Cap 10

1439 Words
Francisca Eu realmente achei que conseguiria passar por esse mundo sem ter que relembrar a história, meu coração já tinha se conformado de que eu não veria mais a Valentina que carreguei nos braços Confesso que por algumas vezes, eu vi ela de longe e até tentei me aproximar dizendo que tinha sido sua babá logo após o seu nascimento, mas o seu desprezo foi tão grande, tão evidente, que preferi deixar que ela curtisse a sua felicidade longe de mim ao invés de fazer com que o seu mundo desmoronasse Vanessa é o seu nome, o nome da filha dos patrões, aquela que eu aceitei viver longe, fazer a troca, a filha que eu não podia chamar de minha Sim, ela não era muito parecida nem com a dona Priscila e nem com o senhor Osvaldo, não sei nem como eles não desconfiaram. A falta de semelhança era evidente e não só por conta da aparência, mas a sua personalidade também Ao longe, todas as vezes que eu consegui vê-la, vi que o que predominava em seu caráter era a mesquinhez, a falta de empatia para com a dor do outro, a arrogância e egoísmo. Eu conseguia enxergar as minhas piores características estampadas naquela menina, com certeza ela era a minha filha Já na minha casa, eu estava passando por um dos meus piores momentos. Minha tia me cobrava por uma coisa que ela tinha decidido fazer, mas que eu aceitei e meu esposo, agora descobria que tudo o que ele viveu não era só uma mentira, mas uma mentira dobrada, a menina que ele achava que não era sua filha, agora não era nem minha e nem dele Mesmo assim, eu precisava do seu apoio, eu precisava saber que ele estaria do meu lado, principalmente agora, depois de todos esses anos e também, depois do que eu tinha decido fazer, para provar o meu amor por ele Não só isso, eu precisava mostrar para a Valentina que ela pertencia a algum lugar, um que eu, por puro egoísmo, tinha arrancado a força de suas mãos. A menina devia ter crescido no meio da riqueza, de dinheiro e de amor e eu privei ela disso Todos os dias eu a olhava nos olhos e reconhecia que ela não era a minha filha desejada. Eu a amava sim, mas sentia muita culpa e por isso, por várias vezes, a maioria delas na verdade, não consegui demonstrar Como ela deve ter sofrido, como a minha menina deve ter sofrido.... A Valentina era a filha que tinha nascido e crescido no meu coração ao invés da minha barriga, mas eu nunca consegui demonstrar nem em palavras e nem em ações Agora, era a minha oportunidade de dar o mínimo para ela, mesmo ela merecendo o máximo. A Valentina, no meio de tantas adversidades, conseguiu conquistar os seus sonhos, aqueles guardados no seu lugar mais íntimo do coração e que se parecia muito com a sua mãe verdadeira Luciano – Você deve isso a ela Chica, uma filha nunca deveria passar por isso, ser separada de seus pais só para satisfazer o ego de uma mãe rejeitada. Você tem que contar a verdade para os seus antigos patrões, tem que dizer que roubou a sua filha amada Francisca – Eles vão me odiar pelo resto da vida, mas isso não é o que mais me importa e nem o que mais me preocupa, será que ela vai me odiar também? Luciano – Você vai ter que correr esse risco Francisca – Mas e você? Você me odeia? Luciano – Odiar não, isso eu não posso dizer, o amor que sinto por você é maior do que eu sinto por mim mesmo. Eu sei que as vezes não parece, sei também que muita das vezes, a lembrança de que seu coração já foi de outro ainda me assola, mas eu não vou desistir da nossa família. Vamos fazer a coisa certa dessa vez Chica, não por mim e muito menos por você, mas por essa menina que a gente chama de filha, está na hora de ela conhecer a sua origem E estava mesmo na hora, mas eu ainda tive que tomar coragem, mesmo que fosse a coisa certa a se fazer. Dizem que isso é o mais difícil, fazer o certo, o errado é mais fácil... Depois de uma semana, olhando para o rosto confuso da Valentina, o olhar de coragem do meu esposo e recebendo as