Laura ainda não havia descoberto qual sensação era pi0r, se a d0r no corpo pela viol.açao sentida, ou se a d0r da alma. Laura se sentia destroçada, a cada vez que despertava as recordações a faziam desejar a mortê. Chegou a pensar que preferia que os dois homens que a atacacaram tivessem a mat@do. Sentia um misto de sentimentos conflituosos, em alguns momentos a raiv@ a domin@va, afinal não estava fazendo nada demais, só voltava para casa a pé, em outros o med0 a fazia delirar e quase perder a consciência. Mas a vergonha também era sua companheira. Se sentia uma estupid@ por ter sido pega tarde da noite e sozinha. Logo ela que estava por dentro das estáticas, que sabia a quantidade de mulheres vítimas de abus0 sexu.al anualmente. Mas Laura nunca imaginou que poderia fazer parte desses números, que seria mais uma mulher agredida e vi.olada somente por ser mulher.
A irmã tinha ido na lanchonete jantar e disse que traria um chocolate para ela, mas Laura não sentia vontade de comer, nem mesmo um doce. Escutou passos e seu pai surgiu, seu Diógenes havia envelhecido 10 anos nos últimos dois dias. O pai não entrou, ficou parado na porta e ela foi grata por não ter que suportar uma proximidade maior com ele, estaca assu.stada e magoada.
_ Sinto muito filha, eu quis salvar o conforto de nossa família e sacrifiquei você. Eu tentei o persuadir, mas o homem é..
Seu Diógenes se calou. Não desejav@ a assustar mais ainda.
_ Posso não ter demonstrado durante esse tempo, mas amo você, é minha filha.
Laura não respondeu, se sentia sem forças até mesmo para brig@r. O viu partir e a sensação de solidão a consumiu. Sua mãe ainda tentou argumentar dizendo que queria fazer a coisa certa a tornando uma senhora respeitável. Mas Laura não se sentia mais respeitável, não depois do que lhe fizeram, na realidade se sentia usada e suja. Conscientemente ela sabia que a culpa não havia sido dela e que como vítima tinha direito a justiça e a refazer sua vida, mas a alma dela estava dilacerada. Desejav@ assim como suas irmãs poder escolher o homem a quem entregar sua primeira vez. Mas agora além da violênci@ a que foi submetida, era ainda obrigada a se juntar a um homem que podia ser mais um pervertidó, se não igual aos homens que a atacaram ainda pi0r, pois ele seria seu marido e acharia que tinha direito ao seu corpo. Era como se o peso do mundo estivesse em seus ombros e toda a vergonha que pudesse sentir também. Como estudante de jornalismo ela já tivera contato com vítimas de estup.ros e nunca entendia porque aquelas mulheres possuíam essa sensação de vergonha tão latente, se não haviam feito nada de errado, mas agora ela sentia a mesma vergonha, densa, forte e devastadora.
Quando sua mãe surgiu no quarto, ela não estava dormindo, mas era tão incômodo o olhar de pena que a mãe lhe lançava que Laura preferiu manter os olhos fechados. Não tinha vontade nenhuma de conversar.
Mas a mãe se aproximou da cama e lhe acariciou os cabelos, não pôde fingir mais.
_ Preciso que você assine alguns documentos.
Dona Conceição entregou a caneta e indicou os locais da assinatura. Laura estava tão alheia a tudo que somente assinou, imaginou que fosse papéis do hospital, já que ela era maior.
_ Sãos os documentos do plano de saúde?
_ Não, sinto muito.
_ Mamãe o que me faz assinar?
_ São documentos do registro de seu casamento, se noivo não abriu mão de você.
_ Não sou um objeto, não podia ter feito isso comigo.
_ Filha, eu só queria garantir que estivesse adequadamente casada.
_ Mesmo se isso significar ser violentad.a todos os dias? Vai permitir que eu passe por isso mais uma vez? desde que eu esteja casada? Que tipo de mãe é você?
_ Não tive escolha.
_ Quem não teve escolha fui eu, a duas noites atrás eu não tive escolha, durante toda a minha vida eu não tive escolha, e a agora me tirou o poder de escolha mais uma vez. Pelo menos vou poder ir em casa? Me recuperar antes que o Marco me busque.
_ Não, assim que receber alta vai para casa dele.
_ SAIA.
_Filha.
_ SAIA MAMÃE, SAIA.
Ela nunca tinha gritado com a sua mãe ou seu pai, mas estava com raiv@, primeiro a venderam como vendiam as mercadorias do mercado e seu noivo a comprou da mesma forma que comprava seus gados. Sua mãe usou de sua tristeza para faze-la assinar os documentos a enganando mais uma vez. E para pi0rar não fazia ideia de como aquele homem iria trata-la, ainda mais quando se negasse a dormir com ele.
Sua irmã ainda tentou passar a noite com ela, mas Laura a expulsou, nesse momento se sentia sozinha, mesmo que aceitasse a companhia de qualquer familiar a solidão estava lá.
Depois que a enfermeira lhe aplicou a medicação da noite, ela se sentiu sonolenta, nas ultimas noites só conseguia dormir a base de remédio. Em sua sonolência escutou vozes no quarto e sua mãe recriminado alguém.
_ Ela é minha mulher, não vou sair.
_ No papel, ela está inconsciente e eu estou lhe pedindo para sair.
Marco se sentiu irado quando a mãe de Laura o expulsou do quarto para que a vestissem. Saiu porque desejav.a manter um diálogo civilizado e em toda sua vida nunca tinha usado a força física contra uma mulher. Havia jurado para sua mãe no leito de m0rte dela que nunca agrediria alguém do s**o feminino e a sogra tinha o poder de lhe tirar do sério com poucos minutos que ficavam juntos. Precisava manter a calma, por esse motivo havia decidido levar Laura desacordada, assim não teria que lidar com os gritos histéricos dela durante o caminho, iam de avião e poderia deita-la sem grandes problemas.