CAPÍTULO 04

2610 Words
CARMIN Meu corpo nunca conseguiu esconder os efeitos que Romeo Montanari causava. Mas dessa vez, mesmo sentindo que iria desmaiar a qualquer momento eu fui firme. Consegui fingir que não pensava mais nele, que ele não é mais o único homem da face da terra que pode me desestruturar. Reuni todos os sentimentos e coloquei numa caixinha, trancando-os até estar sozinha. A última coisa que eu precisava era um conversa com Romeo. Estar a sós com ele novamente, ouvir explicações, ficar mais de cinco minutos olhando em seus olhos? Não! Seria demais para mim. Mais alguns segundos e eu não teria segurado mais a vontade de me lançar em seus braços, de sentir seu cheiro. Esse homem conseguiu ficar ainda mais perfeito, coisa que achei que nunca seria possível. Os cabelos que viviam bem cortados e arrumados se tornaram uma chamativa cabeleireira, como se ele fosse o rei leão. A barba sempre aparada deu lugar a uma maior e cheia, escondendo as covinhas que eu tanto amava e dava um ar fofo. Seu corpo nem parece o mesmo, os braços parecem duas barras de ferro maciço de tão rígidos junto com um abdômen que a camisa não ajudava a esconder. Antigamente ele andava com roupas sociais ou esporte fino, sempre bem arrumado, um homem de negócios que era vice-presidente na empresa de construção do pai. Agora seu estilo também se transformou, camisas polo e calça justas. Romeo emana poder, dominação e sexo. É como um próprio Deus nórdico em plenos tempos modernos e na vida real. Apesar dele ter se tornado essa perfeição em forma de gente e um molhador de calcinhas profissional, é estranho olhar para ele. É como se eu procurasse Romeo, mas não encontrasse. Ele é uma pessoa diferente agora, mas não posso culpa-lo. Também me tornei outra e ele claramente notou isso. Após deixar minha mãe em casa voltei para o apartamento, conversei mais um pouco com Desirée e chegamos a conclusão de que não dar queixa pode ser útil. — Eu entendi, não posso mais ficar com ele. Gostaria de dizer que não me sinto triste por isso, mas você sabe... — Não se preocupe, eu entendo. Esses filhos da p**a sabem como mexer com a gente. Mas fico feliz em ver que decidiu sair dessa, a aceitação é o primeiro passo. — Apoiei. — Então está decidido, não vou dar queixa agora. Vou usar isso para deixa-lo longe de mim, se ele se aproximar novamente eu coloco ele na cadeia. — Se acha que é melhor assim, respeito sua decisão. Só não vá falar com ele sozinha, está bem? — Pode deixar. — Um sorriso nasceu em seus lábios. Passamos uma noite tranquila e quando saí para o trabalho deixei Desirée na casa de sua amiga antes de ir. O dia de trabalho começou bem. É outra atmosfera. Outro ambiente que nas Indústrias Smooklife. Além disso, trabalhar como eu mesma e sem precisar esconder nada de ninguém é uma coisa maravilhosa. Sinto que posso respirar melhor e dar o meu melhor também. — Como está indo? — Olívia aparece na sala dos funcionários e me pergunta. Sim, ficamos todos na mesma sala, cada um em sua mesa dividida por uma parede de drywall.. — Precisa de alguma coisa? Todos podem decorar seu cantinho como querem e trabalhar tranquilos em seus projetos. Na minha eu coloquei apenas um porta retrato com uma foto minha e da minha mãe, não gosto muito de enfeites. — Está tudo perfeito, obrigada. Já estou trabalhando num esboço para os panfletos e banners que a empresa do abrigo de animais que pediu. — Aviso. — Pode me mostrar? — Claro. — Abro a página dos panfletos, que ainda estão apenas como uns rascunhos iniciais mas já estão tomando forma. — Ainda não está claro, fiz quatro modelos para ver qual se encaixa melhor. Por enquanto, esse aqui é o que mais me agradou, tem mais personalidade e classe. — Aponto o terceiro esboço. — Está indo muito bem. — Sua resposta e seu sorriso de aprovação me animam. — Obrigada pela confiança. —Assente com a cabeça. — Carmin, você também aprendeu a fazer comercias, trailers e animações na faculdade, não foi? — Sim, posso fazer muitas coisas com um computador. — Ela nem faz ideia. — Eu sei fazer filmes inteiros de animação, criar vários tipos de design de bonecos e coisas do tipo. — Bom saber. — Olívia dá um tapinha no meu ombro e começa a se afastar em direção a outra mesa, mas eu a impeço. — Espere! — Ela para e me olha. — Pode me dizer o por quê da pergunta? — Só que eu acho que vai ser muito útil, se eu precisar já sei quem contatar. Bom trabalho. Durante o horário de almoço conheci meus colegas, todos são gente boa e logo parecia que eu os conhecia há muito tempo. No fim do expediente eu sentia um pouco de dor de cabeça, como de costume após muito tempo em frente a tela de computador, mas tudo estava bem. Já estava em casa curtindo a Netflix e jantando