Capítulo 4

1731 Words
Christopher Eu sou um i****a. Um i****a completo. Sentir muito por minha mãe ficar doente não anulava minha responsabilidade. Ela estava no hospital por minha culpa. Eu era o filho que administrava com perfeição os negócios da família, mas quando se tratava da minha vida pessoal, enfiava meu juízo no r**o. Desde que assumi os negócios, tentei ser discreto e me manter na sombra. Na minha cabeça, enquanto estivesse triplicando nosso dinheiro, minha vida privada não dizia respeito a ninguém além de mim mesmo. Porém, qualquer deslize, por menor que fosse, sempre acabava com meu rosto estampado nas manchetes das colunas de fofoca. Até agora, nunca havia me importado com o que a internet mostrava ou simplesmente inventava. Até agora. Porque depois de uma noite inteira de agonia na sala de espera do hospital com mamãe sendo medicada e em observação, minha mente passou a reavaliar minhas atitudes nos últimos meses. Eu precisava sossegar. Pelo bem estar dela e da minha consciência pesada. Observei enquanto o médico vinha na direção de onde meu pai, Josh, e eu estávamos sentados aguardando notícias. - Como está minha esposa, Dr.? - As olheiras escuras sob os olhos do meu pai não escondiam a preocupação e a noite difícil que tivemos. Não dormimos, não conversamos, não houve sequer sermão quando cheguei na noite anterior, pouco tempo depois de recebermos sua ligação. E é exatamente isso que me preocupa. Todas as vezes que pisei na bola, meu pai fazia eu me sentir um adolescente de dezessete anos, imaturo e inconsequente, principalmente quando me lembrava, sem precisar, das minhas responsabilidades e do quanto tudo que envolve minha imagem afeta diretamente a imagem da empresa. Odiava seus sermões. Conheço cada um deles. Sei também que ele me ama e se preocupa demais comigo. Só não sei quando parei de me importar e a arrogância por ser o melhor no que faço começou a sobressair todo resto. - A Sra. Victoria está bem, não se preocupe. Ainda sob o efeito do medicamento. - Soltei uma respiração aliviada. - Sua pressão arterial estava muito acima do normal quando deu entrada ontem a noite. - O Dr. Henry informou, direcionando seu olhar para mim ao dizer a última frase. Senti o peso daquilo na boca do meu estômago. - Desde então, estamos monitorando. Assim que acordar poderá ir para casa. Recomendo que seja feito repouso e peço que evitem que ela passe por momentos de estresse, Benjamim. - Completou. - Obrigado, Dr. Henry. - Foi tudo que consegui dizer antes que ele nos deixasse, antes que papai se jogasse na poltrona esfregando os olhos de sono e cansaço. - Pai, eu... - Não é um bom momento para conversar, Christopher, melhor você ir pra casa. - Me cortou com uma notória dispensa. - Posso ficar. - Informei. - Melhor você ir. Já fez muito. - Ele não me encarou ao falar. Sim. Já fiz muito, trazendo minha mãe para o hospital. - Tudo bem, passo mais tarde para vê-la. - Um aceno de cabeça foi tudo que recebi. Peguei o blazer do meu terno jogado no sofá do outro lado e caminhei rumo a saída. - Ela vai ficar bem. - Josh colocou a mão no ombro do Sr. Benjamim e se juntou a mim próximo à porta. O silêncio pensou até entrarmos no elevador. - Sua mãe vai ficar bem. - Disse ao ver meu semblante desanimado. - Tia Vic é uma mulher forte. - Afirmou. - Eu sei que vai. - Garanti. - O que me mata é saber que fui eu quem causei tudo isso, ainda que não intencionalmente. - Passei uma mão por meus cabelos tentando afastar a frustração. - Nem preciso dizer que você precisa pensar no estado de saúde dela agora, né? - Cruzei os braços ao lançar um olhar de raiva para Joshua dentro do elevador. - Preciso lembrá-lo que é da minha mãe que estamos falando? - Arqueei uma sobrancelha. - É claro que sei. Só não consigo pensar em como não ser mais uma vez o motivo do seu estresse. - Exalei profundamente. - Comece parando de sair por aí transando com qualquer r**o de saia que vê. - Me recriminou. - Tenho certeza que irá descobrir um jeito, meu amigo. - Josh colocou uma mão no meu ombro como havia feito instantes atrás com meu pai e eu revirei os olhos. Contudo, sabia que estava certo. Claro que a culpa não é só minha se a cada lugar que vou, as mulheres estão sempre dando em cima. Sou um homem solteiro e cheio de hormônios, é difícil resistir à tentação. Me despedi do meu melhor amigo assim que chegamos no estacionamento, não vendo a hora de chegar em casa, tomar um banho e me jogar na cama. Só queria dormir e esquecer o dia e a madrugada que tive. Havia apenas uma coisa que duvidava muito que conseguiria esquecer. Aqueles malditos olhos verdes. Linda. Revirei os olhos ao parar no sinal vermelho. Não. Esse não deve ser o nome dela. Aquela garota deve ter me pregado uma peça e eu cai feito um i****a. Deve ter entrado