Capítulo 4

2075 Words
Quantas e quantas vezes eu digitei aquelas mensagens e em seguida as apaguei? Eu já tinha perdido a conta. Por um lado, eu achava meio infantil terminar tudo por meio de uma mensagem de texto. Mas por outro lado... quem se importa? Max com certeza não se importava. Já era minha segunda noite em Chicago e ele sequer mandou um olá para saber como eu estava. Não que ele fizesse isso muitas vezes. Geralmente fazia nos finais de semana ou quando ficávamos muito tempo sem nos encontrar, e em todas as vezes vinha acompanhado de um pedido para nos encontrarmos. Não é como se ele estivesse mesmo interessado em saber como eu estava. Então para que pensar no certo e errado? Eu deveria mesmo enviar essa droga de mensagem. —Não acredito no que meus olhos estão vendo. Eu ergui a cabeça ao ouvir a voz já conhecida por mim, franzindo a testa ao ver o belo homem parado à minha frente. Eu não podia negar que, embora intragável, Damarion era um belíssimo homem. Alto, com olhos tão negros quanto os cabelos. —Damarion Bradley! Que surpresa. —Não tanto quanto a minha. Não sabia que estava em Chicago. Eu arqueei a sobrancelha antes que conseguisse evitar. E por que diabos ele saberia se eu estava ou não ali? Não somos amigos e posso dizer que no máximo temos uma boa convivência por causa do trabalho. Damarion não era uma pessoa fácil de lidar, mas felizmente tínhamos Max que parecia saber muito bem como deixa-lo menos insuportável. —Eu posso me sentar? Ou está esperando alguém? —Não. Não estou esperando nada além do meu jantar. Sente-se, por favor. Eu me obriguei a dizer, apesar de minha vontade ser de pedir para que se fosse. Eu não estava com um humor agradável para conversar com ninguém. Só queria mesmo meu jantar e subir para o meu quarto, ansiando pelo dia de amanhã quando eu finalmente ia voltar para Nova York. Pensando bem, seria bem melhor ter pedido o jantar em meu quarto em vez de vir para o restaurante do hotel. —Com licença. Ele falou puxando a cadeira e se sentando à minha frente. —Devo deduzir que veio a pedido de Maisy para acompanhar de perto a nova filial? —Sim, apesar de não entender o motivo de ter me escolhido. Não é exatamente minha função. —Porque ela confia em você. Sabe que é uma funcionária maravilhosa. Espetacular eu diria. Eu fiquei o encarando por um longo tempo, enquanto ele observava o cardápio. Realmente muito sexy e bonito. E tão chato quanto. Estava sempre insatisfeito e reclamando de tudo. Por isso minha surpresa diante de suas palavras. Ao perceber meu silêncio ele ergueu os olhos para mim. Eu conhecia pouquíssimas pessoas com olhos tão pretos. E eram realmente bonitos. —O que? Você parece chocada com minhas palavras. —E estou. Você, na maioria das vezes parece insatisfeito com tudo. Falei sentindo meu rosto aquecido ao admitir o que pensava a respeito dele. Entretanto Damarion riu, colocando o cardápio do lado e fazendo o pedido ao garçom que tinha acabado de se aproximar. Depois cruzou as mãos sobre a mesa, atirando seu olhar diretamente no meu. —Eu sei que sou intragável e intolerante na maioria das vezes. É meu jeito sabe? Acho que por ter tido que tomar a frente nos negócios da minha família muito cedo, tomar conta de minha mãe e meu irmão acabou me endurecendo um pouco. Mas garanto a você que consigo relaxar nos finais de semana. Eu ri, mas me inclinei um pouco para frente, interessada em sua história. —O que houve para ter que assumir os negócios e cuidar da sua família? —Meu pai foi um... — Ele balançou a cabeça, talvez procurando pela palavra ideal. — Um cabeça de vento. Gostava de jogos, bebidas e mulheres. Quase deixou a empresa herdada ir à falência por causa disso. Eu ainda estava cursando medicina quando precisei me afastar para assumir o controle de tudo. Então, tanto trabalho