ANGELO
"Ela já passou por tudo isso?" Foi o que pensei enquanto a Aurora fazia o seu relato.
— A única pessoa que nunca engoliu o Francesco foi a Fiorella. Queria ter dado ouvidos a ela, teria evitado muito sofrimento.
A nossa comida ficou pronta e eu coloquei a mesa.
— Eu engravidei nos primeiros meses de casamento, mas acabei perdendo o meu bebê de tanto que levei pontapés na barriga — os olhos dela ficaram marejados. — De todas as dores que o Francesco me causou, essa foi a pior delas. Nós chegamos a achar que foi por causa disso que eu não conseguia engravidar.
— O Marco me contou que matei o maIdito.
— Sim. Foi a segunda vez que você me salvou, a primeira foi quando nos conhecemos.
Enquanto eu escutava tudo, servia o prato dela.
Diante de tantos relatos de sofrimento, eu só sentia vontade de protegê-la.
— Nós nos conhecemos enquanto eu fugia do Francesco. Eu estava totalmente sem roupa, fugindo de mais uma violência s****l e agressões. Eu empurrei o Francesco da escada, ao perceber que ele ficou inconsciente, aproveitei para fugir. Não dava tempo de vestir a roupa, talvez eu nunca mais tivesse uma chance daquelas. Fui me arrastando pelo chão até chegar na estrada para que o capanga que ele deixou vigiando a casa não me visse. O farol do seu carro foi como uma luz, um fio de esperança. Sem pensar muito, eu só me joguei na frente dele — seu olhar ficou distante. — Resumindo, você cuidou de mim, das minhas feridas, da minha febre, e desde então, nunca mais nos separamos.
— Aurora, eu já te fiz algum m*l? — eu precisava perguntar.
— Não. Você seria incapaz.
"Se ela falasse o contrário, eu jamais iria me perdoar."
— Tudo que fez durante todos esses anos foi me amar, cuidar, proteger e me fazer a mulher mais feliz desse mundo.
— Era o mínimo — respondi. — Você passou por muita coisa.
— Com a morte do Francesco, eu recebi a herança. Ele tinha um patrimônio muito alto, que não condizia com seu salário de delegado. Vinhedos, vinícola, aplicações, casas, carros, dinheiro em espécie... Eu não queria o dinheiro sujo do Francesco, então tive a ideia de usá-lo para algo bom. Nós fundamos um centro de acolhimento para ajudar mulheres que sofriam abus0 s****l, agressões ou qualquer outro tipo de maus tratos. O nome do centro de acolhimento é Alice Ricci, por motivos óbvios.
— Você deu o nome da minha irmã ao local? — perguntei, surpreso com a homenagem.
— Sim. O centro de acolhimento não poderia ter outro nome.
A Aurora me contou outras coisas, enquanto fazíamos aquela refeição.
[...]
Na hora de dormir, a Aurora tomou um banho e se deitou na cama.
Eu tomei um banho depois dela, e ao sair do banheiro, percebi que ela já estava dormindo. Agradeci mentalmente, era a nossa primeira noite dormindo juntos, pelo menos para mim, não queria que ficasse um clima estranho.
Na manhã seguinte, ao abrir os olhos, percebi que o rosto dela estava bem próximo ao meu.
"Como pode ser tão linda?" Com esse pensamento fiquei a olhando por um bom tempo.
Ela começou a se mexer, eu sabia que iria acordar, então fechei os olhos fingindo que estava dormindo.
A Aurose sentou na cama e se espreguiçou.
— Eu sei que está acordado, Guepardo — ela falou, sorrindo.
— Como sabia? — perguntei, sem graça.
— Porque enquanto me olhava, eu já estava acordada, você que não percebeu.
— Vou preparar o nosso café da manhã — falei, me levantando.
— Eu falei com a Gaia, poderemos escutar o coraçãozinho do bebê.
— Serio? — pergubtei, animado.
— Sim.
[...]
Uma hora depois, estávamos no consultório da tal Dra. Gaia.
— Aurora — a médica falou a abraçando.
— Oi, Gaia — a Aurora disse, retribuindo o abraço.
— Angelo, fico feliz em vê-lo de pé. Você deu um susto em todos nós.
— Obrigado!
— Vamos ver como está esse bebezinho? — ela falou, apontando para a sua sala.
Nós entramos, eu estava nervoso, minhas mãos suavam e meu coração palpitava.
A Aurora entregou alguns exames que tinha feito.
— Está tudo ótimo com os exames. — ela falou, nos fazendo olhar um para o outro com um sorriso de alívio no rosto. — Aurora, eu vou passar uma nova vitamina para você. No mais, o de sempre, alimentação saudável, bastante água, boas noites de sono, exercicio moderado e vida normal.
— A Aurora ontem sentiu uma tontura — falei. — Temos que nos preocupar?
— As tonturas são comuns, principalmente, nos dois primeiros trimestres — ela explicou. — Além do que acabei de recomendar, é interessante que os intervalos entre as refeições sejam menores. Tenha sempre um lanche por perto, Aurora.
— Viu? Ontem passou horas sem comer — a repreendi.
"Vou fazer várias opções de lanches saudáveis para ela. Assim não ficará mais tanto tempo sem comer.
— Vamos escutar o coraçãozinho do bebê? — a médica perguntou. — Sei que estão ansiosos por isso.
Capítulo 2/4