou a tocir como se estivesse engasgada. Bom, talvez houvesse engasgado com a própria saliva, ou com o que Imogen acabara de lhe revelar. Parecia que havia engolido algo e que se não o expulsasse morreria sufocada.
— Acho que a senhorita não estar bem. — Concluiu Imogen compadecida, pegou um pouco de água e oferecera a Hipólita — Beba um pouco, e respire calmamente.
Assim Hipólita o fez, mas a sensação pesarosa não se dissipou.
— Tenho certeza de que estás enganada, minha querida! — Tentou negar descaradamente. Colocou as mãos sob a barriga apertando-a — Isso aqui é pança, eu como tanto quanto aqueles selvagens lá fora, tenho certeza que nessa barriga só tem resquício da cerveja e do churrasco de ontem.
Imogem balançou a cabeça negativamente.
— Posso afirmar que não! Aí também tem um bebê.
— Oh, céus! — Rumorejou Hipólita — De esperanças? Como irei cuidar de um bebê se vivo como uma andarilha, uma fugitiva?
A sensação era que o ar faltava-lhe nos pulmões toda vez que pensava na possibilidade de estar a espera de um bebê. Nunca na vida tivera contato com alguma criança, não sabia como cuidar ou educa-las, pior, não sabia como iria contar isso à Louis, como ele reagiria? Se perguntava Hipólita.
Havia tão pouco tempo que se conheciam, ainda tinha o modo de vida que eles levavam, como criariam uma criança vivendo como nômades, de um lado para o outro?
Deixou os ombros caírem em desânimo e soltou um gemido pavoroso.
— Acalme-se, tenho certeza que Louis te apoiará. — a ruiva disse tentando aplacar o nervosismo de Hipólita — Ou não pensa em ter filhos?
— É complicado! Eu nunca quis casar-me, sempre pensei que da forma como vivemos casamento se tornam uma prisão, saímos do domínio de nossos pais e passamos a ser domínio de nossos maridos e, uma vez que isso acontece perdemos a liberdade de fazer nossas próprias escolhas, de seguir nosso rumo, devemos submissão e obediência aos esposos. — Explicou ela — Acho que não vale a pena casar-se com alguém apenas por conveniência, de que serve o casamento se não há amor? Ser forçada a deitar-se com um homem apenas por uma obrigação me parece hediondo. Queria poder ter a liberdade de escolher e decidir o meu futuro, por isso fugir, não é que não queira ter uma família, mas como nunca pensei em me casar com alguém, filhos me pareceu algo impossível. Me entendes?
— Perfeitamente! — Afirmou Imogen alisando seus cabelos — Mas agora não há casamento, só um bebê.
Ambas sorriram.
Desejou que sua mãe estivesse aqui, ela a aconselharia e apoiaria. Além de tudo, ainda implicava o fato de que seu filho seria um bastardo, nunca se importara com o que a sociedade pensava, mas sabia o quanto as pessoas eram maldosas, filhos fora de um casamento eram m*l vistos e menosprezados, como se tivessem alguma doença contagiosa, lepra, eram proibidos de frequentarem certos lugares pois ofendiam a honra de cidadãos "decentes", o hilário era que as pessoas desconheciam o significado daquela palavra pois agiam de forma inescrupulosa, como se o errado fosse correto. Nenhuma mulher poderia criar um filho bastardo e permanecer na sociedade vivendo normalmente, tampouco as criadas que trabalhavam na casa de nobres, elas eram banidas e muitas para se sustentarem recorriam a bordéis, os bebês ou eram dados para adoção ou a mãe jurava que era casada, que o pai havia sumido, ou que ela havia sido, de alguma forma, ludibriada por algum homem que prometera que se casaria com ela. O que não era seu caso!
— Um bebê de um brutamonte. — Disse ela referindo-se a Louis, aproveitou para entrajar-se novamente com suas vestes — Duvido muito que ele entenda de algo que não seja morte e espadas.
— O conhece tão pouco. — A mulher à sua frente replicou.
— No entanto tu pareces conhecê-lo perfeitamente. — Tinha a sensação de que todos conheciam os segredos de Louis, menos ela.
