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2446 Words
Quatro MARCOS Arqueei as sobrancelhas olhando em seus olhos, reforçando a pergunta que fiz anteriormente. Ela ficou ainda mais bolada e fechou de vez a cara. — Não é da sua conta! – Arregalou os olhos lutando para não olhar para a lápide mais uma vez. – d***a! Eu não tinha que ter vindo aqui! Eu não tinha nada que ter me esbarrado e muito menos estar conversando com você! — Talvez seja o destino conspirando a favor da gente. – Me aproximei devagar, com um sorriso sacana nos lábios. A loira secou o vestígio das lágrimas que marcavam suas bochechas e forçou um sorriso cínico para mim. — What?! A gente? Como assim? Acho que esse cemitério não está te fazendo bem. – Ela passou por mim ajeitando o cabelo.   — Concordo. Não acho que aqui seja o melhor lugar pra gente... Ela me cortou. — Honey! – Ergueu o braço direito, estalando os dedos ainda de costas para mim. – Acorda, não existe “a gente”, e nem vai existir. — Isso só me instiga. Eu curto uma mulher difícil, – Apressei os passos alcançando-a, assim que fiz coloquei a mão sobre seu ombro e cheirei o pescoço delicado e perfumado, vi quando os pelos de seus braços arrepiaram, o que só me deu a certeza de que ela também estava reagindo àquele papo – As cheirosas mais ainda. Ela empurrou minha mão e continuou seguindo. — Querido, eu nunca fui nem serei difícil. Eu só não estou afim, porque se eu estivesse – ela virou para trás, jogando os cabelos loiros no meu rosto enquanto o olhar intenso que mais parecia um pedaço do céu em dias claros me queimava – nós já estaríamos fodendo em cima de algum túmulo por aqui! Meu corpo inteiro formigou, reagindo ao olhar quente e intenso, e às palavras baixas em um tom sexy, ousado que fizeram meu p*u latejar subitamente. — Eita porra...  Não fala assim loira, eu fico e******o. — Não perca seu tempo comigo querido. Procure gastar sua libido com uma mulher do seu nível e da sua laia. Não vou negar, o que ela tinha de beleza tinha de afronte. Pensando bem, ela até que estava certa, não era uma mulher do meu nível, nem da minha laia. Não me lembro de ter ido para a cama com alguma v***a do tipo e, isso era péssimo, porque só despertava minha vontade de f***r com ela até não restar uma única gota de p***a no meu p*u. — É que da minha laia eu meio que já tô enjoado, e você de cara já me despertou umas paradas. Rolou uma química tá ligado? – pisquei maliciosamente para ela. – Você também sentiu que eu sei, eu vi nesses seus olhinhos de Barbie. Ela riu. — Melhor eu ir embora, senão vou acabar surtando com você de novo e... – revirou os olhos — Cara, eu tô cheia de problemas pra resolver hoje, só espero que meu carro não tenha sido roubado... — É aquele jipe preto lá fora?! — É. Por quê?! – Arqueou as sobrancelhas espantada. — Por nada – sorri – só fiz um comentário. — Ok. Tchau! — Até a próxima! A loira seguiu marchando, cheia de pressa enquanto mexia na bolsa. — Não vai ter próxima! – fez questão de acrescentar enquanto atravessava as lápides com cuidado. Tomara que tenha, e que seja melhor que essa.  Pensei admirando sua pose e a maneira elegante com que ela trocava os passos sob aqueles saltos. Depois caí em mim, fitei o relógio e vi o quanto estava atrasado e cheio de problema. [...] — Laurinha já vai fazer 15 anos né cara, sua filha cresceu muito rápido. — Pois é, parece que foi ontem... Ela é o clone da mãe. — Linda. – Xamã disse causando um silêncio incômodo entre nós. — Quê?! – Virei-me para ele rapidamente, encarando-o com frieza. — O que foi mano?! Tu queria que eu dissesse que tua filha é f**a? Eu não sou cego! — Não. O que eu queria mesmo é que você nem olhasse pra ela. Laura é uma criança, nem pensa nessas coisas e, tu quer um papo mano: você tá me irritando. Você sabe como eu sou neurótico com minha filha, pode ir parando de graça! – Xamã vivia me testando com a p***a desse assunto, não tinha um único dia que ele não perguntava por Laurinha, sempre enchendo-a de elogios. — Mas fala aí, o que tu vai fazer pro aniversário dela? Pelo que eu conheço a Laura ela vai curtir pra caramba um baile, só pra ela, com um camarote reservado para as amigas e... — Xamã! Não quero mais o nome da minha filha na sua boca. Já deu cara! Bora trabalhar! [...] GUTO Ontem foi f**a, fiquei a madrugada inteira de plantão, estava quebrado, exausto, só queria o meu colchão. Ainda era cedo, mas precisei