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1115 Words
(Deixe seu comentário.) Pietra — Você acha mesmo que isso pode dar certo? — Finn pergunta, olhando para os lados. — Legalmente, alguma coisa me impede de fugir? — Eu olho em seus olhos. — Não... — Ele pressiona os lábios. — Mas, a sua avó... — Finn! — Resmungo. — Ignora a minha avó, tá legal? — Eu não acho que ela seja a melhor pessoa para enfrentarmos atualmente. — Dá de ombros. — Ela me dá calafrios. — Isso pode ser verdade, mas caramba... — Eu suspiro pesadamente. — Eu quero tentar, Finn, e se você não estiver disposto a fazer isso por mim, eu vou fazer sozinha. Ele pisca em minha direção. Finn sempre foi o tipo de pessoa que voltava dois passos atrás antes de fazer qualquer coisa que poderia ser considerada maluca. No entanto, eu não era assim... — Realmente, não sei como você conseguiu se tornar advogado. — Cruzo meus braços na frente do corpo. — Quero dizer, você está sendo um frouxo, sabia? — Eu sei... — Ele se joga para trás. — Mas, Pietra... — Não, não... — Enrolo meus braços uns nos outros e apoio na frente do peito. — Você não vem com qualquer "mas..." para cima de mim. Se você não for, eu vou sozinha e sinceramente, eu entendo que você seja assim, mas eu não vou parar de pensar em qualquer coisa sobre isso. — Ok. — Ele suspira e coça a garganta. — Eu vou com você. — Eu sei que tem medo da minha avó, Finn. — Seguro seu rosto entre as minhas mãos, olhando no fundos dos seus olhos. — Mas, ela não é nenhuma mafiosa, relaxa. E meu coração bate dentro do meu peito, a ansiedade, a vontade de chorar por saber que agora eu vou estar a cada dia mais perto de tudo. Eu procurei pela minha família por tanto tempo. — Eu vou para casa, vou arrumar minhas malas. — Ele se levanta, como em um impulso. Um misto de coragem. — Saímos que horas? — Encontro você as uma da manhã? — Pergunto, sugestiva. — Ok, mas... como vamos sair daqui? — Murmuro, revirando os meus olhos. — Apenas confie em mim, sim? — Eu o encaro e ele apenas assente, abrindo a porta e saindo. Assim que ele sai, eu corro até a porta e a tranco. Me sinto uma garota rebelde por estar fazendo isso. Olhando pelo ponto de vista técnico, a minha avó me deu uma casa, comida, babás ótimas que me deram afeto e tudo mais que eu pudesse precisar. Outras pessoas da cidade achavam que eu tinha a vida perfeita, mas ninguém entendia como isso era frustrante. Minha vida inteira, vendo as pessoas a minha volta com seus pais e me perguntando o motivo do meu pai não me querer ou me amar, com a minha avó ignorando completamente a sua filha e pensando porque eu não tenho nenhum dos meus dois pais por perto. Por algum tempo, na minha infância, achei que o problema fosse eu. Mas, no final, acho que o problema é a minha avó. Ela não me parece alguém tão sincera e direta sobre o seu futuro ou sobre o que a fez me trazer para um lugar tão isolado — e não querer permanecer mais lá, pareciamos uma espécie de fugitivas que não podiam permanecer no mesmo lugar. Me sentei na minha escrivaninha e puxei o meu notebook, abrindo a tampa. Esperei enquanto ele iniciava e abri o aplicativo de busca, encarando a tela em branco, a barrinha piscando, esperando que eu começasse a digitar qualquer coisa que fosse. Meus dedos se mexeram devagar pelo teclado. Eu suspiro, sentindo a minha garganta fechar um pouco, lembranças nubladas querendo invadir a minha cabeça e um ponto doendo na minha têmpora. Uma tecla, uma pausa... e em seguida, diversas outras até que o nome completo estivesse escrito. Vicent De Lucca. A setinha continuava piscando ao lado da tecla, eu tentava forçar a minha mente, quem era Vicent De Lucca? De algum jeito, tudo parecia estar voltando agora para mim. Minha mente parecia querer invadir cada lembrança da minha cabeça. Meu coração batia em meu peito com tanta força e tão rápido quando apertei Enter. Alguns segundos depois e pronto, lá estava a primeira página do wikipedia. "Vicent De Lucca, empresário bem sucedido italiano" Não fazia sentido ainda, nunca tinha feito. "Cônjuge: Isabela Lombardi" O nome e chamou atenção, eu levei o mouse até lá e cliquei. Eu estava como um pico de nervos, eu estava no meu máximo. Suspiro e fecho meus olhos, lambendo meus lábios. Quando a segunda página abriu, não era nada mais do que notícias. Notícias dizendo sobre o quão perfeita para a sociedade ela era, quão proátiva e o quão bondosa e caridosa era. Uma foto dela com inúmeras crianças de rua e então, eu encarei seu rosto perfeito. Seus cabelos enferrujados, olhos verdes... me encaro no espelho que tenho a minha frente e tento comparar nossos traços. Passo os dedos pelos meus cabelos, percebendo a semelhança. Meus dedos tremem quando percebo que ela pode ser a minha família... ela pode ser a minha mãe. Céus, ela pode mesmo ser a minha mãe. Meu coração bate forte em meu peito, minha boca está seca, a minha garganta está seca. Eu suspiro e fecho meus olhos por algum tempo. Eu continuo tentando achar algo, mas não sei exatamente o que ou onde procurar. Nada. Ela era uma pessoa, de verdade. Ou, pelo menos, ela fingia muito bem. Quero dizer, um histórico filantrópico como o dela foi arrastado durante anos. Ela começou quando se casou com Vicent e desde então, tem desempenhado um trabalho quase que perfeito. Isso faz com que eu me sinta um pouco mais perto da minha família, um pouco mais perto de quem eu sou. Se ela não for a minha mãe, a minha curiosidade me chama para saber quem ela é? Quem é Isabela Lombardi De Lucca e como ela pode me levar a minha família? Ao meu futuro? Ela precisa me ajudar. Pego meu bloco de notas e anoto o endereço comercial que aparece na tela do computador. Isabela irá fazer uma espécie de evento beneficiente, uma espécie de bazar gratuito para pessoas pobres. Aconteceria em uma semana e era para lá que eu iria, definitivamente. Eu pressionei meus lábios juntos e dei um enorme sorriso, em seguida. Eu tinha poucas coisas para me preocupar agora, eu só não podia gaguejar. Eu não queria travar na sua frente, eu queria ser direta e clara. Eu iria ser, eu tomaria um misto de coragem pela primeira vez na minha vida.
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