— O conheço de longa data, em uma de suas divagações. Assim que vim morar aqui, um de seus homens estava ardendo em febre, minha avó me ensinou muitas coisas, eu o ajudei e assim tornei-me amiga deles.
— Por que moras aqui, tão sozinha, longe de tudo?
— Não é por minha vontade e sim porquê fui condena a viver presa nesse lugar.
— O rei fez isso contigo? — Perguntara Hipólita penalizada. Por quanto tempo a maldade dos tiranos cairia sobre a cabeça de inocentes? Perguntou a si mesma.
— Ele não é meu rei! — A moiçola cuspira as palavras entre dentes —Nunca será, principalmente depois que fez isso no meu rosto... — Imogen mostrou-lhe uma grande cicatriz no lado esquerdo de seu rosto, o corte era próximo do ouvido e ia até sua boca — E me acusou de bruxaria, disse que eu era uma pagã, me baniu da sociedade para que vivesse reclusa nesse lugar inóspito. Eu o odeio Hipólita, odeio com todas as minhas forças! — Reafirmou, pôde sentir toda sua ira em cada palavra que Imogen pronunciava — Mata-lo com minhas próprias mãos me daria todo prazer do mundo.
Ela fechou os olhos com força enquanto as lágrimas cairam em cascata por seu rosto, agora corado pelo choro. Hipólita a abraçou penalizada afagando-lhe as costas.
— Sinto tanto, Imogen. — Falou ela — Muitas mulheres já foram mortas acusadas de bruxaria, essas mulheres foram perseguidas e acusadas por todas mazelas que acontece á socidade, é tão injusto! Ao feri-la é como se estivessem ferindo a mim, feri a todas nós.
Não entendia o motivo da sociedade menosprezar e oprimir tanto as mulheres, grande parte das pessoas mortas acusadas de serem hereges eram mulheres. É como se colocassem a culpa de todo caos no mundo em suas costas.
— Nunca concordei com o que a igreja prega sobre as mulheres, tampouco que o tipo de medicina que prático seja visto como algo maligno, nunca estudei, mas foi me passado de família. Nunca fiz m*l a ninguém, Deus sabe que não, eu... eu só tentei ajudar, não há feitiços, magias ou algo do tipo, são as plantas que curam, as ervas, não eu!
— Nem deves acreditar, nunca, no que eles falam, tu és maravilhosa! — Hipólita afirmou segurando as mãos de Imogen e fitando-a, via muito de si na mulher a sua frente — É uma vocação Imogen, tu podes ajudar as pessoas, como um médico faz. Isso é um dom!
Nos ensinamentos bíblicos passados por alguns sacerdotes eles influenciavam as pessoas, sempre transmitindo essa imagem de que mulheres eram inferiores e de que deviam se manter puras e obedientes, caso contrário queimariam no fogo do inferno.
— Confesso também que nunca acreditei no que pregaram, já li a bíblia e tenho minha própria interpretação, os seres humanos são a imagem e semelhança de Deus, corpo, alma e espírito, por tanto somos criaturas racionais, temos a capacidade de pensar, construir e criarmos coisas, de exercer domínio e, isso não se estende somente ao homem e sim a cada ser humano por ele criado, por tanto somos iguais! Deveríamos ter o direito da liberdade de expressão. Fazer o que quisermos, não deveria ser errado. — Resmungou Hipólita odiando mais uma vez o sistema que os regia — Por que somos obrigadas a nos casarmos? Sem direito de escolhas? Deveríamos ter o direito de nos deitarmos com quem e com quantos quisermos, e não sermos chamadas de meretrizes por tal ato, e disso não parecer um crime, pois não é! Os homens sempre fazem isso e nunca são contestados ou julgados! Estamos presas a um rótulo de que mulheres só servem para serem esposas e procriar, somos iguais aos homens, somos inteligentes, podemos ser oque quisermos se nos derem oportunidade, merecemos isso!
Poderia passar horas e horas conversando com Imogen, ela a entendia tão bem, tinham pontos de vista iguais. Ela era extraordinária. Em todos esses anos, depois de sua mãe Imogen era a única mulher que pensava diferente, era contraditório, mas as mulheres podiam ser tão opressoras quantos os homens nessa ideia insana de que uma dama deve se portar como manda as regras ditadas pelo clero e a realeza.
