Cap 6

1089 Words
Valentina Pode parecer loucura ou aquelas histórias que as pessoas contam para passar o tempo, só para esconder as frustrações da vida, mas não, a história que eu ainda estava vivendo com o menino que eu não sabia o nome era real, me fazia querer acordar a cada dia, tudo por conta das cartas Foi em comum acordo, nós decidimos seguir sem falar os nossos nomes, a gente escolheu que seria mais alucinante se cada um adivinhasse o nome do outro, mas isso nunca aconteceu Na verdade era uma coisa que eu duvidava sabe, como um jogo, eu podia sim ter falado seu nome real, mesmo porque quantos nomes existem que são começados com a letra L? Além do mais, eu tinha para mim que seria um nome fácil, só porque essas famílias ricas sempre escolhem os nomes da moda Eu mandava, junto com as minhas confissões, alguns desenhos que amava fazer, em papel simples mesmo, dobrável, só para me conectar mais ao garoto fantasma Quantas e quantas vezes eu pedi para que a gente se encontrasse de novo, eu cheguei a implorar, e no começo ele quase cedeu, marcou horário e tudo, mas não, ele não apareceu e ainda por cima, ficou meses sem me mandar uma única carta Meu coração já estava quase se conformando com a minha primeira decepção amorosa, mas, só para confirmar, eu ainda continuei indo para aquele parque por mais três meses e no dia que decidi que não mais voltaria, eu senti, dentro daquele buraco discreto, nos pés do arbusto, um pedaço de papel… era a minha carta, ele tinha voltado… Como se nada tivesse acontecido, eu pedi para que a gente marcasse outro dia, mas ele me negou e pediu para que eu esperasse o seu tempo, que ali, ele não estava mais preparado Eu esperei, na verdade, espero até hoje, depois de dez anos, mas com a mesma esperança do primeiro dia Ele se tornou o meu melhor amigo, parecia até que eu não precisava tanto assim da sua presença, ele me fazia sentir intensamente cada sensação através das nossas cartas… medo, ansiedade, carinho, felicidade, tranquilidade, carinho e… amor… eu me apaixonei uma por menino escondido atrás de algumas simples cartas Ele ficou sabendo do meu primeiro lugar no concurso estadual quando eu tinha doze anos e também, quando eu ganhei o primeiro lugar num outro concurso de pintura, quando eu tinha dezesseis anos, esse a nível nacional e participou das minhas alegrias Na verdade, ele era único que sabia quais eram meus planos para o futuro, o de cursar uma universidade, e também do meu medo de não conseguir Minhas condições não eram nada boas, eu tinha só o suficiente para poder sobreviver. O último concurso, aquele de nível nacional, tinha como promessa o p*******o de uma bolsa integral, em uma das faculdades mais conceituadas do país em pintura e artes manuais, foi por isso que dei minha vida ali, para ganhar em primeiro lugar Só que eu sabia que, mesmo se eu ganhasse, ainda não seria o suficiente. Eu cresci ouvindo a frase “alegria de pobre dura pouco”, mas nunca deixei que aquilo virasse uma verdade na minha vida, até ali, naquele momento Eu podia ganhar a bolsa, eu queria ganhar, mesmo sem o apoio de ninguém, muito menos da minha mãe e do meu pai que não se cansava em falar que quem vive de arte é gente rico Mas aquele presente ainda não bastava, se eu ganhasse a bolsa, teria que arcar com os materiais, já viu o preço dos instrumentos profissionais? Ela algo surreal para mim, coisa de sonho mesmo Eu me lembro daquela noite, quando com só dezesseis anos, eu pensei fazer uma coisa que quase nunca passava na minha mente, não sem eu realmente ter certeza que não tinha outra saída, eu pensei em desistir, o valor era alto e eu não tinha como pagar, nem se encontrasse dois empregos Foi naquela noite, ainda de madrugada, que eu fingi dormir quando minha mãe entrou, que eu mudei de ideia. Eu ouvi ela dizer que confiava em mim, que sabia que eu ia pegar o primeiro lugar, que me conhecia e também, o tamanho da minha determinação e da minha garra e que no fim, ainda ia ver a filha dela formada, e meu nome sendo aclamado no país Ela nunca tinha demonstrado aquela emoção comigo, pelo o que eu me lembre, até os sorrisos eram dados com desconto quando a coisa era para mim, sempre o sarcasmo estava junto, a ironia, até quando eu julgava acontecer alguma desgraça, a maioria deles vinha só assim. Por isso que a presença dela ali, às escondidas, me surpreendeu , tanto que eu continuei ali, fingindo dormir. Eu não sabia se era a primeira vez que ela tinha feito aquilo, mas foi a única que me importou, aquilo me fez continuar e sentir uma felicidade dobrada quando eu escutei o meu nome ser revelado como ganhadora do concurso, a minha faculdade estava garantida, só faltavam os recursos para os materiais O meu amigo “L”, ficou sabendo disso, eu confessei até esse detalhe e ele ficou feliz comigo. Eu li em sua carta que não era para eu me preocupar, que tudo acontecia exatamente do jeito que deveria acontecer, eu só devia esperar e mais nada Quando eu completei dois anos, pedi prorrogação do prazo de ingresso na faculdade para o reitor da unidade, minha família precisava de mim em casa, meu pai estava passando por um momento difícil no trabalho e eu comecei a fazer bolos caseiros junto com a minha mãe para poder ajudar no orçamento e graças aos céus, minha justificativa tinha sido aceita. Ela não me pediu ajuda, nunca pedia, as coisas aconteciam mais por eu prestar atenção no que acontecia, era como eu eu não existisse dentro daquela casa e nem fizesse parte da família Agora, com vinte anos, eu estou pronta para a minha nova etapa, consegui até comprar algumas coisinhas de segunda mão para poder começar o ano, a minha felicidade chega a nem caber no peito Esse foi o assunto da carta da semana passada, a que eu recebi como resposta um “fica calma, vai dar tudo certo” Foi por isso que eu ainda não tinha chegado em casa quando a confusão começou, eu tinha ido buscar a minha carta no parque, mas não consegui fugir do que estava me esperando, a minha vida estava prestes a virar de cabeça para baixo
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