Contando

780 Words
Maya vestiu a camisola e caminhou hesitante em direção ao quarto da mãe. Seu coração batia descompassado e ela sentia um nó se formar na sua garganta. Estava tremendo não só pelo frio que sentia, mas principalmente pelo medo que a consumia. Ela temia a reação da mãe ao descobrir sobre Anésio, sabendo que poderia ser uma explosão de raiva e decepção. Ao chegar à porta do quarto da mãe, Maya respirou fundo, tentando reunir coragem para enfrentar a conversa que sabia ser inevitável. Ela sabia que não podia esconder a verdade por muito tempo e que era melhor ser honesta desde o início, por mais difícil que fosse. Com as mãos trêmulas, bateu à porta e esperou, o som surgiu no corredor silencioso. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto aguardava uma resposta. Finalmente, a voz da mãe respondeu, convidando-a a entrar. Com passos vacilantes, Maya abriu a porta e entrou no quarto, encontrando sua mãe sentada à mesa, lendo um livro. Ela engoliu em seco, tentando encontrar as palavras certas para começar a conversa. Sabia que não havia jeito fácil de contar, mas precisava fazer isso. __ Mãe...__ começou Maya, sua voz falhando um pouco de nervosismo. __ Eu preciso te contar sobre Anésio….. Não brigue comigo, por favor! — Foi ele quem trouxe você em casa? — Foi.. Eu não quero desapontar senhora. – Quem é ele Maya Yuni? A mãe só usava o nome completo quando estava com raiva. – Eu o conheci na escola.. Ele me ajuda com os trabalhos e conteúdo. – Está proibida de conversar com ele. – Não posso, mamãe, por favor! Eu gosto dele. – Está ficando com esse rapaz? — Namorando, ele me pediu em namoro e eu aceitei. – Quer terminar como eu? Com dois filhos, sozinha sendo obrigada a trabalhar até a exaustão.. – Eu sinto muito, mamãe que eu e o meu irmão sejamos culpados da sua infelicidade e do seu trabalho exaustivo, eu sinto muito. Eu faço o que eu posso para ajudar, eu até quis ir para uma escola com menos disciplinas, assim posso ajudar mais em casa, quis encontrar um trabalho para comprar ao menos as minhas coisas. A senhora não permitiu. — Você precisa estudar para ter um bom trabalho, mas ao invés de estudar, está namorando nos corredores da escola, quer arrumar uma barriga? – Não, não estou. Eu juro, que não estou, mas gosto dele. Não vou engravidar, eu juro. – Também disse isso a minha mãe, e fiz a besteira de não usar camisinh@, foi assim que nasceu. — Eu sei, mas não sou a senhora.. Cicera levantou a mão para bat£r no rosto dela, mas parou. - Conversamos amanhã.. Maya — Ele vem falar com a senhora, amanhã. – Não o quero em minha casa.. – Eu sei, acho que nem me queria em casa, e não queria o meu irmão também, falei para Anésio isso, mas ele disse que vem assim mesmo. – Eu amo você, minha filha, não diga que não a quero em casa. – Eu também a amo, mamãe, sempre a obedeci, mas quero poder namorá-lo. — Vá para o seu quarto, ainda preciso trabalhar no computador. A mãe dormia pouco, porque sempre fazia horas extras. Cicera chorou, o medo tomou conta dela, se a filha engravidasse e fosse abandonada, seria mais uma boca para sustentar, e aí assim, o dinheiro seria pouco, teriam que se mudar para uma casa ainda mais simples, e não daria conta de pagar escola, médico e comida de qualidade, hoje já fazia com sacrifício. Ela chorou muito, não queria que o pesadelo se repetisse, não queria. Ela passou a mão na barriga, tinha retirado o útero, depois do parto do último filho, porque não queria correr mais riscos. Ela nem sabia como o filho se chamava, ela pagou um advogado, para fazer o registro, deixou Maya escolher o nome. E na creche o chamavam de bebê, e o pai do filho tinha dinheiro, mesmo assim não assumiu. Na verdade, Cícera queria colocar o menino para adoção, não colocou, porque Maya se agarrou e gritou que não era justo, que não era justo, não poder conviver com o irmão.Ficou como bebê, mas algo tinha morrido, sabia que precisava fazer terapia, mas ou fazia terapia, ou pagava as coisas que os filhos precisavam. Enxugou as lágrimas, às vezes queria chorar até a exaustão, mas não tinha tempo, nem mesmo para chorar, a dor estava lá, mas não tinha tempo pra viver a sua dor. Maya nasceu quando ela tinha treze anos, agora, ela tinha somente vinte oito anos e corria risco de ser avó, avó. Devia ter abortado a filha, isso sim.
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