Capítulo 5

2056 Words
Eu acordei com o corpo dolorido, apesar da deliciosa sensação de saciedade. Mas eu não podia me deixar levar por esse sentimento. Era o momento de dar um basta naquela situação. Ontem à noite, após Max se jogar esgotado ao meu lado, eu me levantei para ir até a cozinha comer alguma coisa, já que meu estômago reclamava. Por ironia, meu olhar foi atraído para a camisa azul jogada no chão do quarto. Eu a peguei, olhando para o homem adormecido em minha cama. Eu queria apenas confirmar se era realmente o perfume preferido de Ninna York. Mas eu sequer cheguei a levar camisa ao rosto e meus olhos focalizaram a mancha de batom na camisa. O choro que até então eu vinha guardando finalmente deslizou pelo meu rosto. Eu deveria, naquele momento, ter acordado Max e o escorraçado da minha cama. Mas eu não estava em condições de brigar naquele momento. E principalmente, eu não queria dar a ele o gostinho de me ver chorando. Por isso eu me deitei novamente e tentei dormir, apesar de só o ter feito após as quatro da manhã. E era por isso que não percebi quando Max se levantou e se foi. Eu acordei sozinha e mais infeliz do que jamais estive. Mas estava decidida. Eu precisava seguir os bons exemplos de minha mãe. Eu me lembrei de suas palavras para mim quando ela confrontou meu pai quando soube da primeira traição. "Você pode estar sangrando por dentro, querida, mas jamais dê a um homem o poder de enfiar a adaga com mais força. Grite, chore, quebre tudo e se descabele..., mas longe dos olhos dele. Homem nenhum merece saber que é a causa de nossa dor. Isso só os torna mais fortes." Pois então era isso. Eu ia ficar frente a frente com Max e terminaria nosso caso. Já estava tudo planejado em minha mente. Antes de fazer isso, eu ia pedir alguns dias de férias a Maisy. Assim, eu poderia buscar o colo da minha mãe para tentar curar minhas feridas. Mas o destino estava decidido a brincar comigo. Assim que cheguei ao trabalho, eu soube que Max tinha viajado e só voltaria quatro dias depois. —O que a está deixando tão pensativa? Paul e eu estávamos almoçando, e apesar de toda minha apatia, meu apetite era voraz. Parecia que eu queria descontar na comida toda frustração e raiva que estava sentindo por Max. —Estou pensando se não deveria acabar logo com essa merda. Isso está me matando, Paul. Eu já deveria ter enviado uma mensagem para Max. —Eu concordo que deve dar um fim a isso. Mas acho que deve fazer isso pessoalmente. Lembre-se das palavras da sua mãe. Aproveite esses dias em que ele está fora para se fortalecer um pouco, embora ambos saibamos o quanto é difícil em tão pouco tempo. —Sim, eu sei. Mas eu preciso fazer isso. Que inferno, Paul, eu não posso gostar mais de um homem do que de mim mesma. Estou irritada comigo. —Mesmo que seja uma delícia de homem como Max. Existem outros por aí. Aliás, por falar em delícia de homem, foi impressão minha ou a senhora almoçou com Damarion ontem? —Foi coincidência. Você já tinha saído e eu fui sozinha. Nós nos encontramos por acaso. —Sei... Ele falou como se estivesse duvidando, mas era a mais pura verdade. Damarion e eu nos encontramos por acaso. Mas foi muito bom ter alguém para conversar e que não tocava o tempo todo no nome de Max. —Olhe só... não está se esquecendo do meu aniversário amanhã, não é? —Claro que não. Imagine se eu ia esquecer! —Ótimo. Vamos nos divertir. Beber todas e dormir até acordar. —De ressaca. —Exatamente. Nós rimos um pouco alto, atraindo olhares de alguns clientes. Mas eu apenas dei de ombros sem me abalar com isso. Eu não estava totalmente bem, mas sei que ficaria. Eu estava buscando forças de onde nem imaginava para sair dessa situação com pelo menos uma parte de meu coração saudável. **** Eu estava me divertindo. Muito, eu diria. E assim, eu