ELA SEGUIU EM FRENTE?

1017 Words
AURORA Não está sendo nem um pouco fácil a decisão de levar o divórcio para frente, mas para quem já teve tudo do amor do homem que ama, vê que o sentimento não é mais recíproco, mesmo que por culpa de uma amnésia, dói. O Angelo não apenas esqueceu de mim, de nós, ele deixou muito claro que queria esse divórcio e não tinha mais vestígio de amor em seus olhos. Seu comportamento mudou quando soube do bebê, mas eu não suportaria saber que era apenas pelo nosso filho que ele estaria ali, condenado a uma relação sem amor. A verdade era que, viver na incerteza de que o Angelo poderia, ou não, recobrar as lembranças que tivemos juntos, seria viver me torturando sem saber se eu voltaria a ser amada por ele. E se ele nunca mais recobrar a memória? O médico deixou claro que existe essa possibilidade. Será que eu conseguiria viver ao seu lado, já tendo experimentado do seu amor? O Angelo é o grande e único amor da minha vida, tenho certeza que assim será para sempre, eu só escolhi não viver me massacrando ao lado dele, sem que esse sentimento que transborda em mim, seja recíproco. [...] Há alguns dias, mas precisamente no dia em que iniciei a restauração da catedral, eu conheci o engenheiro responsável. Ele era de Nápoles, considerado o melhor de toda a Itália nesse tipo de projeto, seu nome era Mattia Barbieri. No primeiro dia, nós batemos de frente por discordar em alguns assuntos referentes a restauração, mas no dia seguinte, ganhei um gelato como pedido de desculpas. Desde então, temos nos dado bem. [...] — Aurora, bom dia! — o Mattia veio até mim quando me viu chegando na catedral. — Eu estava te esperando, tem algo que quero te mostrar. — Bom dia — falei, andando com ele até a mesa onde o projeto estava exposto. Ele falou entusiasmado sobre uma pequena alteração que queria fazer. Não iríamos ter que mexer no restante da obra, mas ainda assim, era uma melhoria significativa. — Eu gostei muito da ideia — falei, sorrindo. — Que bom — ele respondeu. — Sabia que iria gostar. Nós demos início ao trabalho. Aquele dia, particularmente, eu tinha acordado bem, sem enjoos ou azias, mas o clima estava bem quente, ainda mais dentro da catedral, por isso, acabei sentindo uma tontura. O Mattia percebeu e agiu rápido, me segurando. — Você está bem? — ele perguntou, ainda com o seu braço em minha cintura. — Sim — respondi, percebendo que aos poucos tudo estava parando de girar. — Foi só uma queda de pressão. — Aurora — escutei uma voz grave, aquela que faz o meu corpo inteiro estremecer. — Angelo, o que faz aqui? O Angelo e o Mattia estavam se encarando. Não, eles estavam fuzilando um ao outro com os olhos. O Angelo foi até a mesa onde estava o nosso projeto, pegou uma caneta, tirou os papéis do divórcio de dentro da jaqueta, assinou e deixou jogado lá em cima. Sem dizer mais nenhuma palavra, nem olhar para trás, ele entrou no seu carro e deu partida em alta velocidade. Eu estava parada, petrificada e totalmente sem reação. — O que foi isso? — o Mattia perguntou. Eu não respondi, fui até a mesa e peguei os papéis do divórcio com a assinatura dele em cada uma das vias. — Aurora, você está bem? — o Mattia insistiu com as perguntas. — Eu preciso ir ao banheiro — falei, me afastando. Ao entrar lá, tranquei a porta e encarei aqueles papéis, chorei copiosamente. Era como se naquele momento, a minha ficha tivesse caído de que aqueles papéis decretavam o nosso fim. Não sei quanto tempo fiquei trancada ali, mas deixei cada lágrima cair. Por fim, coloquei os meus óculos escuros. — Mattia, será que você pode assumir sozinho hoje? — perguntei, me aproximando de onde o tinha deixado. — Claro — ele respondeu, prontamente. — Quer que eu te leve em casa? Posso fazer algo por você? — Obrigada! Está tudo bem — respondi. — Eu estou de carro. Eu andei até onde eu havia estacionado, respirei fundo algumas vezes e dei partida no carto. Tudo que eu precisava naquele momento era do colo da minha irmã. [...] ANGELO Eu acordei naquela manhã, decidido a ter uma conversa com a Aurora. Eu tinha muitas incertezas por conta da amnésia, mas umas das certezas que eu tinha, era que eu não queria mais aquele divórcio e que não era pelo bebê. Iria propôr a Aurora que me permitisse conhecê-la, que aos poucos nós fôssemos nos aproximando, até eu descobrir cada um dos motivos que fizeram eu me apaixonar por ela. Mas, ao entrar naquela catedral, a cena que presenciei me fez querer quebrar tudo naquele lugar. Eu estava prestes a ir para cima daquele maldito que estava com as suas mãos na Aurora, quando usando um último resquício de sanidade, eu pensei no nosso filho. Em um dos livros sobre bebês que o Enrico deixou na minha casa, falava da importância da mãe não passar por estresse durante a gestação. Infelizmente, eu tenho sido o maior causador das dores da Aurora, então não quis causar mais uma. Ainda assim, assinei os papéis do divórcio. Naquele momento, ficou bem claro para mim que estava rolando alguma coisa entre aqueles dois. A forma que o patif£ me olhava só reafirmou o que eu já desconfiava. Cheguei em casa, ainda consumido pelo ódio, subi as escadas, só que ao entrar no quarto o cheiro dela ainda estava lá. "Que m£rda." Eu tentei me controlar, mas quando dei por mim, já tinha jogado a cadeira da penteadeira por cima do espelho. A cena da mão daquele maIdito segurando a cintura da Aurora não saía da minha cabeça. "Eu achei que ela me amava, que estava sofrendo, mas pelo visto, ela superou bem rápido." Eu entrei no banheiro, mudei a temperatura da água para fria e fiquei com a cabeça embaixo do chuveiro, eu precisava me acalmar ou teria que quebrar mais alguém na porrada.
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