Vejo a aparecer dois homens enormes e um outro que aparece por trás deles, fazendo uma entrada triunfal no maldito beco.
Mesmo no escuro, vejo que o homem tem uns lindos olhos bem azuis penetrantes, é alto, à volta de 1,85 cm, vestido com um fato escuro, bem encorpado e lindo, lindo de morrer, se eu morresse agora, morreria com a visão mais linda de sempre.
Os quatro garotos olham para o amigo no chão, se contorcendo de dores e olham de seguida para o bonitão e os seus, que me parecem ser, capangas.
— Qual é, mané? Porque bateram no nosso amigo?
O bonitão ainda não tirou o seu olhar azul de mim, mas quando o garoto fala, encurta o seu olhar e o encara, desviando assim aqueles olhos da minha pessoa.
— Falando comigo, seu peste? — ele fala e a sua voz condiz com ele. Linda e bem máscula, voz de homem que não tem medo de nada nem de ninguém.
— Contigo mesmo mané. Qual é a tua? Baza daqui e nos deixa em paz.
— Tu estás equivocado meu cara, vocês é que vão sair daqui e bem rapidinho.
Os três garotos olham uns para os outros e riem nervosos.
— Ei chapa, falas assim porque estás com seguranças, porque se tivesses sozinho já te tínhamos dado uma coça, seu filho da p**a de enxerido.
O bonitão sorri, e que sorriso mais lindo, começa a tirar o seu paletó devagar e também o que me parece ser um colete e o entrega a um dos seus homens, desabotoa os botões dos punhos da sua camisa branca e a dobra para cima calmamente, e enquanto o faz, fala para os parvos dos garotos.
— Os meus seguranças não vão mexer uma palha, e eu sozinho, vou dar cabo de vocês os três ao mesmo tempo, topam?
Vejo os seus braços cobertos de tatuagens.
Meu Deus, mas quem será este homem?
Os dois seguranças dão dois passos para trás, dando assim espaço para o que vem a seguir.
Os três voltam a olhar uns para os outros e ao mesmo tempo saltam para cima do bonitão.
Não sei como, mas em questão de segundos estão os três no chão, mas eles voltam a levantar-se e parecendo um mestre do Kung fu, o bonitão os derruba com a maior das facilidades.
Os garotos de merda já estão cansados e suados do esforço, o bonitão nem uma gota de suor deita e parece estar a divertir-se à grande.
Os garotos então pegam no amigo que continua no chão desde o início, e parecem agora eles os mestres dos cu que foge, ahahah.
Seria bem divertido e daria uma gargalhada, não tivesse eu na situação de bosta que estou.
O bonitão me olha e dando uns passos, depressa chega perto de mim, eu me encolho com medo e ele estica a sua mão para mim.
— Não precisas de ter medo de mim, eu não vou te fazer nenhum m*l. — ele fala aquilo e eu inexplicavelmente sinto uma sensação de paz e tranquilidade.
Seguro então a sua mão e ele me ajuda a levantar.
— Obrigada, nem sei como lhe agradecer. — falo sincera mas toda a tremer.
— Não tem que agradecer, só fiz aquilo que qualquer pessoa decente faria, não deixar aqueles delinquentes fazerem m*l a uma mulher indefesa.
— Nem todas as pessoas o fariam, acredite. — falo ajeitando a minha roupa nervosa.
— Bem, vamos sair deste beco imundo.
Saímos e ao chegar perto da paragem recordo-me que o meu violoncelo está partido, ali no chão.
Abaixo-me, abro o fecho da capa que o cobre e vejo que o estrago é irremediável.
Choro por ver o meu bebé que tanto me custou a comprar, ali destruído.
— E agora? Como eu vou ensaiar? Está tudo perdido. — falo desesperada.
— Não fiques assim, tudo se resolve. — ele fala a tentar me acalmar.
Eu fecho a capa do meu violoncelo e me levanto.
— Não consigo resolver isto, eu trabalhei tanto para juntar dinheiro para comprar o violoncelo, para treinar arduamente para realizar o meu sonho, mas já não tenho mais dinheiro disponível para comprar outro, vai demorar muito até ter dinheiro para outro.
Estou tão triste.
Olho para as horas.
— Raios, e ainda por cima já não há mais autocarros a esta hora.
Ai que p***a, tudo me corre m*l.
— Posso levar-te em casa se quiseres. — ele fala, mas eu fico alerta de imediato.
— Não será preciso, o senhor já fez muito por mim.
— Senhor? Meu Deus, estou a sentir-me um velho! — ele diz divertido — Fazemos assim então, percebo que estejas com medo de entrar num carro de um desconhecido e para te provar que eu sou da paz, — entrega-me o seu telemóvel desbloqueado — pede um carro de aplicativo, como vocês chamam aqui?
— Um Uber. — falo achando graça.
Claramente ele não é português, tem um sotaque bonito, me parece ser italiano, mas não tenho a certeza.
— Isso, um Uber. — ele diz sorrindo.
Eu pego no telemóvel e peço então o Uber, vai me dar jeito, já que não tenho dinheiro aqui comigo e o cartão de crédito está a zeros.
— Já agora, o meu nome é Alessandro, Alessandro Barone. — ele se apresenta.
— Muito prazer, eu sou a Beatriz Ferreira.
O Uber chega.
Pego no meu violoncelo estragado e me despeço.
— Mais uma vez agradeço tudo o que fizeste por mim, Alessandro.
Alessandro sorri para mim e eu entro no Uber que arranca logo de seguida.
Fico com aquele lindo sorriso na minha mente.
Alessandro Barone, o meu salvador, e que salvador mais lindo, deus pai do céu.