06

1468 Words
Melissa — Esse seu tio é bem m*l encarado. — Finn diz baixo. Eu viro meu rosto para ele e dou uma risada baixa, enquanto posso perceber Vicent analisando ele de cima a baixo. Finn poderia mijar nas próprias calças agora mesmo. Ele prendia a respiração e tentava não encarar o homem a sua frente. Vicent tira os olhos da folha de papel que ele lia e encara Finn. — O que você faz para viver? — Pergunta, olhando no fundo dos olhos do mais novo. Finn treme ao meu lado e eu toco seu braço. Impressionante mesmo como ele conseguiu se tornar um advogado. — Eu sou advogado. — Murmura. Vicent explode em uma gargalhada, enquanto minha tia Isabela parece em choque encarando o marido. — Não. Não mesmo... — ele diz, secando uma lágrima no canto do olho. — Você tem certeza? — Sim, senhor. — Finn responde, engolindo em seco. — Vicent! — Isabela o repreende. — Isso não é educado. — Isabela, pelo amor de Deus, o garoto está tremendo de medo de mim... — ele respira, tentando segurar mais uma gargalhada. — De mim! — Você não é a mais clara imagem de gentileza, Vicent. — Ela revira os olhos. — Desculpe, Finn! Meu marido consegue ser um pouco incoveniente, as vezes. — Tudo bem, tia! — Dou um sorriso breve. — O Finn entende, né? Ele engole em seco, um pouco envergonhado e assente. Seus olhos desviam e ele encara o lado de fora da janela. — Certo! — Meu tio suspira e meio a contra gosto, encara meu amigo. — Finn, desculpe! — Tudo bem... — ele limpa a garganta. — Eu não me importo com isso. — Viu, Isabela? — Ele olhou para a minha tia, as duas sobrancelhas erguidas. — O garoto não se importa. Ela bufa e se vira para a janela do carro, enquanto Vicent volta a encarar os papéis que lia. Queria muito saber que tipos de coisa ele está lendo, a minha curiosidade para descobrir mais da minha família me deixa preenchida. — x — Quando o carro para na frente da casa enorme, meus olhos brilham por um único segundo. Eu posso imaginar como seria morar aqui e quase posso perceber alguns flashes da minha infância. Isso me fez imaginar, mesmo sem que eu percebesse, o quão ricos eles eram. Entretanto, algo me chamou a atenção — e me deixou com medo, ao mesmo tempo —, os homens armados andavam de um lado para o outro, me deixando confusa se isso era mesmo que eu estava vendo. — Não se preocupe com eles. — Isabela toca meu braço. — Eles estão aqui para nos proteger. Tento ignorar esse fato, pensando em como isso poderia fazer algum sentido. Quero dizer, eles podem ser ricos a ponto de precisarem mesmo de alguma proteção. Suspiro e engulo em seco. Observo enquanto eles entram em casa e os sigo, puxando Finn. Ele tem estado em silêncio desde então, observando absolutamente tudo e tentando se localizar. A gente nunca esteve tão longe de casa e se não fosse pela pesquisa na internet, estariamos nos enfiando no carro de desconhecidos. Quase posso ouvir seus pensamentos, mas quero que ele me diga mais tarde o que ele pensa e acha. Não ficamos sozinhos ou falamos sobre isso desde hoje mais cedo. Eu me sinto m*l por saber que ele está se enfiando nas minhas loucuras. Loucuras essas que nunca deveriam fazer parte da sua vida. Se for para dar errado para alguém, sinto que deveria ser só para mim, mas agora não tem mais volta. — Quando eu vou poder ver meu pai? — Pergunto, sentindo meu coração batendo forte no meu peito. Mal reparo na casa ou em qualquer outra parte que poderia existir aqui. — Logo! — Vicent diz, olhando para a minha tia intensamente. Eles parecem conversar entre sí. — Ele teve que viajar ontem a noite para fazer algo. Beatrice que virá em algumas horas... — Eu vou conhece-la primeiro? — Pergunto, confusa. — Mas, porque? Não faz sentido... — Eu não sei se a sua avó contou a história da família para você, mas ela é esposa do seu pai agora! — Afirmo. — E eu acho que ela é a melhor pessoa para contar e contornar a situação com o seu pai. — Contornar