O Homem Misterioso

815 Words
Estou na aula de violoncelo e vejo que na porta está um homem que eu não sei quem é. Eu toco o meu violoncelo com amor e paixão, fecho e abro os olhos enquanto toco, mas cada vez que os abro vejo o homem a fitar-me e de repente, ele vira as costas e sai da sala sem dizer uma única palavra. Ele tem estado ali naquele mesmo lugar cada vez que eu venho à aula. Recordo o que passei na outra noite na paragem e me arrepio de medo. Saio da aula de violoncelo e a noite está fria. Fecho o meu casaco e vou para a paragem, óbvio que já não vou para aquela paragem onde nunca tem ninguém. — Beatriz! — estremeço, ao ouvir alguém chamar o meu nome. Olho para trás com medo, mas vejo que é o Alessandro. — Alessandro, que bom que te vejo. — falo contente, não sei explicar mas sinto uma segurança fora do normal com ele. — A sério? Gostas de me ver? Eu rio. — Claro que sim, não sabia como te agradecer pelo belo presente que me enviaste no dia a seguir àquele infeliz incidente na paragem do autocarro. Vejo ele sorrir, o seu sorriso é bonito, os seus dentes bem branquinhos. — Não precisas de agradecer, Beatriz, ofereci com gosto. — Mas foi um dinheirão. — Não tenho problemas em gastar dinheiro, o dinheiro foi feito para isso mesmo, para gastar, para rodar o mundo, é isso que ele faz, foi para isso que foi feito. Caramba, quem me dera ter dinheiro assim, sem me preocupar com mais nada. — De qualquer das maneiras agradeço muito, Alessandro. Ele olha para mim profundamente e eu sinto o meu corpo arrepiar, os seus olhos tão azuis são uma perdição. — Posso te convidar para jantares comigo? — ele me convida. — Hoje? — pergunto surpresa com o seu convite. — Se der para ti, seria muito bom. — Não avisei a minha tia, por isso hoje é complicado. — falo nervosa. — Ok, importas-te de me dar o teu telemóvel? — ele pede esticando a sua mão na minha direção. Estranho aquele pedido mas lhe entrego o mesmo. Ele escreve alguma coisa. — Pronto, agora eu tenho o teu número e tu o meu, quando quiseres é só me ligar, para ti é a qualquer hora do dia ou da noite, Beatriz. Engulo em seco com o que ele acaba de falar. Porque para mim, é a qualquer hora do dia ou da noite? — Vem ali o meu autocarro, eu depois ligo. Dou uma corrida e apanho o bendito autocarro. Já dentro do autocarro, olho para onde ele está, cinco carros pretos, com vidros escuros estão com ele e mais seis seguranças. Acredito que dentro dos carros estejam lá mais seguranças. Mas quem é este homem tão lindo e misterioso? Eu não o conheço, não faço a mínima ideia de quem seja, mas ele me transmite uma elevada segurança. Espero que o meu sexto sentido não esteja avariado. Lisboa/Portugal Estou na caixa do hipermercado onde trabalho e vou passando os produtos preguiçosamente e sem a mínima vontade. Há dias que eu gostava de ficar em casa apenas a fazer ronha na cama, mas infelizmente a morar com a minha tia, não consigo fazer nada disso. Ela faz barulho sem necessidade nenhuma, faz barulho porque acha que eu não devo descansar, faz barulho porque quer e pronto. Ontem recebi o meu ordenado e ela obrigou-me a transferir quase todo o meu salário para a conta dela. Estou tão farta de viver assim, na miséria, sem ter dinheiro para nada do que eu quero e necessito. Vejo um homem de fato escuro chegar perto de mim e reparo que não trás compras. — Peço desculpa, mas não pode sair pela caixa sem compras. — informo o cliente educadamente. Ele pára na minha frente, coloca a mão na parte de dentro do seu paletó preto e me estica o que me parece ser um envelope. — Beatriz Ferreira? — ele pergunta. — Sim, sou eu. — respondo intrigada. — Isto é para si, é um assunto sério, mas não podia passar pelas mãos da sua tia Adelina e por isso, vim entregar aqui longe dos olhos dela. Eu encurto o meu olhar para o homem à minha frente. — Mas o que é que se passa? Do que se trata esse envelope? — Está aí tudo explicado. Com a sua licença. E vai embora tão misteriosamente como chegou. Olho para o envelope. É de cor marfim e tem relevos, parecem trepadeiras, nunca vi um envelope tão chique assim, vem até selado com aqueles selos vermelhos, como se vê nos filmes do tempo dos reis. Observo melhor o selo que tem um "S" perfeitamente desenhado. Que envelope mais requintado. Guardo o envelope, pois chegam clientes na minha caixa.
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