me levantar para ir ao banheiro, nisso tive que passar pela sala e acabei trombando com um dos soldados da boca que eu trabalhava fodendo Tábata de quatro no sofá escangalhado. — Qual foi Guto? Cola aqui cara! – Meu sangue ferveu, engoli a seco tentando conter a vergonha que senti, mas era impossível lidar com aquilo. — Não. – Fui direto e seco. Ignorei os dois indo direto para o banheiro imundo, que só ficava limpo quando eu tomava a atitude de lavar. Lavei as mãos ainda tonto de sono, doido para pular no meu colchão quando mais uma vez tive que me deparar com aquela cena escrota. Tábata forçando gemidos escandalosos enquanto Kanário a fodia com força. — Porra... Guto, bota ela pra mamar cara! — Eu já disse que não!   — Deixa de ser v***o garoto! Vem cá... – implorou em meio aos gemidos. – Aproveita que Pelé não tá... Vem cá, sempre tive vontade de te mamar. Meu coração apertou, sempre soube que Tábata nunca me considerou como filho e que pouco se importava comigo, mas aquilo era demais, pesado. Ela me conhecia desde pequeno, cresci junto com seu filho, convivíamos ou pelo menos tentávamos viver como uma família. Mais uma vez ignorei os dois, voltei para o meu quarto, mas infelizmente acabei perdendo meu sono. Fiquei estirado sobre o colchão fino, ouvindo gemidos, palavrões... Acendi um cigarro para tentar fingir que não estava escutando nada, mas não adiantou, bastava um piscar de olhos para me sentir no meio daquela orgia tosca.  Me levantei, frio, determinado a sair daquele barraco e só voltar quando eles estivessem acabado. — Ah moleque, não vai me dizer que ficou irritado só porque te chamei pra f***r?! – arqueou as sobrancelhas, murmurando enquanto Kanário metia firme em sua b***a. – Para de perder tempo, coloca na sua cabeça que tu não é meu filho. – ofegou se contorcendo. – Você apenas mora de favor na minha casa, não custa nada de vez em quando botar um pouquinho na minha b****a. Não era pra doer, mas doía, queimava por dentro saber que a mulher que eu esperava carinho me tratava daquela forma. Não consegui segurar minhas lágrimas, saí arrasado daquela casa, com uma vontade imensa de sumir no mundo, de sumir com minha vida.  Por que eu existia se ninguém se importava comigo?  Chegando no beco, desci a escada devagar, pensando em tudo que passei e que sofri por todo esse tempo. Eu estava quebrado. Eu já estava me cansando de ser bonzinho, de não reagir, de não fazer nada enquanto geral zombava comigo. E como se não bastasse no final da escada tive a falta de sorte de me deparar com Xamã montado na moto, conversando com Laura que estava sentada sobre um degrau. Ele olhava de uma maneira diferente para ela, com desejo. Era ridículo ver um homem de 25 anos cantando uma menina que ainda ia fazer 15. — Guto! Você tá bem? Aconteceu alguma coisa? – Laura se levantou assustada, cheia de preocupação quando me viu, o que deixou Xamã incomodado. — Vira homem moleque! Vira e mexe, tu fica chorando pelos cantos, tá pior que v***o! – Xamã sorriu com deboche para o meu lado.  — Cala a boca Xamã, não fala assim com ele! – Retrucou irritada. – Guto, o que houve? – apoiou a mão sobre meu ombro, fiz questão de tirar e respondê-la com um olhar duro. — Não é da sua conta. – desviei-me dela lançando um olhar frio sob Xamã, ele retribuiu da mesma maneira. Dei as costas, continuei seguindo, mas acabei parando quando ouvi passos largos às minhas costas. — Guto... Mano, foi m*l mesmo. Não sabia que você ia ficar bolado. Aquela mulher é uma piranha... – Cortei Kanário no mesmo instante. — Não fala assim dela! — Ela não tá nem aí contigo, nem te considera. — Eu sei... Fiquei em silêncio pensando sobre o que ele falou, mas a voz de Xamã chamou minha atenção. — Então fica assim Laura, hoje à noite nós tromba! – percebi que ele fez questão de aumentar o tom só para que eu ouvisse. Não consegui disfarçar minha raiva, muito menos o ranço que tinha daquele cara. Trinquei os dentes e cerrei os punhos ao ouvir o motor da sua moto roncar. — Relaxa. Também não vou com a cara dele, nem do Marcão. – disse baixinho enquanto Laura ia embora me olhando. – Mano, tu já parou pra pensar no tanto que nós trampa, dos riscos que nós corre todo dia aqui na Holanda? Não entendi o motivo daquela pergunta. — Sim. Penso nisso todos os dias. — Agora você já parou para pensar no quanto a gente ganha e no quanto Xamã e Marcão faturam pra ficar usando nós de escudo? Tu