Sonhos destruídos

747 Words
Narrado por Beatriz Chego em casa já perto das 23h00 da noite. Tento não fazer barulho, a minha tia Adelina já deve estar a dormir. Espero que esteja, senão já sei que vai arranjar problemas. Mas como a minha noite está péssima, m*l eu entro em casa ela está ali perto da porta. — Desde quando tu tens dinheiro para apanhar um Uber, menina? — Não fui eu que paguei, tia, tive um problema na… Ela me interrompe. — Então quem pagou a viagem? O que tu andas a fazer, para chegar em casa a esta hora da noite e ainda por cima alguém te pagou a viagem do Uber? No que tu andas metido, Beatriz? — ela me acusa assim na lata. — Tia, tu ouviste eu falar que tive um problema! — a lembro. — Problema? Problema começa com 9 meses e se torna um problemão dos diabos, eu disse isso à tua mãe e olha no que deu? Eu é que tenho que criar o problemão dela. Ela vira as costas a resmungar me deixando ali. Bufo chateada e vou para o meu quarto. Arrumo as minhas coisas e volto a sair do quarto para ir à casa de banho tomar um banho, tenho que tirar do meu corpo a sensação nojenta das mãos daqueles garotos porcos. Não quero sequer imaginar, o que teria acontecido na certa se o bonitão do Alessandro não tivesse aparecido e acabado com aquilo. Estremeço dos pés à cabeça, só de pensar em como eu estaria agora. Acabo o meu banho e vou-me deitar. Olho para o meu violoncelo e sinto-me tão triste. E agora? Como eu vou ensaiar sem violoncelo? Suspiro desanimada. A minha chance de conseguir entrar na orquestra e assim poder viajar o mundo a tocar o que eu mais amo, acabou. Os meus sonhos foram destruídos e tudo por um bando de delinquentes. Viro-me para o lado e depois de muito esforço, acabo por adormecer. Tia Adelina Narrado por Beatriz Depois de estar preparada para ir trabalhar, saio de casa. Graças a Deus que nem vi a minha tia Adelina. Vou a pé para o trabalho, que fica a uma distância de 5 minutos. Chego lá, vou direta ao meu cacifo e visto a minha farda. Calças azuis escuras, camisa branca e um lenço no colarinho da camisa azul escuro com uma risca verde. Trabalho num hipermercado, há 4 anos e até gosto de aqui trabalhar, não é um emprego de sonhos, mas dá para pagar as minhas contas. A minha tia Adelina fica com a maior parte do meu dinheiro, mas enfim. O dia passa sem muitos sobressaltos, como moro aqui perto conheço a maior parte dos clientes que aqui vêm, um hipermercado que mais parece a mercearia do bairro, todo o mundo aqui vem. Chega a hora de eu sair do trabalho e me bate uma tristeza, porque agora eu ia para o meu ensaio. Entro em casa e a minha tia Adelina vem logo da cozinha. — Então mas tu hoje não vais para o ensaio da porcaria que andas a ensaiar com aquele monstro que andas sempre com aquilo às costas? — ela diz desdenhando das minhas coisas. — Aquilo não é um monstro, tia, é o meu violoncelo. — falo chateada — E não, não vou para o ensaio porque o meu violoncelo está partido. — Como está partido? — ela pergunta histérica — Um dinheirão que deste por aquela porcaria e nem dura um mês? Ah não, — ela fala abanando as mãos no ar freneticamente — nem penses que vais gastar outra fortuna numa porcaria daquelas. — O dinheiro é meu, tia, sou eu que o ganho, com o meu trabalho, eu é que sei se gasto ou não! — falo firme. Ela me olha com os olhos a faiscar de raiva. — Olha aqui, sua ingrata, — ela diz ríspida e me apontando o seu dedo indicador — eu gostaria de ver tu pagares renda de casa, água, luz, gás e comer apenas com esse teu salário de merda. Tu sem mim não és ninguém, sua jumenta cheia de ingratidão. — Eu não me apetece discutir com a tia. — falo cansada. — Se não queres discutir porta-te como deve de ser. Onde já se viu, cuspir no prato onde come! Ela vai na direção da cozinha a barafustar como já é habitual. Ao menos quando estou no ensaio não estou aqui a ouvir as lamúrias dela.
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