Cap 9

1477 Words
Flashback on Priscila Como eu sonhei ter uma semente crescendo dentro de mim, como o Osvaldo e eu sonhamos. Na verdade, os médicos nãos nos deram muitas esperanças, diziam que as chances eram mínimas já que eu estava na casa dos trinta e, mesmo tendo uma vida s****l muito ativa, ainda não tinha conseguido segurar meu bebê dentro de mim Foram três aborto, três grandes facadas no meu coração, nem eu entendia como consegui ser tão forte no meio daquela desgraça toda, por isso quando eu fiquei sabendo que tinha, finalmente, passado das primeiras semanas de gravidez, tive coragem para contar, pelo menos para a Chica, a minha empregada de confiança Pensa numa mulher que dava tudo de sí só para eu que eu pudesse viver melhor, a Chica era a melhor dentre todas as empregadas e muitas vezes, como minha amiga, minha confidente, eu contava a ela coisas que não tinha coragem de contar para mais ninguém Ela foi a primeira a saber do meu sentimento, dizem que as mães sentem quem ela carrega, quero dizer, o sexo do bebê e eu sentia. A medicina não era tão avançada como nós vemos hoje, tinha sim alguns médicos que ofereciam os serviços de ultrassonografia nos seus consultórios, mas a coisa era tão cara e também, o que meu coração me dizia era mais real do que o resultado que podia aparecer naquela imagem borrada que só o doutor entendia Era a minha menina, a minha Vanessa, o meu bebê tão sonhado e esperado, eu agradecia todos os dias quando ia me deitar, por ter conseguido vencer mais uma batalha de vinte e quatro hora Por isso não aceitei a recusa do destino de não querer que a minha menina vivesse nesse mundo, e clamei a Deus todas as suas promessas, eu clamei sim por misericórdia e implorei pela vida da minha bebê, para que eu conseguisse segurá-las nos meus braços uma única vez nem que aquilo significasse que minha vida seria perdida, a troco da dela Era estranho, no meu coração foi mesmo uma única vez Por conta da hemorragia que não parava, eu precisei ir para a maternidade, agora mais tranquila, depois do parto e só fui ver a minha criança algumas horas depois. Os olhos dela não tinham o brilho de que eu me lembrava, aquele que me fez reconhecer que era o meu primeiro amor que eu carregava agora em meus braços Eu me culpei e também culpei a Deus por me dar um coração duro e mais ainda por falar em voz alta, para o meu amado marido, que sabia que aquela criança que agora eu carregava nos braços não era a menina que carreguei no ventre Eu vi tanta decepção nos olhos dele, tanta que meu coração se sentiu dilacerado por conta da declaração que eu fiz. A minha menina estava nos meus braços, mas agora eu estava falando que ela não era mais a minha menina, o que estava acontecendo comigo? Eu tive medo de não conseguir demonstrar para ela que eu podia ser uma boa mãe, tive medo de que aquele sentimento de negação ficasse cada vez mais enraizado dentro de mim e que, por causa disso, eu não conseguisse dar todo o amor que eu tinha Por isso, a cada oportunidade, a cada pedido, mesmo que fosse o menor dos menores, a cada manha que a minha menina fazia, eu estava lá, pronta para lhe estender a mão, para lhe dar um abraço, dizer que estava tudo bem, para atender aos seus caprichos e mimar a Vanessa cada vez mais, eu estava lá para tentar ser a melhor de todas as mães Eu escondi aquele sentimento de dúvidas em meu peito e não ousei mais falar aquilo em voz alta, eu fiz todos acreditarem, principalmente meu esposo, de que aqueles questionamentos foram sinais de alguns devaneios que tive, por conta da perda de sangue no parto, a minha fraqueza me fez dizer coisas Eu me lembro que quando ela nasceu, o que mais me impressionou foram seus olhinhos, eu achei estranho por eles já estarem abertos desde o momento em que ela saiu de mim, mas foi a minha maior alegria. Não era como se ela me enxergasse, mas como se me sentisse, eu acalmei o seu choro com a minha voz e por conta disso, ela abriu mais ainda os seus olhos, como se aquilo fosse