em sua casa gargalhando depois de me fazer acreditar que aquele era o seu nome. Se ela realmente não sabia quem eu era, faz sentido não querer revelar sua identidade. Ou não, já que eu a levei na porta da casa dela. Será que… será que aquela era realmente sua casa? Puta que pariu. Por que ainda estou pensando nessa garota? Já deveria estar no meu décimo quinto sono. Não apenas deitado criando teorias se a estressadinha mentiu ou não para mim. E muito provavelmente, você só ficou impressionado porque ela não se jogou no seu colo e te fez uma proposta indecente como todas as outras. A primeira. Primeira que faz isso, que me rejeita. Custei a pegar no sono. Foram as piores quatro horas de descanso que já tive, e ainda acordei com uma leve dor de cabeça. Me arrastei para fora da cama ainda que fosse grande a vontade de ficar dormindo até mais tarde, ao invés de enfrentar uma sala cheia de homens em três malditas reuniões no decorrer da sexta-feira. Meu desejo para o dia, apenas que minha mãe saísse do hospital o mais rápido possível. Pelo menos esssa oração foi atendida logo após o almoço, o que foi motivo suficiente para cancelar a terceira e última reunião, já que minha mãe era mais importante do que qualquer outra coisa. - Já está indo? - Já sim. Minha mãe saiu do hospital agora a pouco. Quero passar o resto da tarde com ela. - Sorri para minha secretária. - Tire o resto do dia de folga. Isto é uma ordem. - Acrescentei, porque sabia que se não fosse desse jeito, Anne passaria o resto do dia organizando minha agenda da próxima semana. - Sim, senhor. Ainda terá a recepção de amanhã? - Não tenho certeza. Preciso ver como dona Victória estará. Mas pedirei para confirmarem. - Pisquei. - De qualquer forma, te vejo amanhã. - Acenei com sua afirmação. Deixei a sala anexa à minha me direcionando para o corredor que dava acesso ao elevador da presidência. - Saindo mais cedo hoje? Deve ser por isso que o tempo tá tão fechado. - Josh franziu a testa ao sair do elevador que acabara de chegar no andar em que estava. - Não fode. - Revirei os olhos. - Minha mãe saiu do hospital. - Graças a Deus. - Disse aliviado. - Reunião o dia todo? - Perguntei encarando as pastas pretas em suas mãos. - Acho que minha secretária não entendeu até hoje que uma das funções dela é facilitar minha vida, não dificultá-la. Ela marcou cinco reuniões para hoje. Cinco. - Josh passou as mãos no rosto. - Já cansei de dizer para arrumar outra. Você fica com pena de mandá-la embora. - Acusei . - Preciso ir. Te vejo mais tarde? - Passo na mansão pra ver tia Vic. - Informou quando apertei o botão para abrir a porta do elevador. - Não vai sair hoje? - Meu advogado quis saber. - Não. Não tô com clima. - Só precisava passar um tempo com minha família, diminuir o sentimento angustiante de ver minha mãe doente. - Talvez amanhã então. - Seu tom de voz aumento ao passo que se direcionava para sua sala. - Talvez. - Sorri. Vinte minutos depois passei pelos portões da casa dos meus pais, encontrando-os sentados na área externa almoçando. Minha mãe se levantou da cadeira vindo me abraçar, me fazendo abaixar para beijar sua cabeça. Acenei para o meu pai, porém, mesmo estando chateado comigo, ele veio ao meu encontro e me abraçou apertado. Logo, sentei em meu lugar de sempre. - Como se sente, mãe? - Quis saber ao ver seu semblante ainda um pouco abatido. - Ela estaria ótima se você não desse tanto desgosto a ela. - Me obriguei a ficar calado com a reprimenda. - Benjamim. O que conversamos? - Minha mãe apertou de leve a mão do meu pai. - Você passa demais a mão na cabeça dele, querida. - Ele beijou o dorso dela em um gesto carinhoso. - Pode me culpar? - Mamãe sorriu, e bastou apenas isso para desarmar meu pai. Já vi diversos casais apaixonados ao meu redor, mas a conexão que vinha dos meus pais era infinitamente maior do que qualquer outra coisa que eu já tenha imaginado poder existir entre um casal. Ainda mais um que já vive há tantos anos juntos. Todas as vezes que eu fazia alguma merda, bastava apenas aquele olhar e aquele sorriso dela para fazer com que ele esquecesse até mesmo do porquê estava com raiva. - Não. Claro que não posso te culpar. Mas você precisa tomar juízo, Christopher. Não é mais um garoto. - Cruzei os braços encarando seus olhos. Não iria desviar o olhar, no fundo, mesmo não gostando, meu pai tinha toda razão em me dizer aquilo. - Querido, hoje não é dia para puxar sua orelha. - Mamãe beijou sua bochecha fazendo-o sorrir. - Escapou dessa. - Apontou o dedo em minha direção. Não pude deixar de devolver o sorriso. Os melhores pais do mundo. Isso que Victória e Benjamim sempre foram. E é exatamente por eles que preciso dar um rumo na minha vida. Posso sossegar por um tempo.
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