— Sim, ele está arrependido do que fez — afirmei, embora a incerteza vibrasse em cada palavra, minando a convicção que eu tentava projetar. Era como se, ao dizê-las, eu tentasse convencer a mim mesma tanto quanto a Cristine, agarrando-me a qualquer resquício de esperança.
— Você está brincando comigo? — Cristine retrucou, seu tom de incredulidade se elevando, uma tempestade de frustração se formando em seus olhos. — Você não vê o que ele faz contigo?
Desviei o olhar, refugiando-me em meus próprios pensamentos, numa tentativa de escapar da realidade que suas palavras tentavam impor.
— Ele é carinhoso comigo — murmurei, mas minha voz vacilou, traída pela consciência de que talvez estivesse me agarrando a fragmentos de momentos bons, ignorando a vastidão de evidências contrárias.
— Carinhoso!? — Ela ecoou, sua incredulidade se transformando em indignação. — Ele é um grosso — disse com convicção, suas palavras carregadas de uma verdade que eu tentava, desesperadamente, ignorar. — Ele tentou ficar comigo, namorando você, ele deu em cima da sua melhor amiga, pelo amor de Deus, acorda para a vida, July.
Minhas defesas começavam a ceder, mas ainda assim, agarrei-me às desculpas que Túlio havia me dado.
— Ele se estressa de vez em quando, mas no fundo, ele é atencioso. E sobre aquele incidente com você, ele se desculpou. Disse que estava bêbado e não sabia o que estava fazendo.
Cristine suspirou, uma mistura de raiva e exasperação emanando dela.
— Ele sempre diz que está bêbado. Não foi uma única vez, July, ele não te respeita.
Tentei, inutilmente, defendê-lo mais uma vez.
— Ele brinca com você, é diferente — mas minhas palavras soaram frágeis, insuficientes até para os meus próprios ouvidos.
— Eu já avisei que não quero que ele brinque comigo, July. Não quero nem que ele olhe para mim — a determinação em sua voz era inabalável, um reflexo de sua resolução de não permitir mais desrespeito.
— Cristine, por favor, não faça isso. Ele é meu namorado e eu quero que vocês se deem bem — implorei, com a voz embargada pela emoção. Mas Cristine estava no seu limite.
— Até quando você vai fechar os olhos para o que ele faz com você? — Sua voz, agora quase um grito, carregava toda a frustração e a preocupação que ela sentia por mim.
— Somos um casal. Casais têm seus momentos difíceis — tentei argumentar, agarrando-me à crença de que o que nós tínhamos poderia, de alguma forma, ser salvado, apesar de tudo.
Cristine sacudiu a cabeça, sua decisão parecendo tão final quanto o cair de uma guilhotina, um claro sinal de que sua paciência havia atingido seu limite.
— Eu vou embora. Não aguento mais ouvir você defender esse cara — as palavras dela eram um punhado de desalento jogado sobre a já densa atmosfera do quarto.
— Cristine, por favor, fique — implorei, a tristeza e o desespero misturando-se em minha voz, uma súplica por companhia, por não querer me afundar mais na solidão de meus próprios pensamentos.
Ela hesitou na porta, uma estátua de dúvida.
— Pra quê? Para ver você sofrendo por ele? Tentando ligar para aquele infeliz a noite toda? — Sua pergunta não esperava resposta; era mais um reflexo do tormento que ela sentia ao me ver naquele estado.
— Fica aqui, por favor — implorei novamente, o medo da solidão e da reflexão sobre a minha relação com Túlio me pressionando com um peso insuportável.
Cristine suspirou, uma tempestade de sentimentos refletida em seus olhos. Ela olhou para mim, não com raiva, mas com uma seriedade que raramente eu havia visto.
— Então vamos sair — propôs, como se me oferecesse uma tábua de salvação, um escape das águas turbulentas que me afogavam.
Hesitei, dividida entre a lealdade distorcida a Túlio e a necessidade desesperada de escapar da minha própria mente.
— Se ele me procurar e eu não estiver aqui, ele vai ficar chateado — confessei, o conflito interno rasgando-me.
— Que ele se dane — disse Cristine, mas havia uma suavidade em sua voz agora, uma tentativa de consolo, de me tirar daquele abismo emocional.
— Cristine! — Protestei, uma réstia de lealdade ainda lutando dentro de mim, apesar da lógica e da razão que gritavam o contrário. Um sorriso fraco e hesitante se formou em meus lábios, um sinal da batalha interna que eu enfrentava.
Ela suspirou novamente, a frustração dando lugar a uma resignação dolorida.
— Desculpa — ela disse, um pedido de desculpas que carregava mais do que uma simples retratação; era uma desculpa por tudo, pela situação, pelo sofrimento, pela dureza das verdades que havia me forçado a enfrentar.
— Mas ele não vai te procurar hoje, você sabe disso.
Suas palavras, embora duras, eram um convite para enfrentar a realidade, uma oferta de companhia e suporte em um momento em que eu mais precisava.
— Onde você quer ir? — Perguntei, minha voz carregando o peso da derrota, mas também um traço de gratidão pela inabalável presença de Cristine ao meu lado.
— Vamos só dar uma volta, comer algo — ela sugeriu, sua voz tentando injetar um pouco de leveza em nossa noite, como um bálsamo tentando curar as feridas abertas pelas recentes revelações e confrontos.
Concordei, soltando um suspiro profundo, um último fio de esperança se agarrando à ideia de que a noite poderia trazer algum alívio para o caos em meu coração. Antes de partirmos, resolvi enviar uma mensagem para Túlio, talvez como uma forma de apaziguar meu próprio coração inquieto ou buscar algum tipo de conexão que me assegurasse de que não estava completamente sozinha em minhas aflições.
Mensagem:
— Amor, estou indo à lanchonete com a Cristine. Você vem me ver hoje? Estou com saudades.
Após enviar a mensagem, deixei o telefone de lado, um nó se formando em meu estômago enquanto esperava por uma resposta que, no fundo, eu temia não receber. Então, eu e Cristine saímos para a lanchonete, cada uma imersa em seus próprios pensamentos, um silêncio pesado entre nós que era mais eloquente do que qualquer palavra poderia ser.
A caminhada até a lanchonete foi tranquila, mas o silêncio entre nós era carregado de significados não ditos, de preocupações não expressas. Meu coração estava pesado, preso entre a realidade que eu começava a reconhecer e os fragmentos de esperança que ainda lutavam para se manter vivos dentro de mim.