ALINHANDO AS COISAS

1120 Words
AURORA — O quanto você bebeu? — perguntei. — Pouco, para a minha tolerância — ele respondeu. — A garrafa tinha poucas doses. — E o espelho do quarto? — Eu não tinha tomado uma gota de álcool. Ficamos em silêncio por alguns segundos. — Aurora, eu não quis deixar transparecer a raiva que senti ao ver você e aquele cara. Eu já causei muitos danos ao bebê, com o que eu não pude evitar, então tentei segurar a onda para não te ver nervosa, mas isso não significa que eu estava calmo, muito menos, que engoli que aquele idiot@ não esteja interessado em você. Não consegui me controlar quando as lembranças da mão dele apalpando a sua cintura invadiram os meus pensamentos ao entrar no quarto. "Ciúmes? O Angelo está com ciúmes de mim?" — O que quer falar comigo? — perguntei. — Você está com os papéis do divórcio? A pergunta dele fez o meu coração gelar. — Sim. Estou. — Pode me dar? Eu abrir a minha bolsa, peguei os papéis e entreguei nas mãos dele. O Angelo folheou as paginas e rasgou o contrato na minha frente. — Você também não queria assinar, se não já teria assinado — ele me fitou, com um sorriso no canto da boca. — Então você acredita em mim? — Eu posso não lembrar de muitas coisas, mas seus olhos são sinceros. — Como será a partir de agora? "Eu vim ensaiando tantas coisas para falar, mas sumiu tudo da mente." — A minha cabeça continua uma confusão, Aurora. Quando acordei do coma, a minha última lembrança foi de um treinamento num lugar assim como esse com a Alice. Após a Serena me contar o que aconteceu com ela, a forma que eu a encontrei, a carta dela e o que fiz para vingar a sua morte ficou bem claro em minha mente, como se eu nunca tivesse esquecido. "Eu faria tudo para tirar essa dor de dentro dele." — Confesso que se for para eu nunca mais recobrar a memória, eu preferia não ter lembrando de tudo isso. Essas lembranças despertam o meu lado mais perverso. Eu sinto vontade de sair por aí matando escórias com o mesmo requinte de crueldade que matei o maIdito responsável pelo que aconteceu com a minha irmã. — Você fez isso durante longos anos. — Eu sei. Andei conversando com o Maxim, o Enrico, a Serena e o Marco. — Você? Conversando? — perguntei, sorrindo. Ele me olhou, eu pude perceber um discreto sorriso. — Aurora, é como se as lembranças do que aconteceu com a Alice tivessem arrancado tudo de mim, mas horas depois, a notícia de que você está esperando um filho meu, devolveu tudo que foi tirado, sabe? — Sim. — O que aconteceu com a minha irmã desperta o pior de mim, mas esse bebê me acalma. Ele é tão pequeno aí dentro da sua barriga, mas já tem um grande poder sobre mim — ele falou, olhando para a minha barriga. Eu peguei em sua mão e a coloquei na minha barriga. — Eu fui à catedral hoje porque queria te propôr algo — ele falou, se virando de frente para mim. — Pode falar. — Volta para casa, Aurora — seus olhos me fitavam, profundamente. — Eu quero te conhecer, quero saber como foram os últimos cinco anos, quero cuidar de você e do nosso filho... [...] ANGELO Eu poderia dizer que morri de ciúme e me imaginei deformando a cara do maIdito que estava apalpando a cintura dela, poderia dizer que mesmo sem as lembranças, essa casa fica muito vazia sem ela, que o seu toque não me incomoda, pelo contrário, a textura da sua pele e seu cheiro me agradam, mas eu queria ir aos poucos, sem criar expectativas falsas nela. Eu preciso, antes de mais nada, entender o que estou sentindo para não deixar as coisas ainda mais confusas com a Aurora. — Tudo bem — ela respondeu. — Eu me enchi de coragem enquanto conversava com a Fiorella para vir aqui conversar com você. É exatamente isso que eu quero, eu vou te contar tudo sobre nós, sobre mim... Eu só quero te pedir uma coisa. — Pode falar. — Se você perceber que nada disso é o que você quer, por favor, seja sincero. — Sempre. — E como será a partir de agora? — Vamos buscar as suas coisas — falei, me levantando. — Eu dirijo — ela falou. Nós fomos até o carro. Ao chegar na casa, me impressionei com o tamanho. O local era uma verdadeira fortaleza. — Meu irmão mora aqui? — perguntei. — Essa era a casa do seu avô, que passou a ser do seu pai e do seu tio, agora é o Enrico que mora com a Fiorella, o Matteo e o Lorenzo — ela explicou. — Quando a Serena e o Marco ou o seu pai e a Nikoleta vem para a Sicília, também ficam aqui. — A ideia de não ficar aqui foi minha? — Claro que foi. Você tinha mudado muito, mas não tanto assim, além de se sentir incomodado de estar entre tantas pessoas o tempo inteiro. Por isso, decidimos comprar aquela casa. — Foi uma sábia decisão. Entramos na casa e a primeira pessoa que vi foi o meu pai. — Meu filho, que bom te ver aqui. — Eu vou subindo para arrumar as malas — a Aurora falou. — Eu já vou até lá buscar tudo — respondi. — Será que podemos ir até o escritório? — o meu pai perguntou. — Eu quero conversar com você. Eu assenti. Nós nos encaminhamos até o escritório e sentamos de frente um para o outro. — Como está se sentindo? — ele perguntou. — Tirando a falta de memória, eu me sinto bem. — Angelo, eu não quis forçar a barra, achei por bem deixar que as coisas fossem se encaixando. Sei que você precisava desse tempo, mas eu quero que saiba que eu nunca abandonei você, eu sempre dei um jeito de me manter por perto. — Eu sei, você tem bons advogados — o encarei. — A Serena, o Marco, o Maxim e o Enrico conversaram comigo em sua defesa. Eu posso não lembrar de você e dos últimos anos, mas lembro bem da Lucia, do quanto ela é egoísta e manipuladora, então se a sua preocupação é o que possa ter me falado, pode desencanar. — O meu medo era que ela tivesse feito a sua cabeça contra mim. — Ela tentou, mas mesmo antes de lembrar que ela foi tão responsável quanto aquele desgraçado pela morte da Alice, eu já conhecia o caráter contestável daquela mulher.
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