12 Arcanjo

1809 Words
Arcanjo Narrando O calor da favela fazia o suor escorrer pelo meu rosto, mas eu m*l sentia. Meu olhar tava fixo na tela do celular do Guga, que tinha acabado de abrir uma chamada de vídeo. Ali, no canto da tela, ela apareceu: loira, olhos verdes que parecia a p***a do mar, e um sorriso de canto que derrubaria qualquer malandro. Quase deixei o copo cair da mão. Que p***a era aquela? Parecia uma miragem. — Letícia, qual é o nome dela? — perguntei, me inclinando pra tentar ouvir melhor a conversa. — Eitaaaa — Ela riu, mas manteve os olhos na tela. — Peraí que eu vou te ajudar. Eu tava nervoso, mano, com o coração acelerado como se fosse cair numa treta pesada. Mas era outro tipo de adrenalina. Não era medo. Era desejo, vontade de chegar na garota e ouvir a voz dela falando comigo, nem que fosse só pra me dar um fora. Fiquei quieto, só observando, enquanto Letícia se aproximava mais da tela e chamava a atenção dela. — Ô, amiga! — Letícia chamou, e eu vi que a loira ergueu os olhos verdes brilhantes do celular. — O amigo do Guga quer falar contigo. A mina franziu a testa, fechando os olhos como se tivesse tentando entender o rolê. Logo depois, ela deu uma risadinha discreta e abaixou o volume do celular, falando baixinho com Letícia, mas eu ouvi tudo, mano. Ouvi cada palavra. — Ele é bandido, né? — ela sussurrou. Meu peito queimou, como se ela tivesse me dado um soco no meio das costelas. Pior foi o que veio depois, quando Letícia riu e confirmou, sem nem pensar duas vezes: — É, ué. E foi aí que ela cravou a facada. A menina nem olhou pra câmera. Nem piscou na minha direção. Continuou mexendo no celular como se nada tivesse acontecido, toda desinteressada. Letícia, vendo que não ia rolar, virou o celular de volta e — Já viu, né, Guga? Tô ocupada aqui com a minha amiga. Beijo, tchau. — Ela desligou e largou o celular na mesa como se tivesse acabado de resolver um problema simples. Eu fiquei ali, em pé, tentando engolir o que tinha acabado de acontecer. Minha mente girava, e a sensação de frustração subia pela garganta como bile amarga. Virei pra Letícia, apontando pro celular dela. — c*****o, tu viu a mina, viado? Que isso, p***a! Loira, linda, parece uma Barbie, mano! Que bagulho surreal! Ele riu, debochando, como se tivesse achando graça do meu desespero. — Calma, Arcanjo! Tu nem sabe o nome da garota e já tá aí parecendo um o****o. Bom, né? — Ah, vai se f***r Guga! E de quem é a culpa, p***a? Tava na mão da tua mina, era só passar meu papo! — rebati, esbravejando. — Essa mina ai é a mesma que teve aqui no pagode e foi embora correndo. Papo reto? Ela nem deu confiança. E, cá entre nós, tá certa. Tu é tudo o que ela não quer, Arcanjo. Bandido, enrolado, cheio de treta. Essa mina ai é maior riquinha mano, maior pose pô. Ela não vai querer nada com você mesmo não meu parceiro. As palavras dele me cortaram mais do que qualquer faca. Eu sabia que era verdade, mas ouvir aquilo na cara fazia parecer pior. Me afundei no sofá, respirando pesado, tentando entender o que me atraía tanto naquela mina. Era só beleza? Era mais? Não sabia. Só sabia que precisava encontrar um jeito de falar com ela de novo. Eu peguei o celular do Guga e mandei msg escrita pra Leticia — Fala tu Leticia, tu não vai me ajudar? Beleza. Mas me diz o nome dela pelo menos. A Leticia demorou um pouco, mas respondeu — Não sei, não. Vai que tu mete o nome dela no meio das tuas tretas? A minha amiga é outra vibe Arcanjo. Ela não é dessas que tu conhece ai do morro não. — Paz? — Dei uma risada seca, cheia de ironia. — Ela me tirou a paz, p***a! Só de aparecer na p***a daquela chamada, bagunçou minha cabeça toda. Guga olhou pra mim como se eu fosse um caso perdido, mas não falou mais nada, ele só fumava e ria. Eu não conseguia tirar a imagem da Lívia da cabeça. Aqueles olhos verdes, mano. Pareciam atravessar minha alma. Nunca tinha sentido algo assim antes. Era como se a garota tivesse me colocado num feitiço sem nem ao menos tentar. Me levantei de repente, cheio de energia e mandei outro audio pra ela — Se liga, Leticia. Tu vai me ajudar, sim. Cê vai fazer outra chamada com ela e falar que eu sou diferente, que não sou só um bandido qualquer. — p**a que pariu, Arcanjo! — Ela respondeu — Tu tá muito iludido, mano. Acorda. — Iludido? Não, tô obstinado, tá ligado? Eu vou falar com essa mina de novo, nem que eu tenha que virar o mundo de cabeça pra baixo. Ela riu, mas deu pra ver que era um riso cansado, como quem já tava sem paciência. — Vai lá, então. Boa sorte. Só não me mete no meio quando tu levar um pé na b***a. Voltei a sentar, batendo os dedos na mesa. Não conseguia relaxar. Cada vez que fechava os olhos, era o rosto dela que aparecia, como se tivesse sido gravado na minha memória. — Ela é f**a! f**a. Nunca vi uma mina assim, c*****o. Eu