um pote de sorvete após um banho quente quando meu telefone tocou. Estico meu braço até a cabeceira e vejo na tela o nome da Beatrice. Ligação on ~ — Sra. Beatrice, como vai? — Tudo como você sabe. Escute, liguei por causa do que você pediu ontem. — Foi o que imaginei. — Romeo acabou de sair, ele precisou ir embora mais cedo hoje então não esperou a Luz dormir. — Não acho que hoje seja uma boa ideia, já estou de pijama. — Claro que não vou dizer que estou com medo de uma garotinha de cinco anos. — Você não vai ter muitas chances de ver a Luz sem o Romeo, o homem não quer larga-la quase nunca. Se quer conhecê-la, agora é a hora. — Pedi que ela me avisasse quando Romeo saísse. A última vez que vi a Luz ela tinha dificuldade até de abrir os olhos ainda, era uma luta conseguir ver aquela bebê acordada. Estou morrendo de vontade de conhece-la, ouvir como é a sua voz, o tom de seus cabelos. Tive uma noite terrível tentando não pensar na pobre menina e em como isso tudo é fodidamente injusto. — Tem razão. Obrigada por ligar, estarei aí o mais rápido que puder. — Estou esperando. Ligação off ~ Assim que desligo o telefone o medo fica mais claro. Merda! Ainda luto com a culpa do que fiz, relembrando todos os dias como eu fui uma filha da p**a e nunca achei que merecia ver a Luz. Como acariciar suas bochechas inocentes ou segurar sua mão, estando com as minhas tão sujas? Mesmo assim, agora o que é importante não sou eu ou minha consciência. Se bem que se algo acontecer a garota sem eu nem ter me dignado em aparecer, nunca poderei me perdoar. Coloco uma calça jeans e uma blusa de frio, o tempo hoje não está muito bom. Ajeito meus cabelos e faço uma maquiagem simples, apenas um batom para hidratar os lábios e um pouco de rímel. A cada quarteirão só uma coisa estava na minha cabeça, a Lara. Flashback on ~ — Onde está a mulher da minha vida? Estou com saudades. — Ouvimos a voz do Romeo. O sorriso de Lara se alarga olhando para trás e encontrando seu marido caminhando até ela. Qualquer mulher abriria o sorriso de orelha a orelha ao ser casada com um homem desse, não deveria haver mais nada para se reclamar da vida. Romeo está chegando do trabalho vestido no terno impecável, o tom azul da camisa social cara realça o tom de pele dele. Os cabelos negros bem penteados e com um brilho indescritível que ele foi privilegiado em ter, despencam de leve pela testa. As covinhas que tanto amo aparecem enquanto ele sorri apaixonado para sua esposa e olha para ela como se ela fosse o mundo dele, seu único motivo para sorrir. E ela é. — Que bom que chegou, meu amor. Também senti sua falta. — Romeo se abaixa para dar um beijo delicado em sua bochecha e se levanta passando a mão nos cabelos que despencaram mais. Os dois tem anos de casados, mas ainda parecem duas crianças apaixonadas. Eu amo o Romeo em silêncio há muitos anos também, mas ele nunca notou nada além da sua querida esposa. Para falar a verdade, eu admiro muito isso nele. Um homem como ele, rico e obscenamente bonito, com um dom de atrair homens e mulheres sem precisar fazer esforço, só parece ver uma coisa na vida dele – Isto é, Lara. Lara também é como uma inspiração para mim, me sinto culpada todas as vezes que olho para ela. Não queria ter me apaixonado pelo marido dela, mas quem pode me culpar? Quando Romeo olha para mim eu me sinto queimar, m*l consigo me manter ereta, é como se eu derretesse. Eu não queria, não queria mesmo. Uma mulher como Lara claramente atrairia o Romeo. Ela é deslumbrante e encantadora, seu sorriso doce, sua beleza delicada, o olhar amoroso a todos a sua volta. A alegria dela é contagiante e eu acho que os dois forma um casal perfeito. Então apesar do amor pelo Romeo ter entrado no meu coração como um bandido, estou feliz em ver os dois felizes. — Olá, Carmelita. — Me cumprimenta animado. Romeo mesmo me deu esse apelido quando eu tinha doze anos e minha mãe tinha sido indicada para vir trabalhar aqui pela Sra. Beatrice. Os dois tinham se casado e a mãe dele conversou com minha mãe, disse que gostaria que minha mãe pudesse vir com os dois porque era confiável e os dois precisariam de alguém assim nos seus primeiros anos de casados, já que não tinham empregados ainda. Foi assim que eu conheci Romeo. Minha mãe tinha que me trazer para o trabalho porque aqui é mais longe de onde morávamos e ela não queria me deixar sozinha tanto tempo. No fim, acabamos nos mudando para cá e ficando na dependência de empregada. Romeo bagunçava meus cabelos como se eu fosse um garoto, as vezes corria comigo no jardim e me chamava de Carmelita – Nem preciso falar em como odeio esse apelido. Sei que eu nunca poderei ter nada com ele, nem quero nada além dos meus sonhos, mas também me chamar