CAPÍTULO 26

1089 Words
“Ela é sua amiga Talinara?” pergunta Peter, enquanto segura minha mão direita, estamos sentados em um dos jardins internos, é tarde, então ninguém nos verá, ninguém faz ronda nesses jardins, e sempre que consigo me encontro com ele, sendo os jardins nosso lugares secretos, “Tem certeza que pode confiar? Não quero que se prejudique, sabe como são as mulheres que se deitam com ele”. “Ela é como nós” defendo Ava “uma escreva, não é como a senhorita Aline, que se acha esposa do lorde, gosto dela”. “Mas não abuse” ele diz aproximando seu corpo do meu, traz um largo sorriso no rosto e um olhar apaixonado, me puxa e me beija, um beijo longo, envolvente e gostoso. Amo o doce de mel que os lábios de Peter têm, estar com ele é maravilhoso, sua vida, ilumina a minha, e me faz desejar ardentemente a liberdade de ser sua esposa, poder lhe dar filhos, meu coração sorri apaixonado com seu toque, sua presença, até sua voz traz alegria e amor. “Te amo” declaro após o beijo, admirando sua beleza, Peter é um homem de vinte e dois anos, crescido nas dependências do lorde, foi educado para ser um de seus guardas. Considerado de confiança e honrado, sei que será um bom esposo e pai. Ele é lindo, n***o dos olhos castanhos claros, seu corpo é forte e definido devido aos treinos para seu cargo, mas seu coração é gigantesco, desde que o conheço, nenhuma oferta muda seus princípios e caráter. Sou uma mulher sortuda por o ter em minha vida, suspiro apaixonada. “Peter” o que queria contar, que tinha que ser escondido de minha mãe? Sabe que se ela nos pega, fiarei de castigo. “Quando será que perceberá que se tornou uma mulher?”. “Conte, estou curiosa, para de enrolar”. Ele se aproxima e coloca a mão em minha cintura, estamos tão perto que posso sentir seu delicioso cheiro de limpo, coloco minhas mãos em seu peito e encosto a cabeça em seu ombro, esperando sua fala. “Encontrei um lugar para nós dois, podemos dar mais um passo” ele me agarra e morde lentamente meu pescoço enquanto aperta minha cintura. Entendo sobre o que está falando, mas prefiro fingir que não. “O próximo passo que temos é o casamento, mas ainda não tenho direito a ser livre, não quero que nossos filhos nasçam escravos”. “O casamento acontecerá, mas estou de olho em uma casa na cidade, longe de nossos pais, teremos liberdade e enfim podemos ficar entre quatro paredes, quero te levar a conhecer e talvez...” “Não faça esses planos antes o casamento” o solto tentando disfarçar e correr do “Sim” que meu coração entregaria a ele. “Conhecerei a casa, nosso lar, levarei alguém conosco.” Finjo que estou ofendida, levanto e saio rápido, sem me despedir, na intenção de deixar o coração dele preso ao meu. Sigo até o quarto de Ava. “Respire Ava”, digo a mim, tentando me conter, sinto o rosto queimar, uma raiva maior do que tudo o que se passa em meu corpo me domina, sinto uma fúria misturada com humilhação, que me faz lembrar de outros tapas que tomei na vida, e não quero o aceitar, não permitirei que ninguém me humilhe. “Aline” chamo antes que entre no quarto, caminho em sua direção engolindo as lágrimas que tentam ofuscar minha visão, solto o lençol que deixa presa minhas mãos, não importo que veja a camisola rasgada, e meu corpo nu, porque caminho cegamente a um objetivo. O olhar dela é debochado como o de Bia e suas filhas, estou farta de ser a chacota, de pessoas arrogantes, que se acham no direito de roubarem minha alegria, não fiz nada a ela, nem tinha interesse em fazer até que tocou em meu rosto, o que quero é arrancar esse deboche, assim como ela arrancou a alegria e o prazer que sentia. A pego desprevenida e a empurro com as palmas de minhas mãos, com força até que o corpo dela encostar na parede, nesse momento o sorriso em seu rosto se desfez, me saboreio com o susto e o medo que seus olhos refletem, mas ela segura minha mão esquerda com sua direita e aperta meu pulso com força. Revido com minha mão direita, colocando-a no pescoço dela, o clima é tenso, mas não retrocederei. “Peça desculpas” ordeno possuída de raiva, enquanto a aperto e ela meu braço, ela fica firme. “O que é isso?” pergunta Talinara correndo em nossa direção e nos serando, me empurra longe de Aline, e eu apenas encaro mostrando que não tem domínio sobre mim. Me viro e ouvindo Talinara falar, mas não entendo nada, apenas sinto me puxar pelo braço, me levando até o quarto, mantenho-me firme, mas assim que a porta se fecha atrás de mim, desabo aos pés dela, ajoelhando e chorando. Ela tenta me acudir, mas não consegue, sei que estou lançando o sofrimento de anos de maus tratos, de coisas que aconteceram antes de estar nessa vida nova, para fora, com choro doloroso. Mas no fim minha consciência se vê livre, por não aceitar a humilhação que ela quis submeter-me. Depois de muito tentar, finalmente deixo que Talinara me levante, ela me olha triste, está perdida e assusta, olha para minha roupa, percebo sente pena. Nesse momento enxugo minhas lágrimas, fico cara a cara com ela e falo: “Talinara” sinto que estou tremula, coração acelerado, adrenalina me percorrendo, estou confusa, mas não sinto medo “Não se esqueça ser a testemunha de que não sou mais menina, lembre que sou uma mulher agora, me olhe como uma”. Digo procurando a força que acredito que uma mulher deve ter, "não me olhe com pena quando me ver lutar por minha liberdade”. Passo as mãos colocando os cabelos desalinhados para trás, respiro fundo, buscando ar, buscando continuar a vida. A abraço, estou fora de mim, a razão ainda não voltou, mas caminho para o banheiro, onde encontro enorme espelho, assim que solto os braços dela, dou uma encarada enquanto tiro a camisola rasgada e sorrio para mim, parabenizo-me por minha coragem, pela força que saltou do meu íntimo, onde de menina indefesa nos braços do lorde, torne-me uma leoa, confiante e pronta para atacar aqueles que tentarem me ferir.
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