acha que vale a pena? — Não tem outro jeito. – Respondi sério. – Eu sei que não vou durar muito no meio disso, mas como tu mesmo viu, não tenho muitos motivos pra ficar me importando com a vida. Pra mim tanto faz tá aqui ou não... — Entendo. Também tenho meus problemas e é por isso que eu te falo, já que é pra se arriscar que seja pra levantar uma grana alta, não essa miséria que eles pagam pra gente. Você faria o mesmo pra ganhar mais? — Do que é que você tá falando cara... — Não se faça de lesado, tenho uma proposta pra tu, mas só vou dar o papo quando teu sim tiver garantido. — Então você é um dos envolvidos com a tropa do... – preferi não terminar, aquele nome não era bem-vindo nessa área. — Marcão não se importa contigo, Xamã nem se fala, a filha dele também não me parece muito certa do que quer e, quanto a Tábata... Mano, disso eu nem preciso falar. Ninguém se importa contigo meu irmão, ninguém. Neguinho que nem nós tá na pista pra jogar, temos essa vantagem de não ter ninguém pra se importar. Não é só vender uns bagulhos, nem sair por aí cobrando taxas, a questão é mostrar que nós estamos pouco se fodendo pra essa gente. Vai por mim, eles só querem que a gente se f**a e nós queremos o mesmo pra eles. É ou não é? — Não sei... Preciso pensar direito sobre isso, não é uma decisão que dá pra ser tomada da noite para o dia. — Então pensa mano, mas pensa com carinho. Tu tá ligado que a porta não se abre duas vezes para a mesma pessoa, não perca a chance de mudar de vida daqui para frente!  – os olhos escuros me fitaram profundamente, eu respirei fundo tentando buscar uma solução para aquela proposta, mas não era bem assim que funcionava. Kanário me deu as costas e eu segui escada abaixo, andando distraído, sem rumo, sem a mínima vontade. O céu que já estava cinza começou a desabar sobre minha cabeça, a chuva caía enquanto eu seguia sem pressa, sem medo, guiado apenas pelo meu instinto e pensamentos. Não levou muito tempo para que eu chegasse na padaria do seu Rodolfo, "Belo Pão" o nome, o nome do lugar em que fui abandonado como um objeto descartável. Me escorei num poste, parado, enquanto meu olhar queimava sob aquele punhado de saco de lixo, tudo estragado, descartável. Os vira-latas lambiam e depois esnobavam, nem eles queriam aquilo.  Foi daquela forma que fui abandonado e desde então nada mudou, continuava sendo um nada, um ninguém que só servia para fazer a vontade dos outros. Eu fui jogado ali como um resto de comida! Como se nem gente eu fosse! Nem mesmo os cachorros ficavam naquele estado! Não dava para me conformar. Nada justificava.  Por que fizeram isso comigo? É como ter o DNA de um verme. Xamã tinha razão, eu só chorava, só sofria, não agia que nem homem, devia ser esse o motivo das pessoas pisarem tanto em mim.  Mas chega uma hora que cansa ser feito de tapete pelos outros.  E essa hora é agora.  Olhei mais uma vez para aquele monte de saco de lixo enquanto a água caía sem cessar sobre meus cabelos, prometendo para mim mesmo que aquela seria a última vez que me sentia dessa forma. Sem valor. Como um entulho. Era um peso que não saía das minhas costas, aquela sensação h******l de não saber quem é ou porque estar aqui era o que mais me doía, de uma forma ou de outra eu tinha que lidar com aquilo, então que seja da minha maneira. Precisava espairecer, levar um choque na mente, quem sabe assim minha ficha não caía e eu me abria de vez para essa oportunidade. Havia uma moto de entrega com um baú atrás, a vontade de meter o louco e dar um rolé pela área acendeu como fogo e foi isso que fiz. Pouco me importei com o dono, ou se estava chovendo pra caramba. Tirei um canivete que andava no bolso, usei como chave e fiz contato até o motor da moto roncar, dali parti. Cortei ruas, avenidas, acelerando e curtindo a adrenalina até pegar uma avenida engarrafada pra c*****o, carros e motos buzinavam para todos os lados e eu entediado acabei acelerando, só não contava que iria dar de cara com uma blitz. Porém, ali já era tarde, não tinha para onde correr ou esconder, eu já estava enquadrado. — É isso mesmo? Pilotando por aí sem capacete? Nessa chuva? – o policial arqueou as sobrancelhas me intimidando. – Me passa a habilitação e o documento do veículo! — Não tenho. — Desça da moto, agora. – não tive outra alternativa, desci enquanto os olhos dos canas me rogavam pragas.
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