— Fico feliz que pense desfa forma, foi tão bom conhecê-la. Desejo-te toda felicidade do mundo, Hipólita. — A mulher disse e a abraçou — Sei que será uma ótima mãe.
Hipólita olhou para o próprio ventre, sorriu nervosamente, não sabia se realmente seria, mas se esforçaria ao máximo para ser uma boa mãe. Acima de tudo, sabia que seu bebê jamais cresceria sendo influenciado pelas bobagens que o povo doutrinava. Ela mesma o ensinaria a tratar a todos com respeito e ser digno dele, a ser honesto, não deixaria seu filho se corromper pela maldade do mundo que o cerca, pois ela o amaria incondicionalmente, o ensinaria a ter caráter e lutar pelo que acredita sem passar por cima de ninguém.
— Obrigada! — Agradeceu e então percebeu Louis parado na soleira da porta com os braços cruzados abaixo do peito.
— E então, estar melhor? — Perguntou ele aproximando-se.
— É melhor que conversem a sós. — Imogen enunciou sob o olhar de Louis que franzia o cenho — Hipólita, se precisar de algo pode me chamar.
Disse á Hipólita antes de sumir de sua vista.
Ficou parada por um bom tempo mirando a Louis, pensando em como revelar para ele, de repente, pegou-se mais uma vez nervosa.
Respirou fundo e mandou seu nervosismo para o quinto dos infernos, resolveria aquilo como sempre resolvia todos seus problemas, de cabeça erguida.
— Estou a espera de um bebê. — Salientou ela.
Desde que o conhecera esta fora a primeira vez que vira Louis sem palavras. Ele esbugalhou os olhos fitando-a como se estivesse acabado de ser sentenciado a pena de morte. Pensara então Hipólita que aquela não era uma reação apropriada e significava que ela estava em más lençóis, ou não?
De repente a expressão de assombro abandonou sua face e eles escancarou os dentes em um sorriso aprazível. Repentinamente ele já estava a centímetros de distância dela, Louis agachou passando as mãos por suas coxas e suspendo-a no ar.
Reprimiu a vontade que sentia de se compadecer com aquela cena. Ele parecia tão feliz, isso era bom, não era?
Mas ele ainda continuava escondendo-lhe coisas.
— Eu vou ser pai! — Disse instintivo. Aquela notícia o pegara de surpresa, mas estranhamente, sentia-se feliz, é como se de uma hora outra as coisas estivessem caminhando para uma estrada da qual nunca havia trilhado, ainda sim, estava decidido a percorre-la.
Não fazia idéia de que um pai fazia, nem sabia se estava prepado. Mas então se viu perguntando-se se seria um menino, amaria de igual maneira se caso fosse uma menininha. Percebeu então que Hipólita o olhava carrancuda.
— Então, em nome de Deus, qual o seu problema? Por que está agindo como se houvesse recebido uma má notícia.
Ela grunhiu irritava.
— Tu és problema, Louis, não vê? Não vê?
Ela despejou a ele o seu lamento. Louis não sabia se ria ou se ficava irritado diante do comportamento pertubado de Hipólita, ele não estava entendendo o motivo de suas inseguranças. Ele a colocou no chão e a viu se afastar.
— Não, por quê?
— Segredos, os que me esconde, contei tudo sobre minha vida. A única coisa que sei de ti é teu nome, Louis MacEhdach, se é que este é realmente teu nome.
Ele assentiu e limpou a garganta antes de reponta-la. Nunca apreciou falar sobre sua vida ou o que sentia, sempre achou mais fácil ignorar as questões que o envolvia sentimentalmente, espadas, lutas e guerras sempre fora bem mais fáceis de lidar que questões do coração.
— Certamente. — Afirmou — O que exatamente quer saber?
— Pode começar contando-me o que faz na Inglaterra, já que és um escocês e o clima entre ambos os paises não esta amigável?
— Vim espairecer.
