CAPÍTULO 22

1141 Words
A cada segundo meu coração estremece, sinto uma tensão tão forte que quase consigo a tocar com as mãos, tento conter a respiração ofegante e o olhar assustado, o medo é tão excitante, gosto do que sinto, ainda que não consiga distinguir se é r**m ou bom, por ser um sentimento novo. Antes que o pensamento de dar errado domine minha mente por completo, decido sair no corredor, assim diminuo as chances de desistir, e começo a lutar com meu corpo assustado e ansioso. O tempo parece parado, nem um vento dá o ar da graça para ajudar com a sensação sufocante que estou vivendo. Examino o corredor com atenção, os quadros pendurados nele, isso me distrai por um momento, não me faz relaxar, no entanto, não surto. “Senhorita Ava” ouço a voz firme do lorde Smith vindo das minhas costas, não vejo, mas também ouço a respiração profunda e acredito que está sentindo o aroma dos meus cabelos; me viro lentamente “O que faz aqui?” ele pergunta encontrando meus olhos azuis o engolindo, não consigo conter, não sei se estou vermelha, mas pálida com certeza. “Desculpe” respondo com a voz falha e rouca, sinto o perfume dele, é maravilhoso, penso que está arrumado para ela, e estranhamente uma pitada de ciúmes acende uma faísca em meu coração. “Procuro a escrava” tento formular uma frase maior, mas não dá, estou agitada e bem nervosa, tento não demonstrar. “Para quê?” ele pergunta sério, não tira os olhos dos meus olhos, estou tentando não desviar o olhar, mas estou com medo. “Não me sinto bem” respondo esperando que diga algo, mas ele continua mudo “Por isso estou a procurando, temo piorar e estar sozinha”. Ele se aproxima de mim, e me faz encerrar a fala, lembro do sonho e engulo minhas convicções a seco, enquanto tento não me desmanchar por inteira nos braços do lorde, e de repente sinto a mão dele, a enorme mão pousar em minha testa verificando minha temperatura, sinto meu corpo aquecer com o toque, liberando um arrepio e uma sensação prazerosa em cada pedaço. “Está mesmo quente” ele responde e se vira “Mandarei chamá-la”. Ele se vai, não consigo acreditar, sinto-me frustrada e não sei o que fazer, nem como avisar Talinara que as coisas não saíram como o combinado. É engraçado o que uma rejeição inesperada faz com o coração, toda a alegria e empolgação se foram, como um balão cheio de ar, eram minhas expectativas, mas agora elas murcharam e fiquei vazia e triste. Acho que o melhor é voltar ao quarto, não adianta ficar contemplando os passos calmos e devagar do lorde se afastando dos meus delírios. Ele de repente para, olha para trás e diz: “Senhorita Ava, desculpe pelo infortúnio da manhã, não acontecerá novamente”. Consinto com a cabeça porque não estava esperando o que disse. Entendo porque ele se foi tão rápido, entro para o quarto, facilito para Talinara deixando a porta aberta, me desfaço do cobertor e deito na cama, sentindo uma tristeza que a razão condena. Ouço o bater da porta, espero pelo rosto frustrado, pois estava tão animada, com encontro com o jovem, que me sinto culpada por não acontecer. Deito na cama na intenção de receber, e nos entregarmos a depressão que nos tomaria naquela noite falida, mas ao olhar para o pequeno corredor que separa a porta do quarto, vejo ser o Lorde, parece um pouco desnorteado, não tenho certeza se ele está onde quer, ou se errou o quarto. “Vim apenas avisar que pedi para chamar sua escrava, não passará a noite sozinha”. “Obrigada” respondo percebendo que ele continua se aproximando, e chega ao pé da cama. “Há quanto tempo está passando m*l?” ele pergunta se sentando em minha cama, tem os gestos acanhados, e os olhos curiosos, diferente do que costuma ser. Seus olhos percorrem o meu corpo, e me dou conta da roupa que estou usando, mas não me escondo, porque gosto daquela sensação, que passeia em cada pedaço do meu corpo e embaralha a minha mente. Me deixando arrepiada e deixando o bico dos meus s***s duros e pontudos, eles tiram a concentração dele, que sempre leva o olhar a essa área. “Desde o início da noite, antes do jantar não estava bem, por isso pedi que me servisse apenas frutas”. “Entendo senhorita Ava” ele se levanta e vai até a pequena biblioteca montada por Talinara pelos livros que trouxe, olhando os nomes dos livros, sorrindo para alguns e reprovando outros com o olhar “Tem um gosto diversificado” ele diz retirando um, “Não é comum as mulheres saberem ler, acho que é a segunda que conheço, também percebi que desenha, tem mais alguma surpresa escondida?”. “Tenho alma de artista” afirmei lembrando de mamãe, me vangloriando, curiosa a espera de saber, qual a primeira mulher que ele conheceu “Também sei escrever e somar”. “As mulheres que usam matemáticas são tidas como bruxas aos ignorantes” ele se aproxima e senta mais perto, na altura da minha cintura, ainda com o livro em suas mãos. “E o senhor é um deles?” pergunto o desafiando. “Não sei, como disse é a segunda mulher que conheço assim, terei que avaliar se é perigosa, uma bruxa, a primeira não era” Acho que brinca, enquanto abre o livro e lê: “‘ Carrego seu coração comigo Eu o carrego no meu coração Nunca estou sem ele Onde quer que vá, você vai comigo E o que quer eu que faça sozinho Eu faço por você Não temo meu destino Você é meu destino, minha doçura Eu não quero o mundo por mais belo que seja Porque você é meu mundo, minha verdade. Eis o grande segredo que ninguém sabe. Aqui está a raiz da raiz O broto do broto e o céu do céu De uma árvore chamada vida Que cresce mais que a alma pode esperar ou a mente pode esconder E esse é o prodígio que mantém as estrelas à distância. Eu carrego seu coração comigo Eu o carrego no meu coração.'" Não consigo acreditar, ele está com meu livro, lendo um poema de Edward Estlin Cummings para mim, sua voz suave adentra mais que meus ouvidos, acessa meu coração e o estremecem, estou estagnada, encantada. Ele termina o poema, dá uma risada e coloca o livro ao meu lado, me pergunto o que vem agora, mas um silêncio enlouquecedor toma o lugar enquanto trocamos um olhar penetrante e intenso, que faz meu coração doer com uma agoniante curiosidade e ansiedade, enquanto queima abalado com o poema lido.
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