cheguei à conclusão de que não existia nada melhor que bons amigos ao nosso lado para conseguirmos suportar as decepções que a vida cismava de jogar em nosso caminho. Eu ia conseguir superar. Não sem dor, mas ia conseguir. Estávamos no nosso Pub preferido, aonde sempre íamos quando queríamos comemorar alguma coisa ou apenas jogar conversa fora. Como Thomas Morthen, proprietário do local já era praticamente uma parte de nosso grupo e um grande amigo de Maisy, a melhor área do lugar foi reservada a nós. Nossa mesa era a maior, depois da junção de várias e também a mais barulhenta. Colegas de trabalho e também amigos de Lewis e de Paul estavam ali para comemorar o aniversário dele. Eu m*l pude acreditar quando Paul me contou que ele e Lewis resolveram tentar novamente. E acabou me confessando que grande parte do desgaste de seu relacionamento foi provocado por sua incapacidade de descobrir quem ele realmente era e o que queria. Por outro lado, Lewis sentia medo de que, se Paul fosse bissexual, talvez um dia desistisse dele para ficar com uma mulher. Bastou uma conversa franca e a admissão de algo que eles nunca ousaram. Eles se amavam de verdade. E quando se ama, não importa se é um relacionamento heterossexual ou homossexual. Tudo o que importa é o amor, o carinho e acima de tudo o respeito. Eles estavam bem agora. Estavam felizes e eu tão feliz quanto. Por eles. Quanto a mim já estava tudo resolvido. Na próxima semana eu ia curtir vinte dias de férias na Austrália ao lado da minha mãe. O que significava que eu ainda tinha o sábado e domingo para terminar tudo com Max. Já que ele estaria de volta amanhã, então estaria tudo resolvido. —Ele não tira os olhos de você. Paul cantarolou baixinho ao meu lado e eu automaticamente ergui meus olhos, procurando pelos olhos negros de Damarion. Por acaso ele estava na Life Style enquanto comentávamos a respeito da comemoração do aniversário e Paul se viu na obrigação de convidá-lo. Na verdade, eu acredito que ele tenha iniciado o assunto apenas para ter a chance de convidar Damarion. Ele insistia que Damarion poderia ser uma boa companhia nos meus próximos dias tenebrosos, como ele apelidou minha fase pós Max. —Não seja t**o. Eu respondi, mas ciente do olhar dele sobre mim. Eleanor falava sem parar ao seu lado, mas ele não parecia ouvi-la. —t**o? Eu? Tola é você que ainda não o pegou. —Paul, apesar de Max e eu não termos nenhum compromisso, eu sinto que devo fazer isso antes de sequer pensar em ter alguma coisa com outra pessoa. Mesmo que ele não aja da mesma forma, eu não sou esse tipo entende? Eu vou conversar com ele antes de tentar qualquer coisa com outra pessoa. —Sabe? Eu já estou arrependido de ter insistido para você dizer isso a ele pessoalmente. —Eu já estava decidida a agir assim. Quero isso. Olho no olho e ponto final. Eu descobri, tarde demais, que não deveria ter pensado dessa forma. Estava tudo bem... todos alegres e felizes. Até que ouvi a voz de Douglas se elevar acima de todas. —Max. Ei cara... junte-se a nós. Eu senti meu corpo c******r, mas antes que pudesse me conter, minha cabeça  girou para trás e eu o vi se aproximando. —Max! Que surpresa, querido. Não sabia que já tinha voltado. —Boa noite a todos. Sim, Maisy, voltei hoje cedo, mas nem tive tempo de avisar você. —Sente-se conosco, Max. Eu ouvi Paul convidar, mas eu percebia o pedido de desculpas em seus olhos. Ele não queria parecer m*l-educado, mas também não queria me deixar desconfortável. Eu não ficaria brava com ele por isso. —É seu aniversário, certo? —Sim. Max se aproximou dele e o cumprimentou, desejando felicidades, mas se desculpando. E essa desculpa foi suficiente para destruir meu coração. —Obrigado pelo convite, mas não posso. Eu vim à caça, e... enfim, estou acompanhado agora. —À caça? Maisy