Cap 13

1183 Words
Altamir Quando tudo aconteceu com o meu filhos, aquele negócio dele perder a perna, entrar em depressão, não querer resolver as coisas de imediato, prolongando o processo de recuperação, não querer enfrentar a vida com um novo desafio, foi meu momento de acordar também Foi ali que eu vi que negligenciei o meu garoto, colocando o meu trabalho a frente de tudo e de todos, até mesmo dele Por isso, dentro daquele quarto de hospital, olhando para os seus olhos que só sabiam contemplar o além, eu prometi a mim mesmo e a ele em segredo, que faria de tudo para que ele fosse feliz de novo, qualquer coisa, sem me importar quanto custaria Com o passar do tempo, o Lucas foi ganhando um pouco de confiança, e uma vez ou outra eu conseguia ver um sorriso no canto da sua boca, bem discreto, por conta de umas cartas que ele lia Eu não sabia ao certo o que aquelas folhas de papel significava, mas descobri, demorou, mas descobri Quando ele começou a me contar, achei mesmo que fosse uma brincadeira de criança, um capricho que podia ter começado e logo terminado, mas ali, na minha frente, estava a prova de que existia amor a primeira vista e que ele podia durar uma vida inteira Meu filho conheceu a garota quando estava com treze anos de idade, e agora, com vinte e três, ele ainda soltava um sorriso discreto todas as vezes que lia as palavras assinadas com um grande “V” Dez anos, e em todo esse tempo, ele se negou a conhecê-la. Eu tentei fazer com que ele aceitasse o seu pedido e fosse ver a menina, principalmente nos momentos em que ele se sentia derrotado. Não foi fácil, nem para ele, nem para mim, ele sofria e eu, sofria dobrado, o coração de um pai sempre sente o sofrimento dos filhos Aquilo me doeu, tanto que eu decidi procurar essa menina, mas ela era esperta, não sei se sentia que alguém tentava a seguir, mas todas as vezes que tentei, ela conseguiu me dar um perdido no meio do caminho, mas eu não desisti, nunca... *** Valentina Eu sentia como se tivesse legado um soco no estômago, um tão forte que não conseguia me recuperar da dor e nem do m*l estar que ele causou. Fora isso, eu ainda estava lidando com o receio de minha família vir me procurar, receio e ansiedade, não podia negar, porque minha mãe me disse que tomou coragem suficiente para ir atrás de sua antiga patroa para lhe dizer o erro que não tentou evitar Eu não conseguia encontrar uma razão para minha mãe ter feito aquela troca e nem ela conseguia me explicar, só ficava dizendo que devia ter sido mais forte, mais corajosa, mais leal e não uma “burra submissa”, que dizia amém para tudo A única coisa que ela realmente tinha certeza e que conseguia me dizer, era que naquele momento, aliás, desde quando se descobriu grávida, se viu como a mulher mais frágil do mundo, sensível, decepcionada com o amor de um homem, e que achou que estava fazendo a coisa certa pela sua amada filha, independente de tudo. Ela não pensou em mim, não pensou nem mesmo nela, só fez e pronto Os últimos dias foram difíceis, ter que acordar e olhar para os olhos dos meus “pais”, foi muito difícil, mas eu não podia fazer nada, só seguir em frente Demorou exatamente quinze dias para que uma pessoa chamada Osvaldo entrasse em contato conosco. Ele foi rude, intimidador, disse que iria fazer o teste de DNA e que se desse positivo, não ia pensar duas vezes em acabar com a vida da minha mãe Ele não entendia, ela já estava mais que acabada, seus olhos me diziam isso. A dona Francisca sempre carregou uma enorme tristeza no olhar, mas aquela situação tinha feito algo a mais dentro dela, eu só não conseguia medir o tamanho do estrago Eu fiz o teste, minha mãe também e sim, deu positivo. Eu ainda tinha esperança de que tudo aquilo era apenas um engano, que minha mãe estava, sei lá, com um lapso mental e acabou tomando aquela atitude sem pensar, mas não, a história era realmente verdadeira A outra garota, a Vanessa, tinha uma raiva estampada em seu semblante e chorava sem parar. Ela estava com medo de perder a sua vida, estava com medo de ter que sair de perto da família que a tinha criado e ter que ir reconhecer o lugar simples que, naquele momento, eu ainda chamava de lar O resultado foi revelado em uma padaria na Avenida Paulista, uma que a minha mãe, a biológica, não cansava de dizer que tinha os melhores pães de queijo com requeijão que ela comeu na sua vida Tudo meticuloso, só para não dar a ninguém a oportunidade de fazer escândalo. Só que para a Vanessa, nada daquilo importava, só mesmo a sua boa vontade para tentar convencer seus pais a não deixarem de ser seus pais Vanessa – Pelo amor de Deus, eu nem sei quem essa mulher é... Priscila – Calma filha Vanessa – Calma? A senhora ainda me pede calma? Eu acabei de descobrir que tudo o que eu sou, tudo o que eu vivi, foi a mais pura mentira e a senhora ainda está me pedindo calma? O que vai acontecer agora hein? Vocês vão me jogar fora como essa mulher fez? Francisca – Eu não te joguei fora menina, na verdade, eu dei a oportunidade de você ter sempre, tudo de bom e do melhor, mesmo que tenha sido um erro, mesmo que eu tenha privado outra pessoa de tudo isso, mas não figa que eu te joguei fora Eu ainda continuava do mesmo jeito, calada, só escutando tudo. Ao contrário da Vanessa e mesmo com tudo o que eu tinha passado com a minha mãe e pai, eu não sentia desprezo por eles. A dor estava em meu peito sim, porque percebi que não era tão importante assim como ser humano. Eu fiz uma mulher abandonar sua filha para que ela tivesse tudo do bom e do melhor e vivi o que aquela criança deveria ter vivido, a privação, o medo, o desprezo, eu nunca fui importante para ninguém, mas não sentia desprezo Mesmo assim, eu não estava preparada para o que vinha a seguir, acho que nem eu e nem ninguém Osvaldo – Bom, o resultado já foi dado e... eu conversei muito com a Priscila, a gente tomou uma decisão Ele olhou especificamente para mim Osvaldo – A gente quer que você vá morar conosco... Vanessa – Mas e eu papai? Osvaldo – Deixa eu terminar... a gente quer que você vá morar conosco, mas – dessa vez ele olhou para a minha “mãe” – a Vanessa não vai seguir contigo, ou você aceita assim ou terá que responder na justiça Para o meu pai biológico foi muito simples, ele só não percebeu o olhar fulminante da Vanessa, nem ele e nem ninguém
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