— Espairecer? — Ela quase gritou — As pessoas espairecem lendo um livro, caçando, jogando, fazendo coisas pecaminosas. Viajar por milhas de distância não é espairecer Louis MacEhdach.
Ele então percebeu que agora Hipólita parecia sua mãe quando estava furiosa com seu pai, havia um brilho mortal em seus olhos.
— Meu pai é o Rei da Escócia, eu sou um príncipe. — Louis revelou, ser filho de quem era, pertencer aquele título nunca fizera diferença alguma em sua vida e nunca tentou beneficiar-se por conta disso.
Hoje, ele era comandante do exército de seu pai e liderava a quinta legião, um título que adquiriu com garra e luta, por mérito próprio, cada homem ali fora treinado por ele. Lembrava-se bem que ainda moleque, Lanarck, o homem que mais admirou, até mesmo que seu pai, lhe ensinou a como segurar em uma espada, ele era o melhor, conhecido em todo o reino como O Dócil, mas queriam dizer o contrário, Lanarck, O implacável.
Louis era tido pelo seu pai como o filho rebelde e mimado, justamente por ignorar as questões do reino, ao menos se tratando de governar, ele amava liderar, mas seu exército. Lutar por inocentes, pela justiça, lhe parecia mais importante, qual rei há de ser rei se não vai a lutar por seu povo?
Acreditava que todo rei deveria liderar seu exército, eles lutariam com mais garra vendo seu rei ir ao lado eles, colocar suas vidas acima da sua, assim como eles faziam por ele. Os poderosos iniciavam a guerra, mas não saiam para luta-la, ao invés disso eles deixavam esse papel para seus subordinados, e isso não parecia nada honroso aos olhos de Louis.
Hipólita apenas rira, ela explodira em una gargalhada, depois sem conseguir se conter ela colocou a mão na barriga. Louis continuava sério, fitando-a. Sete internos, será se era mesmo verdade?
— Vamos para a Escócia! — Determinou ele.
— Para o seu país? Até momentos atrás pensei que fossem exilados.
— Não sou. Voltaremos em uma semana, iremos nos casar.
Aquele dia havia começado estranho e parecia que terminaria igual ao começo. Pensou em se beslicar para constatar de que não estava sonhando.
— Não irei me casar contigo, não é assim que as coisas funcionam, Louis. — Retorquiou nervosa, andou de um lado para o outro sem conseguir ficar quieta, sem coração palpitava forte em seu peito — Tu dissestes que nunca se casaria comigo, por quê isso agora?
— Mudei de idéia e acredito que é o certo a fazer!
Mais uma vez sua resposta não a agradou, a qualquer hora ela pularia em seu pescoço.
— Não posso casar-me contigo, não posso casar-me com ninguém.
— Não pode porque tu tens uma idéia ridícula de casamento, Hipólita, como podes saber se é r**m, tu nunca tentou!
Não era somente por isso que ela se negara a se casar com Louis, mais porque acreditava que em primeiro lugar para um matrimônio ir adiante ele deveria ter amor, e que fosse recíproco.
— Por que quer se casar comigo? — Ela perguntou baixinho mais uma vez, agora olhando em seus olhos, queria que ele lhe dissesse a verdade, era por ela que Hipólita sempre esperara.
— Porque te admiro, és inteligente, és forte Hipólita. Quantas mulheres fogem do conforto de suas casas em busca de sua liberdade? Gosto de ti Hipólita. — Disse Louis, segurando seu rosto com as mãos afagando-o, delineou seus lábios com o polegar, conseguia sentir a respiração ofegante dela toda vez que enchia os pulmões de ar e seus s***s subiam e desciam.
— Gosta de mim, mas não me ama. — Ela lamentou, tão baixo que Louis quase não ouvira — Isso não é suficiente para mim.
— Tu pareces encontrar uma maneira para discordar de tudo o que eu falo. — Concluiu ele.
Ela estava irritada, sim, como estava. Queria sacudi-lo, fazer ele acordar para vida, soltou um grunhido tão alto e hostil quanto e de seus homem. Louis riu em satisfação.
— Como podes ser tão irritante?
— É um dom querida! — Exclamou ele — Então, aceita?