perguntou estupefata, tanto quanto os demais à mesa. —Cara, mas você... Douglas começou a falar, olhando de Max para mim. Pela primeira vez ele pareceu me enxergar, mas apenas deu de ombros. —Qual é gente? Todo mundo sabe que não há exclusividade. Aliás, vocês deveriam tentar. Parecia que todo o som à nossa volta havia cessado. Ninguém falava... sequer pareciam respirar. Até a voz aguda quebrar o feitiço. —Max? A ruiva curvilínea parou ao lado dele, colocando a mão em seu braço. —Estou pronta, querido. —Eu também, Lorraine. Bom, espero que se divirtam. Boa noite a todos. Paralisada, horrorizada com a cena, eu assisti Max se afastar em companhia da ruiva, a mão em suas costas a direcionando para a saída. Eu tentava engolir a saliva, mas nem isso era possível. Minha garganta estava travada. E quando dei por mim, eu estava no banheiro, acompanhada por Eleanor, Emily e Maisy, que esbravejava com uma voz que mais parecia uma trovoada. Eu tremia dos pés à cabeça e só quando senti Eleanor passar o lenço em meu rosto, percebi que eu chorava. A dor que eu sentia era algo que nunca desejaria nem ao meu pior inimigo. Ou melhor, eu desejava sim. Eu desejava aquela dor para o causador dela. —Venha. Vou cuidar dela. Era a voz de Paul, que sem se preocupar estava invadindo o banheiro feminino. Senti seus braços me tirarem de sobre o vaso e automaticamente me encolhi em seus braços, escondendo meu rosto em seu peito. Não era apenas dor pela cena humilhante. Era vergonha de encarar novamente nossos colegas. Como se compreendesse por eu estar encolhida em seus braços, Paul sussurrou em meu ouvido. —Não tem que se envergonhar de nada, querida. Quem fez o papel de cretino não foi você. Eu não respondi. *** Minha cabeça latejava e meus olhos doíam. Senti o toque em minhas mãos e ergui lentamente a cabeça, vendo através do meus olhos marejados, Lewis e Paul ajoelhados à minha frente. Olhei ao redor e soube que eu só poderia estar no apartamento deles. Aquele não era o meu quarto. —Vai ficar tudo bem, linda. —Desculpe. Por... atrapalhar seu momento. —Minha voz soou rouca e um tanto áspera. — Por estar invadindo a privacidade de vocês. —Não diga tolices, Amber. Paul não ficaria feliz em estar longe de você nesse momento e eu também não. —Linda... pode ficar conosco até o momento de embarcar na segunda-feira. Eu posso te levar até seu apartamento e a ajudar a fazer as malas. —Eu vou para casa. Pode me chamar um taxi? —De jeito nenhum. Eu não vou deixar você, Amber. Não vou sair do seu lado enquanto não a vir subindo naquele avião. As lágrimas deslizaram sem permissão pelo meu rosto. Eu ja não sabia mais se chorava de dor. Sim, era um pouco de dor, mas a maior parte era de ódio. Ódio de mim por ser fraca, frouxa, permissiva, estúpida e iludida. Uma fraude completa. Uma vergonha para todas as mulheres que buscavam o respeito de seus parceiros. E provavelmente seria uma decepção para minha mãe. —Obrigada. —Eu tomei a liberdade de pedir ao pessoal para ir embora. —Como? —Maisy, Eleanor e Damarion estavam aqui. Mas eu achei melhor assim. —Obrigada mais uma vez. Eu realmente não quero ver ninguém exceto vocês dois. Paul, será que você poderia ir ao meu apartamento amanhã cedo? A minha mala já está pronta e todos os meus documentos estão na bolsa que está sobre ela no closet. Eu vou tentar mudar minha passagem para amanhã à tarde. —Eu irei agora mesmo. Se importa de ficar com o Lewis? —Claro que não. —Eu não vou demorar. Paul me deu um beijo na testa e se afastou um pouco com Lewis. Eles conversaram baixinho antes de ele sair, mas eu não ouvi o que eles disseram. E até eu embarcar no dia seguinte, eu também não ouvi o nome daquele que me arrastou para o inferno que queimava dentro de mim.
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