Acordo com uma enorme dor de cabeça e uma baita ressaca moral. Olho para o lado e encontro Isaac dormindo serenamente, lindo como sempre.
Me levanto bem devagar, pego meu celular e tiro uma foto dele, pode parecer estranho, mas quero guardar comigo de recordação, para me lembrar desse dia.
Visto minha roupa e tomo o maior cuidado do mundo para não fazer barulho, desço as escadas com a maior dificuldade do mundo, quando sair daqui vou passar direto na farmácia e comprar uma pomada de assadura, estou toda assada!
Ontem foi maravilhoso, foi exatamente do jeito que eu sempre sonhei e talvez eu nunca tenha me dado conta antes, mas também foi com a pessoa que eu sempre sonhei.
Passamos a noite inteirinha nos amando loucamente e foi tão incrível que eu nem sei explicar.
Preparo um café reforçado para nós dois, vamos precisar e temos muito o que conversar.
Eu amei tudo que aconteceu entre nós dois, mas não sei como estamos agora e como vamos ficar depois de hoje.
Termino de arrumar a mesa do café e me sirvo um pouco, olho para a paisagem linda que essa varanda tem e fico lembrando da noite de ontem, me pego toda hora abrindo um sorriso bobo.
— Bom dia! — Isaac aparece todo lindo, de camisa regata, uma bermuda e cabelos molhados.
— Bom dia — Abro um sorriso tímido.
— Acordou disposta hoje — Fala olhando para a mesa posta.
— Com fome? — Pergunto para mudar de assunto.
— Um pouco — Ele se senta e se serve com um pouco de café — Quer conversar?
Meu Deus! Esse homem me conhece mais do que eu mesma.
— Acho que sim.
— Pode falar.
— Você tem alguma coisa para falar?
— Depois de você.
— Primeiro eu queria te agradecer, a noite de ontem foi maravilhosa e me desculpar por não ter comunicado você sobre — Sinto minhas bochechas esquentarem — Sobre aqui...
— Não precisa agradecer e muito menos se desculpar Liz — Ele bebe o café e me encara — Como ficaremos agora?
— Como assim? — Pergunto confusa.
— Te perguntei como ficaremos daqui em diante.
— Somos amigos ainda, não somos? — Arqueio uma sobrancelha — Não vamos estragar nossa amizade, né?
— Você acha que depois dessa noite ainda conseguiremos ser apenas amigos?
— Claro que sim! Somos amigos, sempre fomos amigos, somos melhores amigos — Começo a ficar nervosa com o rumo da conversar.
— Pra mim não tem como Liz.
— Como assim não tem como? Do que você está falando?
— Simplesmente não dá Liz. Eu gosto de você, sempre gostei, não estou falando comigo amigo, estou falando como um homem gosta de uma mulher, eu te amo e quero estar com você, aguentei todos esses anos, mas depois dessa noite eu não vou conseguir te olhar e não te tocar, não vou conseguir ver ou imaginar se quer outro homem com você.
— Isaac, por favor... — Meus olhos se enchem d'água.
— Não quero te obrigar a noite e nem estou te colocando em um beco sem saída, mas para mim não dá, me desculpa.
— Você está sendo imaturo!
— Talvez, mas é o que eu estou sentindo no momento.
— Não faz isso, podemos continuar nossa amizade, se a gente sentir vontade novamente não haverá problema algum.
— Ah, pelo amor de Deus Liz! — Ele se levanta e parece nervoso — Porque não podemos ter um relacionamento?
— Porque eu não quero! — Me exalto — Não vou estragar nossa amizade, não vou!
— Já estragou, você não percebeu? Depois de ontem nós dois colocamos nossa amizade pra jogo.
— Não faz isso, vamos esquecer o que aconteceu ontem então.
— Esquecer? — Solta uma gargalhada — Sinceramente, eu tenho que ir.
— Você vai aonde?
— Vou te levar embora e depois tenho uma reunião com meu pai.
— Calma, vamos conversar.
— Já conversamos, não? Você disse que não quer um relacionamento, tudo bem, eu respeito.