ligações mais absurdas de ameaças da minha tia, eu criei coragem para ir ver a dona Priscila, estava na hora da verdade vir à tona. *** Priscila Priscila – Faz muito tempo que a gente não se vê não é mesmo? Eu fiquei muito surpresa quando recebi a sua ligação e quando você me disse que queria falar comigo, que era um assunto urgente e que não podia esperar. O que você quer falar comigo? Ela tinha um semblante cansado, sofrido, como se os anos não tivessem sido tão generosos com ela como foi comigo. A Francisca era a minha secretária de confiança, aquela que eu abria o meu coração e esteve ao meu lado todo o período da minha gravidez, eu sempre tive ótimas memórias dela e sempre tive um sentimento enorme de gratidão a ela por todas as vezes que aquela mulher segurou a minha mão Lógico que eu estranhei quando a sua tia disse que não haveria mais a possibilidade da Francisca trabalhar na nossa casa depois do nascimentos das nossas filhas, eu queria que ela ajudasse a cuidar da Vanessa, ela era minha secretária de confiança, mas fazer o quê, as pessoas geralmente tem problemas diferentes aos nossos, e naquele momento, eu não era prioridade para ela Francisca -Faz muito tempo não é... olha dona Priscila, o que eu tenho pra te dizer é muito difícil para mim. Eu nunca quis mais tocar nesse assunto, a senhora pode me achar egoísta, mas era assim que eu pensava, que não deveria mais falar sobre isso. Mas as circunstancias mudaram e agora, eu preciso te contar a verdade, mesmo sabendo que a senhora pode me odiar, aliás, que a senhora vai me odiar Priscila – Você sabia que eu li uma reportagem que o ser humano tem o costume de, geralmente, se preocupar com coisas que nunca vão acontecer? Cerca de cinquenta por cento das coisas que a gente se preocupa, não acontece, então pode ser que você esteja se preocupando a toda A gente estava sentadas naquele sofá bege claro, de suede, no meio daquela sala imensa, sem muitos móveis, mas linda, uma das casas mais lindas que eu já entrei, disso eu me lembrava muito bem. Os quadros da família estavam espalhados, mesmo não havendo muitos, mas os poucos que tinha, ficavam espalhados no buffet, no aparador de entrada e num espaço acima da lareira A casa era clara, com janelas grandes, cobertas por cortinas brancas de um tecido fino e a mulher estava linda, com um vestido tubinho, que valorizava o seu corpo, simples, mas muito elegante, com o cabelo preso e suas pernas cruzadas Ela estava plena, sem nenhuma preocupação estampada em seu semblante, ao contrário de mim que estava nitidamente preocupada Francisca – Quando eu acabar de te contar, a senhora vai duvidar dessa reportagem dona Priscila... Eu disse a frase enrolando a barra da minha camiseta básica e percebi quando a minha frase fez ela franzir levemente a testa Priscila – Então fala Chica, agora eu fiquei curiosa... Por sorte, a gente estava sozinha, então, eu só teria ela para enfrentar Francisca – Eu vou falar de uma vez dona Priscila, mesmo porquê, não adianta eu ficar enrolando, eu sou vou adiar o sofrimento... A menina que a senhora chama de filha, na verdade não é sua filha. A sua filha verdadeira, a que deveria ser chamada de Vanessa e desfrutar de tudo o que senhora e seu esposo deu até agora, se importou até agora e tudo mais, está comigo, eu a criei. Ela atende pelo nome de Valentina A mulher começou a gargalhar, mas foi de nervoso, deu para perceber, só que o seu sorriso foi sumindo quando ela percebeu que eu não mexia nem um músculo da minha face e que aquilo, confirmava a minha história Seu olhar foi ao longe, como se ela estivesse puxando na memória algum detalhe, eu não sabia qual, mas foi o que pareceu pelo menos. Depois de alguns minutos ela se levantou de uma forma brusca, me olhou firme, eu achei mesmo que ela ia gritar, se desesperar, mas não, ela não fez nada disso, ela simplesmente... desmaiou
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