aliado ao meu desgosto por ter abandonado meu sonho acabou me transformando nisso. —Uau. Medicina? Nunca poderia imaginar. —Sim. Parece inacreditável para alguém tão intragável quanto eu. Não é a imagem que se espera de um médico. —Isso foi há quantos anos? —Há oito anos. —E você nunca pensou em voltar a fazer o curso? Ele deu um sorriso triste e remexeu na toalha da mesa. —Acho que não tenho mais paciência para frequentar uma faculdade. Nem mesmo sei se ainda quero fazer medicina. Damarion se revelou uma agradável surpresa e uma excelente companhia. Conversamos sobre os mais variados assuntos, até mesmo sobre sua mãe depressiva e o irmão que por pouco não seguiu os mesmos passos do pai. Percebi que nossas famílias tinham uma história quase parecida, já que meu pai, apesar de nunca ter sido adepto de jogos de azar e muito menos de bebidas, era um notório mulherengo. Mas ao contrário da mãe de Damarion, minha mãe Ruby não se deixou abalar e foi viver a vida, apesar de não se separar do meu pai. Só agora eu parei para pensar em como ela ficaria triste comigo ao saber que eu estava sujeitando meu coração a um romance sem futuro. Ou melhor, um romance somente em minha cabeça, já que essa palavra não fazia parte do vocabulário de Max. —Sua mãe deve ser uma mulher formidável. Quem dera se ela e minha mãe se conhecessem. Quem sabe não seria um incentivo para que ela saísse da vida depressiva que leva? —Quem sabe, não é? É impossível se sentir só ou mesmo depressiva quando minha mãe está por perto. Ela é um poço de energia. Damarion sorria, e eu diria até meio sonhador, como se já imaginasse nossas mães se conhecendo e a minha ajudando a livrar a dele da depressão. Percebi duas coisas nesse momento. Que Damarion era um homem inteligente, divertido e sensível, além de lindo. E percebi também que sentia falta da minha mãe. Talvez fosse o momento de tirar alguns dias de férias e ir para Sydney visita-la. *** — Como estão as coisa por aqui? Perguntei a Paul dois dias depois de meu jantar com Damarion em Chicago. Porém não foi a última vez em que o vi, já que no dia seguinte tomamos o café da manhã juntos e só não almoçamos pois embarquei no voo das onze da manhã. Como sugerido por Maisy ao me ligar antes de sair de Chicago, não fui para o trabalho e tirei o resto do dia de folga, voltando às minhas atividades hoje. Admito que nesses dias, ou melhor, depois de ter encontrado Damarion eu pensei menos em Max. Mas bastou estar de volta para meu corpo reconhecer o lugar. Bastava estar na mesma cidade que ele para todo o meu emocional ficar abalado. Eu ainda não o tinha visto, afinal eu tinha chegado há menos de meia hora, mas já ansiava por vê-lo. Eu precisava colocar um ponto final em nossa história, ainda que o simples pensamento de fazer isso acontecer estivesse me rasgando por dentro. —Tudo tranquilo, felizmente. Não sei se você quer ouvir isso, mas trabalhar com Ninna York foi uma agradável surpresa. Eu pensei que ela fosse uma daquelas modelos exigentes e intragáveis, mas ela é bastante simpática e educada. —Hum... que ótimo. —Maisy e Max a tem acompanhado e parece que tudo termina hoje. —Tão rápido assim? Perguntei arregalando meus olhos. Mas ainda sentia a pontada em meu peito ao saber que Max acompanhou Ninna durante esses três dias. —Como eu disse, é fácil trabalhar com ela. Mas parece que Maisy, ela e Max ficarão fora o dia todo, portanto, querida, temos muito trabalho. Ele falou se levantando e seguindo até a porta, mas parou em seguida, e me encarou. —E você, como está? Eu digo... em relação a esse coração? —Destroçada, não posso mentir. Mas estou convencida de que é melhor sofrer agora do que depois, não é? A merda já está feita mesmo. —Você ainda vai encontrar alguém que merece esse coração, Amber. —Por falar em encontrar, sabe