Eu sentia um gosto amargo na boca, uma reviravolta estranha em meu estômago e uma vontade absurda de desaparecer por alguns dias. Contrariando o que eu geralmente fazia, acordei mais cedo que o normal, me esforçando para fazer o mínimo de barulho possível e me arrumei para o trabalho. Eu me obriguei a não olhar para Max deitado em minha cama. Ele estava profundamente adormecido, o que era novidade, afinal ele sempre acordava quando eu saía da cama. Mas isso não era de se estranhar, já que ele acordou às quatro da manhã e fizemos sexo novamente.
Depois de me arrumar, eu apenas rabisquei um bilhete, pedindo para que trancasse a porta e deixasse a chave na portaria. Não sei o que ele ia pensar dessa minha atitude, mas para ser bem sincera, eu não estava me preocupando com isso. Estava chateada demais para pensar em qualquer outra coisa. E estava chateada comigo mesma, por ter me deixado levar pela paixão por ele.
Eu queria odiá-lo pelas coisas que me disse, mas não podia. Aliás, podia sim. Eu o odiava um pouco hoje. Mas não mais que a mim mesma. Eu sabia que não éramos nada além de amantes, mas sei também que ele não precisava ter sido tão grosseiro ao falar comigo. E pensar nisso só me trouxe uma coisa à mente: nosso tempo juntos estava acabando. Será que era por não ser mais novidade para ele? Ou era por Ninna?
—Não está com uma cara muito boa hoje. Bom dia.
Paul falou ao meu lado e só então me dei conta de que já estava no trabalho, caminhando pelo corredor em direção à minha sala.
—Bom dia Paul. Só não dormi muito bem essa noite.
—Seu café preferido e logo estará bem.
Eu sorri e acenei positivamente para ele. Paul sempre fazia questão de levar meu café pois assim podíamos jogar conversa fora enquanto ele também apreciava a bebida em minha sala.
—Só aconselho a ser rápida. Maisy a espera na sala dela.
—Mas já?
—Sim. E já vou adiantando que não estava com uma cara muito boa.
—Então esqueça o café
—Podemos almoçar juntos, o que acha?
—Ótima ideia. Combinamos depois.
Entrei apressadamente em minha sala, apenas tirando meu casaco e colocando minha bolsa sobre a mesa. Em seguida sai da sala, dessa vez vendo que Emily estava em sua mesa. Eu acenei para ela e segui até a sala de Maisy. Dei duas batidas na porta e ao seu comando, abri a porta.
—Bom dia, Maisy.
—Bom dia, Amber. Como está?
—Ótima e você?
Perguntei cautelosamente, me sentando quando ela fez um gesto em direção à cadeira. Pela expressão em seu rosto eu não diria que estava m*l-humorada e sim preocupada.
—A cabeça fervilhando, mas pelo menos vejo que as coisas estão começando a se ajeitar.
—Que bom. Queria falar comigo?
—Sim. Eu preciso que faça uma viagem. Serão apenas três dias e apesar de Eleanor ser bem competente, eu prefiro que seja você.
—Por mim tudo bem. Para onde e quando?
—Você viaja hoje a noite. Vou te dar as informações necessárias.
Durante quase trinta minutos eu ouvi Maisy falar sobre a filial em Chicago e as coisas que eu deveria fazer por lá. Aquilo me surpreendeu, admito, afinal não fazia parte de minhas atribuições aqui em Nova York. Mas quem sou eu para ir contra o que ela estava me pedindo?
—Então, se você quiser tirar o resto de dia de folga fique à vontade. Seu voo sairá às vinte horas.
—Não preciso de folga, Maisy. Pretendo adiantar meu serviço. Talvez eu apenas saia um pouco mais cedo para arrumar minha mala, mas não há necessidade de tirar o dia inteiro de folga.
A expressão um tanto aflita em seu rosto me deixou apreensiva e alerta. Era como se ela quisesse me afastar do trabalho hoje. E a conclusão disso me veio rápida demais. Ninna.
—Bem, você é quem sabe. Mas se preferir...
—Eu aviso a você. Mas e a questão da modelo? Ficou acertado com Ninna York?
Ela se remexeu parecendo desconfortável, mas disfarçou remexendo em uns papéis em sua mesa.
—Sim. Ontem mesmo Max ligou para ela. Estava livre então chega hoje mesmo para conversarmos.
Então já não havia mais dúvida de que Maisy queria mesmo me afastar para que eu não visse o casal. Surpreendentemente eu consegui dar um sorriso aberto e efusivo, mas por dentro eu me sentia estraçalhada.
—Que ótimo. Fico feliz que minha ideia tenha ajudado.
—Sempre ajuda, Amber. É uma grande felicidade ter você trabalhando comigo.