porque? — Indago. — Minha avó estava certa quando disse que ele nunca me quis? Que eu sou um estorvo para ele? — Não é nada disso! — Isabela diz, nervosa. — Não! — Grito. — Eu não vim aqui para descobrir que todo esse tempo, o meu pai nunca me quis e que a minha avó esteve certa. Não mintam para mim! — Não grite com Isabela! — A voz de Vicent sai grave e séria. Ele me encara com autoridade. Posso perceber que ele não gosta de ser contrariado. — Ela não tem culpa do que aconteceu com você. — Resmungo. — De todo mundo, ela é a que menos tem culpa. Sua tia foi uma vitíma na mão de cada um da sua maldita família, inclusive da sua avó. — Então porque não me dizem a verdade de uma vez por todas? — Isso é frustrante para c*****o. — Eu quero que seu pai converse com você, sim? — Ele disse. — Não quero falar sobre coisas e sentimentos que não são meus. O meu filho está lá em cima, confortável e escutando música em um MP3 com o irmão dele. O seu pai, passou anos procurando você em cada buraco que fosse possível procurar e adivinha? Ele nunca encontrou. Ele se frustou a vida inteira e eu sei, Pietra, eu sei que era você naquela praia... onde você acha que ele está agora? O que você acha que ele está fazendo agora? Engulo em seco, quase como se um balde de água fria fosse jogado bem na minha cabeça. Eu estava mesmo sendo grosseira com quem não tinha nada haver com toda essa história, ou melhor, com pessoas que queriam me proteger e me ajudar. Era perceptível que isso estava acontecendo. Mas, é tão frustrante ter as suas expectativas quebradas. Não era como se eu tivesse algum tipo de mágoa ou amargura da minha tia, mas eu não conseguia pensar em qualquer angulo em que ela se encaixe na minha vida por agora, enquanto o meu pai acabou está em algum lugar, me procurando. — Eu não queri dizer para você não se sentir m*l com isso;. — Ele passou a mão nos cabelos. — Mas, ele reconheceu você, naquela praia e saiu a uma semana por alguma informação que ele recebeu do nosso detetive particular. Não tem como soltarmos esse tipo de informação por telefone, imagine a cabeça dele do outro lado do mundo? — Meu pai... ele estava me procurando ainda? — Pergunto, posso sentir e ouvir a minha voz embargada, meus olhos molhados pelas lágrimas e um bolo se formando na minha garganta, — Durante todo o tempo. — Isabela diz, com a sua voz doce e aconchegante. — Acho que o mair arrependimento de Henrico foi não ter buscado você antes de tentar expor a sua mãe. Quando ela fugiu e levou você, ele morreu por dentro. — Acho que eu nunca tinha visto ele tão triste! — Vicent diz. — PAI! MÃE! — O menino grito, descendo as escadas fazendo barulho. Ele já era um adolescente ou quase isso, era e seria alto igual ao pai. — Oi, amor. — Minha tia beijou a testa do menor. — Chegaram cedo. — Ele diz, indo até o pai. — Sim, tivemos umas coisas mais importantes. — Vicent franze a testa. — Aconteceu alguma coisa? — Não. — Ele aperta os dedos atrás do corpo. — Sabe o que é... — Hum? — Vicent faz uma cara engraçada, ambas as sobrancelhas levantadas e um bico se formavam no seu rosto. — Eu e Giovanni queriamos muito mesmo comprar um video game novo, sabe? — Ele sorri. — Libera, vai! Eu estou tirando notas ótimas — Vou pensar no seu caso. — Vicent resmunga. — Mãe! — O encaro. — Eu não vou me meter nisso. — Ela levanta os dois braços. — Vem, gente. — Nos encara. — Vou levar vocês para o quarto. E eu rio, enquanto percebo a interação de ambos. Completamente ansiosa pelo dia de amanhã, pela chegada do meu pai... por tudo! Eu quero que ele me veja, me ame, me abrace, me reconheça! Eu quero que ele seja para mim, tudo aquilo que eu lembrava que ele era antes de tudo acontecer. Antes de ele desaparecer das minhas memórias. Eu sei tanto do meu passado quanto um desconhecido e isso acaba me machucando. Não é justo! Não mesmo.
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