— Se a gente arriscar em um relacionamento, futuramente poderemos nos magoar e destruir toda a nossa amizade, tudo de lindo que construímos, eu não quero isso.
— Então vamos preservar o que construímos até agora.
— Por favor, não deixe de ser meu amigo, por favor, eu te amo!
— Vamos Liz, estou atrasado.
Ele me dá as costas, pega a chave do carro e abre a porta. Pego minhas coisas e com lágrimas nos olhos acompanho ele até o carro.
Fazemos todo o trajeto em um silêncio super desconfortante.
Eu queria que ele entendesse que eu não quero correr o risco de assumir um compromisso e destruir nossa amizade, toda a linda história de companheirismo e amor que construímos até hoje.
Outra coisa, eu nem sei se eu gosto dele dessa forma, até então o que sinto por ele é apenas amor de amiga.
— Está entregue — Diz assim que estaciona na frente da minha casa.
— A gente precisa conversar...
— Outra hora Liz, agora eu preciso ir.
— Tá bom.
Saio do carro e fico olhando ele dar partida, sem ao menos olhar para trás. Será que eu estraguei tudo?
Assim que entro em casa, encontro meu pai na sala.
— Dormiu aonde? — É a primeira coisa que ele pergunta.
— Santiago, Liz não tem mais quinze anos — Minha mãe grita, não sei em qual parte da casa ela está, mas ela nos ouviu.
— Infelizmente, mas mesmo assim eu me preocupo.
— Dormi na casa da Pri pai — Minto.
Eu odeio mentiras, mas não quero ter que explicar tudo que aconteceu.
— Fiquei preocupado minha filha, você não avisou, não atendeu o telefone e nem respondeu às mensagens.
— Desculpe.
— Você está bem? — Meu pai se aproxima e acaricia meu rosto.
— Estou sim — Minto mais uma vez.
— Não quer falar? — Balanço a cabeça em sinal negativo — Tudo bem, já comeu? — Confirmo — Tome um banho e descanse, depois papai passa lá.
— Te amo papai — O abraço forte.
Subo para meu quarto, tomo um banho quente e passo o resto do dia deitada, meu pai veio aqui umas duas vezes saber como eu estava e eu menti dizendo que estava naqueles dias por isso estava amuadinha, só hoje eu menti mais do que minha vida inteira.
Passei a noite toda esperando uma mensagem dele, dormi tarde e agora já estou acordada, cheia de sono e sem vontade nenhuma de levantar da cama.
— Filha? Posso entrar?
— Sim pai.
— Bom dia! Melhorou? Trouxe seu café da manhã.
Já falei como meu pai é maravilhoso e o quanto eu o amo ele?
— Obrigada pai, te amo!
— Também te amo — Ele se senta na beirada da cama — E como você está em relação ao Isaac?
Quase engasgo com a sua pergunta.
— Como assim? Não entendi.
— Eu sei que você estava daquela forma ontem por causa dele.
— Porque tudo tem que ser relacionado a ele?
— Só ele seria capaz de te deixar assim filha.
— Não tem nada haver com ele — Minto mais uma vez, estou me tornando uma mentirosa.
— Pensei que fosse sentir a falta dele, vocês eram tão unidos.
— Pai, não estou entendendo o que você está falando.
— Você não está assim porque o Isaac vai embora? — Agora ele que parece confuso.
— Embora? — Exclamo.
— Sim, para Alemanha, assumir a empresa do pai dele.
— Quando ele vai embora? — Pulo da cama.
— Agora cedo, uma hora dessas ele já deve estar no aeroporto.
— Eu preciso ir atrás dele — Começo a sair do quarto, mas meu pai me impede.
— Primeiro troca de roupa ou vai aparecer lá de pijama?
— Não dá tempo pai, dá?
— Eu te levo, troca de roupa e desce.
Visto minha roupa correndo e desço as escadas.
— Vamos pai — Digo apressada.
— Ítalo acabou de me ligar, ele já embarcou.
Sinto um vazio enorme no meu peito, ele não pode ter ido embora, ele não pode fazer isso comigo, fazer isso com nós dois...