quem encontrei lá? Damarion Bradley. Ele fez uma careta e em seguida levou o dedo à boca, numa sugestão de que queria vomitar. —Eu descobri que temos uma impressão muito errada a respeito dele. Ele é agradável, simpático e divertido. Paul arqueou a sobrancelha e se aproximou de novo, se sentando à minha frente. —Estamos falando do mesmo Damarion? Eu contei a ele sobre nosso jantar e o café da manhã, além de alguns trechos de nossas conversas, omitindo obviamente sua vida particular. E nem sei por que, omiti também a respeito do leve beijo nos lábios que ele me deu ao nos despedirmos, além da promessa de nos encontrarmos qualquer dia para um novo jantar. —Uau... quer dizer então que o sapo é um príncipe? —Não chega a tanto, mas ele é uma boa companhia. —Ótimo. —Ele se levantou depois de dar um tapinha em minha mão. —Quem sabe ele não possa ser um candidato a curar esse coração? Eu ri e rolei meus olhos. Eu nem tinha saído de um caso s****l e já ia pensar em outro? Eu não era tão masoquista assim. —Vá trabalhar, Paul. Eu tentaria fazer o mesmo, apesar de meu coração insistir em bater fora do compasso a todo instante que alguém entrava em minha sala, mas nunca era Max. Eu não o vi durante todo o dia e ao final do expediente eu me sentia mais arrasada do que antes, se é que isso era possível.  Eu entrei em casa quase me arrastando, mas foi como se recebesse uma explosão de adrenalina ao ver quem estava sentado confortavelmente em meu sofá. —Max... o que... como entrou aqui? Ele arqueou a sobrancelha e se levantou, aquele corpo espetacular tirando completamente minha concentração. —Você me deu uma chave, já se esqueceu disso? —Não, mas você nunca fez questão de usar. —Esquecimento. Mas hoje eu estava ansioso para te ver e não consegui ficar em casa esperando. —Em casa? Você estava em casa? Ele já estava bem próximo a mim, então assim pude perceber claramente como ele titubeou ao responder. —Sim. Estava... em casa. —Ah... Eu falei e me afastei no momento em que ele esticou a mão para me puxar para perto de seu corpo. Ele estava com ela! Eu sentia o perfume. Não foi ela mesma que declarou certa vez que adorava a fragrância de maça do Nina Ricci? Pois bem, eu também adorava... e reconhecia o cheiro. —Não devia ter vindo sem avisar, Max. —Eu me obriguei a dizer, sentindo minhas entranhas se revirando. —Estou cansada e só quero ir para cama, dormir... sozinha. —Você só pode estar brincando comigo. Ele parecia ultrajado, mas não me dei ao trabalho de me virar para o encarar. —Tranque a porta ao sair, por favor. Eu me afastei em direção ao quarto. Daria um jeito de pegar a chave com ele depois. Tirei minhas roupas e segui direto para o banheiro, sabendo que Max não ousaria me seguir. Ele não recebia muito bem uma negativa e provavelmente ja teria ido, batendo a porta. Debaixo da ducha, eu baixei minha cabeça e fechei os olhos. Eu me sentia tão fodida emocionalmente que sequer encontrei lágrimas para desafogar a dor em meu peito. Ainda não foi agora, mas seria mais tarde. Eu enviaria uma mensagem de texto e diria que não deveríamos mais nos encontrar. Eu ainda organizava as palavras em minha mente quando a porta do box foi aberta e eu me virei assustada. Meu coração deu um salto ao ver a nudez gloriosa de Max. —Que susto, Max. Eu pensei que tivesse ido embora. —Mas eu não fui. Antes que eu conseguisse protestar, ele me puxou para os seus braços, impedindo qualquer tentativa de o repudiar. E mesmo se eu quisesse, eu não conseguiria. Eu joguei meus braços em volta do seu pescoço e correspondi ao seu beijo lascivo. Suas mãos grandes e fortes se fecharam sobre meus s***s e seu gemido ecoou pelo banheiro. Era uma despedida. Só uma. Era uma promessa que eu me fazia agora. Depois disso, só o fim.
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