—Obrigada, Maisy. Eu também gosto muito de estar aqui. Bem, então vou para minha sala adiantar minhas coisas.
—Ótimo. Em breve Emily levará sua passagem.
Eu acenei e me levantei, saindo da sala e andando apressadamente. Eu sentia meus olhos marejados, mas mesmo assim ergui a cabeça e segui até minha sala. Eu me sentei e apoiei os cotovelos sobre a mesa, a cabeça entre minhas mãos enquanto fechava meus olhos com força para afugentar as lágrimas indesejadas.
E me perguntava se não seria melhor ir até a sala de Max e terminar tudo entre nós. Será que se o rompimento partisse de mim seria menos doloroso? Eu deveria pensar assim, mas sabia que não. Não importava de quem partisse a decisão, seria doloroso. Eu ainda não estava pronta para sair, mas sabia também que já não era uma decisão que estava em minhas mãos,
Durante as duas horas seguintes eu me entreguei ao trabalho, alheia ao que acontecia do lado de fora da minha sala. Nem mesmo Paul apareceu para jogar conversa fora. E o mais estranho ainda era Max não ter vindo tirar satisfação por eu o ter deixado dormindo. Provavelmente isso nem estava ocupando seus pensamentos já que Ninna logo estaria aqui.
—Com licença Amber?
Emily falou após bater e eu permitir sua entrada.
—Tem toda, Emi.
—Trouxe suas passagens.
—Obrigada.
Respondi pegando o envelope que ela me estendia.
—E Maximus chegou há uns quinze minutos e pediu para que fosse à sala dele quando puder.
Eu engoli seco. Não acreditava que seria o momento do confronto, pois Max, apesar de tudo não usaria o trabalho para resolver nossas questões pessoais.
—Ok. Já estou indo.
Estava morrendo de curiosidade para saber o que ele tinha a me dizer. Guardei o envelope na bolsa e pouco depois saía da minha sala seguindo até a sala de Max. Mas eu tinha dado poucos passos quando parei abruptamente. De pé em frente à porta de sua sala estava Max. E a frente dele, tocando seu rosto carinhosamente estava uma das mulheres mais lindas do mundo. Ninna York.
Meu coração disparou e mordi meus lábios com força, prendendo o soluço que ameaçava escapar pela minha boca. Nesse momento Max ergueu os olhos que se encontraram com os meus. Ele fez um gesto para que Ninna entrasse em sua sala, mas permaneceu parado me olhando.
—Podemos nos falar daqui a alguns minutos?
Perguntou com voz rouca e eu apenas assenti, dando as costas e voltando para minha sala. Eu esperaria alguns minutos para o ouvir dizer que estava tudo terminado. Porém, meu horário de almoço chegou e ele ainda estava trancado em sua sala... com ela.
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Eu ouvi um suspiro desanimado e em seguida a cadeira sendo arrastada. Logo o braço de Paul me envolvia e eu deixei minha cabeça cair em seu ombro. Meu almoço estava quase intocado à minha frente, mas eu não conseguia engolir.
—Odeio te ver assim, Amber. O que eu posso fazer por você? Exceto matar o Max porque ele é bem mais forte que eu.
Eu ri sem vontade, mas feliz por Paul estar comigo.
—A culpa é minha, Paul. Eu sempre soube que não havia nada de especial em nosso... caso. Como ele mesmo disse, somos apenas colegas que fodem. Eu deveria ter pulado fora quando percebi que estava me apaixonando. Porque eu percebi, Paul, mas mesmo assim continuei.
—É complicado, querida. Acho que no fundo você tinha esperança de o conquistar e fazer com que ele se apaixonasse.
—Talvez, mesmo que inconscientemente.
—E o que pretende fazer agora?
—Juntar meus cacos. Se ao menos você fosse homem.
—Ei! Eu sou homem.
Ele falou indignado e nós rimos.
—Só gosto das mesmas coisas que você. Aliás, nem sei. Às vezes fico em dúvida também. Não sei o que sou ainda.
—Já sentiu atração por mulheres?
—Sim. Tanto que você me atrai.
Eu ergui a cabeça para olhar no rosto de Paul. Ele passou os dois últimos dois meses lambendo suas feridas depois de terminar seu relacionamento tumultuado com Lewis. Mas até então nunca fez nenhuma insinuação de que também se sentia atraído por mulheres. Isso era realmente uma novidade.
—Mas não pense besteiras. —Deu um beijo na ponta do meu nariz. — O que sinto por você é... merda...
Ele tinha erguido a cabeça e a surpresa sufocou suas palavras. Eu segui a direção do seu olhar, vendo o momento exato em que Max puxava a cadeira para Ninna York. Seu olhar parou em mim por um mísero instante, mas por fim ele se sentou à frente dela, que imediatamente colocou as mãos sobre a dele. As coisas poderiam piorar para mim?