Capítulo 5 - O Peso do Pecado

1015 Words
Virgínia Eu não sei como deixei isso acontecer. Minha cabeça tá girando, meu corpo ainda quente, e o que mais me atormenta agora é o medo. Eu tô descendo o morro, coração disparado, e a culpa pesando em cada passo. O que eu fiz, meu Deus? Eu transei com um cara que eu nem sei quem é, e o pior: sem camisinha. Como eu pude ser tão burra? As palavras do meu pai ecoam na minha cabeça: “O corpo é um templo, Virgínia. Deve ser guardado até o casamento.” E eu? Joguei tudo pro alto por uma noite. Por um momento de liberdade que agora tá me custando caro. Eu só queria me sentir viva, sair da prisão que é essa vida de filha de pastor, mas agora tô apavorada. Eu não tomo anticoncepcional, nunca pensei que precisaria. E se eu engravidar? Meus pais vão me matar. O morro tá silencioso enquanto eu subo, os pés descalços pra não fazer barulho. Minhas mãos tão tremendo. Preciso pensar, preciso agir. Amanhã, assim que o sol nascer, eu vou direto pra farmácia comprar a pílula do dia seguinte. Não posso deixar isso passar. Eu não posso aparecer grávida, meu pai me expulsaria de casa. Minha mãe ia desmaiar, e meu pai... ele ia acabar comigo. Chego na frente da minha casa e vejo as luzes apagadas. Todo mundo dormindo. Pelo menos isso. Respiro fundo e começo a subir pela lateral, usando o mesmo caminho que usei pra sair. Eu não posso entrar pela porta da frente, meus pais têm sono leve. Qualquer barulho seria suficiente pra acordar eles, e aí... eu nem quero imaginar. Subo devagar, segurando o vestido pra não rasgar. Meu coração bate tão forte que parece que vai explodir no peito. Me sinto suada, cansada, e a adrenalina ainda corre pelo meu corpo. Lembro do toque dele, da maneira como ele me segurou. Eu nem sei quem ele é. Eu nem perguntei o nome. Como pude ser tão estúpida? A culpa me consome, e eu só consigo pensar em uma coisa: eu preciso da pílula, preciso resolver isso antes que seja tarde demais. Chego na janela do meu quarto e empurro devagar. Graças a Deus deixei aberta antes de sair. Entro na ponta dos pés, tentando não fazer barulho. O chão de madeira range, mas eu vou devagar, respirando fundo, tentando acalmar meu coração. Minha mente tá a mil, repassando tudo o que aconteceu no baile. O jeito como ele me olhou, como eu me deixei levar. Foi bom, eu não vou mentir. Pela primeira vez na vida, eu me senti livre, me senti desejada. Mas agora, o arrependimento tá me matando. Fecho a janela devagar e encosto na parede, tentando recuperar o fôlego. O quarto tá escuro, iluminado apenas pela luz da lua que entra pelas cortinas. Me sento na cama, abraçando meus joelhos, e sinto as lágrimas escorrerem. Eu não posso chorar, não agora. Mas é impossível segurar. A pressão é grande demais. Virgínia: Eu preciso daquela pílula, meu Deus. Não posso engravidar. Eu não posso acabar com a minha vida assim. Minhas mãos ainda tão tremendo, e eu passo a palma pelo rosto, secando as lágrimas. Tento me acalmar, mas meu coração tá acelerado demais. Eu olho em volta do quarto, como se estivesse procurando uma resposta. Meus olhos pousam na Bíblia em cima da cômoda. Ironia, né? Eu devia estar com ela na mão, rezando, pedindo perdão pelos meus pecados. Mas, em vez disso, tô aqui pensando em como resolver o estrago que fiz. Fecho os olhos e deixo as lembranças do baile tomarem conta. O som alto, as luzes piscando, o cheiro de suor e bebida. Eu me senti viva, como nunca antes. Me senti eu mesma, longe dos olhares de julgamento da igreja, longe das regras que sempre me prenderam. E ele... aquele cara. Tinha algo nele, algo que me fez esquecer de tudo, de todos. O jeito como me puxou, como me olhou nos olhos. Por um segundo, eu me senti segura. Mas agora, tudo o que eu sinto é medo. Deito na cama, olhando pro teto, tentando encontrar alguma paz. Mas tudo o que consigo pensar é: e se eu estiver grávida? Como eu vou explicar isso? Meu pai ia me matar. Literalmente. Ele sempre foi rígido, sempre pregou sobre pecado e pureza. Ele sonha em me ver casando de branco, como se eu fosse uma santa. Mas eu não sou. Nunca fui. Eu sou uma garota normal, cheia de dúvidas, cheia de desejos que ele nunca vai entender. Virgínia: Amanhã, eu vou direto na farmácia. Compro a pílula e pronto. Isso tudo vai ser só um susto, uma lição pra eu nunca mais fazer uma burrada dessas. Mas e se não der certo? E se eu já estiver... não, eu não posso pensar nisso. Me viro de lado, abraçando o travesseiro, e sinto mais lágrimas caindo. Eu quero dormir, quero esquecer essa noite, mas o medo não me deixa. O medo do que fiz, o medo do que pode acontecer. Sinto meu corpo ainda quente, e o arrependimento é quase insuportável. Amanhã, eu resolvo isso. Eu vou na farmácia, compro a pílula, e ninguém nunca vai saber. Vai ser meu segredo, o meu pecado guardado a sete chaves. Eu vou fazer tudo certo dessa vez. Eu vou ser a filha que meu pai espera que eu seja. Pelo menos, é o que eu espero. Me encolho na cama, tentando me cobrir com o lençol, como se isso pudesse esconder a culpa. E ali, no escuro, eu rezo. Não peço perdão, porque nem sei se acredito que isso resolve alguma coisa. Eu só peço pra que tudo fique bem. Que amanhã seja um novo dia, que eu tenha uma chance de fazer as coisas certas. Fecho os olhos e tento respirar fundo, contando cada respiração. Mas o sono não vem. O medo e a culpa são grandes demais. E enquanto o céu começa a clarear lá fora, eu ainda tô acordada, esperando o dia nascer, esperando a chance de consertar o erro que cometi.
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