ANGELO
— Cara, você acaba de cometer o pior erro da sua vida — o Enrico me fitou, parecia decepcionado. — Talvez ainda não tenha noção disso, mas um dia vai ter.
— Pode até ser, mas agora parece o certo a se fazer — respondi. — E outra, são as minhas escolhas e eu não quero ninguém interferindo nelas.
— Você quem sabe.
Eu não fazia ideia onde estava morando, mas queria estar só, na minha cabana em Grosseto.
Eu não queria dividir o teto com uma estranha.
Nós escutamos uma movimentação fora do quarto, pareciam pessoas correndo. O Enrico abriu a porta para ver o que estava acontecendo e saiu às pressas ao olhar em direção ao corredor.
— A esposa do Sottocapo desmaiou — escutei uma enfermeira falando.
Eu me levantei imediatamente e também corri. Me senti responsável por aquilo.
Um enfermeiro a pegou em seus braços para levá-la até um dos quartos. Eu não gostei nenhum pouco daquilo, acho que pelo fato de saber que ela era minha esposa, ainda.
— Deixa que eu levo — a tirei dos braços dele.
Eu a coloquei com cuidado na cama.
— Aurora — o Enrico a chamou, enquanto o médico a examinava.
— Colete sangue dela — o médico ordenou para o enfermeiro. — Quero o resultado desse exame com urgência.
Os lábios dela estavam pálidos, seu corpo estava frio, pude sentir enquanto a carregava.
— Quando ela acordar, vou levá-la para fazer mais exames — o médico informou.
Poucos minutos depois, a Aurora recobrou a consciência.
— Como se sente? — o Enrico perguntou.
— Eu estou bem, foi só uma tontura — ela estava prestes a se levantar, mas a impedi.
— Você precisa ficar deitada — aconselhei.
O seu olhar para mim era de decepção, assim como vi nos olhos do meu irmão. Porém, no dela, também continha dor.
— Angelo, você não precisa ficar aqui, pode voltar para o seu quarto — ela já não me olhava nos olhos.
— Pode ir, Angelo — o meu irmão falou. — Eu fico com a Aurora. Eu também vou ligar para a Fiorella e pedir que ela venha para cá.
Eu fiz como ela queria, mas não fui para o quarto, fiquei no corredor esperando o médico sair.
— Doutor, o que pode ter acontecido com ela? — perguntei, assim que o vi saindo do quarto.
— Pode ter sido uma queda de pressão. Ela passou todas as noites com o senhor aqui no hospital. Até oferecemos um quarto para que pudesse dormir, mas se negou a sair do seu lado, disse que queria estar perto quando acordasse. Eu também não sei se ela estava se alimentando corretamente. Sem falar que as últimas horas foram de muitas emoções.
— A quantos dias estou aqui?
— Há vinte dias — ele respondeu, após pensar por alguns segundos.
"Ela está há vinte dias dormindo nesse hospital comigo?"
"CaraIho, será que vou me arrepender de ter pedido o divórcio daquela forma, mais rápido do que o Enrico previu?"
Eu podia não ter lembranças dela, mas ela tinha anos de lembranças minhas.
Eu acho que, no fundo, eu só estava querendo descontar toda aquela raiva que eu sentia por tudo que aconteceu com a Alice, já que eu não podia matar o maIdito que fez aquilo, novamente.
Fui c***l, não pensei nela e em seus sentimentos.
[...]
Cerca de uma hora depois, o médico voltou com um envelope na mão.
— Sottocapo, descobri o porquê do desmaio da sua esposa.
— E por que ela desmaiou?
— Ela está grávida.
— Grávida? — perguntei, perplexo.
Não consigo descrever em palavras o que senti naquele momento.
Era como se tivessem tirado meu chão no dia anterior, mas com a notícia de que eu seria pai, me deram uma nova razão para viver.
— Tem certeza? Ela está grávida? — eu precisava perguntar.
— Sim. O exame está aqui nas minhas mãos — ele me entregou o envelope.
Eu voltei até o quarto com o envelope em mãos.
— Enrico, nos deixe a sós — não era um pedido.
Ele olhou para a Autora, que assentiu.
— Eu estarei no corredor, qualquer coisa é só chamar — ele falou para ela e deixou o quarto em seguida.
— Por que não me contou que está grávida? — fui direto ao assunto.
— Como soube?
— O médico me falou, provavelmente, achando que nós dois não sabíamos, mas presumo que apenas eu não sabia. Quando iria me contar?
— Eu estava esperando um momento oportuno.
— O Enrico ia me contar, mas você o impediu — questionei, me recordando da nossa conversa, minutos antes, no quarto.
— Você estava pedindo o divórcio e disse que eu era uma estranha.
— Isso foi antes de eu saber que você estava esperando um filho meu.
— Não muda nada, eu continuo sendo uma estranha, você continua sem memórias minhas e o nosso divórcio vai acontecer — ela me encarou com os seus olhos marejados.
— Aurora, não seja cabeça dura. Nós vamos ter um filho juntos.
— Eu acho que a batida que levou na cabeça durante o acidente te deixou bem instável — ela falou, furiosa. — Acorda querendo o divórcio, depois me chama de cabeça dura por querer dar o que você quer?
— Eu não iria propôr o divórcio se soubesse que estava grávida.
— E EU NÃO QUERO QUE FIQUE COMIGO PELO BEBÊ — ela esbravejou, em seguida respirou o fundo. — Olha, Angelo, não estou querendo te privar do direito de ser pai dessa criança, mas será só isso que seremos a partir de agora, pais dele ou dela. Eu amo você com tudo que há em mim, com cada célula do meu corpo, mas eu prefiro te perder a te ter sabendo que não me ama mais — as lágrimas jorravam do seu rosto.
— Eu não tenho culpa de não lembrar da gente — me aproximei, me sentando ao seu lado na cama.
— Eu não estou te culpando, mas eu não conseguiria amar por nós dois, não sou tão altruísta assim — ela secou suas lágrimas. — Eu repito, Angelo, eu prefiro manter distração.
Eu não tinha mais argumentos e estava prestes a sair do quarto.
— É você, mas não é você, sabe? Os seus olhos já não me olham mais do mesmo jeito — ela falou, com a sua voz embargada. — Eu posso ser uma estranha para você, mas você é a pessoa que acordei amando nos últimos cinco anos, as lembranças mais lindas da minha vida, o meu lugar de paz, o amor que eu nem achei ser possível sentir...
Eu senti vontade de beijá-la. Ela estava tão perto.