Cap 7

1056 Words
Lucas Eu saí do shopping com a menina na minha cabeça, eu não conhecia aquele tipo de sentimento, final, como uma criança de treze anos pode se apaixonar desse jeito, de uma forma tão intensa e por tanto tempo Meus vinte e três anos tinham chegado e a menina continuava lá, morando na minha mente e no meu coração. Por todos esses anos, o nome daquela linda menina ficou só na minha imaginação, mas foi por própria escolha Numa brincadeira interna, nós tentávamos adivinhar os nossos nomes e não sei se eu consegui, mas ela sim, mas eu não disse que sim, a brincadeira era o mais gostoso, aquilo que só a gente tinha, eu passei a minha adolescência e juventude vivendo aquela brincadeira de crianças As cartas foi meio que no susto, eu nem gostava de ler, muito menos de escrever, mas também sabia que meu pai nunca ia permitir encontros às escondidas, não por conta da condição social dela, porque visivelmente, agente era de mundo diferente, mas como um pai permite que um filho de apenas treze anos mantenha um relacionamento amoroso com uma menina de dez? Não tem cabimento Na primeira vez que escrevi para a minha menina “V”, tive que jogar vários rascunhos de papel no lixo, eu nunca tinha feito aquilo, nunca nem mesmo tinha escrito um cartão de natal para o meu pai, mas por ela eu queria tentar, então tinha que sair perfeito A semana não passava de jeito nenhum e olha, como eu queria que ela corresse. Eu sempre ia no parque depois da aula, assim como ela tinha me dito que também faria, mas nunca consegui trombar com ela mesmo, corpo a corpo, a gente tinha se resumido a um amor de cartas Uma vez, eu até pensei ter visto ela de longe e acelerei meus passos para poder chegar até perto dela, mas meus olhos prestaram a atenção, só por alguns segundos, em um grupo que fazia exercícios lá no parque, acho que era aquela ginástica de Tai Chi, foram só alguns segundos, mas o suficiente para eu perder de vista a menina que eu achava ser a “V” O meu coração pedia por aquele encontro, a gente até marcou uma vez, só que Deus não quis atender ao nosso pedido Eu não faltei, a gente tinha marcado e bem naquele dia, meu pai passou a tarde inteira e o começo da noite em mais uma daquelas reuniões que tiravam o nosso relacionamento de pai e filho e o Ted mais que depressa, se prontificou a me levar lá Não, eu não faltei, foi o destino que não me deixou. Eu escolhi uma roupa bem esporte, camiseta de malha e calça de tactel acompanhada de um tênis, tudo para ficar mais a vontade com ela, valia a pena Assim que eu cheguei no parque, meu coração disparou de tanta ansiedade e acho até que foi por causa disso, junto com a minha distração por estar olhando no horizonte, tentando reconhecer a menina que eu só tinha guardado a imagem de um só encontro Foi naquele momento que não reconheci mais o mundo em que estava, tudo ficou preto e o tempo passou sem o meu conhecimento. Nem percebi por quantas horas eu fiquei s*******o do que acontecia, só sei que quando abri meus olhos, só enxerguei paredes brancas Meu braço estava enfaixado, minha cabeça doía, minha pernas estavam cobertas, por isso não reparei na desgraça que me aconteceu Se passaram só mais uns minutos antes que entrassem uma comitiva de médicos, mas um psicólogo, junto com meu pai e tio, no meu quarto. Eu estranhei, mas quando meu pai dava para ser exagerado, as coisas aconteciam assim, só que não teve como não reparar no seu semblante caído, foi aquilo que me preocupou Altamir - Filho, está tudo bem com você Lucas - Sim… o que aconteceu? A resposta não veio de imediato, o cara que sempre respondeu de supetão, simplesmente pensou dez vezes antes de me responder naquele momento Altamir - Antes, eu quero que saiba que nada mudou, você é e sempre será meu filho amado e eu não te trocaria por nada no mundo, você é meu coração fora do peito Lucas, me perdoa por não conseguir te proteger do jeito que eu prometi para a sua mãe Ele citar a minha mãe me fez procurar a realidade que eu ainda não tinha percebido, ela nunca era citada, pelo menos por ele e eu entendia, a dor que meu pai ainda guardava no peito por conta da ausência do grande amor da sua vida, a minha mãe, era visível, por isso eu nem perguntava dela Me remexi na cama e senti que alguma coisa estava diferente, então, levei minha mão até o local escondido pelo lençol branco. Minha perna… Por isso ele estava com aquele receio todo, por isso até a equipe médica ficou em silêncio, eu não senti a minha perna. O desespero começou a tomar conta do meu corpo, foi um acidente, a minha distração não me permitiu que eu tomasse cuidado e desviasse do carro que vinha em alta velocidade enquanto eu ainda estava entrando no parque, o acidente foi tão violento que eu acabei por perder o meu membro Eu não aguentei, chorei amargamente, eu, com apenas treze anos, estava condenado a viver manco, aleijado, pelo resto da minha vida Foi por isso que mudei de ideia quanto a encontrar a minha “V”, não foi falta de amor, pelo menos para com ela, foi falta de confiança e até de esperança, uma parte de mim já não existia e eu não queria que ela continuasse escrevendo para mim apenas por dó Fiz tratamento psicológico por anos e às vezes eu ainda recorro a algumas consultas, mas só quando não consigo guardar a minha auto estima dentro do peito. No dia que eu perdi minha perna, me condenei a viver sozinho, mas não consegui deixar de alimentar aquele sentimento por ela Não foi brincadeira de criança, se tivesse sido, pelo menos o meu coração estaria curado, mas não. O encontro foi adiado pela vida, mas as cartas continuaram, acho até que foi por isso que não perdi a vontade de viver, a “V”, mesmo sem saber, me salvou
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