Ficar nesse hospital é puro tédio. Preciso voltar pra boca e ver o que tá rolando lá. Mas ninguém deixa.
Ainda tem uma p**a de uma enfermeira que só me machuca.
- Cadê minha doutora bonita?
- Ela tá com outros pacientes. - respondeu puxando meus curativos.
Ela não tem dó.
- Porque ela só vem aqui um instante e vai embora?
- Porque o trabalho dela é assim. E ela tem muitos pacientes pra cuidar. Mas não fica chateado não. Ela veio ontem e vai vir hoje de novo. Daqui a pouco ela aparece. - ela sorriu.
- Ela tem namorado?
Ela sorriu de novo.
- Bom... Ela é nova aqui. Não a conheço bem. Mas acho que não. Pelo menos ainda. - ela me olhou com uma cara suspeita.
- Porquê?
- Segredo nosso. Não conta pra ninguém. - ela falou baixinho dando uma olhada pra porta fechada. - Tem um médico aqui, Doutor Renan. Ele é mais velho, e é até casado. Mas só vive de olho dela. Você precisa ver.
- E ela? - ergui a sobrancelha.
- Ela é muito ingênua pra perceber. Aquela menina é um doce. - ela balançou a cabeça em negação. - Mas quem sabe né? Tem cara de Santa mas ninguém sabe o coração. Vai que gosta de homem casado... - deu de ombros.
Duvido.
- Você é muito fofoqueira né? Nunca se meteu em encrenca com isso não? - franzi o cenho.
- Eu? Magina. Só tô comentando.
Algum tempo depois que ela se foi a minha doutora apareceu. Tinha um técnico de enfermagem no meu quarto e eu sinalizei pra ele sair.
- Minha doutora preferida. Finalmente. - sentei na cama sorrindo.
Ela ficou sem graça.
A mulher só anda bonita. Meu Deus.
- Só te atendi uma vez e já sou a preferida? - ela fechou a porta sorrindo.
- Não tem outra como você aqui. - sorri.
Ela pegou meu prontuário e ficou olhando. - Então, como vai?
- Melhor agora e você?
- Tô bem também. - ela continuou olhando o prontuário.
- Achei que você viria ontem a noite me ver... - aproveitei a deixa pra dar umas flertadas.
- Só posso visitar uma vez cada paciente.
- Tô ficando com ciúmes disso viu.
Ela ficou sem jeito de novo e riu.
- Você é assim com todo mundo? - deixou o prontuário encima de uma mesinha.
- Não. Só com quem eu me apaixono.
- dei um sorriso m*l intencionado.
- Uou. Você não perde tempo. - ela ficou de novo sem graça e começou a fazer as coisas na minha perna.
Sério, ela é muito atraente. Tem uma cara de gente tranquila. E é tranquila.
Quero provar um pouco dela.
- Você tem namorado?
Ela tava de cabeça baixa mexendo na minha perna e como se tivesse distraída, de repente levantou a cabeça. - Oi?
- Já tentei te stalkear por esse hospital, mas parece que ninguém sabe me responder isso. Você tem namorado?
Ela ficou vermelha.
- Não. - falou baixinho e voltou a atenção pra minha perna.
- Ótimo. - sorri.
- Porque ótimo?
- Porque você não tem desculpa pra me rejeitar.
Pelo menos até descobrir sobre minha vida.
Ela balançou a cabeça em negação sorrindo.
- Você não tem jeito né?
- O único jeito é tu aceitar vir me visitar de noite. Eu não sou de desistir fácil, tá?
- Não posso. - falou a capricho.
- Mas quer. - mexi minha sobrancelha e ela abaixou a cabeça balançando de novo com um sorriso engraçado no rosto.
Antes que ela falasse alguma coisa minha irmã entrou na sala.
- Oiiiiii feioso. - ela veio até mim.
- Eaí feiosa? - ela me deu um abraço de lado.
- Como cê tá? - beijou minha cabeça.
- Tô querendo ir embora. Dor da p***a nessa perna. Ainda bem que tenho essa doutora pra cuidar de mim. Aliás, Essa é minha irmã doutora, Brena.
Ela olhou pra Brenda e sorriu dando um oi.
- E essa aí, Brenda, é minha futura namorada. Doutora Gabriela. - já falei pra ela ficar esperta.
A doutora arregalou os olhos vermelha.
- Se assusta não. Ele é assim todo dia. - minha irmã falou a ela rindo. - Que dia tu volta pra casa?
- Não sei. Vão fazer uma cirurgia na minha perna. Tá quebrada.
- Mas volta logo?
Ela tava esquisita.
- Sim, porque?
- Tamo precisando de você lá. As coisa tão meia fora do trilho...
Eu sabia...
- Fala pro Davi vir cá. Pra eu trocar umas ideia com ele.
- Tá bom. Mas esse é o problema mesmo.
- Como assim? - comecei a esquentar.
Ela olhou pra doutora como se tivesse sem querer falar isso na frente dela.
Mas fazer o quê? Quando eu tô com problema nem ligo pra quem tá por perto.
- Ele tá torrando tudo na boca.
- Como assim Brenda? - minha cabeça começou a esquentar.
- Ele disse que como cê não tá lá o lucro é todo dele. Que ele é o chefe agora.
Eu dei uma gargalhada.
Esse cara tá querendo morrer mesmo.
- Cê tá zuano né?
- Não. Ele disse isso pra mim. Quando fui lá ver como as coisa tava. Ele falou que eu não sei de nada.
- Fala pra ele que o pé dele tá na cova. Se ele não passar tudo pra você a coisa vai ficar preta quando eu voltar. - passei o recado bem irritado.
- Tá bom.
- Bom, já terminei por aqui. - a doutora levantou guardando as coisas que tava usando.
- Já, meu bem? - sorri e ela ficou sorrindo sem jeito.
- Ele não vai parar. - minha irmã avisou rindo.
- Percebi. - ela abriu a porta. - Foi um prazer Brenda. Tchau pra os dois. - saiu do quarto.
Essa doutora vai ver quando eu pegar ela de jeito...
- Deixa a coitada em paz. Você sabe o problema que deixou lá no morro. - revirou os olhos sentando na poltrona.
- Que problema?
- A Ranyelle, é claro. Garota chata dos infernos! Toda hora vai perguntar onde é o hospital que você tá.
- Ela é minha namorada. Cê quer o quê?
- Você nem sabe escolher mulher velho... Eu odeio ela.
- Não tenho culpa se ela já te encheu de tapa na escola. Cê sabe que são negócios.
- Não vai mais ser se o Davi tomar o seu lado do morro.
- Davi tá morto Brenda. É só eu sair daqui e ele não parar de gracinha. Eu mato ele. Pode anotar.