assim é desaforo. Claro que aos doze eu não era apaixonada por ele, ele tinha oito anos a mais que eu. Mas agora aos dezesseis, eu não penso em mais nada além do Romeo. — Oi. — Tento controlar o corar das minhas bochechas e a vontade de sumir quando ele olha para mim. — Nós estávamos conversando. Adivinhe em que curso ela se inscreveu? — Meu olhos crescem. Lara do céu, não faça isso com meu coração. — Italiano. — Verdade? — Me encara animado e sorri mostrando a fileira de dentes perfeitamente alinhados. Chega a ser um insulto eu sorrir na frente dele com o tanto de lata que tenho na boca. Romeo senta ao lado dela e a envolve em seus braços, tenho que acalmar meu coração traidor que erra algumas batidas ao notar isso. — Sim. Minha mãe conseguiu umas economias e está dando para pagar. — Você vai adorar. É uma língua linda e não é tão difícil, principalmente para uma menina inteligente como você, Carmelita. Também vai ser bastante útil para você no futuro, pessoas ricas gostam de contratar gente que fala mais de um idioma. Gargalhamos. Cubro minha boca disfarçadamente com a mão, tentando não mostrar meu aparelho. Ele fala como se ele e a família também não fossem podres de ricos. — O que acha de ajudar ela, amor? É fácil pra você que cresceu ouvindo seus pais falando italiano e lendo Romeo e Julieta para você dormir. — Ele finge olhar feio para ela e faz cócegas em pontos espalhados do seu corpo, desvio o olhar. Ver a pessoa que você ama com outra pessoa, por mais que eles sejam maravilhosos juntos, é como ver a própria morte. Tenho dezesseis anos, sou jovem, mas não pude impedir o amor de chegar cedo no meu coração. Uma das primeiras frases sobre o amor que comecei a repetir cedo para mim mesma, é: Quando você ama, só o que quer é que a pessoa seja feliz, mesmo que com outra pessoa. É verdade. Realmente quero que os dois sejam felizes. Mas isso não tira a dor que sinto no meu coração, que me faz dormir chorando todos os dias. Felizmente eles são um casal discreto, não saem por aí se pegando descaradamente na frente de ninguém – Tirando alguns gemidos que escuto a noite quando levanto de madrugada para beber água e infelizmente, o quarto deles fica bem em frente a escada. Pelo jeito a Lara realmente passa bem. — Eu não cresci ouvindo Romeo e Julieta, abusada. — Retruca. — Mas se precisar de ajuda pode falar comigo, Carmelita. Estou à disposição. Sorrio falso. — Obrigada, Sr. Romeo. Flashback off ~ — Bem vinda, Srta. Carmin. Ela está te esperando na sala de estar, pode entrar. Agradeço a moça que atendeu a porta e entro, encontrando uma Sra. Beatrice acuada em sua própria poltrona e me olhando se desculpando com os olhos. Meus olhos crescem e as minhas pernas fraquejam quando vejo Romeo se aproximar da mãe, com as feições de quem acabou de nos pegar aprontando. — Desculpe. Não sabia que o meu filho era tão atento, nem persuasivo. Mas ele viu quando você me entregou seu cartão e me sussurrou algo ontem a noite. — Eu nem consigo responder, até minha língua treme. — Então você não queria encontrar comigo... Posso saber o por quê? — Agora ele vem caminhando em minha direção. Involuntariamente dou alguns passos para trás mas me forço a me manter firme. Respiro fundo e paro, ficando a alguns metros de distância dele e tentando não deixar que ele perceba o efeito que causa em mim. — Por que eu iria querer me encontrar com você? — Faço minha voz mais firme. — Não me responda com outra pergunta. — Eu te respondo como eu achar que é apropriado. Agora se me der licença, estou indo embora. — Viro rápido, mas ele consegue ser mais rápido ainda e segura meu braço. Aperto os olhos, sentindo meu coração pular dentro da minha caixa torácica. O toque quente e firme apertando meu braço me trás memórias que deveriam estar enterradas profundamente. Sinto que sou uma geleira próxima ao fogo, cada segundo é mortal. — Eu não disse que pode ir. — Sussurra bem atrás de mim. — E eu não pedi permissão. — Ainda de olhos fechados e de costas para ele, minha voz não é mais tão firme. É impossível que ele não veja meu corpo inteiro tremer. — Como eu disse, temos uma conversa pendente. — E como eu disse, está atrasado. — Tudo bem, já chega! — Rosna. Tenho um segundo de alívio quando ele larga meu braço, mas parece que o próprio d***o veio me buscar para o inferno quando ele me joga nos ombros e começa a caminhar. —Romeo! — Grito e bato nos seus ombros, as costas largas e trabalhadas com certeza nem sentem nada. — Me coloque no chão, agora! Eu já disse que não quero falar com você. Alguém me ajude, socorro! Que diabos de homem das cavernas você se tornou? Pra onde está me levando, p***a? Responda. — Para o meu quarto.
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