CAPÍTULO 27

1065 Words
Tomo um banho com um pouco da água gelada que tem em um balde, jogo com um pote em meu corpo, relembrando de tudo, o corpo se agrada com as lembranças do lorde, esquentando desenfreadamente, as mãos dele me envolvendo, me dominando e transportando para um lugar mágico de prazer, que me faz pensar como a continuação deve ser maravilhosa. Mas no mesmo instante uma tristeza toma minha mente, tento compreender porque a vida tem que ser conquistada com lutas, lágrimas, sofrimento e muita dor, chego a tentar lembrar, o que fiz para ser dessa forma. É sempre difícil comigo, desde que mamãe se foi, para mim sobrou a insistência de tentar viver o que ela contava-me existir, uma vida leve e feliz. Não tenho muitas informações de nosso passado, de como acabamos em uma fazenda, com um homem que era até gentil, depois da morte de papai e mais nada além dos livros. As sofridas lágrimas que escapam, mostram que estou remoendo um passado sem cura, então jogo mais água gelada em minha cabeça, na intenção de despertar para a realidade e saio do banheiro, enrolada em uma toalha verde musgo, tão feia quanto minha vida. “Havia esquecido que está aqui” minto para Talinara justificando minha demora”. “O que ela fez Ava?” ela pergunta enquanto se aproxima e me dá uma camisola para vestir “há quanto tempo estavam brigando no corredor? Como conseguiu rasgar sua roupa? Não estou entendendo”. “Não foi ela quem rasgou minha roupa” explico sentindo o rosto corar, tentando decidir se contarei a verdade de como me senti, ou se minto em relação ao lorde. “A camisola foi o lorde, acho que ela não ficou feliz com a visita dele ao meu quarto” respiro fundo refletindo, “O plano foi um sucesso”. “Havia esquecido-me desse detalhe” ela comenta assustada enquanto coloca a camisola em mim, tenho impressão de que acha que sou uma criança, mas relevo porque gosto de sua amizade, ela não tem culpa do momento amargo que estou vivendo, e não cogito dispensar minha ira sobre seus ombros. Nós duas nos sentamos na ponta da cama, decido contar a verdade e dividir o que havia vivido com o lorde, visto que apenas a lembrança na mente, anima, então imagino se contar. Minha feição muda, sei disso porque Talinara sorri maliciosa para mim, então respiro fundo, arrumo a postura e começo: “Foi o Lorde que rasgou a camisola, mas não precisa ficar preocupada, ele não tentou uma agressão, acho que consente. Pare de me olhar com esse sorriso” peço envergonhada, mas ansiosa para contar os detalhes. Assim começo a dizer como fui abordada no corredor, conto detalhes sobre o encontro no Jardim pela manhã, para entender o contexto de tudo. Ela ouve atentamente, faz inúmeras caretas, me responde várias vezes com suas expressões faciais, nós duas rimos alto várias vezes, por mais que a situação não seja das melhores, confesso que poder conversar livremente, poder ser ouvida por uma pessoa que não me esnoba, não desejo meu m*l, é maravilhoso. Assim que termino de contar a história, pulamos um pouco na cama e depois ela começa a contar a sua, imagino que deva ser assim uma amizade verdadeira, é tão divertido e animador, que ficamos um bom tempo apenas curtindo o momento. Talinara se levanta, vai até a penteadeira, onde pega a escova que trouxe da fazenda, ela senta-se atrás de mim e começa a pentear meu cabelo, assim que desembaraça comece uma trança única. Então começo a falar sobre Aline. “Ela ameaçou-me, então a provoquei, perguntando se ouviu os meus gemidos, tinha que ver a cara dela, seus olhos encheram de lágrimas, era a dor da rejeição, tenho certeza" Afirmo sendo má, "se não tivesse me ameaçado e me batido nada disso teria acontecido. Se tivesse apenas conversado comigo, explicaria que tenho um interesse maior em me aliar para ir embora, do que ficar disputando um homem.” “Mas, você o quis” ela rebate fazendo-me lembrar do que acabei de viver “Gostou de estar com ele, esse era o pensamento antes, certo?”. “Não”, rebato tentando defender minha moral, quando nem eu mesma sei o que estou sentindo “estive com ele foi ótimo, na verdade, maravilhoso” me desviei enquanto lembro dele tocando-me, “mas não é tão bom quanto ser livre e ter o domínio de minha vida, de poder fazer aquilo que quero fazer”. “Ainda quer ser expulsa? Sabe que quando acontecer não verá mais ele, entregará de bandeja Aline”. “Não me importo” respondo dando de ombros, aconteceram muitas coisas e não sei bem o que quero, mas tenho a opinião antiga sendo confrontada, pela lembrança do Lorde lendo um poema para mim.” “Bom, que não se importa, porque agora que empurrou e segurou o pescoço dela, certamente irá embora, acho que ela recorrerá tudo o que tem, a sensualidade” percebo que ela está me provocando, mas não falo nada, na verdade, estou interessada no que está dizendo, “e também a magia” ela disse enquanto solta os cabelos transando. Talinara procura meu rosto e faz uma cara de terror, não sei se está séria, ou se está me animando, porque seu olhar arranca sorrisos de mim, ela me diverte. Ela começa a se preparar para deitar-se no chão, mas a reprovo, então dividimos a cama, uma para cima e outra para baixo, falamos mais algumas coisas sem pé ou cabeça e depois percebo que ela dorme. O silêncio da noite é quebrado pelo som dos vagalumes, que insistem em cantar a beira de minha janela, eles deixam-me desperta, fazendo pensar nos olhos escuros do lorde Robert, o brilho estava diferente, não tinha nada sombrio ou assustador, ele estava entregue, como se tivesse se dado inteiramente a mim, era como se nossa motivação fosse a mesma, desvendar um caminho que não conhecemos e fisicamente estava acontecendo, como se unidos, nos tornássemos um. Me policio, conheço o risco da paixão e a frustração que gera, não devo perder o foco, preciso convencer meu corpo disso, e meu coração que dança feliz com a música da lembrança. Os olhos pesam, acho que a hora de me despedir desse dia chegou.
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