prolongar o som que a estava acalmando Eu não encontrei isso novamente nela, a Vanessa acabou ficando mais apegada ao pai, mesmo eu dando todo o meu tempo a ela. Eu não vi mais aquele olhar me procurando, não vi mais a confiança de estar reconhecendo a sua mãe, era só ela passando o tempo do meu lado Sabe, eu gostava muito de pintar telas, não me importava se a imagem era feita com tinha óleo, giz de cera ou até mesmo lápis, mas eu gostava de ver o resultado da minha imaginação exposto em uma tela de pintura, parecia que meu mundo simplesmente mudava, aquele meu dom era também o meu refúgio Então, em alguns dos meus momentos livres com a Vanessa, eu a trazia para meu atelier particular, aquele que o Osvaldo tinha construído de presente de aniversário para mim, tentei ensiná-la a amar a arte, a pegar de forma correta um pincel, a fazer a mistura de cores, mas definitivamente, aquela não era a área da Vanessa, com o tempo eu percebi e desisti Eu queria tanto que ela tivesse afinidade com a pintura, era como se fosse um algo a mais entre nós, uma coisa que iria ficar somente entre eu e ela, a nossa união Mas não, ela era mais prática, gostava mesmo era de usar as minhas roupas e fingir desfile nos corredores da casa, principalmente naquele que dava para os quartos principais. Como era um corredor comprido, cheio de janelas e quadros da nossa família, ela usava a claridade como flash e os quadros como plateia, o mais incrível era que ela realmente sempre teve jeito para a coisa, nem se desequilibrar nos meus saltos finos ela fazia A personalidade dela já estava bem formada nos seus dez anos de idade, a Vanessa era uma menina meiga, mas também forte, determinada, ela gostava de agradar as pessoas, mas muito mais de ser agradada Algumas coisas começaram a sair do controle, ela não aceitava o “não” como resposta e isso foi motivo de muitas brigas entre o Osvaldo e eu, coisa que a gente evitava ao máximo que acontecesse, mas com a Vanessa no meio, era inevitável E o pior é que era por tão pouca coisa, acho que a principal delas era quando eu dizia não e daí ela corria para me contrariar nos braços do Osvaldo, ele com dó de sua princesinha me olhava com o olhar de reprovação e dava ainda mais do que ela pedia, o que era normalmente algo vendido em loja Eu me magoava, lógico, mas não dizia nada, mesmo porque, ainda tinha muito medo de estar sendo injusta com ela. Aquilo era desde o nascimento, eu tive que me esforçar muito para sentir que ela era realmente minha, por muito tempo, então, por muitas vezes me peguei questionando se as minhas negações não eram porque eu ainda guardava aquilo dentro de mim A minha culpa não me fazia questionar a minha filha, eu tinha que dar o melhor mesmo a ela. A Vanessa era o meu bebê amado, a filha da minha promessa, eu não tinha nenhum direito de ficar alimentando o sentimento de dúvida no meu coração, só que também não tive como evitar, ele ainda estava lá Às vezes eu sentia saudades da Chica, a minha empregada, ela tinha saído da minha casa logo após o meu parto. Ela também estava grávida na época, passou todos os períodos da gravidez comigo, mas decidiu se dedicar a maternidade quando a bebê dela nasceu Era uma menina também, mas eu não cheguei a ver, pelo o que o Osvaldo me contou, a bolsa dela estourou enquanto eu sentia as minhas dores, depois disso, ele fez um acerto com ela, mais até do que ela tinha direito, por saber o tamanho do meu carinho e a deixou ir Eu queria que ela ainda estivesse do meu lado e me ajudasse quando eu não sabia o que fazer, eu queria que ela me dissesse como agir com as birras da Vanessa e também, como ser a melhor mãe do mundo, as vezes eu até via um pouco dela no rostinho da minha filha, em algumas expressões sabe, acho que era por causa da vontade que eu tinha de tê-la por perto Infelizmente a minha ajuda era só do cara lá de cima, ele era o meu único cúmplice do que acontecia do meu coração, só ele e ninguém mais
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