to maluco Guga, eu preciso ver essa mulher de perto, eu não vou dormir. — E nunca vai ver, se continuar nessa nóia. — Guga enficou a pizza na boca. — Esquece, Arcanjo. Não é pra tu. Mas esquecer? Nem ferrando. Eu era Arcanjo. Se tinha uma coisa que eu sabia fazer, era conseguir o que eu queria. enquanto eu tava sentado no sofá, com a cabeça fervendo, tentando bolar um plano. Mas minha paciência tava no limite. — Ô, Guga, já abre logo esse i********: da Letícia aí, p***a! — falei, batendo a mão no braço dele. Ele, como sempre, tava rindo da minha cara. Achava graça da minha "agonia". Desgraçado. — Calma, Arcanjo! Já disse que vou abrir, mano. Só não fica babando, porque a Letícia vai sacar, e eu que vou me f***r. — Ele desbloqueou o celular e abriu o aplicativo. Quando ele clicou no perfil da Letícia, meu coração acelerou. Como se eu estivesse entrando numa operação pesada, mas era só a chance de ver a mina de novo, nem que fosse por foto. Ele deslizou o dedo pela tela, passando por várias fotos dela e da galera. Foi aí que, de repente, eu vi. — Volta! — gritei. — p***a, volta nessa foto aí! Era ela. Lívia. Tava lá, no canto da imagem, com aquele sorriso que parecia tirado de uma revista. De cabelo solto, vestido branco, um drink na mão. Parecia um raio de luz no meio daquele bar lotado. — Tá maluco, né? — Guga balançou a cabeça. — Olha pra tu, cara, parecendo um moleque que nunca viu mulher bonita. — Cala a boca, p***a! — retruquei, sem desviar o olhar da tela. — Deixa eu ver essa foto direito. Eu ampliava a imagem, como se pudesse enxergar cada detalhe dela. A forma como o cabelo caía no ombro, aquele sorriso meio tímido, mas encantador. O jeito que ela segurava o copo, como se estivesse no controle de tudo ao redor. — c*****o, Guga, ela é perfeita, mano. Eu nunca vi nada assim. Parece até que nem é desse mundo. — Relaxa, parceiro. Nem adianta ficar nessa vibe aí. Essa mina é de outro rolê, já falei. Ignorei os comentários do Guga e continuei encarando a foto. Foi então que tive a ideia. — Deixa eu fuçar o i********: dela. Qual é o user? — Tá achando que eu sou dedo-duro, Arcanjo? Não vou te dar moleza, não. — Ele riu e me empurrou de leve. — Vai se f***r, Guga! — agarrei o celular da mão dele. Ele tentou resistir, mas eu tava decidido. Desci a página, procurando alguma marcação dela. Não demorou muito pra achar. Lá tava o @ dela marcado numa legenda. Cliquei rápido, antes que ele tomasse o celular de volta. — Tá trancado o perfil. — Suspirei alto, frustrado. — Essa mina só quer dificultar minha vida, c*****o. — Claro que tá trancado, né? — Guga gargalhou. — Mina de responsa não deixa qualquer o****o fuçar as coisas dela. Dei uma encarada nele, mas logo voltei minha atenção pro perfil. A foto de perfil era uma imagem dela num fundo ensolarado. Mesmo em miniatura, dava pra ver a beleza. Embaixo do nome dela tinha o user de uma loja. — Que isso aqui? — apontei. — Ah, parece que ela tem uma lojinha ou algo assim. Sei lá, mano. — Guga deu de ombros. — Tu tá muito investigativo, hein? Tá parecendo aqueles stalker. Nem liguei pro deboche. Cliquei no perfil da loja e comecei a fuçar. Era um monte de foto de roupa, mas a Lívia aparecia em algumas. Ela modelava as peças, sempre com aquele sorriso calmo e confiante. — c*****o, Guga, olha isso! Essa mina é f**a demais. — Tu tá é obcecado, isso sim. — Ele se jogou no sofá, acendendo um cigarro. — Mas fala aí, qual o plano agora, Sherlock? — Plano? Vou comprar tudo dessa loja só pra ter um motivo pra falar com ela. — Hahahaha! Vai lá, Arcanjo, enche a lojinha dela de pedidos. Vai ser engraçado te ver usando blusinha cropped. — Vai se f***r, Guga. — Dei um soco no braço dele. — Eu to falando sério, mano. Essa mina bagunçou minha mente de um jeito que nenhuma outra fez. Ele me olhou com uma expressão misturada de pena e deboche. — Cê tá mesmo nessa nóia? Beleza, mas lembra: ela não quer papo contigo. Tu ouviu ela falar, Arcanjo. Bandido ela não quer nem saber. — f**a-se o que ela disse! — retruquei, cerrando os punhos. — Eu não vou desistir só porque ela tem preconceito. Eu sei o que eu quero, e eu quero essa mina. — Tá bom, maluco. Boa sorte aí. Só não vem chorar no meu colo depois, hein? Me levantei, cheio de energia, e comecei a andar de um lado pro outro. Minha mente fervilhava com ideias de como me aproximar dela. Eu precisava bolar um plano, algo que mostrasse que eu não era só mais um cara do morro. Algo que provasse que eu era diferente. Enquanto isso, Guga continuava rindo da minha cara, achando graça da situação. Mas eu tava pouco me fodendo pro que ele pensava. Meu foco era Lívia, e eu não ia descansar até conseguir falar com ela de novo. Nem que pra isso eu tivesse que virar o mundo de cabeça pra baixo.
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